terça-feira, 31 de março de 2020

Tudo o que é novo precisa de ajustamento.
Cada vez mais me convenço que sou muito lenta...mas chego lá!

segunda-feira, 30 de março de 2020

domingo, 29 de março de 2020

E sendo eu de madeira de carvalho, talvez tenha encontrado aqui muitas respostas sobre a construção de mobiliário

Os meus pensamentos viraram-se para algo que em tempos li, algo em que os budistas Zen acreditam. Dizem que um carvalho é criado por duas forças em simultâneo. Obviamente, há a bolota em que tudo começa, a semente que contém toda a promessa e potencial, que se transforma em árvore. Toda a gente pode ver isso. Mas só alguns reconhecem que há outra força que aí opera - a futura árvore em si, que quer tanto existir que traz a bolota à existência, fazendo com que a planta saia do vácuo, guiando a evolução do nada à maturidade. Neste aspecto, dizem os Zen, é o carvalho que cria a própria bolota de onde nasceu.

Gilbert, Elizabeth, Comer, Orar, Amar, p. 369

sábado, 28 de março de 2020

Felicidade

Estou sempre a lembrar-me de um dos ensinamentos da minha guru sobre a felicidade. Ela diz que as pessoas tendem a pensar que a felicidade é um golpe de sorte, algo que talvez desça sobre nós como o bom tempo se formos suficientemente afortunados. Mas não é assim que a felicidade funciona. A felicidade é a consequência do esforço pessoal. Lutamos por ela, procuramo-la arduamente, insistimos nela e às vezes até viajamos pelo mundo fora à sua procura. Temos de participar infatigavelmente nas manifestações das nossas próprias bênçãos. E quando atingimos um estado de felicidade , nunca devemos descurar a sua manutenção, temos de fazer um esforço supremo para continuar a nadas eternamente na sua direcção, para ficarmos a flutuar sobre ela. Se não o fizermos, o nosso contentamento inato ir-se-á esvaindo. É fácil rezar quando estamos aflitos, mas continuar a rezar mesmo depois da crise ter passado é como um processo de confirmação que ajuda a nossa alma a agarrar-se firmemente aos seus feitos.
(...) continuo a recordar uma ideia simples que o meu amigo Darcey uma vez me transmitiu: que toda a dor e problemas deste mundo são provocados por pessoas infelizes. Não só a nível global, num cenário tipo Hitler e Estaline, mas também a nível pessoal. Até mesmo na minha vida, consigo ver exactamente os pontos em que os meus episódios de infelicidade trouxeram sofrimento ou angústia ou (no mínimo) inconveniência àqueles que me rodeiam. Portanto, a busca do contentamento não é apenas um acto de preservação pessoal que beneficia quem o pratica, mas também uma generosa dádiva para o mundo. Eliminar toda a nossa infelicidade faz com que não nos atravessemos no nosso caminho. Deixamos de ser um obstáculo, não só para nós próprios como para os outros. Só nessa altura somos livres para servir e desfrutar da companhia das outras pessoas.

Gilbert, Elisabeth, Comer, Orar,Amar, pp. 292-293


sexta-feira, 27 de março de 2020

Lágrimas de compreensão

Agora choro muitas vezes.
Não são lágrimas de aflição nem de tristeza. São lágrimas de compaixão, lágrimas de compreensão...Haverá lágrimas de compreensão?
Acho que sim. Já várias vezes as chorei quando percebo algo que me incomodava, algo que eu guardava cá dentro sem conhecer, sem compreender. E quando esse momento chega, abrem-se as comportas destas lágrimas, lágrimas de compreensão.
Agora, não sei bem de que é: toda esta situação, as manifestações de solidariedade e amizade de tanta gente; os exemplos de gente boa.
Ultimamente (mas isto já vem de alguns meses) dispara muito mais o meu lagrimódromo a bondade que a maldade. Quando fui à casa de Ann Frank em Novembro passado, desmanchei-me a chorar com os depoimentos dos que ajudaram as famílias; quando vi a lista de Schindler, aguentei-me estoicamente atá quase ao fim quando ele se fustiga por não ter ajudado mais pessoas. Há algo que me comove numa culpa que carregam algumas pessoas de não fazer o suficiente, de não serem boas o bastante, de não conseguirem salvar o mundo...Deve ser o que sente um médico quando não consegue salvar um doente, apesar de ter conseguido curar cem. E não estou a falar do caso de agora...


