"Sinceridade
Sinceridade é a idade de quem não tem mais medo
Questionar
Um homem está velho quando deixa de questionar a si próprio"
Georges Najjar Jr. Desaforismos
Será que as palavras ficam presas no tempo? Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil? Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?... Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto. Por puro prazer!
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Histórias...de (en)cantar...
" (...)
Agora,
As cortinas têm rostos,
São fantasmas bem-dispostos,
Cuidado!
O Super-homem está a caminho,
Traz o Panda e o Soldadinho,
Fecha os olhos e verás.
(...)
Às vezes
Há dragões que têm medo
E é esse o seu segredo,
Cuidado!
Vivem debaixo da cama,
Brincam com o Homem-aranha,
Vais levá-los no teu sono.
(...)"
Pedro Abrunhosa, Capitão da Areia in Longe
(e até parece tocado no meu piano de brincar...)
Agora,
As cortinas têm rostos,
São fantasmas bem-dispostos,
Cuidado!
O Super-homem está a caminho,
Traz o Panda e o Soldadinho,
Fecha os olhos e verás.
(...)
Às vezes
Há dragões que têm medo
E é esse o seu segredo,
Cuidado!
Vivem debaixo da cama,
Brincam com o Homem-aranha,
Vais levá-los no teu sono.
(...)"
Pedro Abrunhosa, Capitão da Areia in Longe
(e até parece tocado no meu piano de brincar...)
Etiquetas:
Palavras Cantadas,
Palavras Cativas,
Partículas de Felicidade,
Vídeos
domingo, 29 de agosto de 2010
Centenários
28 de Agosto de 1910 - O senhor da Serra
É anunciada no jornal O Século a romaria ao Senhor da Serra, que tem lugar a “pitoresca povoação de Belas”. O periódico refere que aquela romaria “chama, todos os anos por esta época, uma afluência extraordinária de forasteiros, que, à sombra das frondosas árvores da quinta do marquês vão, em ranchos, saborear os farnéis de que vão providos”. Por ocasião da romaria, Belas enfeita-se, sendo que o “burburinho e movimento de passageiros, que os comboios despejam a cada instante, tornam deveras curioso e interessante o espectáculo que (…) apresenta a estrada que liga a estação de Queluz ao antigo solar do marquês de Belas, coalhada de veículos de toda a espécie, desde a elegante vitória até à mais modesta carriola (…)”. Pela quinta vêm-se vendedeiras ambulantes e numerosos ranchos, acampados. Por ocasião deste evento foram destacados “forças de polícia e um pelotão de cavalaria, que ficarão às ordens do administrador co concelho de Cintra”.
Fonte: O Século n.º 10312, 28 de Agosto de 1910, p.1
colhido em http://www.centenariorepublica.pt/conteudo/28-de-agosto-de-1910-o-senhor-da-serra, agora mesmo
É anunciada no jornal O Século a romaria ao Senhor da Serra, que tem lugar a “pitoresca povoação de Belas”. O periódico refere que aquela romaria “chama, todos os anos por esta época, uma afluência extraordinária de forasteiros, que, à sombra das frondosas árvores da quinta do marquês vão, em ranchos, saborear os farnéis de que vão providos”. Por ocasião da romaria, Belas enfeita-se, sendo que o “burburinho e movimento de passageiros, que os comboios despejam a cada instante, tornam deveras curioso e interessante o espectáculo que (…) apresenta a estrada que liga a estação de Queluz ao antigo solar do marquês de Belas, coalhada de veículos de toda a espécie, desde a elegante vitória até à mais modesta carriola (…)”. Pela quinta vêm-se vendedeiras ambulantes e numerosos ranchos, acampados. Por ocasião deste evento foram destacados “forças de polícia e um pelotão de cavalaria, que ficarão às ordens do administrador co concelho de Cintra”.
Fonte: O Século n.º 10312, 28 de Agosto de 1910, p.1
colhido em http://www.centenariorepublica.pt/conteudo/28-de-agosto-de-1910-o-senhor-da-serra, agora mesmo
Etiquetas:
Palavras de Outros,
Palavras Esquecidas,
Tradições
sábado, 28 de agosto de 2010
Existir
"Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos.
Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir."
José Saramago
Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir."
José Saramago
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Ouvir e compreender implicam operações diferentes e não simultâneas
A Visão voltou a fazer-se presente cá por casa.
Como já fui assinante, de vez em quando, fazem esta gracinha: enviam duas ou três revistas - para ver se me avivam as saudades - e depois ligam a perguntar se não quero ser assinante de novo.
"Que não...muito obrigado...não é que não aprecie muito a revista...mas não quero ter obrigações...apetece-me ler outras vezes outras coisas...blá, blá blá..." - Foi no que pensei enquanto subia a escada com a revista na mão (depois de verificar se era mesmo para mim). "Olha, já que cá estás - disse eu, recuperando o hábito de falar para as coisas inanimadas que tanto encantara a minha sobrinha, em tempos - vou-te aproveitar e dar graças a Deus de não te ter comprado antes do café."
Comecei pela crónica do Ricardo Araújo Pereira. Eu adoro a maneira de escrever do Ricardo Araújo Pereira: utilizando os seus conhecimentos e convicções num texto completamente ao contrário. Para mim é o mestre da ironia! E também gosto muito quando raia o «non-sense». É uma prosa muito difícil, intrincada, desafiadora...Será que a maioria dos leitores compreende? Sei que parece elitista pensar assim, mas tenho tido tantas más experiências com o uso da ironia...
Depois, a propósito dos ecos que aqui andam e da generalização de falta de cultura geral que por aí vai grassando, lembrei-me de uma pequena anedota que acho deliciosa e que tem a ver com palavras:
Andava um casal de namorados a passear no campo e chegaram junto a um poço. A moça põe-se a experimentar o eco, gritando-lhe onomatopeias e deliciando-se com a sua repetição. Cansado da brincadeira infantil, o rapaz atira para o buraco escuro «Otor~rinolaringologista!» e recebeu como resposta: «Oto-Quê?...Oto-quê?...oto-quê?...»
