domingo, 31 de outubro de 2010

Tempo

Uma das coisas que me fascina na minha profissão é a (quase) impossibilidade de cristalizar, de perder a noção do presente, pois estamos sempre em contacto com as novas gerações e os seus conceitos.
Esse será também um problema do ensino: como é que nós -Escola, Ministério, Professores (instituições "adultas", sentadas sobre um saber acumulado) - reagimos e interagimos com as novas gerações e as suas perspectivas de vida, frequentemente quase desconhecidas para nós?
Sendo o Tempo a matéria prima da História, uma das coisas que mais me interessa é como é que as sociedades, ao longo do tempo, perspectivaram o tempo, se relacionaram com ele, se orientaram por e para ele: o Tempo.
Na semana passada, estando eu a explicar a resistência da Igreja às inovações ao longo do tempo exemplificando com algumas das condenações da Inquisição, afirmei: "A sociedade resiste sempre ao que é novo, a primeira atitude é recusar o que é novo..."
"Olhe que não", interrompeu-me um aluno. "Hoje é precisamente ao contrário. Repare nos telemóveis, nos carros, na tecnologia. Queremos sempre o que é mais novo."
Concordei com ele e guardei a problemática na parte posterior do meu cérebro, que funciona melhor durante a noite, fins de semana e feriados, quando me liberto das quadrículas do tempo em que tenho de cumprir tarefas definidas. A questão manteve-se com uma luz vermelha de alerta, indicando-me que ali se tinha colocado algo que eu não podia ignorar, algo que era fundamental na minha forma de me posicionar no ensino, de me relacionar com os alunos, de organizar a minha prática lectiva, de perspectivar a utilidade e a função da escola (e da História, nela).
Certo é que a História Antiga -sobretudo a Medieval - nos dá uma sensação de imobilidade, de remanso marcado pelos ritmos da terra, que se estilhaça com o chegar do Mundo Contemporâneo. As Revoluções Liberais, a Soberania Popular, a Cidadania alargada, ao envolverem-nos a todos nas grandes questões da Humanidade, dão-nos um sentido de pertença que ao mesmo tempo nos avassala, nos devora, nos consome. Querer abarcar tudo na sociedade de informação é uma tarefa esgotante e impossível, logo, frustrante e causadora de uma má relação com o tempo: a nossa relação com o nosso tempo, a nossa gestão do tempo, a nossa compreensão do tempo ao longo do tempo.
Andava eu a girar à volta destas questões de uma forma entre o consciente e o inconsciente, quando resolvi explorar um pouco mais o mundo dos vídeos que descobri ontem e partilhei aqui convosco. Caramba! Havia um vídeo sobre o tempo. Magnífico. Sintético. Brutal. Clarificador.
E a Escola sempre no meio da relação entre tempos diferentes...

http://www.youtube.com/watch?v=A3oIiH7BLmg&feature=player_embedded

Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras, mas, que dizer de tantas imagens acompanhadas de tantas palavras?

http://www.youtube.com/watch?v=qOP2V_np2c0&feature=player_embedded

Nota: Não consegui «domar isto» para as dimensões do meu blogue e penso que vale a pena vê-lo na íntegra, com todo o seu tamanho, a sua lógica, o seu ritmo. Por isso: vão lá! Vale a pena.

sábado, 30 de outubro de 2010

O Tempo e as Fases...como as da Lua

Lua adversa


"Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha


Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...


E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu..."

Cecília Meireles (1901-1964)