quarta-feira, 25 de março de 2020

Solitário Colectivo

Hoje achei que eu e a casa precisávamos de voltar ao normal, ou melhor, de criar um novo normal. Como sempre apregoo aos meus alunos nada nasce do nada e por isso tentei imitar de alguma maneira os ritmos e estilos meus e da casa. Isto porque hoje seria dia de a casa ser limpa: aquele que eu costumava definir como o dia mais feliz da minha semana, quando eu começava o dia com a alegria e atenção da minha amiga que me limpa a casa, depois saía e, quando voltava a casa estava limpa. Era um momento de felicidade ímpar!
Claro que a semana passada a casa ficou por limpar. Esperançada, eu, numa rápida normalidade, assegurei apenas com esmero o asseio da cozinha: divisão da casa que já frequentei mais estes dias do que nos mais de seis anos que habito este apartamento.
Ontem a minha amiga ligou: "Acho que ainda não vou esta semana...
- Claro que não vem. Nem nesta nem nas próximas. Mantenha-se em segurança, por favor, que eu tenho mãozinhas, bracinhos e perninhas (só me falta mesmo a vontade) e cá me arranjarei."
De boas intenções está o inferno cheio, diz o povo e com razão. As intenções não doem nada e formulam-se rapida e sinceramente. Ao adormecer sabia qual o mapa de tarefas do meu dia. À hora de almoço (que já decidira o que seria) a casa estaria a brilhar. Pelo menos o chão e bancadas. Decidi que, para que o esforço não fosse muito grande, limpar o pó e lavar as janelas seria para outro momento.
E a manhã começou bonita...Seria um desperdício não tomar o pequeno almoço na varanda e prolongar um pouco a bica com um novo capítulo do interessante livro que tenho frequentado ultimamente.  Depois era impreterível que começasse dois jogos de scrabble online, função garantida por ontem ter ganho os últimos jogos do dia aos meus dois adversários mais constantes. E até podia deixar para depois o círculo da palavra diária que a aplicação me oferece, mas este era tão fácil que o resolvi de uma vez.
Como de manhã se está fresco, tinha decidido antes das limpezas (já percebi porque o dizemos sempre no plural: uma carga de trabalhos tão grande nunca poderia ser singular) fazer uma revisão de um texto de um amigo que precisava cumprir um prazo. "Oh Diabo! O computador não me permite o acesso aos programas, tem uma qualquer necessidade de permissão que não sei resolver...não faz mal: escrevo tudo num papel e depois, num instante, lhe faço as minhas sugestões."
Ai afinal isto não é tão simples assim: "na segunda linha do 3º parágrafo da primeira folha...creio que ficaria bem uma vírgula...não, essa não está no 3º parágrafo...vamos, calma..."
E o telefone chora com uma mensagem de uma amiga que perdeu uma idosa da família com este monstro do vírus. Espera! Não posso ignorar. Estamos isolados mas não sozinhos: Como estás? Como foi? Vai haver funeral?...
Tudo se torna tão denso sem um ombro para chorar, uns braços para conter em simultâneo a dor e o conforto...
Bem, vamos lá: "Mas como raio é que já é meio dia?" Aspira, passa detergente, o espelho, a sanita; que lindo é o soalho do meu quarto, mas não me recordava que era tão grande!
Toca o telefone: "Sim, já sei, mas só me responde por mensagem escrita, deve estar a sofrer muito...temos de estar cá (cada um em seu sítio) para ela. Olha tenho de ir continuar a limpeza da manhã.(...) O quê? Como já é de tarde? Quero lá saber...se ainda não almocei e estou nas tarefas da manhã, ainda não é de tarde. Vou continuar."
A sala. Bolas! Isto é mesmo um salão. As gatas quando se apanham em molhos de pelo pelo chão não têm assim tanto encanto...Recuo, recuo, pelo corredor, até terminar na casa de banho que já deve estar seca. Bem...não completamente, mas dá para tomar um banho.
Estou cheia de fome. Não vou aguentar fazer nada para almoçar. Há a sopa do jantar: invertem-se os papeis. Pronto. Sopa e tostas com queijo fresco. Assim no tabuleiro, tudo composto, parece até gourmet.
Como é que o chão da sala ainda não secou? Não posso ir para lá. Está a dar o sol no escritório. Passo pela varanda e aterro neste paraíso da tarde, na hora em que alguns já se levantam da sesta.
Estou moída e frustrada. Como é que a senhora faz muito mais do que isto duas vezes ao dia e tem um ar tão prático e bem disposto?
Olha o telefone a tocar. Mas o corredor ainda está molhado...paciência. Fico aqui a escrever. Não deve ser nada urgente. Afinal estou em isolamento social, o que é que alguém pode querer de mim?
Credo! Estou tão cansada! Como é que os que estão em teletrabalho conseguem trabalhar e fazer tudo o que dantes (na nossa vida normal ) era tarefa de outros: tomar conta das crianças, limpar, arrumar, fazer compras, arranjar o cabelo, as sobrancelhas, passar a roupa a ferro, passear o cão?
Eu acho que vai haver muita gente esgotada não tarda nada!