Como já fui assinante, de vez em quando, fazem esta gracinha: enviam duas ou três revistas - para ver se me avivam as saudades - e depois ligam a perguntar se não quero ser assinante de novo.
"Que não...muito obrigado...não é que não aprecie muito a revista...mas não quero ter obrigações...apetece-me ler outras vezes outras coisas...blá, blá blá..." - Foi no que pensei enquanto subia a escada com a revista na mão (depois de verificar se era mesmo para mim). "Olha, já que cá estás - disse eu, recuperando o hábito de falar para as coisas inanimadas que tanto encantara a minha sobrinha, em tempos - vou-te aproveitar e dar graças a Deus de não te ter comprado antes do café."
Comecei pela crónica do Ricardo Araújo Pereira. Eu adoro a maneira de escrever do Ricardo Araújo Pereira: utilizando os seus conhecimentos e convicções num texto completamente ao contrário. Para mim é o mestre da ironia! E também gosto muito quando raia o «non-sense». É uma prosa muito difícil, intrincada, desafiadora...Será que a maioria dos leitores compreende? Sei que parece elitista pensar assim, mas tenho tido tantas más experiências com o uso da ironia...
Depois, a propósito dos ecos que aqui andam e da generalização de falta de cultura geral que por aí vai grassando, lembrei-me de uma pequena anedota que acho deliciosa e que tem a ver com palavras:
Andava um casal de namorados a passear no campo e chegaram junto a um poço. A moça põe-se a experimentar o eco, gritando-lhe onomatopeias e deliciando-se com a sua repetição. Cansado da brincadeira infantil, o rapaz atira para o buraco escuro «Otor~rinolaringologista!» e recebeu como resposta: «Oto-Quê?...Oto-quê?...oto-quê?...»
Etiquetas:
Dúvidas,
Palavras repetentes,
Palavreado
Há eco aqui!
"Não chegaram pelo correio ou por um entregador, como nos filmes que via.
As flores foram simplesmente deixadas à porta. Num arranjo de florista, com um papel verde frisado; estavam no tapete de entrada quando abriu a porta. Levantou-as e olhou em volta. Ninguém. Recuou no seu intento de sair, fechando a porta com estrondo. (Tudo fazia muito mais barulho numa casa vazia...os ruídos eram amplificados...)
Pousou-as desajeitadamente sobre a única mesa da casa. Mirou o ramo, durante uns segundos, antes de se decidir a abrir o envelope.
Um poema. Tinha um cartão com um poema escrito, sem qualquer data ou assinatura ou texto mais pessoal.
Sem nem sequer ter consciência disso, fez um ar sério e colocou a voz de forma a ter melhor dicção. Leu: "Sempre um de nós foge".
«Foge», «foge», «fog...
Nunca o eco lhe parecera tão inquietante; habituara-se até a viver com ele, mas falava cada vez menos em voz alta, é verdade.
Assim, repetido, o aviso...que também podia ser um apelo, uma premonição...
Sabia que era só o eco, mas, pelo sim, pelo não, leu o resto do poema em silêncio."
As flores foram simplesmente deixadas à porta. Num arranjo de florista, com um papel verde frisado; estavam no tapete de entrada quando abriu a porta. Levantou-as e olhou em volta. Ninguém. Recuou no seu intento de sair, fechando a porta com estrondo. (Tudo fazia muito mais barulho numa casa vazia...os ruídos eram amplificados...)
Pousou-as desajeitadamente sobre a única mesa da casa. Mirou o ramo, durante uns segundos, antes de se decidir a abrir o envelope.
Um poema. Tinha um cartão com um poema escrito, sem qualquer data ou assinatura ou texto mais pessoal.
Sem nem sequer ter consciência disso, fez um ar sério e colocou a voz de forma a ter melhor dicção. Leu: "Sempre um de nós foge".
«Foge», «foge», «fog...
Nunca o eco lhe parecera tão inquietante; habituara-se até a viver com ele, mas falava cada vez menos em voz alta, é verdade.
Assim, repetido, o aviso...que também podia ser um apelo, uma premonição...
Sabia que era só o eco, mas, pelo sim, pelo não, leu o resto do poema em silêncio."
Exemplos
Sean Connery fez 80 anos e anunciou que vai reformar-se.
São gajos destes que dão cabo de tudo: com exemplos destes, como é que podemos ter esperança de nos reformarmos antes dos 100 anos? E o Manoel de Oliveira? Mesmo aqui no país?
Espero que tenham em conta que o Sean Connery era Santo e Agente Secreto com 7 vidas próprias + 3 oferecidas pelo governo inglês...
Não sei...fico muito preocupada com estas figuras públicas que não percebem a enormidade de suas vidas!
São gajos destes que dão cabo de tudo: com exemplos destes, como é que podemos ter esperança de nos reformarmos antes dos 100 anos? E o Manoel de Oliveira? Mesmo aqui no país?
Espero que tenham em conta que o Sean Connery era Santo e Agente Secreto com 7 vidas próprias + 3 oferecidas pelo governo inglês...
Não sei...fico muito preocupada com estas figuras públicas que não percebem a enormidade de suas vidas!
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Olavo Bilac
Assim, de imediato, sempre achei um nome estranho, o do vocalista dos Santos e Pecadores.
Depois, um dia, vi uma frase filosófica, citação de Olavo Bilac. Não me parecia o estilo, nem seria normal uma citação daquelas de alguém vivo. A maior parte das autoridades morais tem como atributo o facto de estarem mortos e enterrados.
Lá fui em busca do citado e descobri o jornalista e poeta brasileiro...e morto, claro.
Pensei então que o nome do vocalista dos Santos e Pecadores era um nome artístico, homenagem ao poeta. Mas nunca me lembrei de verificar. Até agora.
Pois não é. O moço chama-se mesmo Olavo Bilac, e, além disso, Alves dos Reis. Assim, composto entre o nome de um poeta e de um falsário - ambos reputados de pessoas muito inteligentes - cresceu o Bilac de quem eu conheço a voz: rouca e sexy.
