quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

São doze desejos; bem ordenadinhos:
1,2...

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Promessas

Mais um bocadinho e estamos convencidos que vai ser tudo diferente, que este ano é que é, que agora ninguém me apanha...
Nesta altura do ano todos parecemos políticos.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Desejosa

"- Doze desejos...um por mês...Eu acho pouco! Eu quero realizar mais que uma coisa por mês! Então? Um mês inteiro (30 dias) e só acontecer uma coisa? Só se concretizar um desejo? E sabemos lá quando é...por exemplo: se for no primeiro dia do mês já não há nada a esperar nos outros 29 ou 30 dias? Acho mal...acho mal, pronto! Assim...eu pensando por alto...tenho, logo à partida, muito mais que doze desejos. Olha: por exemplo, gostava muito que os comentadores deste blog voltassem a existir...Hã? Ah não se pode dizer que já não se concretiza? Ora bolas! Não digo mais nenhum!"


Um dos recantos de Portugal

Serpa, Verão de 2014

domingo, 28 de dezembro de 2014

Mas se...

"- Já viste? O livro que o Arnaut mandou ao Sócrates foi devolvido.
- Hum!
- Diz que ele recebe muitas encomendas lá na cadeia. O que é que lhe mandarão?
- ...
- Livros? Coisas para comer? O que é que se poderá ter na cadeia? Olha lá: se fosses preso, o que gostarias de levar contigo?
- Que disparate de pergunta. Eu não iria preso.
- Mas se fosses.
- Mas porque é que iria preso, se não fiz nada de errado?
- Mas se! Estas coisas só funcionam se tentares alinhar: se fosses preso, o que levarias contigo?
- Uma consciência tranquila e um grande sentimento de estar a ser injustiçado!"

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Foi-se o Natal, centrado na vinda do nosso príncipe.
Avizinha-se agora o Ano Novo. Novo será: o que nos reserva? Temos de o viver para saber.
Está quase...
Contagem decrescente...

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Simetrias

Terminei o trabalho que estava a fazer às 23:32 h.
Adoro quando estas coisas acontecem. Quando os números têm ritmo, como se fossem pares num salão.

Eu juro, eu juro...eu sei, que eu era loira e tinha tranças grossas e estava com a saia xadrez de pregas...Eu sei quem eu sou, caramba! E era eu assim que andava a fazer as compras de Natal...tão feliz, tão criança.
Por isso fiquei um pouco baralhada quando o espelho da vistosa loja colocou no meu lugar uma senhora de meia idade, a meio caminho entre a minha mãe e a minha avó, com um ar bastante respeitável e com exactamente os mesmos sacos que eu.
Parei. Atentei na imagem: a minha mãe ou a minha avó nunca usariam aquela gargantilha de tão bom gosto.
Que me importa que o espelho não me veja como eu sou? Eu estou lá assim mesmo: não mudei nada. E agora tenho dinheiro para comprar eu mesma as prendas.
Os espelhos que tomem tino: não deviam andar a pregar partidas às pessoas!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Na tal data que todos festejamos

Há crianças que já não sabem o que é o Natal.
Para ela é a época das férias e das prendas.
Não sou por aí além ferranha das tradições da Igreja, mas fiquei muito triste quando percebi isto na sala de meninos mais pequenos a quem dou "Apoio ao Estudo", seja lá isso o que for.
Talvez também por isso cada vez mais pessoas chega contrariada ao Natal, sem vontade nem tempo para ter os filhos em casa, sem dinheiro para as prendas.
E não era nada disto!
Eu continuo imbuída do espírito natalício, a desejar Boas Festas a toda a gente, mesmo que receba em troca um resmungo  e veja em todos eles a observação de alguém que diz que eu bem posso gostar assim tanto do Natal porque não faço nada, vou para casa de outros onde encontro tudo feito.
Pode ser verdade. Mas eu gosto muito do Natal.
Este ano estamos à espera de um príncipe para breve, Já tem o berço, muitos presentes e o Amor de todos o que o esperam, como no Natal primordial.

Feliz Natal a todos os que por aqui vão passando!

Quantos postais de Boas Festas não terão sido escritos em escrivaninhas como a que escolhi para imagem!

domingo, 21 de dezembro de 2014

Sem título

Tive diário, sim
e daí?
tenho cadernos da 
infância com 
cartas estranhas
escritas para 
meninas
de doze
rascunhos que nunca
foram lidos
e lábios 
que nunca 
beijei
tenho memórias 
em páginas
coloridas
- quem diria, 
a vida já foi
simples
agora ninguém se 
importa
eu não me
importo
mas já tive, 
já me importei
"eu sou por que 
eu fui",
é o que se lê
na última página.

Valter Junior in Puta Letra (Facebook)

sábado, 20 de dezembro de 2014

Sobre a História Ensinada

Nuno Artur Silva, entrevistando Luciano Amaral (a propósito do seu último livro "Rica Vida") no programa Nas Nuvens do Canal Q:

"Eu lembro-me que houve ali um momento, a seguir ao 25 de Abril...Antes do 25 de Abril o livro de História que eu tinha era um livro onde só se falava de Reis, feitos heróicos, de grandes heróis da História de Portugal e o livro que passou a vigorar em 1975, de um historiador chamado A. do Carmo Reis, desapareceram todos os nomes de Reis e heróis e passou a ser uma coisa só de movimentos políticos e sociais.
A História era a mesma, mas de repente, parece que não tinha nada a ver.
(...)
De 74 para 75 parecia que estava a estudar um país diferente!"


E estava: era impossível que o país de 1975 olhasse para a História como o país de 1973. E como a História depende do nosso olhar interrogativo as perguntas que este novo país fazia à História geraram uma História diferente: A História, filha do nosso tempo!

domingo, 14 de dezembro de 2014

O historiador espanhol Fernando Bouza entrevistado por Lucinda Canelas

"Podemos dizer, então, que a historiografia portuguesa faz um retrato justo de Filipe II?
Faz um retrato cada vez mais justo. Todas as comunidades têm direito a conhecer a sua história, mas têm direito também à sua própria memória, não se pode impor nada. A transformação em Portugal foi radical – vim a Portugal para trabalhar pela primeira vez nos anos 1980 e, nessa altura, esta entrevista não teria sido possível. Porque nesses anos 80, o período dos Filipes era uma coisa que não pertencia à história de Portugal. Havia um corte, um interregno, um buraco de 60 anos. Sessenta anos de hiato histórico são impossíveis. Esta situação hoje foi corrigida graças aos historiadores portugueses. Em qualquer dos casos falta ainda ver chegar esta mudança de atitude ao grande público, aos livros da escola.
O que é que levou a essa mudança de atitude?
A constatação de que o Portugal dos Filipes é português. E esta é uma mudança extremamente generosa, que agora tem de chegar a toda a agente, mesmo que eu reconheça, uma vez mais o digo, que as comunidades têm direito às suas próprias memórias, mesmo que elas não tenham grande rigor histórico."

Público, 14/12/2014

sábado, 13 de dezembro de 2014

"A gente gostemos tanto um do outro!
Eu, quando a vi, achei que ela era uma sereia que tinha caído do céu..."

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A respeito de mais um texto

“Se eu fosse um objecto, era objectivo; como sou um sujeito, sou subjectivo” Alçada Batista

Por coincidência?

No mesmo dia em que soube que os alemães querem obrigar todos os emigrados no seu país a falar unicamente alemão, mesmo quando em família, mesmo dentro de cada casa, apanhei o filme "O Cônsul de Bordéus" na RTP 2.
Há quem diga que não há coincidências!

domingo, 7 de dezembro de 2014

Deixá-las falar!

A reunião estava quase a acabar. As pessoas evidenciavam aquela agitação que antecede o arrumar das coisas, levantar da cadeira...
Ela ficou subitamente aflita. Tinha de ficar mais um pouco, devido às suas funções administrativas. Depois de todos os outros saírem era preciso confirmar tudo com o Diretor para mais tarde tratar de todos os documentos, sem falhas. Os documentos já só chegariam aos destinatários dias depois, mas, como sempre, o seu espírito metódico não lhe permitia deixar as coisas para depois. Tinha de confirmar e preparar tudo antes de partir. Mas queria tanto despedir-se dele!
Afinal iam ser quatro dias sem as oportunidades quotidianas de o encontrar que a faziam estupidamente feliz: o café a meio da manhã, o refeitório, um ou outro minuto na sala de descanso...O Natal punha tudo isso em risco. Ele ia estar ausente! Quer dizer, ela também...isto merecia uma despedida. Mas tinha que ser profissional. O que ali estava a fazer nada tinha a ver com os seus interesses particulares...Tinha de se concentrar no trabalho.
As boas intenções esfumaram-se quando ele se levantou e ela lhe atirou quase em desespero: Espera! Queria tomar um café e um sonho contigo.
No mesmo momento queria poder apagar tudo o que disse. Fechou mentalmente os olhos e esbofeteou-se dentro de si, enquanto ele parava com uma expressão estupefacta.
O mundo parara! Ela tinha a certeza que o mundo parara e que todos estavam concentrados no seu deslize, na resposta dele, na surpresa de tudo aquilo...
-Espero por ti lá fora. Ainda vou fumar um cigarro - disse ele, ao fim de horas, ela tinha a certeza.
Sorriu com ar completamente apatetado, assentiu com a cabeça e virou-se para o diretor falando sobre a reunião mas fitando obsessivamente os papeis.
Quando finalmente saiu, ele esperava-a lá fora com as mãos nos bolsos do blusão.
- Então... - começou ela
- Sonhas mesmo comigo? - atirou ele
- Hã? Não...Sonho contigo? Ah...- riu - não, eu disse que queria tomar um café e um sonho contigo.
- Vês? Sonhas comigo, portanto.
- Ah...não...eu quero...deixa lá, às vezes as palavras é que estão certas. Deixá-las falar!
Encaminharam-se juntos para a saída. Quase a chegar ao portão ele abrandou: Não disseste que querias café? É lá dentro...
- Pois, mas como já percebeste tudo podíamos tomar o café noutro lado.
Continuaram para o carro.
Ela continuava a esbofetear-se mentalmente: O que estás a fazer, mulher? Mas ele é tão giro. Tem um ar tão bom! Deve dar uns amassos tão bons...Eu disse amassos? Queria dizer abraços. Se calhar não queria...
Ela abriu a porta do carro e ele entrou...na vida dela.