Santos

O rigor do tempo e os festejos dos santos trazem sempre uma nostalgia da vida em família.
Dormi até muito tarde e acordei com a violência da chuva que fustigava as ruas e fazia vergar as árvores. Guardei mais um pouquinho o corpo no calor da cama. Resolvi então levantar-me e enterrar os pés nas fofas pantufas, aquisição desta temporada Outono-Inverno.
Inspecciono as zonas mais vulneráveis do apartamento, para detectar eventuais entradas de água: janelas, marquise...o furinho do costume (mais acompanhado agora que sabemos que também chove na Assembleia da República), mas nada de dramático.
As notícias acentuam os perigos da continuação do mau tempo.
Tenho saudades do cozido à portuguesa e das castanhas cozidas, que marcariam o dia de hoje na casa da minha infância e adolescência.
As saudades ditam uma vontade  - quase maternal - de «saber dos meus». Feita a ronda por telemóvel às quatro manas (duas amigas, que me acompanham as alegrias e chatices do dia a dia e as duas manas que me ajudaram a crescer, mas que ficaram noutros locais). Tudo tranquilo. Já todas chegaram aos destinos escolhidos para o fim de semana grande, sem incidentes a reportar.
Penso na tranquilidade que nos dá o telemóvel. Gasta-se mais dinheiro, claro, mas podemos saber - assim, em directo - com está o tempo, quanto demorou a viagem e ainda receber os beijinhos e as lembranças daqueles que foram encontrar e que também, de certa maneira «são nossos».
Os Santos têm destas coisas: as saudades de um lar que já não existe, o conforto do contacto dos novos lares que se construiram a partir desse, a certeza de uma vida que se construiu «depois de crescer».
Confortada, olho as minhas gatas enroscadas para passar o frio, e resolvo arranjar uma roupa confortável para vestir depois do banho, que acentue o ar «négligé» de um fim de semana que se anuncia grande, frio, cinzento, caseiro. Talvez saia para comprar os tradicionais frutos secos na Feira de São Simão, este ano mais pequena e mais pobre, como o país.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

É uma sensação...como que...de inutilidade...

Numa sexta-feira à tarde, numa escola que não assinala a tradição portuguesa de Todos os Santos, mas se enche de gatos pretos, abóboras e fantasmas à moda americana, dar uma aula de Área de Projecto a uma turma de 28 alunos entre os 11 e os 13 anos.

Sim, sim. A Área de Projecto é aquela que o governo já disse que ia acabar porque era ineficaz.

Como é que eu consigo? Nem eu sei. Porque é que eu tento? Para não perder a autoridade perante os alunos a quem gosto muito de leccionar História. Só mesmo por isso. Porque a Área Curricular Não Disciplinar está agora definitivamente condenada, desacreditada, moribunda, impossível de resultar.

Mas isto devem ser problemas meus. Porque os chefes, que me fecharam sem justificações um clube que queria dinamizar a escola pela área cultural e fazer um trabalho de integração com comunidades étnicas diferentes, hoje estava a bater palmas aos fantasmas a arrastar ligaduras e às bruxas que ofereciam maçãs envenenadas. Somos um país de faz de conta com uma escola que se desenrola a brincar. Nunca conseguiremos sair do buraco e seremos vítimas dos inúteis que estamos a criar.

Ah, mas o Presidente acabou de fazer uma declaração ao país e agora estou muito mais confiante!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Com pregos Alcobia...

NEM TUDO

"Nem tudo que reluz corrompe
Nem tudo que é bonito aparenta
Nem tudo que é infalível se aguenta
Nem tudo que ilude mente
Nem tudo que é gostoso tá quente
Nem tudo que se encaixa é pra sempre
Nem tudo que é sucesso se esquece
Nem todo pressentimento acontece
Nem tudo que se diz tá dito
Nem tudo que não é você é esquisito
Nem tudo que acaba aqui
Deixa de ser infinito

Nem tudo que acaba aqui
Deixa de ser infinito"

Edu Tedeschi / Zélia Duncan

L'Amour...

"Uma cidade é um mundo se amarmos um dos seus habitantes"
                                                                        Lawrence Durrell

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Amanhecer na Lusitânia

"Apesar de você, amanhã há-de ser outro dia"
Amanhã começa já hoje!

Cisnando...