Depois, um dia, vi uma frase filosófica, citação de Olavo Bilac. Não me parecia o estilo, nem seria normal uma citação daquelas de alguém vivo. A maior parte das autoridades morais tem como atributo o facto de estarem mortos e enterrados.
Lá fui em busca do citado e descobri o jornalista e poeta brasileiro...e morto, claro.
Pensei então que o nome do vocalista dos Santos e Pecadores era um nome artístico, homenagem ao poeta. Mas nunca me lembrei de verificar. Até agora.
Pois não é. O moço chama-se mesmo Olavo Bilac, e, além disso, Alves dos Reis. Assim, composto entre o nome de um poeta e de um falsário - ambos reputados de pessoas muito inteligentes - cresceu o Bilac de quem eu conheço a voz: rouca e sexy.
Etiquetas:
Dúvidas,
Palavras Cativas,
Palavreado
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Verbatim por tim-tim
Durante as pesquisas e leituras destes últimos tempos, tive, frequentemente de enfrentar textos noutras línguas. Com o recurso a amigos e dicionários (ou até dicionários amigos e «amigos dicionários») lá ia descodificando o que representava maior dificuldade. Em grande parte dos casos não era necessário uma tradução fidedigna, era apenas preciso compreender o sentido global. Nos casos em que era necessário citar havia um rigor diferente.
No meu livro de metodologia preferido para esta última empreitada (em francês, naturalmente) houve uma palavra que nunca foi completamente ultrapassada. Como não era necessário fazer citações daqueles trechos, fiquei-me pela compreensão em contexto de «verbatim», que se fixou no meu espírito como apontamento, ficha breve ou referência bibliográfica a um texto ou ideia.
Talvez eu tivesse esquecido a palavra se ela não se tivesse colocado à minha frente, na última semana, em duas situações diferentes: numa nova secção da revista Visão e numa marca de material informático (CDs e etc e tal).
Como gosto pouco de ficar na dúvida - embora possa encarar a hipótese de manter os outros na dúvida, recuperando um conselho da publicidade da Lux de outros tempos - lá iniciei uma nova busca. Nada nos dicionários em papel e online até uma busca mais vasta, que me levou ao Wikcionário.
Aí explica-se a origem latina da palavra - a mesma de timtim por timtim - e está a chegar à nossa língua através do inglês (médio) e significa literal. Pode ser usado como advérbio (literalmente ou textualmente), ou como substantivo (reprodução literal de um discurso). No inglês tem como sinónimo «in so many words» e «word for word»). Pode ainda significar um documento que reproduz literalmente um discurso.
Assim, no caso do livro de metodologia, significava as famosas «fichas de citação» que elaboro desde o meu 10ºano - por diligência do excelente professor de História que tive na altura - e desde o «cadeirão» de Teoria das Fontes e Metodologia do Saber Histórico, no 1º ano da Licenciatura.
No meu livro de metodologia preferido para esta última empreitada (em francês, naturalmente) houve uma palavra que nunca foi completamente ultrapassada. Como não era necessário fazer citações daqueles trechos, fiquei-me pela compreensão em contexto de «verbatim», que se fixou no meu espírito como apontamento, ficha breve ou referência bibliográfica a um texto ou ideia.
Talvez eu tivesse esquecido a palavra se ela não se tivesse colocado à minha frente, na última semana, em duas situações diferentes: numa nova secção da revista Visão e numa marca de material informático (CDs e etc e tal).
Como gosto pouco de ficar na dúvida - embora possa encarar a hipótese de manter os outros na dúvida, recuperando um conselho da publicidade da Lux de outros tempos - lá iniciei uma nova busca. Nada nos dicionários em papel e online até uma busca mais vasta, que me levou ao Wikcionário.
Aí explica-se a origem latina da palavra - a mesma de timtim por timtim - e está a chegar à nossa língua através do inglês (médio) e significa literal. Pode ser usado como advérbio (literalmente ou textualmente), ou como substantivo (reprodução literal de um discurso). No inglês tem como sinónimo «in so many words» e «word for word»). Pode ainda significar um documento que reproduz literalmente um discurso.
Assim, no caso do livro de metodologia, significava as famosas «fichas de citação» que elaboro desde o meu 10ºano - por diligência do excelente professor de História que tive na altura - e desde o «cadeirão» de Teoria das Fontes e Metodologia do Saber Histórico, no 1º ano da Licenciatura.
Etiquetas:
Palavras Cativas,
Palavras Forasteiras,
Publicidade
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Comunicado
Aos Amigos, Conhecidos, Desconhecidos e Reconhecidos, se informa que, foi entregue, na sexta-feira passada, o trabalho que me tem ocupado os dias e as noites nos últimos anos.
Um Grande Bem-haja a todos os que, de diversas formas, ajudaram este processo;
Um Grande «Shame on you» para os que nada fizeram.
Escriva Ninha
Um Grande Bem-haja a todos os que, de diversas formas, ajudaram este processo;
Um Grande «Shame on you» para os que nada fizeram.
Escriva Ninha
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Areias Movediças
Há muito tempo que não me lembrava dos filmes do Tarzan, em que havia sempre umas cenas (moderadamente aflitivas) em que alguém ficava preso nas areias movediças.
A selva tinha um código moral bastante simpático: se a pessoa pertencia aos maus, terminava ali o seu desempenho no filme, se era dos bons - Tarzan e pouco mais (aliás, não eram muitos os figurantes) - aparecia um elefante com a sua forte tromba, e salvava o nosso herói, para termos a certeza de que haveria outro filme.
E porque me lembrei eu de tudo isto?
Porque me estou a debater com a elaboração de um índice remissivo - que nunca pensei que fosse tão difícil! - estafadinha de todo e a lutar contra a lógica irracional dos computadores, que entra frequentemente em choque com a minha.