sábado, 6 de dezembro de 2014

A ver testes

"Por mais duro o serviço
que a terra peça da gente,
eu não sei por que feitiço
temos sempre novo alento."

Miguel Araújo, Romaria de Santa Eufémia

domingo, 30 de novembro de 2014

Construir

Dá imenso trabalho! Sair da rotina, fazer algo de novo...
Dar um nível de escolaridade diferente é um desafio.
Voltar ao Secundário ao fim de tanto tempo e mergulhado agora na ilusão da objetividade (em que cada passo tem de ser justificado...) dá imenso trabalho. Passei o fim de semana todo a fazer o teste. Mas está tão lindo! Pesquisar, procurar novos materiais, construir todo um discurso e uma argumentação nova, perspetivar as coisas para outro nível de análise. Construir, criar, inovar!

Estou cansada, muito cansada, mas foi muito bom.
Esperemos que eles estudem e que nos corra bem!

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Hoje sentei-me aqui. Infeliz de dor de garganta, irritada de uma reunião inútil.
Cansada do que sou hoje, parti em busca de mim, noutros tempos escritos, em palavras aqui guardadas.
Sem vergonha, revisitei alguns textos que me lembrava de ter gostado de ter escrito. Ri e chorei e não sei (ainda) porque me deixei para trás.
O que fizeram de nós? Como nos amachucaram tanto? Onde nos perdemos? Qual o caminho para voltarmos? Tem volta?
Hoje estou assombrada com uma pergunta dos alunos: "A professora fez mestrado?" "Sim." "E doutoramento?" "Sim." "É que nos disseram, mas eu não acreditei...Fez mesmo? E é professora?" "Não quero ser mais nada!"
Como é que chegámos a isto? Sim, porque o que foi dito foi: se pode ser outra coisa porque é que é professora? Mas não é a profissão mais nobre? Se já nem eles vêem, só resta perguntar: Como nos fizeram isto, e como deixámos que o fizessem?
Onde é que eu estava no 25 de Abril de 74? Na Escola. Onde ainda estou. Onde queria estar. E ainda quero? Para quê? Se o alunos deixaram de perceber o trabalho de um professor...

domingo, 23 de novembro de 2014

Grito

Ando com uma grande nostalgia de aprender.
Sinto tanto a falta de aprender!
Envolvida e enredada entre a burocracia da escola e alguns compromissos que assumi, o tempo não chega para aprender. Aprender coisas novas, ler até cair a noite, sentir uma dor no estômago por ter deixado passar a hora da refeição, reparar que passou a hora de qualquer coisa porque estava entretida. Ler, aprender, estar, ser, sem grandes preocupações de estar a faltar a algo, de correr para determinado compromisso, de fazer o que está certo, porque sim.
Ultimamente leio mail e preencho formulários, cumpro planos e escrevo sumários. Justifico cada opção que tomo, como um doente em recuperação, que tem de, cuidadosamente, analisar cada passo perante o médico que lhe prescreveu a cura.
Estou farta! Farta!
Quero ler, escrever, não fazer nada, pensar, respirar, simplesmente. Pois só assim poderei reencontrar um caminho que seja só meu, vendo passar o rebanho na estrada bordejada pela sebe, que confere um ar natural ao redil.

domingo, 9 de novembro de 2014

Memória

Hoje a minha mãe faria anos. Pensei o dia todo nisso.
E naquela entrevista do António Lobo Antunes, que já uma vez por aqui publiquei, que fala nos "mortos que habitam em nós" e na forma como a nossa memória dos nossos mortos muda e na forma como mudamos a convivência com essa memória.
Pensei em escrever alguma coisa sobre isso, mas concluí que ainda não sou capaz.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

"Professora; o Nuno Álvares Pereira era o Mourinho da altura!"
(...)
"Como é a batalha de Aljubarrota é tratada nas escolas espanholas?"
(...)
"Como é que os alemães conseguem estudar o Hitler?"

Reflexão Necessária

http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/os-museus-tambem-tem-sentimentos-de-culpa-1673458?page=-1

sábado, 18 de outubro de 2014

Gula

"Quando olhou para dentro da pastelaria os seus olhos cruzaram-se com os da rapariga que comia o bolo.
Eram uns olhos lindos, castanhos-claro, expressivos e tinham uma expressão gaiata...
O creme abundante do bolo ameaçava entrar-lhe pelas narinas, fixar-se nas bochechas e ela tinha a expressão deliciada da gula, mas aflita com toda a situação.
Ele tinha de continuar a caminhar. Não podia ficar a olhar para a montra.
À noite sonhou com a rapariga com o corpo todo coberto de creme.
E depois lembrou-se: há quanto tempo não comia um bolo daqueles?"

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Equivalências/Eloquências e Pontos Finais

Há que dar um 'Basta!' nisto.

Enough is enough.

Saltou-me a tampa.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

domingo, 12 de outubro de 2014

Domingo caseiro

Estava eu na garagem (que cada vez mais me vai servindo de depósito de coisas que não servem para nada e que deveriam mesmo era ser deitadas fora) a arrumar umas coisas e a ouvir a violência da chuva, quando vejo entrar o vizinho, de bicicleta e obviamente ensopado.
- Bom dia.
- Bom dia. - e não resisti - Que coragem! Andar de bicicleta com esta chuva...
- Então? Tem de ser, não é? Se o tempo está assim...
Isto foi há horas e eu estou até agora a pensar naquela resposta. Como é que ele encarou que tinha de ir na mesma? A determinação de certas pessoas dá comigo em doida!

sábado, 11 de outubro de 2014

Depois da tempestade vem a bonança (que nem sempre foi uma companhia de seguros)

"O barco oscilava como um berço. O mar parecia querer adormecer a tripulação. O velho marinheiro assobiava uma música perdida no tempo. Quando uma vaga atacou o barco de surpresa, ninguém teve reacção. Apenas o velho esboçou um sorriso. Ele sabia que um mar calmo nunca fez de ninguém um bom marinheiro."

colhido em microcontos

O Tempo

Por falta de tempo já não venho aqui muito; ou por falta de motivação, sei lá.
O tempo também é uma construção. Embora digamos que ele não chega para tudo e que não estica, é um facto que, por vezes com muito que fazer encaixa-se mais uma coisa ou outra e outras vezes, mesmo em tempos menos afadigados, não cabe mais nada.
Por isso, reflectindo, talvez seja mais a falta de motivação que a de tempo que me tem afastado daqui.
Por vezes ficamos enredados em certas coisas/pessoas/situações que nos fazem mal (muito mal) e não nos apercebemos bem mas vamos deixando de fazer o que gostamos, aquilo que até então nos definia, para ficar ocupado com outras situações ou simplesmente tolhido de estupefacção pelo que nos está a acontecer.
Depois é o tempo de reagir. Mas, como sempre que passamos por algo isso nos deixa marca, já não somos bem os mesmos e, por vezes, aquilo que num momento era muito importante quando lá regressamos tem uma pequenez espantosa.
Enfim.(suspiro)
Os recomeços também têm sabores diferentes e a idade traz destas coisas da reflexão e, de vez em quando, gosto de ir lendo sobre as formas de nos fazermos bem a nós mesmos. Essas revistas, sites, etc, têm muitas reflexões sobre o tempo: a forma como o gerimos, como o sentimos, os diferentes tempos, etc.
Ando a reflectir muito sobre o tempo no pouco tempo que tenho.
Ando a reflectir entre a minha alma de historiadora - onde o tempo é também matéria-prima - e a minha alma de «senhora de meia-idade» que não pode dizer que não liga ao tempo.
Entre estes tempos todos encontro às vezes umas frases que me agradam, outras que me desagradam e outras que deixo para pensar depois, noutro tempo.
É o caso desta que aqui deixo, como registo para um outro dia. Creio que ela não agrada à minha alma de historiadora, que a não considera verdadeira, mas a minha alma de moçoila quarentona plus encontra-lhe uma mensagem boa para os recomeços. Tenho de ver se me concilio nestas duas metades, mas a frase aqui fica:

"O tempo é algo que existe entre uma possibilidade e a sua realização."

colhida no artigo "Crie um futuro atraente" da Revista Zen Energy de Outubro.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Se calhar há mesmo um momento certo para cada coisa...

