quinta-feira, 30 de abril de 2009

Devia, mas não cumpro

Acho que devia escrever qualquer coisa sobre o 1º de Maio. Sobre o dia, sobre o simbolismo...
Sinto que devia, seria adequado e coerente comigo...
Mas a única coisa em que consigo verdadeiramente pensar é na mala meia feita que está aberta sobre a cama, nos acessórios que ainda me falta reunir, no despertador amanhã de manhã a anteceder a viagem...no fim de semana grande, com turismo rural, paisagens e passarinhos e nos livros todos que proibi de me acompanhar, mais os blocos de notas, as fichas de leitura e os computadores: acompanhem-se uns aos outros, empanturrem-se de sabedoria, que eu, eu vou descansar, passear, rir e fotografar...beber o ar e a vida a golos grandes, que este tempo lisinho me apetece tanto.
Sei que devia falar do 1º de Maio, mas tenho de terminar de fazer a mala e não me importo.

Para não me sentir muito atraiçoada por mim mesma coloquei duas canções relativas ao 1º de Maio (pelo menos nas minhas recordações) no outro blog meu.

Bom Fim de Semana!

Um dia vou inventar

uma gama de produtos (dois, mais exactamente: um gel de banho e um chá), cuja utilização contínua e combinada durante 15 dias (um mês, vá...) dissolve a tristeza, por dentro e por fora. Mesmo a mais incrustada.
Assim uma espécie de Fairy para todos nós, estão a ver?
Só ainda não pensei no nome.
Mas aceitam-se sugestões.

Vamos andando...é o mais seguro e não atrai as atenções

"Pára de chorar

E dizer que nunca mais vais ser feliz

Não há ninguém a conspirar

Para fazer destinos negros de raiz

Pára de chorar

Não ligues a quem diz

Que há nos astros o poder

De marcar alguém só por prazer

Por isso pára de chorar

Carrega no batom

Abusa do verniz

Põe os pontos nos Is

Nem Deus tem o dom

De escolher quem vai ser feliz

Pára de sorrir

E exibir a tua felicidade

Só por leviandade

Se pode sorrir assim

Num estado de graça que até ofende quem passa

Como se não haja queda

No Universo

E a vida seja moeda sem reverso

Por isso pára de sorrir

Não abuses dessa hora

Ela pode atrair

O ciúme e a inveja

Tu não perdes pela demora

E a seguir tudo se evapora"

Rui Veloso/Carlos Tê, Canção de Alterne, A Espuma das Canções (2005)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Choque dermatológico

"- Ai amiga! – Teresa quase guinchava de excitação, obrigando Alda a levantar os olhos do livro - Hoje vivi um verdadeiro choque dermatológico!
- Tecnológico. – corrigiu Alda benevolente
- Não! – retorquiu Teresa impaciente – Dermatológico, dermatológico!
Alda pousou o livro – E isso é?...
- Lembraste daquele estagiário fantástico de que te falei?
- Hum – assentiu Alda
- Hoje deixei cair uns papéis ao pé dele. (Não foi de propósito, mas poderia ter sido, mas não foi). E ele ajudou-me a apanha-los…e as nossas mãos tocaram-se…Foi um choque dermatológico! Fiquei toda arrepiada…
- E depois?
- Ah!... Ainda não houve depois... Mas eu espero que depois haja!"