O único paralelo que estabeleço é com a aflição (dos bons) no meio das areias movediças, crente na força elefantina, das ajudas familiares, que lá vão «salvando a moça de letras» de ser engolida nas «areias movediças» tecnológicas.
A selva tinha um código moral bastante simpático: se a pessoa pertencia aos maus, terminava ali o seu desempenho no filme, se era dos bons - Tarzan e pouco mais (aliás, não eram muitos os figurantes) - aparecia um elefante com a sua forte tromba, e salvava o nosso herói, para termos a certeza de que haveria outro filme.
E porque me lembrei eu de tudo isto?
Porque me estou a debater com a elaboração de um índice remissivo - que nunca pensei que fosse tão difícil! - estafadinha de todo e a lutar contra a lógica irracional dos computadores, que entra frequentemente em choque com a minha.
O único paralelo que estabeleço é com a aflição (dos bons) no meio das areias movediças, crente na força elefantina, das ajudas familiares, que lá vão «salvando a moça de letras» de ser engolida nas «areias movediças» tecnológicas.
Etiquetas:
Palavras Cativas,
Palavras Doridas,
Partículas de Felicidade
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Professor Alfredo Tinoco
Fui sua aluna há muitos anos. Continuei a encontrá-lo em eventos relacionados com o assunto que me fez estar sentada nas suas aulas: a Museologia.
Só o ano passado ganhei coragem para lhe dizer (e lhe agradecer) a influência que teve na minha vida. O trabalho que entreguei para a sua disciplina mereceu-lhe, além de uma boa avaliação, um incentivo para que o apresentasse publicamente. Isto é de uma generosidade muito grande! Esse era um dos grandes atributos deste Professor: a Generosidade.
Foi num Congresso de Antropologia, logo pela manhã, que apresentei a minha comunicação, contente por estar pouca gente na sala, pois aquilo para mim era muito difícil. Nunca o teria feito sem o incentivo do Professor.
Morreu esta noite este grande humanista, o Professor Alfredo Tinoco, a quem a Museologia - sobretudo a Nova Museologia - deve muito.
É uma grande perda. Era um homem exemplar no desempenho dos ideais da Democracia pela qual lutou.
Obrigada Professor! Foi um privilégio ter sido sua aluna!
Só o ano passado ganhei coragem para lhe dizer (e lhe agradecer) a influência que teve na minha vida. O trabalho que entreguei para a sua disciplina mereceu-lhe, além de uma boa avaliação, um incentivo para que o apresentasse publicamente. Isto é de uma generosidade muito grande! Esse era um dos grandes atributos deste Professor: a Generosidade.
Foi num Congresso de Antropologia, logo pela manhã, que apresentei a minha comunicação, contente por estar pouca gente na sala, pois aquilo para mim era muito difícil. Nunca o teria feito sem o incentivo do Professor.
Morreu esta noite este grande humanista, o Professor Alfredo Tinoco, a quem a Museologia - sobretudo a Nova Museologia - deve muito.
É uma grande perda. Era um homem exemplar no desempenho dos ideais da Democracia pela qual lutou.
Obrigada Professor! Foi um privilégio ter sido sua aluna!
Etiquetas:
Palavras à Medida,
Palavras Doridas
domingo, 15 de agosto de 2010
Nas «asas» da História
Esta mensagem tem como mote o último comentário à mensagem anterior.
Ao lê-la pensei: «Ah! A fantasia tem andado tão arredada das aulas de História. E que falta ela faz!...»Fantasia, talvez não seja o termo: prefiro imaginação. A imaginação é mesmo um requisito para compreender (e gostar) de História. Pois se não podemos ir lá - ao passado - temos de nos imaginar lá. Mas, claro, dentro de um determinado contexto. Caso contrário, lá surgem os anacronismos.
Os anacronismos são inevitáveis nas aulas de História. É uma das coisas para que primeiro alerto os meus alunos.
Alguns dos anacronismos ou das interpretações diferentes das palavras têm ocasionado momentos bem saborosos das aulas de História.
Como no dia em que eu estava explicando o contexto em que surge a Reforma Protestante do século XVI e lhes falava das evidências de uma decadência moral no topo da Igreja e de incoerências flagrantes. Depois de ter falado em certos comportamentos escandalosos da elite da Igreja centrei-me nas questões da guerra e da paz, dos princípios e práticas da Igreja Católica. E dizia eu: "Reparem! O Papa, que devia promover a paz, patrocinava guerras. As cruzadas eram patrocinadas pelo Papa." Quando um aluno começa a rir-se, com um ar mesmo divertido e diz: "Parece que estou a ver. Todos em cima dos cavalos, com t-shirts que diziam «Esta guerra é patrocinada por: Igreja Católica de Roma».
O garoto tinha piada e estava mesmo a fazer uma piada. Não sei se se consegue perceber assim, fora do contexto, mas eu nunca mais deixei de ter esta cómica imagem no espírito: Como um cartoon - os cruzados de t-shirts brancas e os muçulmanos de t-shirts negras, todas com as letras dos patrocinadores das guerras.
Não deixa de ser curioso que eu associe o branco ao «lado de cá» e o negro «ao lado de lá». Há certos preconceitos que se insinuam nas cores da nossa imaginação: que incomodativo!
Ao lê-la pensei: «Ah! A fantasia tem andado tão arredada das aulas de História. E que falta ela faz!...»Fantasia, talvez não seja o termo: prefiro imaginação. A imaginação é mesmo um requisito para compreender (e gostar) de História. Pois se não podemos ir lá - ao passado - temos de nos imaginar lá. Mas, claro, dentro de um determinado contexto. Caso contrário, lá surgem os anacronismos.
Os anacronismos são inevitáveis nas aulas de História. É uma das coisas para que primeiro alerto os meus alunos.
Alguns dos anacronismos ou das interpretações diferentes das palavras têm ocasionado momentos bem saborosos das aulas de História.
