terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Revista do Ano

O fim do ano aproxima-se a passos largos! (aqui está outro "lugar-comum"...)
É mais ou menos tradição fazer a Revista do Ano que agora finda. Parece-me fastidioso e normalmente nunca é muito animador - acabamos sempre por "desenterrar coisas" que era melhor terem ficado sossegadas.
Procurando manter a tradição e "guardar palavras" que coloriram o meu ano, aqui fica o texto de preparação da viagem à ilha da Madeira que realizei com um grupo de amigos na primeira "ponte" de Dezembro.
O texto é do Rui (a partir de sugestões da colega P.M.) e mostra bem o espírito de boa disposição que marcou todo o périplo:
"Dia 1
Funchal - passeio pela avenida do mar e Marina do Funchal, passeio nos jardins de Sta Catarina, com vista para a casa do ti Alberto, Sé du Funchal, Mercado dos Lavradores (ao Sábado, é o melhor dia), principalmente a lota, subida no teleférico e promenade pelos jardins du mont e descida dans les paniers de verga!

A não perder
Fábrica dos gâteaux de St Antoine
Les caves do Funchal à côté do turismo, o bar "o santinho", (não fui eu que espirrei!) na Marina do Funchal o melhor "clou"(prego) em bolo de caco e Casino do Funchal (pour les pelintres bien entendu!)

Dia 2
Zona piscatória (aquela que está sempre a piscar, será que é a casinha da luz vermelha do sítio?), Pico de Barcelos (será o do galo, mas isso não era do nuerte carago!, ai que estou baralhado), Cabo Girão (ai, não me digas que vamos ver cabos, ferréis e afins...) Ribeira Brava e a Ponta do Sol (que horror, o melhor é ir lá de noiteee, caso contrário nem o factor 100 nos valerááaaa!!!)
Calheta (em minha casa quando eu era pequeno er mais galheta, mas enfm!) com visita aos engenhos da cana de sucre e provas dos bualos de mele e a poncha, descida até ao jardim do mar ( temos de levar o escafandro!) onde se comem gelados caseiros divinais!

Porto Moniz (piscinas naturais), Ribeira da Janela subir até ao Paul da Serra e percorrer o cume da serra apreciando a paysage ou seguir até Sã Vcente e sebir até à Encumeada. Na Encumeada (muito estrãnhe!) descer para a Serra de Água (ela é que disse que era para descer, não fui eu!) e parar (pois convém!) na "tasque" do côté droit para provar la poncha, a melhor e ela diz que não nos assustemos com o aspecto da tasca!
No regresso, parar no Estreito (não de Gibraltar) de Câmara de Lobos (ui que medo!!!) e jantar nos estaurante Sto António, as melhores espetadas, de milho frito e bolo do caco (achas que mandemos a nossa ministra para lá para eles a venderem às fatias? É que a ela à muito que tem falta de caco!!!)

Dia 3 Zona Interior e Zona Norte
Suibir até ao Poiso (deve ser onde os pássaros descansam!), ir ao Pico do Areeiro e apreciar as vistas... (deve por lá haver gaijas boas! Foi ela é que disse que era para apreciar.)
Descer até ao Ribeiro Frio (com um nome destes e tu achas que não vale a pena levar agasalhos!) ver os viveiros das trutas e percurso pedestre, 1 hora a penantes. S. Roque do Faial (o gajo devia ser mesmo mto feio para lhe terem posto este nome). Santana: casinhas tipicas (não sabia que tb se dedicava à construção, pensei que era só à música, até tenho uns Cd's dele, se soubesse que era trolha não tinha gasto érios a comprar os cds!) S. Jorge, Cabanas (miradouro), Arco de S. Jorge (isto soa-me a santos populares e a sardinhada, aviso já que detesto des sardines on carvon and in the late!) Ponta Delgada, S. Vicente atravessar a ilha pelo túnel até à Ribeira brava (Tb com a ponta delgada qualquer beira fica brava, digo eu?!)