terça-feira, 28 de abril de 2009

Milk

Ontem fui ao cinema. Ver o Milk.
Grande filme.
Grande interpretação de Sean Penn.
Grande impacto pensar que tudo aquilo aconteceu há tão pouco tempo!
Porque teve de correr sangue por algo que estava inscrito nas Constituições, na Declaração dos Direitos Humanos, na Declaração de Independência dos EUA (como o próprio Milk diz num discurso), nos princípios do Cristianismo (e provavelmente das outras religiões, que conheço menos)?
Porque tem a sociedade tanta necessidade de afastar, sufocar e esmagar o que considera diferente?
Pensei muito desde o fim do filme. Nos preconceitos em geral. Na doutrina do «politicamente correcto» que, por vezes, não faz mais do que tratar com condescendência aqueles que a sociedade considera «diferentes», seja por que motivos for...minoritários, em relação a - seja lá o que isso for - uma maioria mais ou menos padronizada ou normalizada.
Igualdade de direitos! Será que assimilámos de facto este princípio, ou ficamos mais ou menos descansados por ele estar em letra de lei e limitamo-nos a não pensar muito no assunto?
Lembrei-me de uma frase de Voltaire, filósofo iluminista, que creio que, de facto, exprime o que eu acho que deve ser a nossa atitude perante todos os outros (com os quais frequentemente não concordamos e creio que não devemos fingir que concordamos):

"Posso não concordar com nenhuma das palavras que dizes,

mas estou disposto a morrer pelo teu direito a exprimi-las."

Voltaire (1694-1778)

Voltaire morreu 200 anos antes de Harvey Milk ter sido assassinado por estar a conquistar o direito a expressar as suas ideias!

Paciência de Santo...

D. Nuno Álvares Pereira é finalmente Santo.
A canonização aconteceu no domingo passado, 578 anos após a sua morte.
O que me espanta é que, tanto tempo depois, ele ainda estivesse interessado no cargo...

domingo, 26 de abril de 2009

Isto não está a correr bem

Andava eu de blog em blog (qual elefante de nenúfar em nenúfar), procurando algo para me aficionar e substituir o Sinusite Crónica, quando leio uma apresentação assim:
Coisas sobre mim...patati...patatá...tenho o meu número de telemóvel desde os 8 anos.
E eu - Que disparate! Ninguém tinha telemóvel aos 8 anos!
E eu também - Hello! Já há gente que sabe escrever e tem telemóvel desde os 8 anos.
E eu outra vez - Achas que 'tou velha?
E eu ainda acenei afirmativamente.
E ficámos todas deprimidas.

Não devia ser permitido...

cantar tão bem e com uma voz tão sensual!

"Quem me diz
onde estão
os teus braços
e os meus passos para onde vão"

Paulo Gonzo, Diz-me Tu, 2009

sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril sempre!

O meu pai viveu sempre em ditadura. Nasceu em 1932 e morreu em 1972.
Claro que ele devia ter vivido mais, mas a ditadura deveria ter durado menos.
Eu gostaria de viver sempre em liberdade, em democracia, em consequência do 25 de Abril, sempre!
Eu vivi o 25 de Abril! Aí está uma coisa que conto com orgulho, embora eu não tenha feito nada para isso; e não tenha percebido, na altura, a dimensão que aquilo tinha. Não podia perceber, não tinha idade para perceber.
Mas guardo nos meus olhos de criança imagens fantásticas, emocionantes, mesmo que não percebidas totalmente na altura: Guardo as imagens da alegria das pessoas; guardo a vivência do conceito de fraternidade – as pessoas sentiam que pertenciam umas às outras, que comungavam de algo especial; guardo as imagens de milhares de cravos vermelhos e de bandeiras nacionais e de orgulho nacional; guardo o som da palavra liberdade dita «à boca cheia», com vida, com orgulho; guardo as imagens da saída dos presos políticos de Caxias; guardo as imagens de mulheres idosas (sim, sobretudo das mulheres), vestidas como se fossem para a mais selecta cerimónia, para votar, para participar na democracia; guardo as imagens das imensas filas às portas das mesas de voto nas primeiras eleições; guardo as lágrimas de minha mãe, por o meu pai não ter podido participar em nada do que estava a acontecer…
Em memória dessas mulheres idosas, que certamente hoje já morreram e nunca souberam a influência que tiveram sobre mim, em memória do meu pai, que nunca conheceu a liberdade, em memória de todos os que resistiram à ditadura (e também daqueles que a ela sucumbiram), é preciso não esquecer o que foi Abril, o que significam as palavras Revolução, Liberdade, Fraternidade, Democracia, Luta, Resistência, Participação, Responsabilidade, País, Povo…É preciso recordar as estrofes da Revolução, é preciso recordar tudo o que foi preciso sofrer para que hoje possamos escrever, ler e dizer, o que pensamos, sem medo.
Mas é preciso não esquecer! Porque o esquecimento e a desistência são as mais perigosas portas abertas à prepotência.
É preciso não esquecer, sobretudo agora, em tempo de eleições, em que as imagens das imensas filas de eleitores foram substituídas pelos números da abstenção.
Para que possamos dizer «25 de Abril, sempre!», para que o 25 de Abril não fique, um dia, apenas guardado nos meus olhos de criança.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Tentar ser melhor...

