Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
terça-feira, 13 de abril de 2010
Faz hoje 14 anos que a minha avó morreu. O meu terraço, que ela nunca viu, está molhado das lágrimas da chuva, que começou a cair agora, persistente, justificando o tempo cinzento que marcou o dia todo.
O poeta terá razão? Acho que sim, acho que tendemos a conformar-nos com os desgostos (o tempo, esse unguento que tudo sara!) e acabamos chorando apenas por nós...
Meus olhos que por alguém deram lágrimas sem fim já não choram por ninguém - basta que chorem por mim. Arrependidos e olhando a vida como ela é, meus olhos vão conquistando mais fadiga e menos fé. Sempre cheios de amargura! Mas se as coisas são assim, chorar alguém - que loucura! - Basta que eu chore por mim.
António Botto
(Ah, parabéns pelo aniversário, atrasados mas de boa vontade...)
Acha mesmo que o tempo cura? Não creio...apenas calca, põe outras coisas por cima, faz-nos parecer esquecidos, mas, quando a vida dá uns sacões, afinal, percebemos que está aqui tudo guardado e que as feridas reabertas parece que ainda doem mais. Mas, chega de conversa triste. Obrigada pelos parabéns, mas nesse dia também esteve por aqui, só não sabia que era o dia. :-)
Com que então caiu na asneira De fazer na quinta-feira Vinte e seis anos! Que tolo! Ainda se os desfizesse… Mas fazê-los não parece De quem tem muito miolo!
Não sei quem foi que me disse Que fez a mesma tolice Aqui o ano passado… Agora o que vem, aposto, Como lhe tomou o gosto, Que faz o mesmo? Coitado!
Não faça tal; porque os anos Que nos trazem? Desenganos Que fazem a gente velho: Faça outra coisa; que em suma Não fazer coisa nenhuma, Também lhe não aconselho.
Mas anos, não caia nessa! Olhe que a gente começa Às vezes por brincadeira, Mas depois se se habitua, Já não tem vontade sua, E fá-los, queira ou não queira!
4 comentários:
O poeta terá razão? Acho que sim, acho que tendemos a conformar-nos com os desgostos (o tempo, esse unguento que tudo sara!) e acabamos chorando apenas por nós...
Meus olhos que por alguém
Meus olhos que por alguém
deram lágrimas sem fim
já não choram por ninguém
- basta que chorem por mim.
Arrependidos e olhando
a vida como ela é,
meus olhos vão conquistando
mais fadiga e menos fé.
Sempre cheios de amargura!
Mas se as coisas são assim,
chorar alguém - que loucura!
- Basta que eu chore por mim.
António Botto
(Ah, parabéns pelo aniversário, atrasados mas de boa vontade...)
Acha mesmo que o tempo cura? Não creio...apenas calca, põe outras coisas por cima, faz-nos parecer esquecidos, mas, quando a vida dá uns sacões, afinal, percebemos que está aqui tudo guardado e que as feridas reabertas parece que ainda doem mais.
Mas, chega de conversa triste.
Obrigada pelos parabéns, mas nesse dia também esteve por aqui, só não sabia que era o dia. :-)
Considere o poema como presente... atrasado.
Dia de anos
Com que então caiu na asneira
De fazer na quinta-feira
Vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse…
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!
Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado…
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo? Coitado!
Não faça tal; porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa; que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.
Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los, queira ou não queira!
João de Deus
E é bem verdade o que o poeta diz: mania de fazer anos! Já nem sei quando começou...mas, agora, espero que dure por muitos anos.
Obrigada.
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