terça-feira, 24 de março de 2020

Quarentena

Deveria ser fácil trabalhar em casa.
Deveria ser ainda mais fácil para uma pessoa que tinha decidido este ano afastar-se do trabalho...
Mas não das ruas, dos jardins, do mar, das esplanadas, das pessoas.
Desde que tudo isto começou (ou desde que eu me apercebi de que tudo isto começou) tem sido um desassossego: os amigos querem fazer-se presentes; estabeleceram-se vários grupos de partilha; há sempre algo para ler (para rir ou para chorar, mas, essencialmente para dizer que não estamos isolados, embora recatados em casa); sujo muito mais coisas e tenho de ser eu a limpar; distraio-me com uma mosca, porque agora - oficialmente - não tenho nada para fazer.
Tem sido uma perfeita loucura e inversão do tempo de recolhimento que devíamos estar a viver.
Hoje parece ter sido um pouco melhor: Vitamina D pela manhã, na varanda ensolarada, enquanto comia um excelente bolo de maçã, fruto da solidariedade de uma vizinha; muita escrita, reflexiva mesmo, leituras, telefonemas e, aproveitando a hora morninha da sesta - que eu não faço, mas também não faço nada naquela hora - fiz-me entregadora de solidariedade e vá de levar o meu microondas de sobra a uma amiga que ficou sem o seu, transportar laranjas da casa dessa para a casa de outra e "namorar de gargarejo" com uns amigos à porta de quem passava nestas lides. Todas as precauções foram tomadas: as coisas são deixadas à porta ou no interior de carros para que nada nos aproxime fisicamente e o isolamento social continue. Hoje tornei-me útil, com um pouco mais de fé ou uma firmeza maior na minha fé: em Deus, no Universo, na Humanidade e em mim.
Vamos todos ficar bem!

quinta-feira, 19 de março de 2020

Demanda

Demanda vai muito bem com esta busca de autoconhecimento que eu planeei tão bem para este ano, com o seu ponto alto de estadia na China e que desmoronou toda com a actual situação internacional.

Demanda: busca, pesquisa, acção, pergunta, processo judicial, debate, empresa...

Tudo isto são significados retirados do Priberam.

Vem-me ao espírito a expressão francesa "Quête", mas não consigo, nestas geringonças electrónicas, encontrar uma tradução que me satisfaça. Mas é isso. Une quête, uma busca, uma demanda...todo um processo com laivos épicos medievais, que nada há de mais difícil que questionar-mo-nos a nós próprios, que procurar os nossos propósitos, que pesquisar dentro de nós, qual descida a poço iniciático ou mergulho no desconhecido.

