terça-feira, 30 de abril de 2013

Peço desculpa pela neve que caiu no norte do país

Estou convencida que tudo se deve à minha inexperiência e a um certo atrevimento a tentar coisas novas e perigosas.
Na realidade - e já tenho idade para ser mais sensata - sentindo-me abandonada, aqui no blogue, procurei no google (os meus alunos encontram lá tudo) uma dança para fazer regressar os comentadores que andam desaparecidos. Era assim uma coisa semelhante à dança da chuva dos índios.
E depois começou a nevar no norte do país e estamos em abril e nada disto era suposto acontecer.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Penélope

Mais do que um sonho: comoção! 
Sinto-me tonto, enternecido, 
quando, de noite, as minhas mãos 
são o teu único vestido. 

E recompões com essa veste, 
que eu, sem saber, tinha tecido, 
todo o pudor que desfizeste 
como uma teia sem sentido; 
todo o pudor que desfizeste 
a meu pedido. 

Mas nesse manto que desfias, 
e que depois voltas a pôr, 
eu reconheço os melhores dias 
do nosso amor. 



David Mourão-Ferreira

domingo, 28 de abril de 2013

Processional

Mosteiro de Alcobaça - Ala Sul
Exposição sobre os 450 anos da Santa Casa da Misericórdia

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Memória Nossa

"Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória."

José Saramago

quarta-feira, 24 de abril de 2013

24 de Abril

"- Que dia é hoje?
- Véspera da Liberdade"

Até amanhã camaradas!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Janela para a Memória

Mosteiro de Alcobaça

Em Nome

Em nome da tua ausência
Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes te chorei.

Sophia de Mello Breyner Andresen
in
Dual

domingo, 21 de abril de 2013

Amargura

Detesto entregar-me à amargura. Eu não sou assim. Normalmente sou alegre, positiva, mas tem dias...
Não me considero uma pessoa invejosa, mas ontem, mais uma vez a ver um filme, resolvi que tenho de assumir que há uma situação que me causa muita, muita inveja: ver alguém ouvir da boca de um pai ou de uma mãe que tem muito orgulho nele/a.
Mas a minha sina é que neste caso não dá para tentar atingir o que os outros têm. Não posso vigarizar ninguém para tentar obter o que quero, causar um desfalque, efetuar um assalto...Nada! A minha inveja não tem solução.
Resta-me recordar os momentos que a minha mãe passou comigo e enquanto outros têm saudades de mimos, carinhos, elogios...eu dei comigo esta noite, no meio das voltas a curtir as dores de garganta, ter saudades das zaragatoas da minha mãe.
Foram muitas as zaragatoas que a minha mãe me deu, nas minhas muitas noites infantis e juvenis a chorar com dores de garganta. Era uma coisa horrível, com um sabor horrível, mas aliviava a dor.
É incrível como por vezes sentimos a falta de coisas que não gostávamos.
E daí o título do post: amargura, porque aquilo era amargo, muito amargo e eu creio que «amargoso», como os meus alunos dizem, não existe. Fiquemos na amargura, então.