Como no dia em que eu estava explicando o contexto em que surge a Reforma Protestante do século XVI e lhes falava das evidências de uma decadência moral no topo da Igreja e de incoerências flagrantes. Depois de ter falado em certos comportamentos escandalosos da elite da Igreja centrei-me nas questões da guerra e da paz, dos princípios e práticas da Igreja Católica. E dizia eu: "Reparem! O Papa, que devia promover a paz, patrocinava guerras. As cruzadas eram patrocinadas pelo Papa." Quando um aluno começa a rir-se, com um ar mesmo divertido e diz: "Parece que estou a ver. Todos em cima dos cavalos, com t-shirts que diziam «Esta guerra é patrocinada por: Igreja Católica de Roma».
O garoto tinha piada e estava mesmo a fazer uma piada. Não sei se se consegue perceber assim, fora do contexto, mas eu nunca mais deixei de ter esta cómica imagem no espírito: Como um cartoon - os cruzados de t-shirts brancas e os muçulmanos de t-shirts negras, todas com as letras dos patrocinadores das guerras.
Não deixa de ser curioso que eu associe o branco ao «lado de cá» e o negro «ao lado de lá». Há certos preconceitos que se insinuam nas cores da nossa imaginação: que incomodativo!
Etiquetas:
Cores,
Palavras Cativas,
Partículas de Felicidade
sábado, 14 de agosto de 2010
Por detrás do fogo, há outro fogo, que arde sem se conseguir ver
"É estranho que nasçam incêndios assim..." disse o repórter da Sic, em directo de Seia, informando sobre o nascimento "há 10 minutos", de uma coluna de fumo isolada, após a extinção dos incêndios dos últimos dias, na Serra da Estrela.
Que interesses e inércias a eles ligados estarão por detrás do continuado delapidar do património florestal? Que estranha força é a que tolhe a justiça de apanhar quem põe em perigo a vida e a saúde do país?
Os «soldados da paz», que abdicam das férias para proteger os outros, detentores da estrela de «voluntários», vão morrendo, por aí, ingloriamente...
O que se passa para que já esperemos os incêndios de Verão, a par da época balnear?
Tive um pai e um padrinho que foram bombeiros, dos quais me orgulho e, também por eles, todos os anos me indigno e não consigo compreender...
Que interesses e inércias a eles ligados estarão por detrás do continuado delapidar do património florestal? Que estranha força é a que tolhe a justiça de apanhar quem põe em perigo a vida e a saúde do país?
Os «soldados da paz», que abdicam das férias para proteger os outros, detentores da estrela de «voluntários», vão morrendo, por aí, ingloriamente...
O que se passa para que já esperemos os incêndios de Verão, a par da época balnear?
Tive um pai e um padrinho que foram bombeiros, dos quais me orgulho e, também por eles, todos os anos me indigno e não consigo compreender...
Etiquetas:
Dúvidas,
Palavras Doridas,
Palavras repetentes,
Palavras vãs
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Decidi Outono
"Quando me cansei de mentir a mim próprio,
comecei a escrever um livro de poesia.
Foi há duas horas que decidi, mas foi há muito
mais tempo que comecei a cansar-me. O cansaço
é uma pele gradual como o outono. Pausa.
Pousa devagar sobre a carne, como as folhas
sobre a terra, e atravessa-a até aos ossos,
como as folhas atravessam a terra e tocam
os mortos e tornam-se férteis a seu lado.
A cidade continua nas ruas, as raparigas riem,
mas há um segredo que fermenta no silêncio.
São as palavras, livres, os livros por escrever,
aquilo que virá com as estações futuras.
Há sempre esperança no fundo das avenidas.
Mas há poças de água nos passeios. Há frio,
há cansaço, há duas horas que decidi, outono.
E o meu corpo não quer mentir, e aquilo que
não é o meu corpo, o tempo, sabe que
tenho muitos poemas para escrever."
José Luís Peixoto, in "Gaveta de Papéis"/ Edições Quasi
comecei a escrever um livro de poesia.
Foi há duas horas que decidi, mas foi há muito
mais tempo que comecei a cansar-me. O cansaço
é uma pele gradual como o outono. Pausa.
Pousa devagar sobre a carne, como as folhas
sobre a terra, e atravessa-a até aos ossos,
como as folhas atravessam a terra e tocam
os mortos e tornam-se férteis a seu lado.
A cidade continua nas ruas, as raparigas riem,
mas há um segredo que fermenta no silêncio.
São as palavras, livres, os livros por escrever,
aquilo que virá com as estações futuras.
Há sempre esperança no fundo das avenidas.
Mas há poças de água nos passeios. Há frio,
há cansaço, há duas horas que decidi, outono.
E o meu corpo não quer mentir, e aquilo que
não é o meu corpo, o tempo, sabe que
tenho muitos poemas para escrever."
José Luís Peixoto, in "Gaveta de Papéis"/ Edições Quasi
Etiquetas:
Palavras de Outros,
Partículas de Felicidade
José Luis Peixoto
Nunca li nada do José Luis Peixoto.
Confesso que é uma personagem que me intriga, pois acho que ele tem ar de ser uma pessoa muito inteligente, mas repugna-me um bocado aquilo de ele ter muitos piercings...Creio que será apenas uma questão geracional e tinha já pensado que gostaria de experimentar encontrar-me uma vez com a escrita dele. Nada de muito urgente...algo no meio da lista que tenho encimada por "um dia..."
Hoje tive um bocadinho para mim, daqueles que se gozam a sós numa esplanada, explorando um jornal ou uma revista.
Prefiro a Visão, mas sei que a minha irmã a comprou hoje de manhã e sempre se poupa dinheiro e se amplia a leitura se eu comprar a Sábado. Assim fiz.
Desinteressantezinha, que ela está...Parece que esperam que fiquemos todos idiotas no Verão, ou que a leitura seja uma coisa só de Inverno!