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Forais

Aprendi numa conferência recente do Dr. Saúl Gomes que os Monges de Alcobaça resistiram muito ao foral de D. Manuel (que visava de facto limitar o poder da Abadia), mas que, no reinado de D.José, recordaram o rei dos direitos da Abadia presentes no foral novo, tentando assim travar o poder sem limites do Rei Absoluto. Ou do seu Ministro, claro.
Muito interessante como um instrumento de poder pode ser visto pela mesma instituição como prejudicial e fonte de direitos.
Quando iniciei a escrita ia dizer «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades», mas não é assim, neste caso, para manter as vontades mudam-se as estratégias com o tempo!

sábado, 27 de setembro de 2014

Sábado

Regresso de «beber a bica».
A janela da cozinha está aberta de par em par para a varanda.
O cheiro a «roupa lavada» entra pela janela por onde sai o odor a peixe e legumes cozidos que há pouco constituiu o almoço.
Cheira a fim de semana caseiro, penso. Pego nos cadernos e no portátil e decido-me a iniciar a tarde de escrita.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Como numa banda desenhada

"Estava uma manhã a estrear. Era aquela hora em que os movimentos se sentem mais do que se vêem. As lojas estão quase a abrir, as pessoas estão quase a povoar a rua, os carros estão quase a chegar. Parece que todas as personagens daquele cenário estão quase a tomar os seus lugares.
Nessas hora da manhã apetece-me sempre ficar mais um bocadinho, à espreita, à espera para receber o movimento da cidade, antes de me recolher, também, eu no meu lugar.
Estava eu então assim, à espera do momento certo para me retirar do cenário, quando se deu a cena.
Claro que eu já tinha reparado naquela rapariga, esplêndida, bem vestida, bem calçada. Bem...bem calçada para estar numa reunião que parecia esperar, um pouco desconfortável, à porta fechada de um escritório de advogados. Nitidamente custava-lhe estar, naqueles sapatos altos, lindíssimos, elegantes, no irregular chão antigo, de pedras a imitar as medievais que por ali teria havido.
De uma esquina apareceu então a outra mulher. Teriam a mesma idade, mas era a única coisa que tinham em comum. A outra, que era baixa e gorducha, envergava umas calças muito largas, com ar confortável e uma chinelas com ar brasileiro. Tinha um semblante enérgico e feliz e deslocava-se de forma muito rápida e segura.
Eram as únicas ocupantes da rua e claro que se viram, se olharam, quando a colorida gorducha passou rapidamente à frente da moça esplêndida que esperava, com todo o glamour, pela reunião que acreditamos que ia ter.
E foi então que, como numa banda desenhada, os pensamentos delas e materializaram em balões de palavras sobre as suas cabeças, em simultâneo.
Moça Linda: Que ar feliz e confortável que esta fulana tem! Mas é tão deselegante, coitada.
Gorducha Lesta: Que fulana tão linda! E tão elegante, caramba. Mas o que ela tem de passar para estar assim linda, coitada.
Foi um momento só! Os balões desapareceram ainda antes da gorducha virar a outra esquina e da moça linda assumir uma atitude mais atenta, provavelmente por ter avistado um carro que se aproximava.
Fui o único espectador desta cena, que me parece muito interessante: na definição do tipo de mulher, do que cada uma deseja, daquilo em que cada uma investe.
Inveja e admiração mútuas no flash em que os pensamentos delas se materializaram nos balões da BD.
E só eu é que vi. Não posso discutir isto com ninguém..."

domingo, 7 de setembro de 2014

Domingo

Quase todos os cafés passaram a vender pão, talvez para colmatar a falta de padarias tradicionais. A padaria - que ainda exista - é hoje um café, os cafés também são quase todos padarias, mas a mentalidade "da dona de casa que vai ao padeiro" parece-me que continua igual.
Isto pensei agora, quando fui tomar o meu café e tive de o fazer dentro do estabelecimento, uma vez que todas as mesas e cadeiras da esplanada - que eu adoro - estavam encharcadas ou pelo menos salpicadas de água, resultado da abundante chuva estival desta noite.

Entrou uma senhora, cabelo grisalho, saia de ganga, e dirigiu-se à funcionária atrás do balcão.

"- Este pão é lá de cima?
- Sim.
- Não tem outro?
- Não.
- Bem...sabe quem é o meu vizinho Augusto?
- Sim...
- É deste pão que ele leva?
- Sim.
- Ah, então quero.
A empregada agarrou num saco.
- Só um.
- Com certeza.
- Escolha-mo jeitoso.
- A senhora até pode escolher.
A mulher olhou para a vitrine.
- Só tem estes?
- Sim.
- Então pode ser um qualquer"
A seguir contou a história de onde compra normalmente o pão, que se gostasse daquele pão voltaria...
Depois saiu e a empregada foi limpar as mesas da esplanada, ao mesmo tempo que eu já saía, porque não tinha mais tempo para dedicar ao café.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O Restelo é um sítio óptimo para se ser velho!

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Cumpriu

A minha varanda cá estava à minha espera.
O rio continua, acolhedoramente, o seu curso.
Hoje não tive tempo de observar o lusco-fusco...mas tenho a certeza que os patitos e as garças terão sentido a minha falta.
Agora, à noite, o cheiro a Verão enche a casa e a televisão está sem som para ouvir o cantar do rio.
Boa noite!

domingo, 31 de agosto de 2014

A minha varanda nova

É o primeiro Verão que tenho estas varandas.
Na varanda da frente - que na realidade é nas traseiras do prédio - há sempre um espectáculo diferente em cada fim de tarde.
Por vezes é o casal de garças que se reúne ao lusco-fusco, hoje era um grupo de 7 patinhos que avançavam cautelosamente pelo rio, tasquinhando alegremente iguarias patais que devem encontrar-se fresquinhas no rio, agora limpo.
A gata vadia. que pela sua liberdade faz inveja às minhas bichanas, regressou agora ao condomínio.
O breve murmurar da água enche a atmosfera que hoje esteve cheia dos risos de um grupo de jovens de uma equipa desportiva que aqui se fez fotografar.
Amanhã tudo ganha a gravidade do primeiro dia da semana e do ano escolar.
Eu saio cedo para mais um exame de equivalência à frequência, a biblioteca abrirá às dez, com as suas janelas voltadas para o jardim e o rio, outrora força motriz da indústria que construiu os edifícios hoje dedicados à cultura.
Coço a picada de uma melga, esfrego os olhos para divisar as letras do teclado num lusco que já quase é só fusco.
Vou parar de escrever. Sorver a noite de verão na minha varanda nova, ouvir o rio a correr em férias pela última vez neste ano escolar que termina hoje, porque amanhã é já outro.
E a minha varanda acalma-me, garante-me que vai cá estar em cada fim de tarde, de regresso ao barulho do rio, ao lusco-fusco surpreendente de toda uma fauna calma, acolhendo-me no remanso do meu espaço novo.

Recomendável

Muito bom, muito bom!

Talvez devêssemos hoje em dia rever a coragem, a estratégia e a inteligência de outros tempos.
Se calhar é difícil encontrar hoje os documentos porque escreviam pouco, mas, como se vê, faziam muito.

Talvez não fosse má ideia estudar História, incentivar o estudo da História, inspirarmo-nos na História.

Aqui fica um excelente documentário!