sábado, 20 de abril de 2013

Os Sonhos

atrapalham tantas vezes a realidade.
E depois?
Devemos seguir os nossos sonhos, continuar a "utopiar" ou ceder à realidade e "conformarmo-nos"?
Hoje, para aqui entre comprimidos, chás e lenços de papel, lembrei-me deste verbo. É um verbo antigo, do Portugal do Estado Novo: "Temos de nos conformar com a nossa sorte"; ou dos funerais: "Só podemos conformar-nos, foi a vontade de Deus."
E se com a vontade de Deus não me meto - nem mesmo agora que Jesus é o Diogo Morgado - com a realidade criada pelos homens creio que não tenho de me conformar.
Mas tudo isto agrava ainda mais as dores de garganta, a falta de voz, os gritos que morrem antes de soar devido à afonia.
Será uma afonia social? Profissional?
O país está a definhar, as pessoas estão a demitir-se de pensar e - o sentimento que me vai sendo recorrente - consideram incómodo e maçador quem se questiona, quem os questiona, quem ainda se importa.
São pequenas subtilezas que nos mostram diariamente - por vezes horariamente ou minutamente - que os direitos se estão a perder numa estrada de um só sentido.
Uma notícia de hoje do Público dizia que as vagas que o Ministério anunciou para o concurso de professores afinal não correspondem "às necessidades dos diretores."
Dos diretores?!?
Essa figura recente (ou retornada?), sinistra, cinzenta, a quem quase todos se curvam antes de vir a ordem para tal, tornou-se o centro nevrálgico das escolas. Nunca, em tempos bem pertinho de nós, para trás, seria admissível uma notícia destas: as necessidades são dos diretores ou das escolas?
De onde vêm esses diretores? Frequentemente de um lugar de ensino, que não estimavam muito, em busca de poder.
Mas não me choca a ambição destes: choca-me (aterra-me, enoja-me, revolta-me) a dádiva abundante de poder que lhe colocam aos pés antes mesmo de eles pedirem.
Colegas de há pouco enchem a boca com "o senhor diretor" para se referirem entre nós a quem ainda há pouco chamavam pelo nome.
Nos serviços públicos já não se ouve o cidadão: é assim! E afastam qualquer reclamação ou pedido de esclarecimento como um impedimento escusado, uma forma de dificultar e de atrasar os outros que esperam.
Já não somos cidadãos. Somos membros de um rebanho acéfalo!
Colocamo-nos tão facilmente uns contra os outros! É tão triste. Somos tão lestos em aplaudir a perda de direitos de quem tem mais que nós, em vez de nos solidarizarmos e também nós pugnarmos por aquilo que é nosso. Já nem sei se existe plural...
Estou tão inconformada a ver o meu país a esboroar-se aos bocadinhos!
Estou doente. Estou muito doente!

domingo, 14 de abril de 2013

Porcaria

Este blogue está uma porcaria!
Agora deu-lhe para escrever/colar as palavras com um fundo colorido ou branco que fica com ar de tiras de papel.
Se calhar eu podia defender isto como um novo layout, um design inovador, mas não consigo: é uma grande frustração e estou aqui estou a deixar de escrever aqui pois detesto este aspeto e não consigo fazer melhor.

Devo esclarecer que o sol já acabou, a segunda-feira está cada vez mais próxima e a minha bonomia cada vez mais longe.

Pedimos desculpa por qualquer incómodo causado aos leitores.

Intelectual

Hoje está um dia lindo, lindo.
Os escassos quilómetros que me separam do mar parecem-me sempre fáceis de transpor quando o sol brilha assim e até me esqueço do calvário que é circular lentamente entre os muitos passantes e encontrar um lugar de estacionamento.
A grande baía de S. Martinho do Porto oferecia-me o brilho que eu precisava. Eu e as centenas de pessoas que executaram um plano semelhante ao meu.
A persistente afonia que me tem atormentado determinou que eu me sentasse no interior do café, mas a montra oferecia-me a moldura que eu precisava para enquadrar a bifana que me serviu de almoço (num horário muito próprio das 16 h de domingo) e a leitura dos artigos principais do Jornal de Letras.
E lá fui lendo, mas de forma incompleta e apressada que o trabalho esperava em casa.
Li vários artigos sobre Clarice Lispector, o atlas do abandono escolar que está a ser elaborado na Universidade Nova e sobre a morte de Oscar Lopes.
E é sobre este - e sobre outros como este - que me apeteceu escrever. Sobre a falta de intelectuais, sobre a quase impossibilidade de gestação de intelectuais. Tento sempre explicar aos meus alunos o que são intelectuais (normalmente acerca do Humanismo do séc. XVI) e acabamos sempre um bocado órfãos por não haver atualmente termos de comparação. Eles falam-me nos comentadores de televisão. Eu tento não ser rude e dantes ainda comparava Erasmo com Ricardo Araújo Pereira, mas agora, que ele se vendeu ao marketing zombeteiro, só se conhecem dele os ridículos anúncios da MEO.
Sinto falta de ler, de comentar, de meditar, de trocar impressões...
A "vida moderna" (seja lá isso o que for) rouba-me o tempo de refletir e suponho que os poucos intelectuais que subsistam ou que tentem emergir também não terão público com tempo para desfrutar das suas reflexões.
No JL diz Maria Alzira Seixo sobre Óscar Lopes:
"Não procurava glórias, o que lhe importava era estudar e ouvir música. Estudava tudo, conhecia tudo. (...) 
Dói-me hoje muito a morte do Óscar, sinto-me órfã do estudo sério, lento, ponderado. E que faz uma órfã com 72 anos? Continuar a aprender com a herança, é óbvio. E ela aí está, enorme série de livros e trabalhos, cuja meditação pode ainda contribuir para salvar um país da tacanhez intelectual e ética que lhe traçou a perdição."