Sinto que tenho de tirar partido de tudo o que está a acontecer. Sinto que o facto de não acontecer pode ser muito mais esclarecedor, didáctico, iluminador, do que se tudo se tivesse passado como eu planeei.

Mas como? Qual é o caminho? Que sinais devo seguir? ou antes, que sinais devo ver? Como divisar o que realmente importa?

Por vezes é um desespero: porque eu sei, eu sinto, eu sei mesmo sem saber que é muito, muito importante, mas o quê?

De repente parece que os poetas já terão sentido tudo isto, porque o que sinto é mais poesia que filosofia...mas, como ? se eu nem sei o que sinto, como sinto, porque sinto...

Sinto-me um cão a perseguir a cauda, com o desespero de que, estando ela mesmo ali, lhe foge constantemente; de que, fazendo ela parte dele, se lhe apresenta como exterior e troça dele, como se aquela exigência - apanhar a sua própria cauda - se lhe tornasse inacessível , o tornasse vulnerável perante uma parte de si mesmo...

Como prossigo a minha demanda, se ainda nem defini bem em que consiste a minha demanda?

O monge disse a Liz: Lembra-te do que diz a nossa guru: sê cientista da tua própria experiência espiritual. Não estás aqui como turista ou jornalista, estás aqui em demanda. Portanto, explora a situação. Gilbert, Elizabeth, Comer, Orar, Amar, p. 188

Dia do Pai

Não estive na escola o tempo suficiente para celebrar o dia do pai; ou, corrigindo, o meu pai não esteve na Terra o suficiente para eu celebrar na escola o Dia do Pai.

Em casa, naturalmente

Ontem, em completo isolamento social (só eu e o meu carro) saí por aí. Parei numa beira mar e fiz uma caminhada ininterrupta de uma hora e meia.
Qual Marquês de Carabás fazendo uma vistoria às suas propriedades, olhei campos e mares, árvores e habitações. Ouviam-se os pássaros com uma intensidade como pouca vezes ouvi. Ao longe via-se uma ou outra pessoa...a trabalhar ou a passear, mas isoladas. Os pouquíssimos que se cruzaram comigo afastaram-se prudentemente. Em alguns vi sorrisos e trocámos "Boas tardes", mas a maior parte parecia assustada e ensimesmada.
O que eu sentia - e que é um disparate se assim for - é que as pessoas me olhavam como se eu não tivesse o direito de estar ali...onde elas também estavam. Ou talvez isto seja só da minha cabeça, que me desaconselhou várias vezes de ir.
O passeio soube-me muito bem e depois recolhi-me a casa, com algumas fotos de flores e uma musicalidade tão natural na minha cabeça que (quase) me limpou o medo. Que o tenho, confesso. Sobretudo o medo de contrair e contagiar outras pessoas. E medo que as pessoas fiquem más e distantes depois disto, embora os meus amigos facebookianos me enviem evidências do contrário.
Ontem despedi-me dos passeios e da liberdade.
Claro que eu sou uma privilegiada, porque vivo num prédio pequenino e calmo, com varanda e um jardim público ao alcance da vista. Então a paisagem é calmante (e existe, porque para muitos é a parede do prédio fronteiro) e tudo isto se passará em bem. Espero que o pequeno supermercado do centro continue a funcionar, porque dá para ir a pé e evitar os grandes, as filas e os exageros. A farmácia, caso seja necessária, também fica a passos de distância. Já gostava muito de morar aqui, mas agora ainda me congratulo mais, por ter tudo o que verdadeiramente necessito a poucos passos de distância. A tabacaria e o café, que tanto estimo, também estão perto, mas agora não posso frequentá-los, Descobri que afinal o Nescafé também me preenche as necessidades de cafeína diária (que também consegui diminuir) e na arca congeladora descubro salame e bolo rei que estavam embrulhadinhos desde o Natal.
E pronto. É isto. Tudo pronto para a quarentena. E esperemos que para a necessária reflexão sobre a vida que levamos.