Buçaco, 24/10/2010

No dia

em que as «grandes superfícies» abriram até à meia-noite
e em que, na Assembleia da República se discutia o orçamento de estado,
eu estava nesta clareira!
(Mata do Buçaco, 24/10/2010)

Momentos

"Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la"
 
Clarice Lispector

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Cheiro dos Livros

Porque hoje me apetece agradecer «aos meus caros alunos» com quem conversei bastante sobre livros:

"O professor de português

Empolgou-se na lição

Tropeçou caíu ao chão

Quase partiu o pescoço

Como aquele sábio grego

Que de tanto olhar o céu

Caíu dentro dum poço



O professor de português

Falava de natação

Dos poemas de Camões

Eu vi toda a epopeia

Senti o cheiro ao mostrengo

Cheirava a sal e a trovões

E a desgostos de sereia



Mas eu quero-lhe dizer

Um segredo verdadeiro

Até o Stör caír

Os livros não tinham cheiro



E eu que não tinha atenção

Era uma nota sofrível

Senti vivo o predicado

Dentro do meu coração

Saltei subí de nível

Fiz-me sujeito acordado

No centro da oração



Ó meu caro professor

Eu quero-lhe agradecer

Ter ganho o meu nariz

Nele vou a toda a parte

É uma força motriz

Vou a Roma e a Paris

Vou à Lua e vou a Marte



Ó meu caro professor... "
 
Cabeças no Ar

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Quarto com vista para a Lusitânia

História: Os Conteúdos e os Contidos

"Professora: Claro que há sempre matérias da História que gostamos mais e outras menos; ela é tão vasta!
Aluno: Eu não gosto é daquela matéria...aquela dos operários, sujos, miseráveis...Não gosto nada!
Professora: Acredita que eles também não gostaram, nem gostam. Quem vive na miséria não gosta da sua história, mas faz tanto parte da História como os outros, os que tinham cadeiras para se sentar e papel para escrever a sua história, enquanto outros trabalhavam para si. Estamos todos contidos e unidos na mesma História. E muitas histórias da História não têm finais felizes!"

Como nos ensina o poeta, a história do açúcar não é doce. Mas é feita pelos que produziram, venderam e compraram o açúcar...branco, fino e tão doce...que poucas vezes nos lembramos de duvidar da sua doçura.

"O açúcar

O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.

Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.

Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem
aos vinte e sete anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.

Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema."

Ferreira Gullar (1930)

Pérolas? Temos poucas. Porcos?...

Ai, eu peço desculpa a quem vem aqui para descontrair, ler palavras bonitas e/ou sorrir um pouco, mas eu hoje tenho de falar de escola!

Ouvi, no noticiário da manhã, a notícia, que me pareceu absurda, de que os sindicatos de professores contestam o fim da Área de Projecto e de Estudo Acompanhado, porque isso põe em causa postos de trabalho de professores. Nem uma palavrinha sobre a validade destas áreas curriculares ou da dinâmica da escola (já para não falar de aprendizagem e de saberes, expressões de que não me recordo ter ouvido serem referidas pelos «nossos» sindicatos).

Procurei informar-me melhor, para não ser injusta (preocupação de historiadora, que não quer pôr de parte uma facção, pois eu já não me sinto representada por qualquer das estruturas sindicais que se anuncia como «minha) e - surpreendemente ou talvez não - era mesmo assim.

http://dn.sapo.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=1694368

Portanto, não estamos preocupados com a análise de porque é que estas «áreas curriculares não disciplinares» (e não disciplinas, como se diz por aí, na comunicação social) foram criadas, como estão a funcionar e porque desaparecem. Estamos apenas preocupados com o desemprego docente e com os meninos poderem ficar menos horas na escola! É certo que o Ministério também não está ralado com nada disto e viu apenas uma oportunidade de redução da despesa...

O Ministério e os Sindicatos merecem-se. Mas, muito francamente (e correndo o risco de me estar a sobrevalorizar) eu mereço muito melhor que eles para a minha tutela e a minha associação sindical. E tenho alunos que também merecem muito mais que esta politiqueira que por aí se desenrola e que me faz ouvir, em eco repetido e cada vez mais insistente, a frase que minha avó que a minha avó lhes atirava: "Eles comem todos da mesma gamela!"