"Errar não é bom, mas descobrir que errámos é admirável. Perceber que fizemos uma coisa mal é ter oportunidade de refazer, de emendar, de melhorar, de ser melhor. E esse é um dos objectivos da vida. Ser sempre melhor, mesmo que à custa dos erros, dos nossos erros. (...)
Descobrir um erro, um erro nosso, um defeito camuflado, é um caminho para tentar, pelo menos, ser melhor!"
Oliveira, Ana Margarida e Cannas, Joaquim, Admirável Mundo, Texto Editora/RFM, 2004, p. 55

Voluntarismo

"A culpa é da vontade
que vive dentro de mim
e só morre com a idade
com a idade do meu fim
A culpa é da vontade

A culpa não, não é do mar,
se o meu olhar se perder.
A culpa é da vontade
que eu tenho de te ver."

A Culpa é da Vontade, António Variações, Humanos

Divã

"Sofá-cama que não sai do psicanalista devido aos problemas de dupla identidade"

Georges Najjar Jr., Desaforismos, p.30

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Dilema

Ontem à noite tive de ponderar entre ficar em casa a ver a grande entrevista com o Primeiro-Ministro e participar numa aula de Yoga...

Medo

"Não sei o que me diz o coração
Na sombra fugidia do futuro
Quem sabe se é do primeiro clarão
Nascermos todos com medo do escuro"

Medo do escuro (com o sol no parapeito), João Monge/Manuel Paulo
Ala dos Namorados, Cristal, 2000

«Para Sempre»

"Encontraram-se os dois, a gatinhar às escuras, no sotão das indecisões.
Ele procurava uma almofada para se acomodar melhor na sua tristeza; ela procurava o medo que tinha perdido e descobriu depois que não conseguia viver sem ele.
Chocaram de frente.
Tactearam-se.
Ele ofereceu-lhe metade da almofada.
Ela aceitou partilhar a tristeza dele e reencontrou o medo; agora de o perder.
E foram infelizes para sempre!"

Escolha de Palavras

Se algarismo e alfabeto são palavras tão bonitas, tão ondulantes, porque é que usamos sempre número e abecedário?

terça-feira, 21 de abril de 2009

Manuela Ferreira Leite e os anúncios da Triumph

Eu não gostava dos anúncios da Triumph.
Não gostava...Achava que eram perigosos, aqueles outdoors com aquelas imagens...para quem vai no trânsito...
As mulheres por inveja ou para tirarem o modelo e os homens por concupiscência, podem distrair-se do trânsito e ter um acidente.
Mas agora, quando fui obrigada a ver o enorme cartaz de Manuela Ferreira Leite e a minha mente gritou em desespero "Manuela, não vais levar a mal, mas beleza é fundamental!", resolvi reconsiderar.
Com tanto que se fala da necessidade de mulheres na política...é aquilo que aparece exposto!
Outra coisa muito importante, que não podemos escamotear, é que nós somos um país turístico. Temos de nos pensar em termos de como nos apresentamos aos estrangeiros que nos visitam.
Assim, resolvi congratular-me pela existência dos anúncios da Triumph, por várias razões: A beleza deve fazer parte do nosso dia-a-dia no trânsito, é importante que haja antídotos perante certas agressões e pelo menos existe uma imagem plural da feminilidade portuguesa.
Não podemos votar antes nas meninas da Triumph? Ou no homem do Nespresso?...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A-ver-o-mar