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

"Ela sabia que aquilo ia acontecer, mais cedo ou mais tarde.
Aquelas visitas regulares, insípidas, mas persistentes. Aquele enrolar das mãos por não saber o que dizer, aquele «estou aqui porque quero estar contigo»...
Parecia um namoro à moda antiga.
Ela questionava-se todos os dias porque o deixava entrar, estar, ter esperança.
Depois concluiu que talvez valesse a pena tentar. Afinal se todos os outros acasalavam ou pareciam loucos para o fazer, ter alguém devia ser encantador.
Mas é que não era.
«Não será a pessoas certa» questionava-se. «Mas isso existirá?». «Afinal de contas sempre pus defeitos em toda a gente, nunca vi vantagem em estar acompanhada...devo estar errada...com certeza não serão os outros todos a estar errados...»
«E ele é tão bom rapaz»; «E seria moço para te fazer feliz», «Se não lhe deres uma oportunidade nunca acontecerá»; E todos os outros argumentos que tinham o seu quê de verdade.
Ele perguntou um dia se poderia aparecer à noite e ela lá lhe disse que sim.
Abdicou de estar em calções ou em pijama e muito menos descalça, que o moço deveria vê-la composta...Com posta, cabeça e rabo, sentia-se ela ali, pescada na sua própria casa, sem estar à-vontade.
E chato....que ele era, coitado!
Foi quando começou a acrescentar o epíteto «coitado» aos seus pensamentos sobre ele que começou a ter dúvidas. Ou melhor, certezas. Dúvidas ela sempre tinha tido e foi do aproveitamento dessas dúvidas que nasceu a possibilidade daquele incómodo diário.
Naquele dia ele torceu mais as mãos que o costume e ela esfregou as suas (mentalmente) de contente. Ele ia decidir-se e aquilo ia poder ter um fim.
Ele lá murmurou a declaração, ou proposição, que ela nem soube bem o que aquilo era: era o pretexto para poderem ter uma conversa definitiva, foi assim que ela o recebeu.
- E o que é que tu tens para me oferecer? - ouviu-se dizer, regateira da praça, economista dos sentimentos e das relações.
- Eu. O que eu tenho para te oferecer é o que tu vês - ele, de olhos baixos, já desconfiado daquela reacção que não vinha nos romances
- E porque é que tu achas que vales a pena? - investiu ela, cruel
Ele não conseguiu responder. Talvez tenha pensado que não valia a pena (isso, ela só pensou dias depois). Virou as costas e desceu a rua sem olhar para trás, os ombros descaídos em sinal de derrota.
Ela fechou a porta triunfante quando ele chegou ao fim da rua. Descalçou-se. Sentiu o frio do mármore nas plantas dos pés. Tinha recuperado a sua liberdade!
Era impossível que os outros não vissem que era muito melhor estar sozinha.
Afinal o que é que os outros viam nos outros?
Decidiu que não valia a pena pensar nisso e que nessa noite ia dormir nua, esplêndida, sozinha...ou consigo mesma?"
"amo-te tanto mas hoje tenho de levar o carro ao mecânico, as rodas fazem um barulho estranho, não deve ser nada mas é melhor prevenir, amanhã prometo que vamos ver que tal se come naquele restaurante novo junto à rotunda, e depois levo-te ao cinema, ai não que não levo,
amo-te tanto mas hoje tenho de ver o treino do miúdo, o treinador ligou e disse-me que temos craque, o nosso menino a jogar como gente grande, vê lá tu, quando chegar com ele vê se tens prontinha aquela comida que ele adora, o puto merece, ai não que não merece,
amo-te tanto mas hoje tenho de ficar até tarde no escritório, há aquele projecto do estrangeiro para fechar, está aqui tudo perdido de nervos, não sei se aguento, daqui a pouco ligo-te para saber como vai tudo, o miúdo e as coisas aí em casa, agora tenho de ir mostrar a esta gente toda como se trabalha, ai não que não tenho,
amo-te tanto mas hoje tenho de me deitar cedo, amanhã é aquela reunião importante de que te falei, se conseguir o cliente vamos ser tão felizes, aquela casa, o carro novo, quem sabe?, só tenho de o conseguir convencer, tenho tudo prontinho na minha cabeça e nada pode falhar, vamos ser ricos, é o que é, ai não que não vamos,
amo-te tanto mas hoje não estás, cheguei à hora combinada para te levar a jantar e tu não estás, o miúdo também não, deve estar no treino, deixa-me cá ligar, ninguém atende, nem tu nem ele, provavelmente deves estar a preparar alguma, sempre foste tão assim, cheia de surpresas, daqui a nada entras pela porta e dizes que me amas, ai não que não dizes,
amo-te tanto mas hoje tenho de assinar este papel, olho-te e peço-te perdão, prometo-te que não vai haver mais mecânicos nem treinos nem clientes estrangeiros nem reuniões entre nós, garanto-te que te quero acima de tudo, olho-te mais uma vez nos olhos e procuro acalmar o que te dói, mas tu só dizes para eu assinar e eu assino, as mãos tremem e até já uma lágrima caiu sobre elas, o nosso filho quando souber vai chorar como um menino pequeno outra vez, o nosso craque, podias ficar pelo menos pelo nosso craque, ou pelo menos por mim, para me manteres vivo, Deus me salve de não te ter comigo, sou uma impossibilidade se não te tiver para gostar, ai não que não sou,
amo-te tanto mas hoje não tenho nada para fazer, a casa escura, um silêncio vazio e nada para fazer, apenas esperar que te esqueças de mim e me voltes a amar, e eu amo-te tanto, ai não que não amo."

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in "Prometo Falhar", a mais recente obra de Pedro Chagas Freitas.
"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia"
Frase atribuída, no Facebook, a Nietzshe.

A Coleccionadora

"Nunca tinha sido grande coleccionadora.
Herdara uma colecção de carteirinhas de fósforos do pai e uma colecção, muito incompleta, de selos da mãe. Pouco lhes acrescentara. Às vezes abria os álbuns e as caixas e olhava as espécies. Intrigava-a ter todas aquelas coisas ali, quietas, sem ser para usar...Mas, o que iria fazer com aquilo? Os quadros que herdara da tia Margarida passaram a decorar a sala da lareira, a roupa que tinha - alguma também herdada - usava-a, exibi-a, gozava-se dela, mas as colecções...não serviam para nada, era até uma pena ter aquilo tudo ali preso.
Naquele dia ele telefonou mais uma vez. Era um daqueles telefonemas que ela andava a evitar há algum tempo. Tinha até enviado uma mensagem a pedir que não lhe ligasse mais, que não lhe apetecia falar com ele. Mesmo assim ele ligara mais três ou quatro vezes que ela não atendeu e depois ligou de um telefone fixo, num dia já disperso, em que ela pensava tê-lo dissuadido.
Atendeu por pensar que poderia ser de alguma firma, de alguma coisa importante.
A voz dele era alegre, jovial, com um tom de triunfo: «Sabes que eu nunca desisto. Não vejo razões para não falares comigo. Não te fiz mal nenhum.»
Conversaram durante um bocado. Ela sabia que não adiantava recusar: assim a conversa transformar-se-ia em discussão e duraria o mesmo tempo. (Recordava tempos em que lhe desligou o telefone e as mensagens sucederam-se acusatórias, desagradáveis, até ela decidir atender outra vez).
Desta vez, enquanto conversava com ele, não se conseguiu concentrar.
Ele nem disfarçava que estava numa outra relação, que vivia já com outra mulher, mas insistia em manter aquela ligação, aqueles telefonemas periódicos, aquela verificação de que ela continuava ali, disponível, de certa maneira.
De repente sentiu-se um selo no álbum, uma caixa de fósforos na caixa grande de arrumação.
Ele estava apenas a verificar e contemplar a sua colecção. A sua colecção de pessoas.
Abria o álbum, certificava-se da sua posição, contemplava a sua beleza, eventualmente avaliava o seu valor. E fechava o álbum das coisas que se guardam e não se usam. Das coisas que se têm para, de certa forma, provar o nosso poder, reencontrar o nosso passado, manter um laço qualquer com um pedaço de nós mesmos.
Concluiu isto tudo enquanto respondia mecanicamente ao seu discurso egocêntrico, à torrente de palavras animadas que tinham como denominador comum a pessoa do seu autor: «Eu isto, eu aquilo...», mimava-o enquanto lhe respondia.
Mudou o telefone de lado para ficar com a mão direita livre.
Abriu o álbum, depois a caixa.
Terminou a conversa a pretexto de ter de continuar uma qualquer tarefa.
Depois do clic, riscou cada fósforo, queimando cada um dos selos. Nunca mais ninguém ia desinquietar aquelas espécies, para não as usar, para lhes provar a propriedade. 
Mortas, destruídas, em cinzas, as suas colecções eram enfim livres."

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Intelectual? K'é ixo?

"Eu cresci num tempo em que o intelectual tinha um determinado peso na sociedade, ou seja, os intelectuais tinham uma voz, exercitavam a sua voz e a sua voz era escutada, mesmo que para divergir...Eu não tenho a certeza que hoje em dia isso ainda aconteça. Pelo contrário, acho que hoje em dia se esbateu muito isso, porque a figura do intelectual foi substituída pelo famoso televisivo (...)."
Mega Ferreira em entrevista ao Programa Nas Nuvens, Canal Q, transmitida em reposição, hoje, agora.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Rimei

Em casa da minha avó paterna - muito menos palavrosa que a minha mãe - imperavam as rimas. A minha avó não lia muito, mas (talvez para fixar as coisas, não sei) arranjava sempre uma rima perfeita para uma afirmação.
Lembro-me tão bem: "O sr. Magalhães (ao que a avó acrescentava) esfola gatos, mata cães"; "Senta-te perna, cá anda quem te governa" (impreterivelmente após arrumar a cozinha, quando se sentava no sofá), "Ai, ai, grande casa tem meu pai" (para justificar um suspiro) ou, os menos ortodoxos, "Vergonha é não ter um homem em quem se ponha" ou "Quem dá é tio, quem não dá puta que o pariu".
Enfim, ao longo do tempo, adaptado a cada situação quotidiana, havia uma rima para tudo.
Foi também uma forma de me ter habituado a amar as palavras: as palavras que rimam, as palavras que condizem, as palavras que preenchiam o vazio de uma frase sem interlocutor.
Por isso hoje teve muita piada quando eu pensava assim:
"Amanhã volto ao serviço" e, acto contínuo, ecoou no meu espírito uma "deixa" do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, (que quase todos os anos vejo representada quando acompanho os alunos de 9º ano): "Parece-me isso cortiço".
Não sei se a minha avó se ria sozinha das suas rimas, mas eu soltei uma gargalhada com gosto e repeti, desta vez em voz alta: "Amanhã volto ao serviço, parece-me isso cortiço"
E parece. Mas lá vou eu!