Fui investigar a origem da palavra "intelectual", numa busca rápida - como soe agora fazer-se - na Wikipédia e fiquei surpreendida com a jovem vida do conceito, mais uma vez uma criação da mentalidade iluminista e liberal em que vamos tentando sobreviver ou na qual vamos estranhando "o fim dos tempos". Destes tempos, claro, que outros virão e se estabelecerão até à decadência, em que se rebelarão, lamentarão e tentarão inverter o ritmo dos tempos em que muitos crêem erroneamente que a História se repete...

Assim, "a palavra foi usada pela primeira vez em França, nos finais do século XIX, durante o caso Dreyfus para descrever aqueles que se batiam ao lado de Dreyfus (chamados de dreyfusards): Émile ZolaOctave MirbeauAnatole France. O termo "intelectual" como substantivo em francês é atribuído a Georges Clemenceau em 1898, ele próprio um proeminente defensor de Dreyfus." 
"Um intelectual é uma pessoa que usa o seu "intelecto" para estudar, refletir ou especular acerca de ideias, de modo que este uso do seu intelecto possua uma relevância social e coletiva. A definição do intelectual é realizada, principalmente, por outros intelectuais e acadêmicos".
(...)
"Um dos principais espaços de atuação do intelectual é a Universidade.(...)Devido à ação reflexiva, o intelectual é portador de uma autoridade científica quando se expressa. (...) o intelectual estabelece relações com a sociedade através de seu status de intelectual." 
(...)
"Estas relações, inseridas num conjunto maior de relações de poder, colocam o intelectual em situação de comprometimento político: suas ideias não são desvinculadas da existência social e suas proposições seguem uma orientação determinada (como exemplo, a prática do censo e da criação de mapas). O intelectual pode então, através de seu intelecto, contribuir para determinado regime político ou determinada concepção de mundo."
"Observando como o saber amplo e generalista, as ideologias e as humanidades vêm sofrendo uma dêbacle frente às especialidades, ao saber técnico e prático, à indefinição política e às ciências aplicadas, muitos estudiosos defendem estar ocorrendo o chamado "fim dos intelectuais". Os argumentos usados para defender esse fim lembram muito os argumentos de Francis Fukuyama em seu livro "O fim da História".
"Há também resposta a essa dêbacle vinda de pessoas que não se alinham com Fukuyama. Essas lamuriam a existência do que chamam de fast-thinker (expressão de Pierre Bourdieu) ou intelectual-jornalista, ou seja, profissionais originados da universidade, com destaque para psicólogos, politicólogos e juristas, que se importam mais com o discurso que com a relevância do saber transmitido, revelando uma espécie de comprometimento com o senso comum ou até mesmo com opiniões predeterminadas pelos donos do meio de comunicação, visando agradar e fugindo ao engajamento que os definiria como autênticos intelectuais."
A seguir a «querida Wiki» (em português do Brasil, como se pode constatar por vários factos, sem 'c', claro) defende que o ciberespaço é um local prenhe de ideias e um espaço privilegiado para os debates intelectuais e eu...eu não sei...mas é por aqui também que deixo expressas as minhas inquietações.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Amém

"Hoje acabou-se-me a palavra, 
e nenhuma lágrima vem.
Ai, se a vida se me acabara
também.

A profusão do mundo, imensa,
tem tudo, tudo - e nada tem.
Onde repousar a cabeça?
No além?

Fala-se com os homens, com os santos,
consigo, com Deus...E ninguém
entende o que está contando
e a quem...

Mas terra e sol, luas e estrelas
giram de tal maneira bem
que a alma desanima de queixas.
Amém."


Cecília Meireles  (1901-1964)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Exagero? Olhe que não...