E, se não posso abdicar da tutela (com grande pena minha), do sindicato já me livrei...embora com mágoa, porque tenho medo de vir a perder o direito de nos associarmos e de reivindicarmos os nossos direitos, mas nada do que eles dizem me interessa!

domingo, 24 de outubro de 2010

Fuga

De tanto preenchermos grelhas acabamos por nos sentir dentro delas!
Demorei a criar o ritmo este ano: os dias em que almoço em casa, o almoço semanal da sobrevivência com as verdadeiras amigas (que ouvem tudo, perdoam tudo, alinham em todas as conversas disparatadas, que nos fazem sacudir de riso e espantar o stress), o dia de caminhar por entre os carros, o dia de ir ao ginásio, o dia de fazer sopa...Agora já está! Na sexta-feira sentia-me organizada, encarreirada, "rotinada" para este ano lectivo. Mas então, deu-me uma aflição, uma vontade de sair de todas as quadrículas que tenho traçado, uma vontade de fugir...Não era lógico que fosse este fim de semana, o próximo é comprido, será o ideal para sair...
Nada de lógicas! Era um sufoco de fugir à esquadria meticulosa em que defini este ano lectivo...
"Inatel do Luso, boa tarde!"
"Boa tarde! Haverá possibilidade de alojamento por uma noite, para uma pessoa, sócia?"
"Só um momento...deixe-me ver: sim, não há qualquer problema!"
"Olha corsário, amanhã vamos de viagem, só nós dois, para um sítio onde nunca estivemos."
E fomos. E fruímos muito: a Natureza, a calma, a paz, a introspecção, a leitura, o passeio... Ah, o passeio! è por causa dele que tenho uns efeitos colaterais, que consistem sobretudo numa canseira tremenda, e que já não consigo sequer descarregar as fotografias, para mostrar alguma coisa da iconografia da minha aventura.
Agora tenho mesmo de ir dormir.
Boa noite!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

De longe te hei de amar

"De longe te hei de amar,
- da tranquila distância
em que o amor é saudade
e o desejo a constância.

Do divino lugar
onde o bem da existência
é ser eternidade
e parecer ausência.

Quem precisa explicar
o momento e a fragrância
da Rosa, que persuade
sem nenhuma arrogância?

E, no fundo do mar,
a estrela, sem violência,
cumpre a sua verdade,
alheia à transparência."

Cecília Meireles (1901-1964)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Poesia Dita

"Quem me dera ter um jardim e saber das plantas e pô-las a florir e aquilo resistir, ou saber as que são de inverno e as que são de verão e funcionar como um indutor de beleza, seguro e consequente, durante o ano inteiro. Quem me dera que se visse alguma beleza que eu criasse, que eu pudesse oferecer, quem me dera que fosse uma beleza de perfumar e estivesse diante da minha casa por onde passassem as pessoas a ficarem alegres por ali passarem. Quem me dera que os poemas fossem coisas de corolas e cores e perdurassem inverno e verão, perfumando diante da minha casa.

Um poema onde as abelhas pousassem. Que incrível seria se houvesse um poema que soubesse oferecer pólen às abelhas, garrido como se dissesse as coisas às cores, intenso como se tivesse fragrância, delicado como se pudesse morrer. Um poema que pudesse morrer. Um que criasse em nós a urgência de o nutrir, vigiar, cuidar com as forças todas para que perdurasse como milagre vivo por gerações e gerações. Prezamos sempre melhor o que é passível de ser perdido para sempre. Queria poemas assim, à medida de mim que me vou perdendo para sempre lentamente.

Ando de mal com a poesia porque quando me deixo mais sozinho com ela me magoa todo, a fazer-me buracos na alma, a fazer-me buracos nos olhos. Vejo o mundo todo estragado por causa da poesia, porque quis sempre muito mais fantasia das coisas do que aquela que se permite e o ficarmos velhos não nos perdoa os sonhos diurnos, não nos perdoa sequer muita distracção. (...)

Fico de mal com a poesia porque me convence de ser a arma contra todos os problemas do mundo quando o mundo progride nas doenças e não sou guerreiro nenhum armado com um verso. (...)"

valter hugo mãe, Autobiografia imaginária: Um poema que pudesse morrer, JL, nº 1044

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Artista

"Pintei o teu corpo, numa tela
 Esculpi o teu rosto, à luz da vela
 Pintei o teu corpo
 Pintei"

 Santos e Pecadores, Tela

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A Humanidade continua a ter tanto de perigoso como de seguro!