domingo, 24 de agosto de 2014

Eu sou óptima

a deixar para amanhã o que poderia ter feito hoje.

sábado, 23 de agosto de 2014

Nostalgia

Hoje, acerca de um trabalho de grande fôlego que venho desenvolvendo com uma colega, surgiram-me de rompante memórias do meu tempo de Faculdade. Das tardes e noites nos corredores da Faculdade de Letras, a tentar compor textos conjuntos. Dos meus repentes de escrita, sobre um molho de folhas de rascunho, as outras caladas esperando pela escrita que não conseguia ser dita. "Deixem-me escrever! Só sai por escrito." Depois a leitura, a mudança de uma ou outra palavra.
Adoro escrever!
Adoro verter num texto o resultado de uma investigação, de uma inquirição às fontes; adoro compor um puzzle em que se vão reconstituindo ramos do passado, sentindo que estou a contribuir para a árvore do conhecimento da História.
Recordei a minha colega de trabalho de muitos anos. Tínhamos uma dinâmica de trabalho incrível. Parece que já estávamos sintonizadas...Por vezes ficávamos a olhar para um espaço em branco no papel, a palavra certa não saía...
Eu, mais desesperada e colérica, arremetia impropérios, ela, mais ponderada e segura, começava a alinhar palavras até descortinarmos a palavra perfeita.
E que alegria, Meu Deus!\ A palavra perfeita...Hoje tenho a sensação que achávamos que os nossos trabalhos de Faculdade eram obras primas...
Eram suadinhas e honestas, que nós trabalhávamos de alma e coração e queríamos muito produzir coisas a sério.
Às vezes penso em como foi por essa época que descobri a investigação.
Eu gostei tanto do meu curso! Adorei andar na Faculdade!
Hoje desceu uma nostalgia...só me apetece chorar, de saudades, de ser nova, de querer descobrir e escrever o passado, de acreditar que existe sempre uma palavra perfeita para cada espaço em branco.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Pequenino!

Bem...com esta cena do Facebook vou mesmo convencer-me que o mundo é pequeno.
Então não é que quando me lembro de procurar um locutor de rádio, um ator ou um escritor que me agradam temos sempre algum amigo em comum? Caramba! Sinto-me famosa. Não me sabia de tão amplas relações.

With a little help from my friends

Hoje é dia de S. Bernardo, que faleceu nesta data em 1153, após ter dado a sua última autorização para a construção de mais uma Abadia Cisterciense: o Mosteiro de Alcobaça.
A aceitação desta doação de Afonso Henriques terá sido um impulso significativo para o reconhecimento de Portugal como reino independente, ou seja, provavelmente, a primeira "cunha" da História de Portugal.
Bernardo de Claraval foi um Doutor da Igreja.
Faz hoje 4 anos que entreguei na Universidade- à sombra tutelar de S. Bernardo, assim o creio - os vários exemplares exigidos da minha tese de doutoramento. O peso do conhecimento era tão grande e palpável que tive de ter a ajuda de amigos que, arrastando literalmente o fruto dos meus estudos em veículos rodados com ar de aeroporto, me ajudaram a terminar esta grande empreitada da minha vida.
Hoje é o Dia de S. Bernardo, da cidade de Alcobaça e também da celebração do términus de um trabalho que afinal, mesmo que eu disso não tivesse consciência, estava nos meus planos há muito, muito tempo.
Hoje é um dia muito significativo para mim e, como não podia deixar de ser, de celebração dos meus amigos, sem os quais não teria conseguido escrever o trabalho e levá-lo até ao local de entrega.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Mística

Depois da busca por caçadas e pelejas, busco a paz...interior.
Museu Oriental, Valladolid

sábado, 16 de agosto de 2014

Dicotomia

Cangas de Onis - A ponte com a cruz das Astúrias


Do Céu e da Terra; da Paz e da Guerra; fiéis e infiéis; do claro e do escuro; do dia da noite; do crer e e descrer; Começar, Acabar; Finito, Infinito; Impossível, Possível.
A imagem, a emoção, a reflexão. O momento, o tempo todo. 
Estar aqui!   

O Regresso

Oviedo, Astúrias, Espanha

No regresso

Não sei quando é que comecei a gostar de viagens, mas foi certamente muito antes de as experimentar. Recordo os livros "Céu Aberto" e "Em Pleno Azul" que contavam as histórias de uma família em viagens. Havia um tio (solteiro e intelectual), o tio Jeremias, que ia explicando, por vezes de maneiras pouco ortodoxas, os lugares, as cidades, os monumentos, aos jovens da família. Foi lá que aprendi que a Itália é uma bota que está a dar um pontapé à Sicília. Depois lembro-me de uma série de televisão que se chamava "Dois Anos de Férias" e consistia no relato das aventuras de um grupo de jovens num navio que fica desgovernado ou qualquer coisa assim, que agora me aprece um pouco inverosímil, mas que me prendia ao écran. Para não falar de Marco Pólo, que durante muito tempo julguei ser uma personagem de ficção ou de Sandokhan. E havia, antes de tudo isso, o Vickie, a Heidi e o Marco, que falavam de paisagens distantes. E a Música no Coração, que começa e termina em paisagens soberbas.
Depois há a compreensão de que as viagens físicas, que implicam uma deslocação, são também (ou sobretudo?) viagens interiores, aberturas de espírito, momentos de questionamento e, sempre, de aprendizagem.
Comecei a viajar tarde, se não contarmos as viagens nas páginas dos livros e os sonhos de tapete voador.
As viagens sempre me fascinam. Cada viagem é um momento mágico, cheio de emoções, de reflexões, de sentimentos à flor da pele, de querer muito que os momentos sejam perfeitos, porque poderá ser a única vez ali, mas, mesmo que assim não seja, será sempre a primeira vez.
Estar nos locais onde as coisas aconteceram; tentar apreender o espírito dos locais; compreender o passado, a espessura daquele local, uma densidade histórica, emocional, um magnetismo que atrai ali muita gente. O que atrai as pessoas ao local? Qual o papel da História contada na mística dos locais? Que faço eu ali? Porque escolhi aquele local e não outro? Como faço eu parte desse local, como faz esse local parte de mim?
Agora faz. Mas, dantes, já fazia, porque era um desejo meu estar ali...
Venho de uma viagem planeada. Foi uma emoção muito grande poder estar em certos locais, conhecer espaços e histórias e espaços da História que há muito sentia que queria conhecer.
Envolvida na emoção da viagem dou por mim no regresso. E compreendo que o regresso também é uma parte importante da viagem.
O regresso poderia ser o motivo de uma viagem. Só partindo podemos regressar. E só regressando avaliamos as coisas de uma outra forma. As rotinas que nos oprimiam podem ser, de certa maneira, uma segurança no nosso dia a dia; a casa que nos ocupava tempo de mais pode ser uma surpresa acolhedora. Parar para olhar à volta. Parar para recomeçar, com outro ânimo, com outra perspetiva. Parar para poder andar. Partir para poder voltar. Sair para compreender o interior.
Não tinha percebido a importância da fruta e dos iogurtes na minha alimentação, no meu dia a dia. Fizeram-me falta: é porque são importantes. Foram as primeiras compras do dia.
O dia do regresso foi passado a namorar com a casa; a recuperar a energia que me faltava há duas semanas atrás, quando estava farta, quando queria partir (e nem sabia que queria voltar).
Para remate da noite abro o doce de goiaba que trouxe de outras viagens (que arrumara na despensa noutro regresso); não gosto do sabor dele sozinho, falta-lhe qualquer coisa...Lembro-me do costume aprendido nesta viagem, trazido agora mesmo neste regresso: tostadas com mantequilla e marmelada. Que bem ficam as tostas com a manteiga e o doce de goiaba por cima. Bato com os olhos na garrafa do néctar do Douro que estava intocada por falta de tempo para a apreciar condignamente. A mesa está composta.
As gatas estão no sofá, enroscadas, mas ouve-se o seu suave rom-rom, celebração do meu regresso.
Olho a mesa: celebração de viagens, de amizade, de regressos, de ser, ter e haver.
Ergo o copo: A todo o contexto - ao partir, ao voltar, ao crescer, ao ser possível.
Agora, tudo parece possível, quando há bem pouco tempo o cansaço alimentava as dúvidas.
Ergo o copo: aos regressos e aos recomeços! Ao ter para onde regressar e onde recomeçar!
Ao querer partir para querer regressar!  

domingo, 3 de agosto de 2014

Férias

"- Uma terra chamada Álamo?
- É um nome estranho...aqui no Alentejo...
- Um álamo é uma árvore. Não sei bem que árvore é...tenho ideia que é de sombra, alta...Hum: uma alameda deve ser um espaço ladeado de álamos, não vos parece?"

Ninguém pareceu muito entusiasmado com a questão, na viagem pacata, em que tentávamos esquecer a falta de sol numa semana inteirinha de Algarve. Mas eu fui agora verificar e é mesmo: Uma alameda é um espaço ladeado por árvores de sombra, por exemplo, álamos.

"Ala moço, que se faz tarde!", dizia a minha avó.