terça-feira, 17 de março de 2020

segunda-feira, 16 de março de 2020

A Quarentena e a descoberta de novas palavras

Guqin - é um instrumento da China, uma espécie de harpa vertical.
O que é certo é que neste tempo de isolamento social quase não tenho tempo para sossegar, em casa, com todas as mensagens que recebo: umas para informar, outras para tranquilizar, outras para sugerir coisas para fazer em casa.
Confesso que só me apercebi da gravidade da situação na 5ª feira, quando me foi cancelada uma aula que tinha em Barcelona, para a qual já tinha tudo tratado (hotel, avião) para o fim de semana seguinte.
As pessoas com quem ia ter a aula são as que reputo de mais anti-alarmistas que existem. Se eles cancelaram a aula, a confiança que tenho neles fez disparar em mim todos os alarmes.
Primeiro fiquei chocada e quase prostrada, na própria 5ª feira. Na sexta feira fiz umas compras que se impunham e cumpri algumas tarefas que não implicavam interacção com ninguém e comecei a ver alguns noticiários.
Sábado quedei-me completamente isolada em casa (felizmente tenho animais de companhia e nada mais que isso, porque um isolamento com outras pessoas dado o meu feitiozinho seria muito penoso para todos) e comecei a ler as informações enviadas pelo grupo de pessoas que reputo de anti-alarmistas.
Foi muito tempo, porque eram muitas informações. Aqueceram muito o meu coração, pois a ternura, carinho, entreajuda e preocupação genuína com os outros que ressaltavam daquela saraivada de mails era muito forte.
Entre esses muitos mails estava um video de música chinesa que poderia ser utilizado para meditação. Que se intitulava: The Sound of Nature - Tradicional Chinese Guqin Music. Música que me agradou muito e fui ver o que era Guqin. Embora seja uma palavra não encontrada no nosso Priberam, pois é uma palavra estrangeira sem tradução (a própria grafia não respeita as regras da nossa língua) acabei por descobrir de onde vinha um som que muito me agrada nas músicas de taichi, que por vezes me parece uma guitarra, outras vezes uma harpa...que não conseguia nunca identificar mas que me agradava, muito mesmo.
Assim descobri o Guqin e as suas músicas preencheram toda a minha tarde de ontem.
Aqui deixo um desses videos onde se vê muito bem o instrumento e a técnica para que ele produza som. Fiquei até com vontade de aprender.
Talvez na minha ida à China...que eu acredito que irá acontecer depois de tudo isto passar.
Espero que gostem:







quarta-feira, 11 de março de 2020

Cacofonias do destino

Estar de quarentena na quaresma.

terça-feira, 10 de março de 2020

Para mim, naquela altura, Escolaridade e Idade Escolar eram sinónimos


O primeiro dia de escola - 7/10/1972


A pasta foi trazida de Espanha por uma tia de que ninguém gostava, mas que sempre me foi muito querida e o dossier (assim escrito, porque era uma palavra estrangeira) foi comprado pelo pai que só me pôde levar à escola durante o 1º Período.

segunda-feira, 9 de março de 2020

Entre as brumas de memórias

O que custa nisto de arrumar, etiquetar, descartar, doar ou destruir, é que estamos sempre a lidar com o que foram as expectativas de alguém. Por vezes mesmo de nós próprios quando éramos outros.
Como me encontrei adolescente nos cadernos do John Travolta (eu já não sou essa rapariga...) ou bébé no fato de baptizado (o que terão os meus pais e padrinhos desejado para mim naquele dia), ou mocinha que pediu à avó uma renda de lençol que ela nunca chegou a acabar... Os cadernos da escola, as memórias da 1ª viagem, os postais de amigos que já nem consigo identificar pela letra ou pelo contexto.
Tanta coisa que já não faz sentido.
Tão doloroso tomar decisões!
Tão precioso poder dispor deste tempo longo para o fazer, sem pressas, ao sabor de uma energia rala e flutuante, do tem que ser, do vai ser hoje, do hoje é impossível...
Tanto de nós que fica nas coisas, tantas memórias...tanta traição aos que nos precederam por não compreender o sentido de certas coisas...talvez agora já não tenham sentido e não haja qualquer traição, só o evoluir dos tempos, o crescer, o ultrapassar...
É tudo tão difícil!

domingo, 8 de março de 2020

Domingo

A casa, hoje de manhã, cheira a gengibre, limão e roupa lavada. Pela janela aberta para entrar o sol, ouvem-se os cantos dos pássaros a celebrar a novel Primavera.
É domingo, por direito.