Contra todos os diagnósticos pessimistas que possamos fazer sobre a situação do país e a crise de valores, o meu telemóvel foi encontrado e devolvido pessoalmente.

Fiquei muito grata a quem o fez, sobretudo porque recusou terminantemente aceitar qualquer compensação monetária. Estava - simplesmente, como o disse - a fazer o que estava certo e o que gostaria que alguém fizesse se lhe sucedesse o mesmo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Desorientação

E pensar que, ainda não há muitos anos, combinávamos encontros com dias de antecedência, só falávamos com as pessoas quando as encontrávamos ou perguntávamos o preço dos impulsos no café para telefonar!...Para números que sabíamos de cor, na ponta da língua!
Parece tudo tão arcaico já!... E, o pior, é que nos parece a nós mesmos que vivemos estes momentos! Só assim se explica a minha desorientação, hoje, quando percebi que tinha perdido o telemóvel.
- Se me conseguir dizer dois ou três nº que contacte frequentemente, eu valido o seu número e posso então bloquear o cartão até a senhora obter uma segunda via.
- Bem...não os sei de cor...ligo todos os dias para um, mas nunca o fixei. E ligo para as minhas irmãs. Mas não sei de cor os móveis...só os fixos.
- Aqui não tenho registo de números fixos. Parece-me que só liga para móveis.
- Pois, claro. Para os fixos uso o fixo. Assim é impossível saber...
- Mas, desculpe, não disse que ligava para os móveis das suas irmãs?
- Sim...mas não os sei de cor.
- E se lhes ligar para os fixos elas não lhos dão?
Creio que, nesta altura, ela devia estar a fazer um esforço para não denotar ironia na voz...ou para não me chamar estúpida, mesmo.
- Claro! Ah, claro! Que estupidez!...Óbvio! Já lhe ligo...
E lá fui eu - escrivaninha  - ligar aos fixos das manas para saber os nº de outros móveis...como eu.
De repente, parece que sempre vivemos assim. Que estupidez!
"Porque, nesta fase, ainda estamos a viver com um presente que não nos serve para o futuro."

Mário Crespo, Epílogo de A Última Crónica

domingo, 17 de outubro de 2010

Há Dias assim...

Há dias que se arrastam, looongoos, ameaçando ser intermináveis, em que, mentalmente, pedimos um bálsamo de enstusiasmo ou um acontecimento de quebra da rotina;

Há dias tão cheios, que parece não caber nem mais um alfinete. Dias em que juramos não aguentar mais nada. Dias que, injustamente, atraem tudo de bom ou de mau, deixando para os outros dias, vazios ainda mais entediantes;

Há dias em que sabemos que chegámos ao limite; em que mais uma gota de água e o copo transborda: seja de stress ou de felicidade...

Ontem foi um desses dias. Mas, tal como os comboios da linha de Sintra que durante tantos anos frequentei, os dias cheios são surpreendentes: quando pensamos que não cabe mais nada, arranjamos espaço para mais um passageiro.

Hoje estou de ressaca: ensolarada e silenciosa.

sábado, 16 de outubro de 2010

Saúde e Fraternidade!

A partir de hoje, no Armazém das Artes, em Alcobaça, está patente a Exposição "Vivam as Repúblicas!", numa colaboração entre a Fundação Armazém das Artes e a Fundação Mário Soares.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

"A Mina de Neves Corvo é a mina mais importante na Europa"

disse o Professor Fernando Barriga, agora mesmo, na SicNotícias

Em directo do Chile:

Chegou à superfície o 27º mineiro! Agora mesmo. Caramba!

Recordo o tempo que vivi em Aljustrel, o coro dos mineiros, os meus alunos órfãos da mina, as superstições relacionadas com o trabalho...a tristeza do fecho da mina...do medo...da fome...do perigo de empenhar os sonhos e esperanças dos meus meninos...