Há tanto tempo que não tinha tempo para me enredar nas palavras, para me embalar nos sons e para descobrir as similitudes só porque é bom!

sábado, 2 de agosto de 2014

Mais mau que o tempo

Eu sei que não devia; não é cristão, não é bonito, não fica nem parece bem, mas...a única coisa que me agrada neste tempo é que o Passos começou ontem as férias no Algarve.

terça-feira, 22 de julho de 2014

As caixas negras são cor de laranja?

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Último dia de trabalho de um ano longo, sofrido, arrastado, sombrio.
Na Escola quase vazia instalei-me numa mesa ampla, separei as folhas por grupos e preparei-me para ir recebendo os Encarregados de Educação que por lá foram passando durante a manhã a levantar as notas, a comentar os exames, a despedir-se da Diretora de Turma de 3 anos.
Estávamos todos muito contentes: os meninos cresceram tanto!
Estávamos todos um pouco receosos: como irão enfrentar a próxima etapa?
Estávamos todos um pouco tristes: Já estávamos habituados uns aos outros...será que os próximos Encarregados de Educação e o próximo Diretor de Turma serão melhores ou piores?
Alguma coisa acabava ali. Alguma coisa que nos tinha unido durante três anos.
Sim: todos os meninos que acompanhei nestes anos estão passados e encaminhados na vida.
Vozes embargadas e espreita uma emoção líquida algures.
Já não devia ser assim, penso. Já faço isto há tantos anos.
Depois ficaram os papeis. As cópias dos que vieram, os originais e cópias dos que não puderam por cá passar hoje.
O dossier e o cacifo têm de ser limpos, preparados para receber o próximo ano, a próxima leva, as próximas fornadas.
Ecoava ainda no ar a frase que eu mais gosto de dizer à maior parte dos Encarregados de Educação: "Foi um privilégio ser professora do seu filho".
Na maior parte dos casos consigo aplicá-la com toda a propriedade.
Para os outros algo de mais suave: "Continuo por aqui se for preciso alguma coisa. Um beijinho ao menino ou menina."
 máquina trituradora de papel ajudou-me a terminar a limpeza: tanto papel acumulamos. Os rascunhos são agora todos destruídos. Os originais arquivados.
Sinto-me uma criminosa a destruir provas.
Penso com saudade nas nossas aulas.
De certa maneira até sou uma criminosa. Num tempo tão desumanizado, tão economicista, eu insisto em ter prazer em ensinar, em perder tempo a falar com eles ou a ficar em silêncio a vê-los crescer. Sou culpada, sim. Tenho medo de um dia me deixar absolver pelo sistema. Absolver, sim. Enquanto ele me considerar culpada é porque não me engoliu.
Deixo correr uma lágrima.
Estou sozinha...
Tão sozinha quando as salas de aula ficam vazias. Os corredores da escola se agigantam e não há ninguém para mandar calar, nenhum barulho para lamentar a ausência de silêncio.
Todos os anos recordo a frase: Uma escola sem alunos é um navio fantasma.
Chovem as orientações para o próximo ano, já me enviaram o calendário escolar para 2014/15.
Quero lá saber!
Chegando a casa abro a página de Facebook e adiciono-os todos como amigos. Agora já não tenho que lhes repreender nada. Agora quero viver dos rendimentos, desta nossa amizade construída de muitos ralhetes e muitos conselhos de três anos.
Agora vou somar amigos e gozar férias!

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Quando encontro alguém sábio e humilde (talvez esta expressão seja até um pleonasmo) disposto a ensinar-me alguma coisa é um fascínio. Um fascínio mesmo!
Gosto de pessoas mais velhas pela experiência e calma que transmitem, pelo muito que sabem ensinar, pela consciência que têm da sua importância na transmissão do saber.
Os que têm...
Aumenta então o fascínio quando encontro pessoas destas, que saem da mediocridade geral, que se deslocam de uma artificial centração nos afazeres do dia-a-dia e se sentam comigo, a conversar, a ensinar, a partilhar, a passar o conhecimento, a ajudar-me a crescer.
Hoje foi uma manhã assim: fascinante!

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Um discurso da identidade

"Para mim a grande revolução é ir às raízes, reconhecê-las e dizer o que essas raízes significam na atualidade. (...) [A partir das raízes] dialogar com os desafios que se vão apresentando. (...) Ou seja, não há contradição entre ser revolucionário e ir às raízes. Creio mesmo que a maneira de fazer verdadeiras mudanças é seguir a nossa identidade. Por exemplo, o diálogo inter-religioso: não se pode dialogar se não fizer parte da nossa identidade (...) e descobrir a identidade é ir às fontes. Nunca se pode dar um passo na vida se ele não vier de trás. Ou seja é preciso saber de onde venho, que apelido tenho, apelido cultural, ou religioso.
(...)
No centro de todo o sistema económico tem de estar o homem. O homem e a mulher. E tudo deveria estar ao serviço do homem, mas agora no centro está o dinheiro. O deus dinheiro.(...) E por esse afã de querer mais, de ter mais, toda a economia se move descartando - é curioso...Há uma cultura de descarte.Descartam-se as crianças, ou porque se descarta a natalidade (...) descartam-se os velhos. Já não servem, não produzem. É uma classe passiva. E ao descartar as crianças e os velhos, descarta-se o futuro de um povo, porque eles são o futuro de um povo.As crianças são os que vão dar continuidade e os velhos porque são quem nos dá a sabedoria, são os que têm a memória desse povo e têm de a transmitir às crianças. (...)
E a par disto este pensamento único, que nos tiar a a riqueza da diversidade de pensamento e por isso de um diálogo entre as pessoas.
E uma globalização mal compreendida. Uma globalização bem compreendida é uma riqueza. E uma globalização mal compreendida para mim é uma esfera, em que todos os pontos são iguais, todos equidistantes do centro, portanto, é anulada toda a individualidade. Uma globalização que enriqueça é como um poliedro: todos unidos,, mas cada qual conservando as suas particularidades, a sua riqueza, a sua identidade.
E isto não acontece.
Por isso o pensamento único é um sistema económico mau, e digo que é de idolatria porque sacrifica o homem em favor do ídolo dinheiro, não é?"

Entrevista de Henrique Cymmerman ao Papa Francisco, 17 de Junho de 2014, Sic Notícias

domingo, 22 de junho de 2014

Em Congresso

"Lembram-se do processo de democratização das escolas? - a conferencista fez uma pausa para criar mais impacto na audiência.
Mais depressa do que pude pensar, disse: Ponho-lhe flores na lápide todos os dias.
De acordo com o país progressivamente cinzentudo em que nos vamos retornando, ninguém se riu, ninguém disse nada...
E a conferencista prosseguiu a sua prédica."

sábado, 14 de junho de 2014

As havaianas

são a maior invenção do Homem, após a roda.
Verão!

sábado, 7 de junho de 2014

Tempo de despedidas

Últimas aulas da disciplina de História de 9º ano. Para muitos as últimas aulas da disciplina de História na vida (mas não as últimas lições da História, assim espero).
Concentramo-nos nas páginas do manual que levantam mais questões e preocupações do que fornecem respostas. Chamo-lhes à atenção para os desenvolvimentos da Ciência, da Técnica e da Tecnologia que têm de ser geridos com muito cuidado, para as questões éticas que os limites, ou falta deles, num tal desenvolvimento levantam. Até onde podemos ir? Até onde devemos ir? A quem podemos e devemos entregar todas estas imensas possibilidades.
"-A clonagem, por exemplo. Estão a ver a ovelha Dolly, que todos conhecem. A clonagem levanta muitos problemas. Será possível/desejável clonar seres humanos? - pausa - Imaginem o perigo de possibilidades como estas em mãos erradas: imaginem, por exemplo, se um homem como Hitler dispusesse destas possibilidades de clonagem."
Gerou-se um momento dramático. Todos eles tinham trabalhado o tema do Holocausto e pareciam naquele momento sentir o peso daquela herança sobre os ombros.
Era isso mesmo que eu queria. Que eles - que irão agora começar a escolher as suas profissões - tivessem a noção da responsabilidade do uso do conhecimento.
O ambiente pesado da sala foi interrompido pelo N, aluno da última fila: "- Acha mesmo que ele conseguiria fazer um exército só de ovelhas?"
A explosão de risos que se seguiu limpou o drama da sala e transportou-nos para a  alegria que marcara a maioria das nossas aulas e que marcava agora os desejos de felicidade com que me despedia deles.

