terça-feira, 27 de abril de 2010

Terça-feira Godinha

"É terça-feira
e a feira da ladra
abre hoje às cinco
de madrugada

E a rapariga
desce a escada quatro a quatro
vai vender mágoas
ao desbarato
vai vender
juras falsas
amargura
ilusões
trapos e cacos e contradições


É terça-feira
e das cinzas talvez
amanhã que é quarta-feira
haja fogo outra vez
o coração é incapaz de dizer
"tanto faz"
parte p´ra guerra
com os olhos na paz

(...)"


Terça-feira, Sérgio Godinho

Há a terça-feira gorda, deve haver a terça-feira magra e, entre as duas, há a terça-feira godinha.
É incrível como as personagens do Sérgio Godinho se «colam» a nós. As vezes que eu me senti «a descer as escadas a quatro e quatro», para já não falar na Etelvina, claro, com quem já só tinha uma consciência adormecida das semelhanças...

13 comentários:

josé luís disse...

... e numa terça-feira godinha na feira da ladra das ilusões, minha cara peça de mobiliário faça como o casimiro... cuidado com as imitações! :)

Ninguém.pt disse...


D. Felizmina e sua loja


Era eu ainda menina
a cigana leu-me a sina
prometeu: 'vai ver que fica
no futuro muito rica'

Muito rica não ficou
mas não se preocupou
é feliz e com certeza
é essa a maior riqueza

Felismina sou para todos
e feliz faço quem cá entra!

É com peso e com medida
que eu trato da minha vida
é com o quilo e com o metro
que eu tenho um chão e um tecto

É contando os seu tostões
que resolve situações
da maior dificuldade
'corto os gastos pela metade'

Com cabeça e com caneta
ponho o preço na etiqueta
o meu lema é bem sensato
vendo tudo mais barato

É contando os seu tostões
que resolve situações
da maior dificuldade
'digo isso sem vaidade'

Felismina sou para todos
feliz faço quem cá entra.
Felismina és para todos
feliz fazes quem cá entra.


Sérgio Godinho

Não é, certamente, o "retrato" do Belmiro...

Ninguém.pt disse...

Uma provocação? Eu acho que não, de todo não é provocação, apenas muito pouco mudou desde os tempos do autor...

Todos os anos em Setembro

Todos os anos em Setembro, quando as escolas abrem,
As mulheres dos subúrbios vão às papelarias
Comprar os livros e os cadernos para os filhos.
Desesperadas pescam os últimos patacos
Das saquinhas coçadas, lamentando-se
De o saber ficar tão caro.
E ainda elas não sabem
Que mau é o saber que está
Destinado aos seus filhos.


Bertolt Brecht
(tradução de Paulo Quintela)

Escrivaninha disse...

Ah, Mestre, posso deduzir deste sem comentário que não tem obrigações para com crianças e/ou adolescentes; pois se desconhece as grandes diferenças que existem hoje...
Então: hoje é em Agosto que começam as campanhas do material escolar, este vende-se em grandes cadeias de super e hipermercados e existe crédito próprio para este tipo de aquisições.
Como vê, não há qualquer semelhança: após os últimos patacos estoirados, dos saquinhos coçados dos seus cartões de crédito ou da «conta-ordenado», sai a maquia para comprar séries de material escolar, mais bonito que o do vizinho.
O resto? Ah, o resto está ainda pior, mas quem quer saber disso?...

Escrivaninha disse...

Corrigenda: onde se lê «deste sem comentário» deve ler-se «deste seu comentário».

Ninguém.pt disse...

Sim, confesso: ando um pouco destreinado desses que-fazeres pré-escolares e das respectivas datas.

Mas leio (profissão oblige) manuais escolares e, francamente, não vejo uma diferença por aí além.

O que se ensina tende a perpetuar, aprofunda mesmo, as divisões entre os serzinhos educandos, para que não venham a ter veleidades de pensar pelas suas cabeças.

Escola de classe, em vez de escola com classe!

Escrivaninha disse...

Eu estava a concordar consigo, Mestre; na minha maneira irónca, que às vezes não se percebe...
Mas não será o melhor momento para eu falar de escola, agora.
Será que posso perguntar porque lê manuais escolares?...Só mesmo por profissão. Não são uma leitura muito atractiva, embora eu também faça parte do grupo que os lê, que os analisa e até que os estuda.

Ninguém.pt disse...

Bem, menina Escrivaninha, é a segunda vez (pelo menos, pelo menos!) que me acusa de não perceber a sua ironia...

Mas eu percebi, posso não perceber à primeira, mas dou a mim mesmo uma segunda oportunidade... quase sempre...

Estava apenas a concordar que "o resto" está bem pior – e, ao mesmo tempo, a dizer-lhe que EU me importo, e que há muitos que se importam, e que juntos podemos até ser importantes (que são os que importam).

Como sou gráfico, faço alguns dos ditos "manuéis" – os formatadores de mentes. Para os fazer preciso de os ler, e alguns são leitura que bem dispensava.

Mas, aviso já: os erros tipográficos de que falam os folhetos não podem ser responsabilizados pela ... que sai nos livros!!

Escrivaninha disse...

Oh, Mestre, não se zangue!
Peço perdão.
(é que eu estou muito castigada - mas mesmo muito - por situações várias em que as pessoas não percebem o que eu quero dizer: uma vez até tive de ler o jornal «O Crime» no comboio da linha de Sintra).
Os manuais não são muito bons, mas, um bom professor dá a volta a qualquer manual (modéstia à parte).
Os erros tipográficos são graves, são, mas eu «passo-me mesmo» é com os científicos. O que também não é justo: os cientistas (ou quem faz os manuais) têm tanto direito a errar como os gráficos e os outros todos...
Livre-nos Deus dos erros médicos, porque podemos não ficar cá para contar a história.
E mais uma vez desculpe (se bem que gostei de ser chamada de Menina Escrivaninha...)

Ninguém.pt disse...

Vou tentar não chamar muitas vezes, não se lhe derreta a cola das juntas e comece a bambolear...

Ninguém.pt disse...

Não resisto a enviar-lhe este endereço para que aprecie a imagem e respectiva legenda.

Poderia dizer, citando um colega de comentários, que rabd...

http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2010/04/o-nosso-barco.html

Escrivaninha disse...

Adorei! Ironia da boa (também acho que não há má...)
Mas não vi nenhum Mendes entre os autores...
rabd

Ninguém.pt disse...

’Tadinho de mim, tão pequenino ao pé do Quino, o pai da minha amada Mafalda!