A vida de mineiro - mesmo com a protecção de Santa Bárbara - deve ser muito difícil de enfrentar!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Decidir...De si...Decisão...Cisão de si?...

A coragem e a cobardia não são tão distantes como parecem. É preciso coragem para partir e é preciso coragem para ficar...Sobretudo é preciso coragem para decidir. A indecisão não é uma opção, mas um impasse.

Amar, Orar e Comer - O filme

Fica a vontade de ter a coragem da protagonista...sobretudo sem termos a certeza de que alguém nos escreveria um guião assim!...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Palavra puxa palavra

"História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar" é outro livro do qual só li o título. Este foi já leitura dos meus sobrinhos...quer dizer, sobrinhas, que os meninos da geração sobrinhática da minha família são alérgicos à leitura. Compensa a geração a dedicação das meninas.

A Rua do Gato que Pesca

Havia lá por casa livros que se compravam por achar graça ao título ou à imagem da capa. Este foi um deles. A mãe gostou do título e ofereceu ao pai, que era pescador.
Nunca li e não sei porque me lembrei dele agora.
Fui à procura. Foi editado, em Portugal, no ano em que o pai morreu.
O livro ficou por lá...

Deambulando

"Hoje vou apanhar as folhas mortas, ou se calhar vou seguir a folha vermelha do carvalho silvetre até ao rio...ou se calhar não." Evelyn Lang

Esquivando-me ao assunto

Teclas, para que vos quero!

Pensamento para a Semana:

"A Natureza deu-nos um par de orelhas e um par de olhos, mas apenas uma língua, para que ouçamos e vejamos mais do que falamos." Sócrates (o original, claro!)

Vamos ver se eu aprendo...

domingo, 10 de outubro de 2010

Apelo

Ru-i!
Que é feito de tu?
As reuniões vão começar
E eu preciso do meu cader-no...

(Este é o projecto para início de um RAP e eu quero que ele seja um RAPPY END)

Idades

«[…] Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade. […]»

Mário Quintana (numa autobiografia escrita para uma revista)

sábado, 9 de outubro de 2010

Há Idades para Tudo

Procurou no quiosque junto à estação. Ainda estava fechado. Olhou em volta, perdida, procurando na memória lugares de flores...sem ser aquele, só lhe ocorria a porta do cemitério, mas não queria chegar lá sem nada...
Inquiriu os engraxadores.
"Ela já cá deveria estar..."; "Em princípio, deve estar a abrir..."
A urgência da hora e o inadiável de um funeral desesperavam-na: "E não há outra florista?"
Afinal não era longe. Olhou para as montras enormes e para a indicação "Entregamos flores em todo o mundo" e pensou que o preço talvez fosse tão abrangente como o serviço. Hesitou um pouquinho, mas  avançou decidida.
Lá dentro encontrou uma atmosfera paradisíaca. Os jardins do Éden deveriam ser assim: um oásis de branco, pontuado por maravilhas da Natureza. A própria florista também tinha algo de angelical, loura, calma, solícita.
Acabou por decidir-se por flores brancas. Sempre lhe pareciam o mais adequado para despedidas e desejos de paz eterna. Sem saber porquê, encontrou-se a descrever à florista as qualidades da pessoa que partira, injustamante nova, com muito para dar, deixando muitas saudades.
As mãos suaves e experientes, criavam o arranjo, enquanto - mais com expressões faciais que com palavras - a florista acompanhava, solidária, o relato.
Sentiu-se ridícula e sem graça. Toda a gente devia dizer coisas daquelas ali. Resolveu mudar o assunto: "Quando morei cá não havia esta florista..."
"Estamos aqui há 20 anos."
"A sério? Nesta mesma loja? Assim tão grande?"
"A mesma" assentiu a florista, levantando o olhar.
Só agora percebia que ela deveria estar a calcular a sua idade. Sabia que dissera coisas como: "Eu só saí daqui há quinze anos. Passava diariamente neste jardim...não me lembro nada deste espaço," falando mais para si mesma, quase a reflectir em voz alta.
Pousando o arranjo pronto sobre a mesa, a angelical florista disse com um sorriso: "Sabe?... Há idades para tudo. Idades para passar pelas lojas sem as ver, idades para assinalar datas com flores, idades para sentir mais uns acontecimentos que outros..."
Concordou que ela devia ter razão. Pagou o ramo e saiu. Havia algo no olhar da mulher que a incomodara quando trocaram as últimas palavras. Não soubera o que era, na altura.
Pensou em tudo isto, naquele sábado à noite, quando declinou o convite dos amigos para sair, preferindo ficar em casa a ler.
"Há idades para tudo...será que estou velha?..." Resolveu não se deter no pensamento e renovou o golo de Bailey's, enterrando-se na poltrona e semicerrando os olhos: "Desde que me saiba bem, até posso ficar velha!"- decidiu.
Observou o marcador evocativo de Paris e retomou a leitura.