Ficou só por falar que, por detrás do optimismo com que lhes assinalo sempre o progresso que vimos atingindo, está o desespero desse desenvolvimento ter ainda muitas limitações...não ter conseguido, por exemplo, a cura para o cancro que este ano venceu o Diogo, colega desta turma.
As despedidas deixam-me cada vez mais triste!

domingo, 1 de junho de 2014

Dia Mundial da Criança

Há muitos anos atrás fui ao Jardim Zoológico num grupo organizado e depois desenhámos os animais e a nós próprios com lápis de cera.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Espírito de sacrifício

Como quase todos os professores por esta altura cá estou eu a ver os testes.
Na maioria estão bons, acreditando eu que este esforço bem sucedido do final do ano comprova a falta de trabalho do resto do ano. Se era possível ter boas notas, porque o não tiveram antes? - interrogo-os frequentemente. Sorriem com um ar fugidio. Alguns perguntam-me como era eu como aluna e eu respondo sempre que só falarei sobre isso na presença do meu advogado.
Mas é sobre isso que eu quero falar aqui, aproveitando que esta é uma ZLAEa (Zona Livre de Alunos e Ex-alunos)*.
Então, eu era uma aluna que só trabalhava no primeiro e segundo períodos. Demasiado zelosa ( e medrosa) para deixar tudo para o fim, poupava, no entanto, as minhas energias todos os finais de ano, pois desligava o motor quando percebia que dois terços do ano estavam ganhos - e frequentemente bem ganhos - e entrava de férias lá pelo final de Abril, aproveitando os bons ventos das competências adquiridas nas disciplinas que gostava e estudando os mínimos para aquelas em que nada cá ficava.
Mas o que me espantou - ou me pôs a refletir - neste final de ano letivo, visto do lado de cá do estrado (alusão puramente simbólica que os estrado desapareceu em nome de uma democratização do ensino que levará, a breve trecho, à construção de um fosso para instalar o professor, com letra pequena, naturalmente) foi a situação contrária, foi o sentido do dever que leva bons alunos a estudar afincadamente aquilo que não gostam.
Passo a explicar:
Tenho uma turma muito boa que acompanho há já três anos. Deixarão na próxima semana o estudo da História como disciplina, pois a maior parte enveredará pelas ciências, almejando um lugar na Faculdade de Medicina ou um estágio num grande laboratório americano.
Comentava eu com eles que me tinha parecido mal que um deles tivesse gritado a plenos pulmões que tinha feito o último teste de História da vida. Eis senão quando me deparo, com surpresa, com a solidariedade de outros, alguns alunos de nível 5 mais que sólido, pois também estavam aliviados por terminar a disciplina que dava muito trabalho.
Fiquei atónita! Nunca me teria passado pela cabeça que aqueles jovens, que têm notas excepcionais, não gostassem da disciplina. E isto porque eu seria incapaz de me esforçar por ter '5' a uma coisa que não gostasse. Se não gosto, faço o mínimo para cumprir o que é necessário (numa disciplina para passar, num processo burocrático para entregar a papelada a tempo, etc) mas nunca me aplico com o afinco que terá como resultado o brilhantismo.
Depois fiquei a pensar que não sei se isto é de feitio ou de educação, mas eu não tenho muito o "sentido de dever" naquilo sobre o qual não reconheço pertinência. Aquelas crianças/jovens terão talvez a facilidade e docilidade (que em mim é escassa) cumprir coisas profissionais às quais não reconheçam sentido.
Eu não tenho nada o espírito de sacrifício.
Por vezes penso que isso tem a ver com a minha educação cristã, que falava de um Deus (creio que era sobretudo Jesus) muito bem disposto que nos queria felizes. Tive pouca educação para a penitência e para a culpabilização. Graças a Deus!
Se eu puder não fazer sacrifícios porque os hei-de fazer? Há gente que voluntariamente se sacrifica, que carrega sobre si um peso imenso e que passa o tempo a fazer coisas que não gosta mas que acha necessárias. Eu tento sempre o outro caminho: o mais ensolarado. Se as nuvens forem muito negras lá terá que ser, mas vou sempre espreitando se haverá uma vereda com menos nuvens ou com árvores menos cerradas.
Mas na profissão vai sendo difícil! A burocracia impõe-se fazendo perder o sentido do sol que iluminou a minha escolha profissional.
Esta época é muito complicada: estou a sofrer por antecipação a separação com os garotos que vi crescer e evoluir durante 3 anos e a desertificação da escola, ficando apenas os professores e funcionários, ajoujados com tarefas burocráticas, que passam arrastando carrinhos de mão imaginários cheios de tarefas, retirando os limos do navio-fantasma em que se transforma uma escola sem alunos.
E aos que me dizem "Estás quase de férias" não respondo, porque tenho vergonha daquilo que fizeram aos professores, que eram profissionais que tinham trabalhado muito para tirar uma licenciatura, que trabalhavam diariamente para aprender a nunca deixar de aprender e para poder ensinar a pensar.
E lá vamos para o final do ano letivo, que em muito difere do final do ano escolar!

* alusão a um tempo em que diversas terras (das quais conheci várias no Alentejo e na Amadora) eram ZLAN: Zonas Livres de Armas Nucleares.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O valor da disciplina de História

- Vamos então hoje falar concretamente das fases da 2ª guerra, embora como já tenhamos estudado a ascensão das ditaduras e visto o documentário sobre Mussolini e Hitler isto já esteja compreendido; até porque estudaram toda esta matéria para o teste da semana passada.
- Professora! Dados os resultados das eleições de ontem, acha que podemos estar a caminhar para outra guerra?
- Não sei, de facto a História não nos permite prever com certeza o futuro. Permite encontrar semelhanças e compreender tendências. Espero que se o rumo for esse os organismos internacionais que hoje ligam muitos países consigam compreender e inverter a situação. - Pausa - Eu não sei o que vai acontecer, mas só por teres feito essa pergunta, por mostrares o interesse e a compreensão que tens das coisas, eu já ganhei o meu dia, perdão, o meu ano, e renovo os votos pelos quais me tornei professora de História.

domingo, 25 de maio de 2014

Eleições

"A Democracia é o pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros" 
Sérgio Godinho

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Período de Reflexão 2

"Vocês fizeram os dias assim!"

Período de reflexão

O Euromilhões!
Desde que me lembro que faço um exercício de pensar o que faria com o "bolo" do Totoloto ou Totobola ou do mais recente Euromilhões. Nunca concluo nada de muito espetacular, mas concluo sempre, sempre, que não deixaria de trabalhar. Sempre que estas conversas surgem em contexto de sala de aula, esclareço sempre que trabalhar é uma obrigação, mas sobretudo é um direito, que eu sou feliz a fazer o que faço e que uma vida sem escola não seria nada de agradável para mim.
Dizia...pensava...
Hoje, pela primeira vez, quando o jornalista disse que daí a pouco seria sorteado o Euromilhões, cujo prémio era 54 milhões ou uma enormidade assim, eu "disparei": Se eu ganhasse o Euromilhões deixava a Escola!
E estou assombrada desde então.
Como é que me fizeram isto?
Como é que eu fiquei assim?
O que vou agora fazer comigo?
Estou tão triste!

terça-feira, 20 de maio de 2014

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Filosofia Zen

"Um viajante chegou a uma humilde cabana onde se dirigiu pedindo água e abrigo. Quando chegou, foi recebido por um monge que lhe ofereceu acolhimento. Ao reparar na simplicidade da casa, e sobretudo, na ausência de mobília, curioso indagou:
- Onde estão os teus móveis?
- Onde estão os teus? - devolveu o monge.
- Estou aqui só de passagem - respondeu o andarilho.
- Eu também."

colhido na revista Zen Energy

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Não há condições!

"-Então hoje alguns de vocês têm a oral do exame de Inglês, é isso?
- Sim, professora. O resto da turma. Os outros já tiveram...
- E correu bem?
- Sim, professora. Aquilo era fácil. Seca foi estar à espera: um horror! A professora conhece-me, eu não consigo estar sem fazer nada!
- Porque não leste um livro?
- Não havia.
- Mas...vocês não estiveram à espera na biblioteca?
- Sim...
- E não havia livros...na biblioteca?
- Não havia nada que eu gostasse.
- Tens a certeza? Procuraste?
- Bem...na realidade, não."

domingo, 4 de maio de 2014

Dia da Mãe (Uma abordagem diferente)

"MÃES MÁS: 


Um dia, quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de dizer-lhes:
– Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.
Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer vocês saberem que aquele novo amigo não era boa companhia.
- Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram do supermercado ou revistas do jornaleiro, e os fazer dizer ao dono: "Nós pegamos isto ontem e queríamos pagar".
- Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto a vocês, duas horas, enquanto limpavam o seu quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.
- Eu os amei o suficiente para os deixar ver além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos.
- Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade por suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.
Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer-lhes não, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso (e em momentos até odiaram). Essas eram as mais difíceis batalhas de todas.
Estou contente, venci... Porque no final vocês venceram também!
E em qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, quando eles lhes perguntarem se sua mãe era má, meus filhos vão lhes dizer:
"Sim, nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo..."
– As outras crianças comiam doces no café e nós tínhamos que comer cereais, ovos e torradas.
As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvete no almoço e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas.
E ela nos obrigava a jantar à mesa, bem diferente das outras mães que deixavam seus filhos comerem vendo televisão.
Ela insistia em saber onde estávamos a toda hora (tocava nosso celular de madrugada e "fuçava" nos nossos e-mails).
Mamãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles.
Insistia que lhe disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos. Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela violava as leis do trabalho infantil. Nós tínhamos que tirar a louça da mesa, arrumar nossas bagunças, esvaziar o lixo e fazer todo esse tipo de trabalho, que achávamos cruéis.
Eu acho que ela nem dormia à noite, pensando em coisas para nos mandar fazer.
Ela insistia sempre conosco para que lhe disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade.
E quando éramos adolescentes, ela conseguia até ler os nossos pensamentos.
A nossa vida era mesmo chata. Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos, tinham que subir, bater à porta, para ela os conhecer.
Enquanto todos podiam voltar tarde à noite, com 12 anos, tivemos que esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aquela chata levantava para saber se a festa foi boa (só para ver como estávamos ao voltar).
Por causa de nossa mãe, nós perdemos imensas experiências na adolescência: nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por qualquer crime.
FOI TUDO POR CAUSA DELA.
Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos "PAIS MAUS/MÃES MÁS", como minha mãe foi.
EU ACHO QUE ESTE É UM DOS MALES DO MUNDO DE HOJE: NÃO HÁ SUFICIENTES MÃES MÁS." 