Entre o folhear entediado, encontro um artigo - ao estilo referido: Um Inquérito a Figuras Públicas Variadas sobre o que fariam se estivessem no seu último dia de Governo. Uma das figuras públicas era, precisamente, o José Luis Peixoto, que se destacou - no meio das patacoadas dos outros - com este texto:
"Seria Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social. Legislaria no sentido da existência de uma proximidade física, ou mesmo de uma partilha de espaço, entre os lares da terceira idade e os infantários. Os mais novos teriam oportunidade de usufruir da experiência dos mais velhos e estes ganhariam com o optimismo e entusiasmo das crianças. Esta medida iria salvaguardar o passado e contribuir para um futuro mais consciente e sensato. A comunicação entre gerações é essencial para um desenvolvimento coeso da sociedade."
Pás! Assim: uma bofetada de luva branca em todos os que - imbuídos do silly da season - brincaram com a questão.
Lindo! Quase me poderia apaixonar por ele! Mas...aquilo dos piercings ia ser um bocado inibitório...
Mas vou comprar um livro dele e, se puder, autografado.
Confesso que é uma personagem que me intriga, pois acho que ele tem ar de ser uma pessoa muito inteligente, mas repugna-me um bocado aquilo de ele ter muitos piercings...Creio que será apenas uma questão geracional e tinha já pensado que gostaria de experimentar encontrar-me uma vez com a escrita dele. Nada de muito urgente...algo no meio da lista que tenho encimada por "um dia..."
Hoje tive um bocadinho para mim, daqueles que se gozam a sós numa esplanada, explorando um jornal ou uma revista.
Prefiro a Visão, mas sei que a minha irmã a comprou hoje de manhã e sempre se poupa dinheiro e se amplia a leitura se eu comprar a Sábado. Assim fiz.
Desinteressantezinha, que ela está...Parece que esperam que fiquemos todos idiotas no Verão, ou que a leitura seja uma coisa só de Inverno!
Entre o folhear entediado, encontro um artigo - ao estilo referido: Um Inquérito a Figuras Públicas Variadas sobre o que fariam se estivessem no seu último dia de Governo. Uma das figuras públicas era, precisamente, o José Luis Peixoto, que se destacou - no meio das patacoadas dos outros - com este texto:
"Seria Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social. Legislaria no sentido da existência de uma proximidade física, ou mesmo de uma partilha de espaço, entre os lares da terceira idade e os infantários. Os mais novos teriam oportunidade de usufruir da experiência dos mais velhos e estes ganhariam com o optimismo e entusiasmo das crianças. Esta medida iria salvaguardar o passado e contribuir para um futuro mais consciente e sensato. A comunicação entre gerações é essencial para um desenvolvimento coeso da sociedade."
Pás! Assim: uma bofetada de luva branca em todos os que - imbuídos do silly da season - brincaram com a questão.
Lindo! Quase me poderia apaixonar por ele! Mas...aquilo dos piercings ia ser um bocado inibitório...
Mas vou comprar um livro dele e, se puder, autografado.
Etiquetas:
Palavras de Outros,
Palavras Sábias,
Partículas de Felicidade
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Calor Abrasador
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Mário Sá Carneiro, Quase
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Mário Sá Carneiro, Quase
Etiquetas:
Palavras à Medida,
Palavras de Outros
domingo, 8 de agosto de 2010
Chuva de Verão
A chuva começou a cair agora, rasgando a opressão de um tempo cinzento e carregado.
Cada uma, à nossa maneira, estamos as três encantadas.
Os pingos são grossos e esborracham-se na tijoleira quente do terraço com pequenos baques que me fazem lembrar o mar, ondas encapeladas, homens de oleado vestido e os pescadores de Raúl Brandão.
A chuva de Verão é uma névoa de frescor. Não assusta como as tempestades de Inverno, não traz maus pensamentos, nem a ameaça da permanência, não oprime...refresca, liberta.
A Shaneca deitou-se no corredor, entre as janelas semi-abertas a ouvir a chuva, a Menina está na lavandaria, meia dentro de casa, estendendo o focinhito e saboreando a chuva nos bigodes, que parecem ainda maiores; eu desliguei o rádio e resolvi vir para aqui escrever, ao som da chuva, benéfico, terapêutico, quebrando a rotina dos dias de sol, num domingo de Agosto.
Cada uma, à nossa maneira, estamos as três encantadas.
Os pingos são grossos e esborracham-se na tijoleira quente do terraço com pequenos baques que me fazem lembrar o mar, ondas encapeladas, homens de oleado vestido e os pescadores de Raúl Brandão.
A chuva de Verão é uma névoa de frescor. Não assusta como as tempestades de Inverno, não traz maus pensamentos, nem a ameaça da permanência, não oprime...refresca, liberta.
A Shaneca deitou-se no corredor, entre as janelas semi-abertas a ouvir a chuva, a Menina está na lavandaria, meia dentro de casa, estendendo o focinhito e saboreando a chuva nos bigodes, que parecem ainda maiores; eu desliguei o rádio e resolvi vir para aqui escrever, ao som da chuva, benéfico, terapêutico, quebrando a rotina dos dias de sol, num domingo de Agosto.
Etiquetas:
Palavras à Medida,
Palavras repetentes,
Partículas de Felicidade
sábado, 7 de agosto de 2010
Picardia - Uma viagem estonteante
Ontem recebi um texto que, a determinada altura, falava em picardia. Estranhei a palavra...como uma palavra que não é comum de ouvir. Avaliei-a - como faço instintivamente - a ver ao que me soava, antes de a procurar no seu significado, presente num dicionário. Eu compreendia perfeitamente o que ela queria dizer no seu contexto, mas, queria explorar mais a palavra...
Para mim era algo associado a picadeiro...mas às cortesias dos cavalos também...ou aos movimentos dos cavalos...talvez picados por uma mosca ou um moscardo.
Procurei-a no dicionário, pois quando uma palavra me desafia gosto de a experimentar, procurar os seus múltiplos significados, ensaiar as suas aplicações. (Não sei desde quando faço isto, mas, desde que tenho este blogue faço-o consciente e deliberadamente, ou talvez tenha este blogue porque me apercebi de que o fazia...é irrelevante, agora).
