quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Vamos zerar com o novo ano

"Cortar o tempo!



Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade
de acreditar que daqui pra
diante vai ser diferente."

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ano Novo

"happy end


o meu amor e eu
nascemos um para o outro;

agora só falta quem nos apresente"
 
Antônio Carlos de Brito
colhido em http://belasmensagens.zip.net/

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

As Pedras da Memória

"A Concha


A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.


E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.


A minha casa. . . Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória."
 
Vitorino Nemésio

Hoje acordei às 14 h

e sentia-me a Bela Adormecida, até ter olhado para o espelho.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Uma tarde sempre a esquecer...

"Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados,
Para chorar e fazer chorar,
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses,
Mãos para colher o que foi dado,
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida;
Uma tarde sempre a esquecer,
Uma estrela a se apagar na treva,
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço,
Um verso, talvez, de amor,
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E que por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente."

Vinícius de Moraes
Faz hoje 38 anos que o meu pai morreu.
No único Natal que fomos passar «à terra», evocado por anos e anos...Uma sombra no Natal! Alguém dizia sempre: «Faz hoje anos que fomos à terra passar o Natal...».
Dos que foram «à terra» naquele Natal, já vários estão enterrados e, agora, poucos são os que sobram desse tempo.
A família cresceu e temos hoje novos membros que não sabem dessas evocações ou que as arrumam na caixa dos «assuntos sensíveis para a mãe e as tias», mas que já não sentem nada de especial nessas alturas.
O que não deixa de ser curioso é que eu ficava sempre com o coração pequenino quando a minha mãe evocava estas recordações e achava que era uma sombra incómoda, sempre, sobre o nosso Natal, mas esta noite, quando voltávamos do cinema e o meu sobrinho disse: «Olha tia, já é segunda-feira. Diz ali: 27 de Dezembro.» foi dos meus lábios que se escapou - sem eu saber como - a frase: «Faz hoje anos que o meu pai morreu.»
O garoto guardou um silêncio respeitoso e eu repreendi-me mentalmente.
Depois concluí que há sempre alguém a perpetuar as tradições e que agora fui eu quem assumiu o papel de recordar a nuvem negra e incómoda sobre o nosso Natal...Afinal, talvez a nuvem negra do Natal que passámos «na terra» só se desvaneça quando já não houver na Terra ninguém dos que foram «à terra» nesse Natal...

(Assinalei a expressão «terra», porque sempre se disse isto lá em casa, mas o único que era daquela terra - de facto, o que podia dizer com propriedade «a terra» - faleceu no ano seguinte e estava duas gerações antes de mim. Mas «a terra» ficou sempre «a terra», talvez porque seja difícil considerar torrão natal um anel de uma cidade juncado de prédios ou talvez porque viva em nós uma nostalgia campesina das origens da alma lusa, muito cultivada no Estado Novo...tempo em que todos vivíamos no Natal em que fomos «à terra», há 38 anos atrás)

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A Todos

os que por aqui passam (que sempre vou sabendo que são mais do que os que aparecem), os Pais Natais, as Mães Natais, os Irmãos Natais, os Sobrinhos Natais e a todos os Filhos do Pai e da Mãe, desejo um Muito Feliz Natal!

Beijinhos!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Soneto de Natal

Um homem, - era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço no Nazareno, -
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,


Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.


Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"

Machado de Assis

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Bem "bolado", sim senhor...

E porque o Natal é das épocas do ano que mais estereotipos comporta, porque evoca uma série de imagens e mensagens que estão arreigadas no nosso espírito, lá desde a infância, fica muito bem esta divertida contribuição para a (interminável?) guerra dos sexos:

"Mamãe Noel

Sabe por que Papai Noel não existe? Porque é homem. Dá para acreditar que um homem vai se preocupar em escolher o presente de cada pessoa da família, ele que nem compra as próprias meias? Que vai carregar nas costas um saco pesadíssimo, ele que reclama até para colocar o lixo no corredor? Que toparia usar vermelho dos pés à cabeça, ele que só abandonou o marrom depois que conheceu o azul-marinho? Que andaria num trenó puxado por renas, sem ar-condicionado, direção hidráulica e air-bag? Que pagaria o mico de descer por uma chaminé para receber em troca o sorriso das criancinhas? Ele não faria isso nem pelo sorriso da Luana Piovani! Mamãe Noel, sim, existe.