Chove...

Queria colocar a boina vermelha, de fazenda e deambular nas margens do Sena, sentindo-me numa página pardacenta da História da Humanidade...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Reflectindo Portugal

tal como a vidraça, no dia do Centenário...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A Portuguesa....naturalmente

A Portuguesa

Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!


Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!


Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O Oceano, a rugir d'amor,
E teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!


Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!


Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.


Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
Letra: Henrique Lopes de Mendonça
Música: Alfredo Keil

domingo, 3 de outubro de 2010

Domingo à noite

"Encosta-te a mim,
nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim,
talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim,
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar. "

Encosta-te a Mim, Jorge Palma

Azul Memória

Hoje tenho uma boqueira. Uma coisa chata, instalada no canto da boca, que me seca os lábios, faz uma pequena crosta e se torna incomodativo.

Apliquei uma pomada que tenho cá por casa, daquelas coisas milagrosas, que curam quase tudo o que são pequenas maleitas. Lembrei-me então que quando era criança tinha isto frequentemente. A minha avó levava-me à drogaria, onde comprava sabão amarelo em barra e ácidos para matar formigas e ratos, e pedia uma pedrinha azul. Acho que era azul metileno ou qualquer coisa parecida. Eu devia esfregar de vez em quando o lábio com aquilo, mas ter muito cuidado para não pôr dentro da boca ou queimar demais a boqueira.

Era um tratamento que sempre me deixava desconfortável, pois, além de aquilo ter sido comprado no mesmo local que os raticidas, a minha avó falava como se fosse muito perigoso. Mas se era perigoso, porque é que ela me comprava aquilo?...

Agora será impossível saber. Já pesquisei aqui pela net e verifiquei que é um corante usado em questões químicas e também em medicina.

Hoje vou continuar a pôr a pomada cá de casa. Mas gostei de tirar este azul da memória e guardá-lo por aqui.

sábado, 2 de outubro de 2010

Razoável Mente?...

"(...) De uma forma ou de outra, a maior parte dos objectos e das situações conduzem a alguma reacção emocional, embora uns em maior escala que outros. A reacção emocional pode ser fraca ou forte - e, felizmente para nós, é fraca na maior parte das vezes - mas, mesmo assim, está sempre presente. A emoção e o mecanismo biológico que lhe é subjacente são os companheiros obrigatórios do comportamento, consciente ou não. (...)
Felizmente, dado que também temos a capacidade de reflectir e planear, temos um meio de controlar a influente tirania da emoção: chama-se razão. Ironicamente, claro, os motores da razão também requerem emoção, o que significa que o poder da razão é por vezes bem modesto."
Damásio, A., O Sentimento de Si, pp. 79-80

A textura da mente

"O pano de que são feitas as nossas mentes e o nosso comportamento é tecido não só de factos mas de ciclos de emoções seguidas de sentimentos que, uma vez conhecidos, geram novas emoções, numa polifonia contínua."
Damásio, A. O Sentimento de Si, p. 63

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Comentário

"Era altura de despedir os políticos profissionais e colocarmos profissionais na política"

Padre Fernando Ventura, Convidado da SicNotícias no jornal das 9