quinta-feira, 1 de abril de 2010

Mitologias

"O fundo dos olhos da noite
guarda silêncios.
Esconde na retina
a menina que corre descalça em campo aberto.
Pálpebras cerradas, a noite emudece.
A menina com medo
faz um furo no escuro com a ponta do dedo.
Cai um pingo de luz.
Amanhece."


Como nascem as manhãs
Flora Fiqueiredo, (poetisa brasileira)

3 comentários:

Ninguém.pt disse...


Como a noite é longa!


Como a noite é longa!
Toda a noite é assim...
Senta-te, ama, perto
Do leito onde esperto.
Vem pró pé de mim...

Amei tanta coisa...
Hoje nada existe.
Aqui ao pé da cama
Canta-me, minha ama,
Uma canção triste.

Era uma princesa
Que amou... Já não sei...
Como estou esquecido!
Canta-me ao ouvido
E adormecerei...

Que é feito de tudo?
Que fiz eu de mim?
Deixa-me dormir,

Dormir a sorrir
E seja isto o fim.


Fernando Pessoa

Escrivaninha disse...

Ah, Mestre!...
Eu a falar de dissipar o medo com a claridade da manhã e traz-me uma noite longa, como prelúdio do fim, assim?...
Quero uma noite mais curta e uma manhã mais clara, e uns sapatos para calçar o medo.
Quero acreditar que no fim da noite está a manhã.
E porque quero acreditar, acredito.

Ninguém.pt disse...

Quem tem medo da noite?

Afinal...

Somos filhos da madrugada

Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor nos ramos
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praia do mar nos vamos
À procura da manhã clara

Lá do cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Mensageira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo de uma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos p'la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca, brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca.


Zeca Afonso

Somos, também, herdeiros da fortuna que ele nos deixou:

http://www.youtube.com/watch?v=EX0E4ASHKhU&feature=related