Quem é a melhor amiga do Melocoton, quem sabe a diferença entre a Mulan e a Esmeralda, quem conhece o nome de todas as Chiquititas, quem merecia ser sócia-majoritária da Superfestas? Não é o bom velhinho.

Quem coloca guirlandas nas portas, velas perfumadas nos castiçais, arranjos e flores vermelhas pela casa? Quem monta a árvore de Natal, harmonizando bolas, anjos, fitas e luzinhas, e deixando tudo combinando com o sofá e os tapetes? E quem desmonta essa parafernália toda no dia 6 de janeiro?

Papai Noel ainda está de ressaca no Dia de Reis. Quem enche a geladeira de cerveja, coca-cola e champanhe? Quem providencia o peru, o arroz à grega, o sarrabulho, as castanhas, o musse de atum, as lentilhas, os guardanapinhos decorados, os cálices lavadinhos, a toalha bem passada e ainda lembra de deixar algum disco meloso à mão?

Quem lembra de dar uma lembrancinha para o zelador, o porteiro, o carteiro, o entregador de jornal, o cabeleireiro, a diarista? Quem compra o presente do amigo-secreto do escritório do Papai Noel? Deveria ser o próprio, tão magnânimo, mas ele não tem tempo para essas coisas. Anda muito requisitado como garoto-propaganda.

Enquanto Papai Noel distribui beijos e pirulitos, bem acomodado em seu trono no shopping, quem entra em todas as lojas, pesquisa todos os preços, carrega sacolas, confere listas, lembra da sogra, do sogro, dos cunhados, dos irmãos, entra no cheque especial, deixa o carro no sol e chega em casa sofrendo porque comprou os mesmos presentes do ano passado?

Por trás do protagonista desse megaevento chamado Natal existe alguém em quem todos deveriam acreditar mais."

Martha Medeiros (Dezembro de 1998)
Texto extraído do livro "Trem-bala", L&PM Editores - Porto Alegre, 2002, pág. 177.

Sexy Christmas

domingo, 19 de dezembro de 2010

Irmandade

Estão a dar mais uma criação cinematográfica sobre o nascimento de Jesus. E não é que a Sagrada Família toda falava inglês? Agora já não me espanto que acontecesse o mesmo com todos os extraterrestres que os personagens do Espaço 1999 encontravam. Afinal, somos mesmo todos irmãos!...

Corrigir a vida

"Eu queria fazer um livro não da vida como ela é, mas como eu queria que ela fosse. Um livro para a gente pegar e ler quando quisesse esquecer a vida real... Eu entendo a Arte como sendo uma errata da vida. A página tal, onde se lê isto, leia-se aquilo..."
Érico Veríssimo in "Um Lugar ao Sol"

sábado, 18 de dezembro de 2010

A palavra seguinte é desespero...

"No meu peito
Já me ficou no meu peito
Este jeito
O jeito de te querer tanto"   Dulce Pontes; Lágrima

Trocadilhos...

egs
Sete colheres a um ovo!
colhido em O Pilha Blogs

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

As Bactérias



colhido em De Rerum Natura

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Soube agora

que Carlos Pinto Coelho nunca mais Acontece neste nosso mundo.
Foi meu privilégio ouvi-lo muitas vezes, aprender muito com ele...é meu privilégio sentir e lamentar a sua falta e considerar que também ele influenciou a minha visão do mundo, da cultura e, felizmente, me fez conhecer o jornalismo de qualidade. Verdadeiramente, considero que é meu privilégio perceber a diferença entre o que aprendi com Carlos Pinto Coelho e o que lamento não aprender hoje com programas «alegadamente» jornalísticos.

E seguindo, mais uma vez as palavras de Carlos Pinto Coelho, revividas agora, ali, na televisão, fui à procura de uma referência sua a Octávio Paz, para aprender e guardar mais estas palavras:

"A maneira como morremos diz aquilo que fomos. A morte define a nossa vida. É um espelho que reflecte os gestos sem sentido dos vivos. A vida de cada um de nós — toda essa confusão de múltiplas acções, omissões, desgostos e esperanças que é a nossa existência — não encontra na morte um sentido ou explicação, mas um fim. A nossa morte ilumina a nossa vida. Se à nossa morte faltar sentido, é porque a nossa vida também não o teve. Cada um de nós morre da morte que procura, da morte que construiu para si próprio. A morte de um cristão ou a morte de um cão reflectem diferentes formas de vida."