Fiquei então a saber que existe uma região de França com este nome, recordei-me de um significado associado à literatura, que em tempos passou por mim em aulas de liceu e estacionei no significado «pirraça», que era o que se adequava ao texto que me era dirigido. Ficámos ontem por ali.
A sensação de associação com a picada da mosca ou moscardo na traseira do cavalo, que o faz mover-se rapida e contristadamente, não saía, no entanto do meu espírito.
Hoje de manhã, na costumeira conversa de esplanada, alguém refere uma relação marcada «por uma certa picardia»...Olhei-o por detrás das palavras, facto que lhe passou despercebido por estar eu óculos de sol. Desencadeou-se no meu espírito a relação que tanto procurava sem saber ao certo: Picardia é, para mim, uma palavra associada a uma música em especial: o voo do moscardo - uma das músicas mais visuais que conheço; e desafiante também, divertida, irrequieta, como se, ao ouvi-la, procurássemos livrar-nos de uma mosca (ou moscardo) que roda em volta de nós, criando movimento e instabilidade!
Recordei o voo do moscardo tocado pela Orquestra Sinfónica de Acordeãos, dirigida pelo Professor Vitorino Matono, numa época muito recuada em que também eu andava encantada por teclados.
Procurei na net e - surpresa das surpresas - encontrei várias versões e muito diferentes: desde o violino à vocalização. Deliciei-me agora a ouvir e seleccionar os vídeos que vou colocar aqui, de seguida, na primeira compilação musical temática deste blogue, desencadeada pela palavra Picardia.
Para o rigor histórico ser cumprido, devo dizer que este trecho musical foi composto pelo russo Nikolay Rimsky-Korsakov (1844-1908)e que é interpretado por diversos instrumentos e estilos até hoje. Vejam lá!
Para mim era algo associado a picadeiro...mas às cortesias dos cavalos também...ou aos movimentos dos cavalos...talvez picados por uma mosca ou um moscardo.
Procurei-a no dicionário, pois quando uma palavra me desafia gosto de a experimentar, procurar os seus múltiplos significados, ensaiar as suas aplicações. (Não sei desde quando faço isto, mas, desde que tenho este blogue faço-o consciente e deliberadamente, ou talvez tenha este blogue porque me apercebi de que o fazia...é irrelevante, agora).
Fiquei então a saber que existe uma região de França com este nome, recordei-me de um significado associado à literatura, que em tempos passou por mim em aulas de liceu e estacionei no significado «pirraça», que era o que se adequava ao texto que me era dirigido. Ficámos ontem por ali.
A sensação de associação com a picada da mosca ou moscardo na traseira do cavalo, que o faz mover-se rapida e contristadamente, não saía, no entanto do meu espírito.
Hoje de manhã, na costumeira conversa de esplanada, alguém refere uma relação marcada «por uma certa picardia»...Olhei-o por detrás das palavras, facto que lhe passou despercebido por estar eu óculos de sol. Desencadeou-se no meu espírito a relação que tanto procurava sem saber ao certo: Picardia é, para mim, uma palavra associada a uma música em especial: o voo do moscardo - uma das músicas mais visuais que conheço; e desafiante também, divertida, irrequieta, como se, ao ouvi-la, procurássemos livrar-nos de uma mosca (ou moscardo) que roda em volta de nós, criando movimento e instabilidade!
Recordei o voo do moscardo tocado pela Orquestra Sinfónica de Acordeãos, dirigida pelo Professor Vitorino Matono, numa época muito recuada em que também eu andava encantada por teclados.
Procurei na net e - surpresa das surpresas - encontrei várias versões e muito diferentes: desde o violino à vocalização. Deliciei-me agora a ouvir e seleccionar os vídeos que vou colocar aqui, de seguida, na primeira compilação musical temática deste blogue, desencadeada pela palavra Picardia.
Para o rigor histórico ser cumprido, devo dizer que este trecho musical foi composto pelo russo Nikolay Rimsky-Korsakov (1844-1908)e que é interpretado por diversos instrumentos e estilos até hoje. Vejam lá!
Etiquetas:
Palavras Cativas,
Palavras intuídas,
Partículas de Felicidade,
Vídeos
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Literatura
Clássico é o livro que toda a gente queria ter lido, mas que ninguém quer ler
(adaptado de uma frase de Mark Twain)
(adaptado de uma frase de Mark Twain)
Etiquetas:
Palavras de Outros,
Palavras repetentes
Espraiar...
Sentir-me como uma onda do mar, a espraiar-me na areia quente; fazendo-lhe cócegas nos pequenos grãos de areia, que me vão absorvendo...absorvendo...incorporando...até que eu deixe de existir...a não ser como adjectivo da areia: «molhada».
Etiquetas:
I Wish,
Palavras à Medida,
Palavreado
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Ritmos Ondulantes
"La palidez de una magnolia invade
Tu rostro de mujer atormentada
Y en tus divinos ojos verde jade
Se adivina que estás enamorada,
Se adivina que estás enamorada.
Dime si tu boca, diminuto coral,
Pequeñito panal, es para mi.
Habla de tus penas, dime si tu dolor
Es sólo desamor o frenesí.
Sueña con el beso que te cautivará
Rompiendo el bacará de tu tristeza.
Enamorada de lo imposible
Rosa que se marchitó. "
Compay Segundo, Enamorada, CD: Las Flores de la Vida
Tu rostro de mujer atormentada
Y en tus divinos ojos verde jade
Se adivina que estás enamorada,
Se adivina que estás enamorada.
Dime si tu boca, diminuto coral,
Pequeñito panal, es para mi.
Habla de tus penas, dime si tu dolor
Es sólo desamor o frenesí.
Sueña con el beso que te cautivará
Rompiendo el bacará de tu tristeza.