Os portugueses são como os caracois: assim que vêem um bocadinho de sol, põem logo os pauzinhos de fora.
Vocês sabem lá o pessoal todo que estava ontem de tarde a olhar para a «orla marítima»!...
"O que é que eu lá estava também a fazer?"- perguntam vocês?
Pesquisa para este post, obviamente!

domingo, 19 de abril de 2009

Saudade

"- Fisicamente está tudo bem. - disse o médico quando acabou de ver a última folha das análises. Olhou para ela, com ar simpático - E o resto? Está mais conformada? Já percebeu que consegue viver sem ele?
Ela encolheu os ombros - Tem dias...Dizem que o tempo cura tudo...Estou à espera. - olhou para o canto da sala - Ontem vi um homem que era tal e qual ele.
- Foi difícil?...
- Foi. Até porque, vendo bem, era mais alto e mais magro que ele, creio que mais velho, tinha uma camisola amarelo vivo que ele nunca vestiria e passeava um cão pequeno; e o doutor lembra-se que nós temos um S. Bernardo.
- Então...o que é que ele tinha de parecido com ele?
- Acho que só as saudades que eu tenho dele...
Ficaram os dois a sorrir complacentemente um para outro e nenhum falou das lágrimas que lhe caíam na alma."

Arquivo Universal

Ontem, em Lisboa, o tempo chorou o dia todo.
E eu, contrariada e determinada, porque queria muito ver a exposição “Arquivo Universal”, que está no CCB, mas, isso significava ir ao Museu Berardo, do qual eu tenho andado a fugir.
Não gosto do Berardo! Não gosto dele, não gosto da arrogância dele, não gosto da pronúncia dele e, muito menos, gosto do negócio que o Estado Português fez com ele. Mas…eu queria tanto ver a exposição!...
Encharcada por fora e irritada por dentro, lá fui eu. Sempre dizendo, para mim mesma: “Só porque não se paga.”
Pois bem, quando tem de ser, tem de ser. Uma pessoa rende-se à qualidade, não há hipótese.
Muitas daquelas fotos fazem parte do nosso imaginário, porque nos falam de actos políticos, de ambientes de trabalho, de eventos desportivos…particularmente espantoso e doloroso encarar as fotos com que há anos explico a crise económica de 1929. Vê-las em grande formato, acompanhadas de muitas outras que desconhecia e a retratarem tantos aspectos que parecem agora assustadoramente próximos: as filas de desempregados, o desespero espelhado nos rostos…
Filmes e revistas completam o ramalhete das imagens-documentos que me absorveram por toda a tarde de sábado.
E agora digo, sem dúvida nenhuma: Mesmo que tivesse de pagar!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

«Agora 'tou 'Zen'»

Entre os melhores remédios que tenho tomado - para toda e qualquer maleita - está o carinho e a atenção dos amigos.
Xarope dos mais doces, é receber uma prenda (ele disse modestamente lembrança) de alguém que, estando a viajar, encontrou algo que tinha a ver connosco...e comprou...e entregou ao chegar.
E não é uma prenda qualquer - daqueles ímans para o frigorífico que se arrecadam na última loja de lembranças ou na tabacaria do aeroporto - é um livro...sobre palavras!
Chama-se "Desaforismos" e é uma espécie de dicionário pessoal. Algumas são "à gajo" e outras muito relacionadas com o ambiente específico do Brasil, mas, a maior parte, são deliciosas, porque inesperadas.
Aqui fica, desejando a todos um fim de semana ZEN, a definição de Georges Najjar Jr.:

"Nada nais zen do que cento e oitenta milhões de carneirinhos pastando resignados, e uma lula contemplando."