Os preconceitos impedem-nos sempre de ver claramente. Mesmo com óculos! :-)

"Um alentejano foi de visita à China e comprou um par de óculos cheios de tecnologia, com uma capacidade ímpar: quando os põe, começa a ver todas as mulheres nuas... Fica encantado com a descoberta chinesa.
— Que maravilha! Isto sim, é tecnologia!!!
E lá regressa ao Alentejo, louco para mostrar a novidade à sua Maria. Entretanto, no avião maravilha-se vendo as hospedeiras e as passageiras todas nuas — uma delícia!

Quando chega a casa, entra já com os óculos postos para abraçar a sua Maria toda nua.
Abre a porta de casa e vê a sua Maria a conversar com o seu vizinho, todos nus sentados no sofá.

Tira os óculos, todos nus!... Põe os óculos, todos nus!...

— Já avariaram!!! Estes produtos chineses são uma treta!..."
 
Recebida por e-mail, de um leitor e colaborador assíduo. Vejam lá se adivinham...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Uma nova actualidade? Completamente: agora escreve-se sem 'c''

O Telejornal começou mais cedo, hoje, na SIC. Deve haver futebol, que é aquilo que costuma transtornar toda e qualquer rotina das mais arreigadas do país.
Tendo acabado de «lavar a cabeça» com uma patacoada de fim de dia - no caso a nova novela cómica Ti-ti-ti - pensei que talvez não fosse mau tentar acompanhar um noticiário inteiro, amestrar-me com a actualidade; sempre poderia falar com as outras pessoas, sinto-me tão 'out'...tão sem interesse em tudo aquilo que se comenta, com uma profunda anemia de interesse pela circulação quotidiana a que chamamos dia-a-dia. Ocupada que estava a fazer festas ao novo bichano e a desviar a mão dos seus dentes afiados e brincalhões, mantive-me sentada. Mas o Sinhô Gato resolveu perseguir uma mosca e abandonou-me perante a desolação de olhar para o écran, ver e ouvir as notícias... O computador aqui tão perto...uma lista de «Favoritos» a desafiar-me para deambulações...e, zás! zarpo na net, encolhendo os ombros às dúvidas de conseguir, ainda assim, manter-me concentrada e com-pre-en-der o noticiário, a minha condição de pertencente ao mundo...
No De Rerum Natura um rebuçado para a alma, de alguém que também não compreendia o dia-a-dia que lhe queriam impôr como a normalidade:

"Uma entrada de Conta Corrente 3, de Vergílio Ferreira, datada de 13 de Fevereiro de 1981, a páginas 47 e 48:

«Ontem, na rádio (...) alguém falava de pedagogia moderna. Conheço a música suficientemente: trabalhos de grupo, iniciativa do aluno, aligeiramento da pressão do mestre segundo o atávico e mau costume de «impor» e de «ditar», desopressão da memória, essa faculdade reaccionária, descomplexificação das criancinhas com a permissão compreensiva dos seus caprichos selvagens, etc.


Claro que a criatura que preopinou na rádio nao foi isso que disse. Mas foi. O trabalho e a disciplina são os alvos privilegiados para se arriar e ser progressivo. E das três fundamentais faculdades humanas - a inteligência, a sensibilidade e a memória - é nesta que se aplica a maior coça purgativa.


Daí que a História tenha sido praticamente eliminada do ensino, seja qual for a forma que ela tenha de historiar: história sociopolítica, história da língua, da literatura. Hoje o aluno ignora praticamente quem é que lhe fabricou o seu modo de ser, quem cavou para ele semear, como é que se travou a sua eventualidade portuguesa. Do mesmo modo, ignora razoavelmente quem é que o ensinou a sentir, quem é que lhe arranjou a língua que tem, ou seja o seu modo de entender o mundo, ou seja o seu mundo. Não senhor. Olhar para trás, não. «Para trás mija a burra», e ele não pertence à espécie. Ele está virado para a frente, com o progresso entremeado em todas as articulações. Que raio lhe interessa saber quem era D. Afonso Henriques, que se calhar nem era do Benfica? que diabo pode interessar-lhe o Álvares Pereira, que nem sequer foi talvez à TV? Ser pela História é ser pela reacção, que quer dizer «acção para trás». Além de que obriga a «decorar».