"Fobias (texto de Luís Fernando Veríssimo)

Não sei como se chamaria o medo de não ter o que ler. Existem as conhecidas claustrofobia (medo de lugares fechados), agorafobia (medo de espaços abertos), acrofobia (medo de altura) e as menos conhecidas ailurofobia (medo de gatos), iatrofobia (medo de médicos) e até a treiskaidekafobia (medo do número 13), mas o pânico de estar, por exemplo, num quarto de hotel, com insônia, sem nada para ler não sei que nome tem. É uma das minhas neuroses. O vício que lhe dá origem é a gutembergomania, uma dependência patológica na palavra impressa. Na falta dela, qualquer palavra serve. Já saí de cama de hotel no meio da noite e entrei no banheiro para ver se as torneiras tinham “Frio” e “Quente” escritos por extenso, para saciar minha sede de letras. Já ajeitei o travesseiro, ajustei a luz e abri uma lista telefônica,tentando me convencer que, pelo menos no número de personagens, seria um razoável substituto para um romance russo. Já revirei cobertores e lençóis, à procura de uma etiqueta, qualquer coisa.

Alguns hotéis brasileiros imitam os americanos e deixam uma Bíblia no quarto, e ela tem sido a minha salvação, embora não no modo pretendido. Nada como um best-seller numa hora dessas. A Bíblia tem tudo para acompanhar uma insônia: enredo fantástico, grandes personagens, romance, sexo em todas as suas formas, ação, paixão, violência, – e uma mensagem positiva. Recomendo “Gênesis” pelo ímpeto narrativo, “O cântico dos cânticos” pela poesia e “Isaías” e “João” pela força dramática, mesmo que seja difícil dormir depois do Apocalipse.
Mas e quando não tem nem a Bíblia? Uma vez liguei para a telefonista de madrugada e pedi uma Amiga.
– Desculpe, cavalheiro, mas o hotel não fornece companhia feminina…
– Você não entendeu! Eu quero uma revista Amiga, Capricho, Vida Rotariana, qualquer coisa.
– Infelizmente, não tenho nenhuma revista.
– Não é possível! O que você faz durante a noite?
– Tricô.
Uma esperança!
– Com manual?
– Não.
Danação.
– Você não tem nada para ler? Na bolsa, sei lá.
– Bem… Tem uma carta da mamãe.
– Manda!"

(VERISSIMO, Luis Fernando. Banquete com os deuses: cinema, literatura, música e outras artes. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. p. 97-98)
"Gostava de morar na tua pele
desintegrar-me em ti e reintegrar-me
não este exílio escrito no papel
por não poder ser carne em tua carne.

Gostava de fazer o que tu queres
ser alma em tua alma em um só corpo
não o perto e o distante entre dois seres
não este haver sempre um e sempre o outro.

Um corpo noutro corpo e ao fim nenhum
tu és eu e eu sou tu e ambos ninguém
seremos sempre dois sendo só um.

Por isso esta ferida que faz bem
este prazer que dói como outro algum
e este estar-se tão dentro e sempre aquém."


Manuel Alegre

quinta-feira, 4 de abril de 2013

I.V.E.

Interrupção Voluntária da Estupidez!

quarta-feira, 3 de abril de 2013

ROTEIRO

"Parar. Parar não paro.
 Esquecer. Esquecer não esqueço.
 Se carácter custa caro
 pago o preço.

Pago embora seja raro.
 Mas homem não tem avesso
 e o peso da pedra eu comparo
 à força do arremesso.

Um rio, só se fôr claro.
 Correr, sim, mas sem tropeço.
 Mas se tropeçar não paro

 - não paro nem mereço.
E que ninguém me dê amparo
 nem me pergunte se padeço.
 Não sou nem serei avaro

 - se carácter custa caro
 pago o preço."

Sidónio Muralha

terça-feira, 2 de abril de 2013

Livro Aberto

"Quero que tenhas muitas páginas
...
E versos difíceis de entender
Quero que me digas onde vais
E que nada fique por dizer...

Sei que não há lugares eternos.
Esta cadeira tem horas,
Há ficar e partir...
Há um entardecer
Para os vagares e demoras.
Até pode chover...

Abre e diz-me a teu jeito
Essa página, e outra, e outra,
Mas não, não me toques ainda.


Assim aberto
Fica
Perto
Mas não me toques ainda.

Deixa-me ler até ao fim.
Com os olhos, com o peito
Antes que o vento
Vire a página da decisão.

Quero ser eu
A tocar essas páginas
Que vou ler e anotar.
Mas por agora, quero ler-te
Só ler-te.
Quero amar-te devagar."


Carlos Campos

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Meu Amor

"(...) Meu amor meu amor
meu nó de sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento
este mar não tem cura
este céu não tem ar
nós parámos o vento
 não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar."

Ary dos Santos