Enamorada de lo imposible
Rosa que se marchitó. "
Compay Segundo, Enamorada, CD: Las Flores de la Vida
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Frase da noite
"Os espelhos fariam bem em reflectir um pouco
antes de nos devolverem as imagens" Jean Cocteau
(colhida em O Pilha Blogues, com autoridade acrescentada após pesquisa nos sites de citações da net)
antes de nos devolverem as imagens" Jean Cocteau
(colhida em O Pilha Blogues, com autoridade acrescentada após pesquisa nos sites de citações da net)
Etiquetas:
Palavras de Outros,
Palavras Doridas,
Partículas de Felicidade
Serviço Noticioso
Época dos fogos, dos afogamentos e da corrupção!
Tenho a sensação que tudo se poderia evitar com responsabilidade e civismo...
Tenho a sensação que tudo se poderia evitar com responsabilidade e civismo...
Conversas
As canções do Sérgio Godinho parecem conversas, tão naturais, tão possíveis, entre pessoas normais, com as quais nos cruzamos diariamente; como nós próprios, que, às vezes, temos de mudar de assunto...embora poucos consigam evitar os lamentos...
Etiquetas:
Palavras Cantadas,
Palavras de Outros
terça-feira, 3 de agosto de 2010
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Loucos de Lisboa
"Parava no café quando eu lá estava
Na voz tinha o talento dos pedintes
Entre um cigarro e outro lá cravava
a bica, ao melhor dos seus ouvintes
As mãos e o olhar da mesma cor
Cinzenta como a roupa que trazia
Um gesto que podia ser de amor
Sorria, e ao partir agradecia
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
Se a Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar
Um dia numa sala do quarteto
Passou um filme lá do hospital
Onde o esquecido filmado no gueto
Entrava como artista principal
Compramos a entrada p'ra sessão
Pra ver tal personagem no écran
O rosto maltratado era a razão
De ele não aparecer pela manhã
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
Se a Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar
Mudamos muita vez de calendário
Como o café mudou de freguesia
Deixamos de tributo a quem lá pára
Um louco a fazer-lhe companhia
E sempre a mesma posse o mesmo olhar
De quem não mede os dias que vagueam
Sentado la continua a cravar
Beijinhos as meninas que passeiam.
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
Se a Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar"
João Monge/João Gil, Ala dos Namorados
Na voz tinha o talento dos pedintes
Entre um cigarro e outro lá cravava
a bica, ao melhor dos seus ouvintes
As mãos e o olhar da mesma cor
Cinzenta como a roupa que trazia
Um gesto que podia ser de amor
Sorria, e ao partir agradecia
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
Se a Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar
Um dia numa sala do quarteto
Passou um filme lá do hospital
Onde o esquecido filmado no gueto
Entrava como artista principal
Compramos a entrada p'ra sessão
Pra ver tal personagem no écran
O rosto maltratado era a razão
De ele não aparecer pela manhã
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
Se a Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar
Mudamos muita vez de calendário
Como o café mudou de freguesia
Deixamos de tributo a quem lá pára
Um louco a fazer-lhe companhia
E sempre a mesma posse o mesmo olhar
De quem não mede os dias que vagueam
Sentado la continua a cravar
Beijinhos as meninas que passeiam.
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
Se a Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar"
João Monge/João Gil, Ala dos Namorados
Etiquetas:
Palavras Cantadas,
Palavras repetentes,
Partículas de Felicidade
A Linguagem: como um qualquer canal, limitada por margens?...
"A filosofia é um disparate. Uma impostura. Não são os pensamentos ou o pensamento acerca dos pensamentos que estão errados, são as próprias palavras. São pela sua própria natureza limitadoras. As palavras não conseguem captar a totalidade do pensamento nem sequer chegar perto disso, e por isso tornam-se mentirosas. A linguagem não é um dom, é um fardo."
Professor Kellicut, personagem de A Profecia de Neandertal, romance de Joe Darnton, publicado em português pela Casa das Letras, em 2008. Citação da página 216.
Professor Kellicut, personagem de A Profecia de Neandertal, romance de Joe Darnton, publicado em português pela Casa das Letras, em 2008. Citação da página 216.
Etiquetas:
Dúvidas,
Palavras Cativas,
Palavras de Outros
domingo, 1 de agosto de 2010
Não Cola
Era uma vez, uma vez só,
Saber rimava com dever
Conhecimento com contentamento
Ora essa vez acabou; dizem-me
Lá pra onde vou, que agora,
Agora o relógio, serve só para ver passar a hora.
Saber rimava com dever
Conhecimento com contentamento
Ora essa vez acabou; dizem-me
Lá pra onde vou, que agora,
Agora o relógio, serve só para ver passar a hora.
Etiquetas:
Palavras à Medida,
Palavras Doridas
O Túnel ao fundo da Luz
D'hoje a um mês é Setembro!
Etiquetas:
Palavras Cativas,
Palavras Doridas,
Palavras repetentes
Se fosse hoje tinha o 9º ano...à confiança!
"Rabugenta, eu? Não senhor
eu hei-de ir desta pra melhor
mas falo pelos que cá deixo
não é por mim que eu me queixo
Ó Felisbela, ó Felismina
ó Adelaide, ó Amelinha
ó Maria Berta, ó Zulmirinha
vamos cantar o coro das velhas?
Cá se vai andando
c'o a cabeça entre as orelhas
Não sei ler nem escrever mas não me ralo
alguns há que até a caneta lhes faz calo
é só assinar despachos e decretos
p'ra nos dar a ler a nós, analfabetos"
Coro das Velhas, Sérgio Godinho
eu hei-de ir desta pra melhor
mas falo pelos que cá deixo
não é por mim que eu me queixo
Ó Felisbela, ó Felismina
ó Adelaide, ó Amelinha
ó Maria Berta, ó Zulmirinha
vamos cantar o coro das velhas?
Cá se vai andando
c'o a cabeça entre as orelhas
Não sei ler nem escrever mas não me ralo
alguns há que até a caneta lhes faz calo
é só assinar despachos e decretos
p'ra nos dar a ler a nós, analfabetos"
Coro das Velhas, Sérgio Godinho
Subscrever:
Mensagens (Atom)