Ora meter nos cornos nem que seja a tabuada - que violência fascista. Obrigar à disciplina, que violência pidesca. Uma criança nasceu, como é sabido desde os hotentotes, para a livre expressão da sua terna selvajaria. Uma criança nasceu para inocentemente partir os móveis, borrar as paredes, fazer o seu chichi nos vasos, quebrar a louça por enternecedor passatempo e sobretudo para não ser submetida à grilheta do estudo.


Tenho as minhas discussões com despachados pedagogos, advogados desse sistema. Aqui há uns dois anos, por exemplo, com a professora primária da Rita. A miúda estava já na segunda classe mas ignora ainda praticamente o feito do a. Timidamente fui adiantando à professora que seria talvez conveniente informar a criança como era isso do a e coisas assim. Ela sorriu piedosamente para o meu atraso pedagógico e explicava-me com paciência que a livre formação de uma criança, que a sua descomplexificação, que. Eu ouvia e ia aprendendo. Em todo o caso, insistia eu, talvez que, enfim, ensiná-las a juntar duas letras, ir começando a dar-lhe notícias de que as palavras se podiam escrever e ler e... Ela desistiu de dialogar, porque a sua piedade já não chegava para tanto.


Nas férias desse ano, a senhora professora pediu-nos emprestada a casa de campo para se instalar cá uns dias com o seu rancho escolar. Dissemos que sim, pois. E cá estiveram todas muito contentes. Uma das criancinhas, na sua livre expressão, tentou com uma podoa derrubar-me um inofensivo pinheiro. Outro subtraiu-me uma máquina de um comboiozinho eléctrico. Outra destrui-me um ninho que havia ao pé do alpendre. Mas libertaram-se da ameaça de complexos e recalcamentos e eu fiquei contente. E em face disso, tempo depois a senhora professora escreveu-me a agradecer. Era um bilhete ilustrado muito bonito e começava assim: «Não poço agradecer-lhe devidamente...». Sim, sim poço com c cedilhado. Mas sejamos compreensivos: se as crianças têm o direito à descompressão, a senhora professora também tem.»"

Um post de Helena Damião, para ler aqui: http://dererummundi.blogspot.com/2010/12/o-meu-atraso-pedagogico.html#comments

Afinal ainda ouvi alguma coisa do noticiário: estão a discutir a corrida desenfreada aos últimos pacotes de açúcar, num país com vários milhares de pessoas com dificuldades económicas para comprar o pão e o leite!

Leitura

O apoio começou ontem, visando sobretudo ajudar a aluna a integrar-se, uma vez que chegou recentemente de um outro país.
O apoio foi dado na biblioteca e, claro, uma das recomendações para uma melhor integração na escola, foi ler bastante. Ler o que quiser: livros sérios ou brincalhões, adequados à sua idade, recomendados ou não pelo plano nacional de leitura...ler, ler muito e procurar saber e ampliar o significado de todas as palavras.
Escolhemos um livro para leitura das férias de Natal. Integrado numa colecção jovem, dedicado sobretudo ao público feminino (com uma capa sugestivamente cor-de-rosa), com 15 pequenos capítulos, 2 ou 3 páginas cada um.
- Tens 15 dias de férias, podes ler um destes capítulos por dia e fazer um resumo em um ou dois parágrafos. Quando regressarmos à escola, eu devo ficar a conhecer o livro, capítulo por capítulo, pelo teu resumo.
- 'fessora, eu posso começá a lê ainda antes das férias. Eu posso começá a lê hoje.
- Óptimo. E se não gostares, ainda podemos trocar de livro. Até amanhã então.
...
- Olá! Então? Ainda começaste ontem o livro?
- Sim, 'fessora. Li uma página.
O sorriso aberto não deixava dúvidas de que tinha gostado do que tinha lido...Daí a minha dúvida: Como pôde ler só uma página?!...
Procurei na memória. Creio que nunca consegui ler só uma página de um livro que considerasse interessante. Ou talvez mesmo de um que não me interesse. Como se pode ler só uma página de um livro? Eu não sabia que era possível começar um livro e desempenhar a tarefa de leitura, uma página de cada vez...
Não comentei. Não me posso queixar. Ela começou a tarefa ainda antes do solicitado...e sorri...
Mas não consegui deixar de ficar perplexa.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Poema de Natal