Queixa mais pequenina

Estou farta das botas!
Eu comprei umas havaianas no mês passado! Então?...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Queixa Mais Grave Ainda

O Sinusite Crónica - todo ele - vai fechar! Acabar! Desaparecer!
Buáááá! Snif! Snif!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sondagem involuntária

"- Hoje vamos aprender como surgiu a política. Já falámos da pólis. Política tem a ver com pólis. Não é muito diferente do que é hoje. Então: o que é um político?
- Ladrão!
- Mentiroso!
- Vigarista!
- Bandalho!
- Meninos...MENINOS! Que disparates vêm a ser estes? Então os políticos não são os que governam? Que cuidam do Governo? Que fazem funcionar o país?
- Ah! A professora queria o que eles devem fazer, não o que eles fazem..."
O ar do miúdo era tão sincero, que acredito que estivesse mesmo a falar a sério.
Nunca mais me atrevi a fazer a pergunta. Exponho sucintamente o que é a política.
Mas creio que, talvez, os senhores políticos, devessem conhecer os epítetos porque são conhecidos. E reflectir sobre a situação, se não for pedir muito...
Lembrei-me disto neste tempo de campanha, em que os megacartazes - todos tão feios! - fazem perigar a segurança de quem conduz por aí.

Sondagem invasiva

"-Estou, boa tarde!
- Boa tarde!
- Somos de uma empresa de sondagens...
- Lamento...até costumo colaborar, mas hoje estou cheia de pressa, não posso mesmo responder.
- Isto é muito rápido: costuma votar PSD, CDS, PS ou CDU?
- Que parte de «não vou responder» é que não percebeu?
- Não precisa ser mal-educada!
- Quem é que está a ser mal-educado: você, que não me respeita na minha própria casa ou eu, que estou a ter que gritar, o que você não quis entender à primeira?
- Sabe que mais? Já tinha respondido!
- Se quisesse..."

terça-feira, 14 de abril de 2009

Queixa

O Alexandre Borges vai-se embora do Sinusite Crónica! Buááááá!

"A sina de quem nasce fraco ou forte"

Entre a predestinação e o livre arbítrio já muita filosofia - e outras coisas menores - se escreveu.
Há milhares de obras impressas sobre como tomar as rédeas do destino, sobre como ser forte, sobre como ser feliz com toda essa fortaleza.
Nunca descobri nenhuma sobre como ser fraco, sobre como poder descansar um pouco nos ombros de outros os nossos problemas, sobre como abrandar um pouco a luta diária.
Dou comigo muitas vezes a pensar se esta coisa da personalidade, se esta classificação que muitos fazem das pessoas em "fracas e fortes", será uma questão de vontade, de percurso ou mesmo de predestinação.
Será que não nascemos já com a sina de ser fraco ou forte, como diz o fado de Carlos do Carmo que serve de título a este post?
E, se for assim...a sina não se muda. Lê-se, conhece-se, cumpre-se.
Deu-me hoje para pensar nisto: está na moda (desde o séc. XVI) tomar o destino em mãos. Mas há aqui uma contradição irresolúvel: o destino não se muda - cumpre-se!
Ser fraco ou forte frequentemente parece que não é uma opção: é uma sina que nasceu connosco; é uma inevitabilidade (tão pesada para uns como para os outros); é uma condenação que se tem de cumprir...