Diz o Priberam que a palavra domingo deriva do latim "dominicus", dia do Senhor. Curiosamente este domingo, hoje, é Dia das Senhoras.

sábado, 7 de março de 2020

Busca

Por definição é o ato de quem procura.
...
E então mergulhei!

quinta-feira, 5 de março de 2020

Carrossel

Sobre a palavra que escolhi hoje tinha um erro de grafia: cuidava eu que se escrevi com ou - carroussel. Depois percebi que estava a fazer confusão com a palavra francesa que terá dado origem à portuguesa.
Apeteceu-me escolher esta palavra porque ontem terminei de ver na televisão uma série francesa onde o carrossel era o ponto de encontro de gentes e de memórias. Mas era mesmo um carroussel francês, daqueles em que os cavalos (que ali serão corcéis) são atravessados pelo varão que os prende em cima e em baixo, em que a cobertura tem um rendilhado e em que o ondular que tudo aquilo descreve tem uma sonoridade de Paris nos anos 20.
Depois lembrei-me que o carrossel também está ligado à minha história porque a primeira fotografia a cores em que figuro foi tirada pelo meu pai a duas das suas filhas num colorido carrossel. Olhando agora para ela tem aquelas cores desmaiadas do início dos anos 70 que não fazem jus à garridice do local de entretenimento, mas sempre sorrio ao vê-la. E penso que é uma boa opção para nos iniciarmos nas imagens a cores: um carrossel, uma tarde de diversão, uma feira, uma festa, um colorido dia em família. De boas memórias...

quarta-feira, 4 de março de 2020

Contingência

Facto possível, mas incerto; Possibilidade.

Priberam, em linha, consultado agora mesmo.

segunda-feira, 2 de março de 2020

Inefável

Deparo-me com esta palavra num livro que estou a ler e imediatamente me chama a atenção. Provavelmente isto acontece por duas razões: porque não sei bem o que significa e porque me lembra alguém muito gordo, apertado dentro de um fato completo demasiado estreito, a suar e a limpar a testa grande com um branco lenço de pano. Esta imagem só pode ser queirosiana. Não sei a que personagem se refere, mas tem todo o ar...talvez do Conselheiro Acácio...não sei bem, mas é uma personagem da Lisboa oitocentista, da crítica mordaz do Eça.
Divertida com a associação (mais uma das que me faz acreditar que a leitura nos cria memórias de coisas que não vivemos realmente) vou ao Dicionário esclarecer o real significado:

1. Que não se pode exprimir por palavras (ex: prazer inefável) = Indescritível, Indizível
2. (Figurativo) Encantador, delicioso, inebriante (ex: perfume inefável)

Priberam (em linha), consultado hoje mesmo.

A citação que me despertou para a palavra, está num texto sobre Proteínas e é a seguinte: "Tudo o que podemos dizer é que um número pequeno mas não especificado de aminoácidos unidos entre si é um péptido. Dez ou doze péptidos juntos formam um polipeptido. Quando um polipeptido começa a ficar maior do que isso, torna-se, em algum ponto inefável, uma proteína." in Bryson, Bill, O Corpo: Um guia para ocupantes, p. 289

Nada que se possa relacionar (nem remotamente) com um ambiente queirosiano!

domingo, 1 de março de 2020

Lamechas

Passamos tantos anos a fazer-nos fortes, a evitar a lamechice, (mesmo a denegri-la) e, afinal, talvez entregar-nos a ela seja verdadeiramente ser forte e lutar pela nossa felicidade.

No Priberam aprendi que existe o verbo lamechar. Vou exercer mais vezes.