Recebido agora mesmo, por mail, de alguém que resolveu resistir ao "Natal Digital", que por aí circula e enviar aos amigos um poema, à moda antiga. À moda dos escritores que escreviam, no papel, uma palavra de cada vez, um acto singular e voluntário.

" Natal

Percorro o dia, que
esmorece
Nas ruas cheias de
rumor;
Minha alma vã
desaparece
Na muita pressa e
pouco amor.

Hoje é Natal. Comprei
um anjo,
dos que anunciam no
jornal;
Mas houve um etéreo
desarranjo
E o efeito em casa
saiu mal.

Valeu-me um príncipe
esfarrapado
A quem dão coroas
no meio disto,
Um moço doente,
desanimado...

Só esse pobre me
pareceu Cristo."

Vitorino Nemésio

Obrigada. Feliz Natal!

domingo, 12 de dezembro de 2010

Domingo: Memória Descritiva

A Superinteressante deste mês traz, como chamariz de capa, um artigo sobe a memória. Antes de me ter apercebido da decisão, já a tinha comprado. E fiquei a pensar nisto: porque é que eu tenho este interesse (quase obcessão) por tudo o que se relaciona com a memória? Eu quero muito compreender a memória. Será por que sou de História? Ou será, precisamente o contrário, sou de História porque me interesso pela Memória?
História e Memória não são sinónimos. Embora a História seja uma Memória, nem sempre a Memória é uma História. Raramente é. A Memória aparece-me mais como um conjunto de fragmentos, que, conscientemente, nos esforçamos por arquivar como uma História: a nossa História.
E a Memória é a matéria-prima da História, mas raramente esta se reduz áquela.
Frequentemente fala-se da Memória no plural: as Memórias. Que se escrevem. Nunca aparece a Memória de...fulano de tal. Aparece-nos As Memórias...Como se estas fossem sempre plurais, mesmo quando se referem a um único fio de pensamento.
Ou talvez não. Talvez o pensamento é que não seja unilateral e por isso se descreva no plural.
E a História?
Também não é unilateral. Também é plural. Mas - sem saber porquê - a Históra perde credibilidade se for narrada no plural. As histórias não têm a mesma credibilidade que a História.
As histórias (estórias, do outro lado do mar) são de encantar. A História é um conjunto de exemplos primordiais: os heróis, os feitos pátrios, a construção da Europa, a descoberta do Mundo...
A História confere um carácter doutrinário à Memória - sempre unificada, quando passa para o lado de matéria científica.
Será?...
Continuam a fascinar-me os meandros das histórias e das memórias e das suas construções que nos surgem com a credibilidade da maiúscula e da unidade...ou unilateralidade...
No fundo, o que sempre me preocupa é esta certeza, que eu tenho, da necessidade da subjectividade, da mentira da objectividade, da narrativa impoluta que esconde o narrador...que sempre se assemelha ao «gato escondido com o rabo de fora», porque gato que é gato não é cão, e pessoa que é sujeito não pode ser - sem se automutilar - objectivo, ao descrever um objecto...que escolheu...objectivanmente?...
História e Memória são edifícios construídos. Com que pedras? Acho que essa é a minha demanda.

A Primeira Festa de Natal

"Boas Festas! Boas Festas!

Até para ao ano..."

Partimos cheios de calor, dos braços de amigos, alguns que só vemos por ali, uma ou duas vezes por ano...mas que já saudamos com a certeza de que algo nos une: a anfitriã destas festas e tudo o que com ela está relacionado.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Fim de semana

Depois da tempestade vem a Bonança, que, não sendo necessariamente uma companhia de seguros, nos dá uma certa Tranquilidade.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A serenidade...a serenidade é que é difícil, perante a mesquinhez dos outros...