Estranhamente

Nunca compreendi porque é que certas decisões e atitudes sensatas nos custam tanto...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Os Dias da Rádio

Nunca percebi como é que eles fazem isto.
Talvez por me conhecerem há cerca de 20 anos, por acompanharem muitos dos meus momentos…- frequentemente são eles que, no mesmo dia, me dão os bons-dias e apagam a luz, quando a minha respiração já indicia um sono profundo…- Eles conseguem tocar músicas feitas para mim!
Mas é que é mesmo! Assim: Às vezes é aquela música que me apetecia ouvir, outras vezes uma que traz um conselho que eu não ousaria pedir, ou um sinal para tomar uma decisão, me dá um impulso para “me rebentarem as águas” e iniciar o parto de uma dor que eu estava a guardar cá dentro, um mote para cantar ou dançar com uma energia que me envergonharia em público…
Nos bons e nos maus momentos, a minha rádio está sempre comigo. E acerta sempre comigo. Para o melhor e para o pior!

Amar

"A tarde já convidava a ficar assim a olhar o pôr-do-sol.
Sentadas no paredão as duas amigas prolongavam a conversa.
Ana estava agitada e falava com entusiasmo: «Logo vamos estar muuuitooo tempo ao telefone. Sabes? Ele já me perguntou o que eu queria de prenda de anos....»
Joana trincava a maçã com ar distraído.
Ana continuava: «Nem sei bem o que pedir...Tenho medo de pedir muito...mas só de saber que ele anda a pensar em presentes para mim...- fez uma pausa e depois recomeçou - Tem de ser alguma coisa que eu possa exibir. Para o estúpido do Óscar ver. Tratava-me com tanta indiferença, no fim...que é bom que veja que eu já parti para outra. - olhou para Joana que parecia procurar alguma coisa, lá longe, no céu - Tu estás a ouvir-me? Não gostas da parte do namoro em que te sentes mimada? Hã? Diz lá que não gostas!...»
Joana terminou de comer a maçã e embrulhou os restos num lenço de papel: «Não é que não goste de ser mimada. Toda a gente gosta, acho eu. Mas, sabes o que eu gosto mais quando amo? Todos os anúncios de televisão e todas as montras me dão um pretexto para lhe oferecer alguma coisa. O amor desperta em mim uma vontade de dar incrível!»
Ana fixou-a com ar escandalizado: «Tu gostas mais de dar que receber?!? Deves estar a treinar para Madre Teresa de Calcutá, com certeza!»
Joana respondeu rápida: «Achas que a Madre Teresa de Calcutá andava a olhar para as montras e a pensar em perfumes e boxers para oferecer? Se calhar encomendava por catálogo, para não se comprometer!...»
Explodiram as duas em gargalhadas, iluminando a tarde que esmorecia.
Por detrás do riso, Joana olhava lá longe o horizonte. Tinha saudades de amar! Tinha saudades de se sentir generosa. O amor despertava nela sentimentos bons e puros, que lhe agradava saber que tinha. Será que ainda tinha? Será que voltaria a sentir-se assim? Tinha saudades disso. Muitas..."

domingo, 12 de abril de 2009

Páscoa


Ausência de Saudades

Não há uma palavra para a ausência de saudades. Mas devia haver.
Nem sequer existe um contrário (um antónimo, acho) para a palavra saudade.
O que é o contrário de “estava cheia de saudades”? Estava cheia de não ter saudades? Ou estava vazia de saudades?...
Vazia de saudades, parece-me bem.
Acho que estou “vazia de saudades” do meu local de trabalho.

Destemida

“Percorrendo-lhe o corpo, ele alternava beijos e elogios. Como se fosse descobrindo, ao mesmo tempo, as qualidades dela e os esconderijos do seu corpo: - És tão linda!...És corajosa!...És destemida!...
Ela interrompeu-o. O sorriso magnifico de quem se sente adorada, protegida pela escuridão do quarto. A sua voz encheu o espaço: - Não sou destemida, não. Mas acho que ainda bem… Uma das coisas de que acho que me posso orgulhar é de ir tentando enfrentar os meus medos… e de ir vencendo alguns...”

sábado, 11 de abril de 2009

Amigos (definição pessoal)