Dr. Carlos Hecktheuer - Médico Psiquiatra

colhido no Facebook de uma Professora Universitária Brasileira e Mãe

sexta-feira, 25 de abril de 2014

40 Anos

Ah...não pode ser...já? Mas...foi ontem!
Participámos na construção de um país novo.
Mas não me parece que tenha sido há tanto tempo...
Mas, calhando, até foi. Da forma como alguns já se esqueceram: deve ser aquele desmemoriado de velho. Só pode. De outra forma como se iriam esquecer? Foi tão maravilhoso!

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Hoje é Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor.

Hoje é dia de comprar (e talvez oferecer) um livro, homenageando o seu autor.
Esta data foi fixada pela UNESCO assinalando o dia em que, em 1616, faleceram Miguel de Cervantes e William Shakespeare.
Uma vez, há uns anos atrás, aproveitando um feriado de 25 de Abril que seria talvez a uma segunda-feira, fizemos uma escapadinha até Barcelona. Qual não foi o nosso espanto quando nos deparámos - para além dos aspetos que, normalmente, já tornam Barcelona espetacular - com as ruas cheias de livros, de vozes e de flores.
Manda a tradição em Barcelona - e não sei se em toda a Catalunha - que neste dia se ofereça um livro e uma flor a quem se ama ou a quem se estima.
Havia bancas de livros por todo o lado, autores e leitores, lançando as suas palavras ao vento e aos ouvintes e flores. Todo o charme que possam imaginar em ruas cheias de livros, palavras ditas e flores!
Desde então o dia 23 de Abril sempre me emociona. Muito.

domingo, 20 de abril de 2014

Interrupção

Foram três dias; três dias inteirinhos sem fazer nada.
Faltam minutos para terminarem e para eu interromper o descanso com o trabalho.
Uma inevitabilidade.
Ando sem tempo nem inspiração para blogar, mas não podia deixar de esclarecer que é verdade: estive três dias inteirinhos sem fazer nada. Já tinha dito?

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Comecei o dia a comprar (mais) um livro.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Como outro Ariano canta

"Se chorei ou se sorri
o importante é que emoções eu vivi"

terça-feira, 1 de abril de 2014

O Inverno voltou a correr nas veias do rio, com a força do rugido de um animal furioso, ferido, triste e amedrontado.

domingo, 30 de março de 2014

Vontades

Sentou-se pesadamente na cadeira da esplanada em frente à colega de trabalho.
- Hoje acordei com uma vontade de fim de semana... - quase gemeu
- Que engraçado...uma vontade de fim de semana? O que é isso?
- Uma vontade de poder acordar tarde, arrastar os pés pela casa, decidir que não tenho de decidir nada. Resolver num momento fazer qualquer coisa que não seja urgente. Jantar fora, passear na praia.
- Pois. Mas porquê uma vontade de fim de semana. As minhas vontades não têm dias...
- As minhas sim. Por vezes acordo com vontade de 4ª feira, em que tenho aulas mais tarde e vou ao café tomar o pequeno almoço; outras vezes acordo com vontade de 5ª feira, em que a sequência das aulas de 90 minutos me permite terminar com uma turma com quem é muito bom trabalhar.
- Mas nunca pensei nisso em termos de dias.
Quando chegou a sandes e o galão a conversa esmoreceu, mas a cabeça teimava em querer um fim de semana, daqueles de não fazer nada. Que saudades!

segunda-feira, 24 de março de 2014

E ainda há quem diga "quem me dera ser mosca"...

Uma mosca sem valor
pousa com a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria

António Aleixo

sábado, 8 de março de 2014

Condição Feminina

Diria que durante anos fomos uma família só de mulheres, mas não é verdade. No entanto é assim que recordo a família durante a minha infância e adolescência, em que na realidade havia ainda um avô, mas não tem nas minhas memórias a estatura dos outros homens da família que se foram.
A morte ceifou cedo o meu pai e pouco tempo depois o meu avô, seu pai, seguiu-o lá para a eternidade, visto que era já quase só uma sombra desde que o filho - o seu único filho - partira.
As mulheres ficaram sós. Vestiram-se de luto e endureceram as feições. Era preciso continuar. Continuar sem eles. Continuar como eles. Aprender a fazer o que lhes estava reservado: passar um cheque, conduzir, gerir, decidir, assumir a responsabilidade por essas decisões.
Saíram-se bem.
A família singrou. As mais pequeninas da altura encaminharam-se na vida e hoje todas nos podemos orgulhar de sermos mulheres inteiras. Já nasceram mais duas que parecem também muito capazes e com todas as condições para assumirem o controlo das suas vidas.
Por detrás do desgosto que toldava as suas vidas recordo o esforço e a incompreensão das mulheres viúvas da minha família para/por aprenderem tão tarde a tomar as rédeas de vidas e famílias.
Para mim essa incompreensão e esse inconformismo são a imagem da condição feminina no Estado Novo.

sábado, 1 de março de 2014

Memória toponímica

Na minha rua havia um sobreiro e fazia muito calor no Verão. O meu avô sentava-se à sombra do sobreiro enquanto me via a andar de bicicleta. A minha rua tinha muito pó e casas só de um lado. Os anos passaram. O meu avô morreu e o sobreiro também. A rua agora está asfaltada, tem casas de ambos os lados, não tem pó e chamam-lhe Rua do Sobreiro. Eu gostava mais da minha rua quando ela não tinha nome.

Microcontos

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Hoje o meu quarto ganhou uma cama (linda!) e o Ruy Belo faria anos

Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem

Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas


Ruy Belo

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Tempo

Tempo — definição da angústia.
Pudesse ao menos eu agrilhoar-te
Ao coração pulsátil dum poema!
Era o devir eterno em harmonia.

Mas foges das vogais, como a frescura
Da tinta com que escrevo.
Fica apenas a tua negra sombra:
— O passado,
Amargura maior, fotografada.

Tempo...
E não haver nada,
Ninguém,
Uma alma penada
Que estrangule a ampulheta duma vez!

Que realize o crime e a perfeição
De cortar aquele fio movediço
De areia
Que nenhum tecelão
É capaz de tecer na sua teia!"


Miguel Torga

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Para te visitar
esquecerei a terra
e apagarei as estrelas.

E irei pelos teus olhos,
até o mundo voltar a ter princípio.

Mia Couto

Do poema "Anseios",
no livro "Tradutor de Chuvas. Lisboa. Caminho."

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Dez dias depois

continuo sem tempo...a guardar as palavras nas dobras do adiamento, onde se vão amalgamando, amachucando, barafundando, perdendo sentido.
(suspiro)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

domingo, 5 de janeiro de 2014

Pergunta-me

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer


Mia Couto

sábado, 4 de janeiro de 2014

Congeminações sobre congelações

Com estas coisas da tecnologia os tempos, os ritmos, as tradições estão cada vez mais fluídas.
Acabei agora mesmo de ver o concerto de Ano Novo, de dia 1 de Janeiro, em Viena de Áustria.
Ainda não tinha tido tempo de ver o concerto que adoro. Uma tradição do dia 1 (ou talvez já não) e um sonho que acalento de um dia lá estar, ao vivo e a cores. Por vezes é uma emoção tão forte que me sinto lá...
Mas o que foi mesmo estranho foi o senhor da locução que, preso no tempo, me desejou boa tarde e um bom ano, neste 1º dia de 2014.
Estranho. Nem chego a saber se é bom poder fintar o tempo assim. A sensação que tenho é que somos cada vez mais escravos do tempo, essa entidade que parece esfumar-se por aí. Se dantes se parava porque não se podia perder o programa, agora deixa de se ter pretexto para parar porque se pode ver o programa em qualquer altura. Como é que eu me sinto sempre defraudada? Não era para sermos mais felizes e termos mais tempo para nós?
Podendo congelar o tempo assim...parece que fico perdida...

E, a propósito, de técnicas, tecnologias e de congelar o tempo: a Julie Andrews, que estava a ver o concerto, está quase igual a como era no filme A Música no Coração. Estranho...muito estranho.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

As últimas

- Foi, foi. Os pais casaram no final do ano, porque o ano a seguir era bissexto e dava azar!
- Os anos bissextos dão azar?
- Essa nunca tinha ouvido...
-Este ano foi bissexto?
- Foi não, ainda é. Está quase a acabar, mas ainda não acabou.
- Sim, pois. Mas é bissexto?
- Não é não. Se fosse acabava a 32 de Dezembro!