"É fácil viver no mundo conforme a opinião do mundo: é fácil na solidão viver conforme a própria opinião; mas grande homem é o que, no meio da multidão, conserva com plena serenidade a independência da solidão."    Ralph Waldo Emerson, in 'Ensaios'

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

8 h 15 m

"- Bom dia!
- Bom dia, professora. O fotógrafo tem fotografias lindas.
- Quem? - respondo ensonada e de mau-humor, que levantar cedo, nunca, nunca há-de ser fácil para mim...
- O fotógrafo que a professora falou. Eu fui ver e até guardei algumas fotografias.
Quando começo a perceber que ela - que até teve negativa no teste de História, note-se! - estava a falar de Halsman e da conversa que tínhamos tido sobre assuntos da História que extravasam em muito a árida Pré-História que constitui o programa deste nosso primeiro período, o meu coração esboça um sorriso, que ainda está no princípio, quando é interrompido por outra voz fresca de manhã: "Já se lembra do nome do outro senhor?"
- Quem? - pergunto já quase de bom humor
- O herói; o homem da floresta de Israel.
O sorriso extravasa o coração para se plantar na minha face, iluminando a manhã: - Aristides de Sousa Mendes. - Escrevo no quadro.
- Como é que era?...Quem era o homem?...dos alemães...
- Hitler?
- Sim. O que é que ele era na Alemanha?
- Não sabes? - pergunta outro, incrédulo
Atalho com um curativo, face ao desânimo que iria invadir a face do perguntador: - E porque haveria de saber? A matéria ainda nem é deste ano...
- Mas faz parte da cultura geral!...
- Que ele está a adquirir na escola, quando faz perguntas, porque quer saber.
- Está bem, pronto. - desistiu, com aquele ar de quem respeita a justiça, que eles fazem às vezes e que me deixa muito contente.
Mais um pouco de conversa sobre os judeus, ligando com a comunidade judaica brasileira que é retratada na novela da tarde "Caras e Bocas" e por fim o travão necessário - agora que já estão todos ganhos para a História - e o regresso à matéria deste ano: Os Fenícios e a escrita alfabética, os hebreus e a religião monoteísta...
Estávamos a falar do Príncipe do Egipto, da Walt Disney, quando nos apercebemos que a aula tinha terminado e era tempo do teste de espanhol.
Abandonei a aula, com o coração quente, pensando que, às vezes, contra tudo e contra todos, vale a pena acreditar!"

Também bate um coração...

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Celebrando o Dia Santo num País Laico...

A nossa laicidade é uma coisa de bradar aos Céus! :-)

Mais um episódio da nossa laicidade

Celebra-se hoje o Dia de Nossa Senhora da Conceição, «elevada à categoria de Padreira de Portugal», em 1646, por D. João IV, o Restaurador (não, não é o Olex), o primeiro da (última) dinastia da Casa de Bragança.

No ano em que celebramos o Centenário da República, que se pautou pela Laicidade - que considerava um valor incontestável - celebramos em alegria o feriado católico, por todo o Portugal.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Adágios de tempos anteriores aos iogurtes

"O saber não ocupa lugar" e "Trabalha que Deus te ajudará" foram dois adágios que marcaram a minha infância, no incitamento ao esforço e a um desempenho tão perfeito quanto possível de todas as tarefas, coisa que eu levei mais a sério no campo das tarefas escolares.

Hoje lembrei-me muito destas palavras e apeteceu-me agradecer a quem me incutiu estes princípios desde muito nova.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Uma das mais famosas imagens de Halsman

Salvador Dalí

Os empregos das palavras que temos de ouvir em certos empregos

Como Bancário:

"Bom dia. Quero saber se o meu obstrato já chigou."

"Queria o nibel da conta."

"Queria um carneiro de cheques."

"Dou o meu abalo ao suscritor."

"Quero dissolver esta conta."

"Desculpe, a partir de que valor é que a conta fica negativa?"

"A sua colega que está na máquina multibanco ficou-me com as notas!"

"A máquina comeu o meu cartão Securitas!"

"O multibanco enganou-se. Posso falar com a senhora que está para ali a falar dentro da máquina?"

"Queria fazer umas perguntas sobre aquele cartão nespresso."

"Estou muito nervosa, o meu cartão foi extraviolado..."

"Bom dia. Tou a chegar agora da França e venho aqui para ver se os seus chiffres batem com os meus..."