Suportes de Vida

No Dia

Olhar à volta da mesa (ou das várias mesas de que se compuseram o Dia e a noite do Dia) e compreender que construí uma vida.

sábado, 4 de abril de 2009

"The only selfcleaning thing in this house is the cat"

Foi quando estava aqui a escrever, esperando o tempo de o almoço acabar de cozinhar, que senti um cheiro a queimado.
Tinha deixado a pega meia sobre o tacho, ao alcance da chama e agora tenho de a deitar fora. Mas, antes, resolvi salvar aqui a frase que a pega ostentava. Foi-me oferecida por uma pessoa que sabe com eu gosto de gatos e odeio as tarefas da casa, (para as quais tenho muito jeito, como se nota pelo episódio relatado...)

Exagero ou Coerência?

"Quando abriu a porta de casa não estranhou a luz acesa. Tão pouco se espantou com o vulto sentado no sofá.
Sabia que, à força de tanto lá habitar, um dia iria ganhar corpo e espaço, personificar-se...
Encarou o rosto vazio; não se deixou abalar. A sua voz era firme quando disse, de forma bem pausada, para que não houvesse lugar a equívocos: «Nem pense em esticar-se nesse sofá! Sou demasiadamente egoísta para dividir o espaço, até com a minha própria solidão!»"

Às vezes...

Sentar-me no sofá e notar a tua falta num lugar onde nunca estiveste

Paraphernalia

No 'post' anterior eu queria usar a palavra "parafernália" em vez de "escolta". Fui rectificar como se escrevia e - qual não é o meu espanto - não encontro a palavra nos dicionários que tenho cá em casa.
Para terminar o 'post' coloquei "escolta", mas "ficou-me atravessada..." Eu tinha a certeza que existia! (Tinha, tinha, comecei logo a duvidar se tinha, mas não me rendo facilmente).
No «Ciberdúvidas» lá encontrei as explicações. Ficava lá muito bem, afinal, mas também já não me senti bem a desalojar a escolta. Aproveitei para escrever mais estas palavras.
Mas fiquei muito desiludida com os meus dicionários e creio que lhes comunicarei isso um dia. Francamente! Uma pessoa sempre a pregar o valor dos livros, elemento físico, com volume, em papel, com cheiro...e, para encontrar uma palavra (que está cá desde o latim!) tenho de recorrer à net!?!
Acho que os vou envergonhar tanto que os meus dicionários vão andar cabisbaixos durante uns meses!

Inevitabilidades

Voltei a pôr o edredon na cama, com muito mau humor.
Apetecia-me sol, flores, céu azul...toda aquela escolta da Primavera associada à renovação...
Já passou o tempo disto...já devia o tempo estar de outra cor.
No meu ouvido esquerdo - que eu acho que é o lado do cérebro onde tenho a sensatez - ouvi as palavras repetidas pela minha avó, invariavelmente nesta altura do ano:

"Em Abril, queima a velha o carro e o carril
E em Maio ainda queimou
uma roda que lhe ficou"

E acrescentava, como se não tivéssemos percebido (desde o ano anterior...): "por isso, ainda aí vem muito frio!"

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Hino de Coragem

"Vem, vamos embora, que esperar não é saber;
quem sabe faz a hora, não espera acontecer"

Letra de Geraldo Vandré (Brasil), cantado por Simone

Remexendo na memória

"Por não saber que era impossível,
Foi lá e fez"

Frase colhida no Brasil, num quadro numa loja de lembranças.
Encontrei na Internet uma referência que remete para Antonin Artaud.
Encontrei na minha memória uma referência a um livro de Artaud trocado por um de Saramago.
Nunca li o Artaud que recebi e não sei se ele leu o Saramago que lhe dei...

Poético...

"De tanto não poder dizer..
Meus olhos deram pra falar...
Agora só falta você ouvir!"

Frase colhida no Brasil, num quadro, numa loja de lembranças.
Não sei o autor...