"Porque é que os cartões agora têm um chispe?"

 
(com os agradecimentos ao Mestre Mendes, que me enviou estas belas citações, que por aqui ficam devidamente guardadas)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Halsman

Um dia de temporal é bom para ficar em casa, para apreciar o facto de não ser um dia de semana e ter mesmo de sair.
É também um bom dia para explorar recursos, como a cadeia de canais por cabo, que ainda nem conheço bem, cingindo-me sempre aos do costume.
E foi assim que descobri o MOV um canal de cinema.
Fiquei presa a um filme sobre o julgamento de um judeu, que foi considerado culpado, desde logo, por ser judeu. Sempre me impressionam as narrativas que mostram o lado animal que assolou as pessoas durante o nazismo. Por mais que explique não consigo, verdadeiramente, compreender...
O final do filme referia-se ao destino das personagens e falava em registos selados daquele julgamento, considerado a primeira condenação de um judeu pelos nazis.
Desde então tenho estado por aqui à procura. Se encontro as referências ao fotógrafo, judeu, que, como repórter da revista Life, nos deixou brilhantes fotografias de celebridades a saltar (o que os americanos chamam «jumpology»), não consigo encontrar referências à questão da morte do seu pai e da sua condenação, a não ser na sinopse do filme que acabei de ver.
Phillipe Halsman existiu mesmo e os seus trabalhos são famosos, mas o que não consigo saber é se esta parte da sua biografia - que deu origem ao filme americano de 2007 - também existiu mesmo. Se alguém me puder ajudar com informação, fico muito grata.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Temporal

"Lugar ventoso, lugar sem repouso"

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Uma Arte

"A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.


Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.


Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.


Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.


Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

— Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério."

Elizabeth Bishop
In: O iceberg imaginário e outros poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 309
colhido em: http://belasmensagens.zip.net/index.html

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Solidariedade, "da boa"

"[...] Até hoje dificilmente o Homem tem cultivado a solidariedade. Ele é solidário apenas na dor, e a solidariedade na dor não é a forma mais elevada de solidariedade. ... tal solidariedade (na dor) é muito limitada. Deveríamos ser solidários com a vida na sua totalidade, não apenas na dor e na doença, mas também na alegria, na saúde e na liberdade. ... Qualquer um pode se sentir solidário na dor sofrida por uma amigo, mas é preciso uma natureza muito superior ... para se sentir solidário no êxito alcançado por um amigo. [...]"  
Oscar Wilde In: O Retrato de Dorian Gray
colhido em http://belasmensagens.zip.net/index.html

Sabem o que é uma orquictomia?

O meu gato também não, mas tem uma marcada para amanhã de manhã.
E eu olho para ele com tanta pena e tantos sentimentos de culpa que ele já percebeu e vai explorando - exigindo festas e comida - mesmo sem saber a razão do favorecimento.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mark Twain

A este não faltava confiança e auto-estima!
Escreveu a autobiografia e determinou que ela só se publicaria no centenário da sua morte. E não é que a expectativa é imensa? A sexta edição já está esgotada nos EUA e, por cá, faz a capa e boas reportagens no JL, enquanto esperamos por uma edição em português.
Ah! Mas, atenção: ainda só saiu o primeiro volume, que o público tem de saber esperar e pedir pelo que vale a pena.
Abençoado pelo cometa Halley, sem dúvida, este homem raro e com visão de futuro.
Ele e Júlio Verne foram os homens responsáveis por muitos dos meus sonhos infanto-juvenis, como se diz agora. Noutros tempos, quando se dava uma volta ao mundo no tempo que demorava a ler um livro, em papel e com poucas ilustrações.

1.º de Dezembro

A Restauração da Independência, que nunca perdemos.
Um feriado absurdo na Europa Unida.
Mas, lá que me está a saber bem, está.
E o próximo? Um feriado religioso num país laico? Olarila! Já tenho planos para ele.
O melhor é mesmo deixar-me de idealismos e dar graças à incoerência, quando ela nos beneficia.
Feriados? Quantos mais melhor, que o país está em crise e um dia ou outro sem trabalhar dá no mesmo: Crise e sacrifícios! Que sejam feitos em feriados à lareira, que o que há para produzir espera, de certeza, por nós.