Dia 4 Subir à Eira do Serrado, ir a penantes ao Miradouro e apreciar a vista ao fundo do Curral das Freiras (ai que sacrilégio, ir apreciar o cu - ral das ditas!!!) Camacha (se calhar era melhor levar qualquer coisita à senhora! ainda não se deve ter recomposto da viúvez do Camachito! Fumava muito coitadito do sinhori!) Santo da Serra - campo de golfe e paisagens
Machico (deve ver um macho de fraco porte, desses tb eu não tenho medo!)"


A viagem à Madeira pode já funcionar como sugestão para 2009, para aqueles que não conhecem ou que não vão lá há muito tempo, pois a ilha "tá modernaça", cheia de túneis e teleféricos, facilitando a fruição da beleza agreste natural.

Bom Ano de 2009 para aqueles que passarem por aqui!

sábado, 27 de dezembro de 2008

Amália

Ontem fui ver o filme.
Faz-nos pensar, no mito, na mulher, na vida, neste Fado português...
Aqui ficam algumas das palavras cantadas e sofridas no filme.

"Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.

Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.

Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes aonde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais."

Amália Rodrigues; Alfredo Duarte

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Este Natal

As novas tecnologias derrubaram as distâncias. Pode ser um lugar-comum, mas é verdade.
Do outro lado do Atlântico, reavivando a enorme paixão que eu tenho pelo Brasil, a Livraria Cutura - cujo lema é "Ler para ser" - enviou-me as Boas Festas.
Gostei tanto da mensagem que resolvi partilhá-la aqui:

« Antes de aprender a ler, você aprendeu a sonhar
Em 2009, não se esqueça desta lição.
Só assim seus objetivos vão se realizar.
Boas festas!»


Obrigada Livraria Cultura: por se lembrarem de mim; por me lembrarem o Brasil; por me lembrarem do poder do sonho, que frequentemente parece tão esquecido nesta vida que nos impele a correr, sem sabermos para onde.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Felicidade

Eu acho que a Felicidade está sobrevalorizada!

Quem é que ela pensa que é para se escusar à maioria das pessoas que a procura? Que flausina é esta que se esconde e faz negaças a pessoas que se esforçam por uma vida toda? Há mesmo quem ache que já viveu várias vidas em busca dela e…nada?!?

Não me parece bem.

Há todo um culto da Felicidade que banha a sociedade. O problema é que não é uma felicidade qualquer – tem de ser a Felicidade Total e Permanente. O que a torna impossível, um mito ou uma utopia, causa de inúmeras frustrações, depressões, do fim de relações e muitas outras coisas, com fortes hipóteses de terminarem em ões.

Depois há os outros, os que acham que a encontraram e perderam. Seria de pensar que são mais afortunados que os outros…pois, pelo contrário: são uns deprimidos, normalmente culpam-se pela perda da dita e não se atrevem a tentar outra vez, pois crêem que coisa tão rara não pode ser vivida duas vezes.

Há ainda uma terceira categoria: os que se consideram felizes…mas não podem dizer a ninguém, pois a inveja (mau-olhado, olho gordo e outras designações) é atraída por estados de felicidade confessos e…não falha. Zás! Termina com ela, com uma eficácia totalmente inversa à que marcou a busca e encontro da dita cuja. Esses (alegadamente felizes) acordam todos os dias com olheiras provocadas pelos pesadelos terríficos, pelo medo de que o seu segredo seja descoberto e…infalivelmente consumido pela inveja alheia.

Bolas! Isto é muito difícil. Para quê tantas fitas?

E as fitas que se têm feito sobre o assunto? Há para todos os gostos: os que encontram a Felicidade na fortuna material, os que A encontram no amor, os que A perderam, os que A procuram…blá, blá blá…

Lá fui eu à procura da palavra. E sabem que mais? No meu dicionário não parece assim uma coisa tão importante!
É certo que o Dicionário foi barato – embora tenha palavras caras – creio que saiu com uma revista de actualidade, em vários fascículos, talvez por isso a ideia de felicidade não seja muito elaborada. Vejamos:

-“ventura” (foi um gozo associar a ideia de Felicidade ao façanhudo Sr. Ventura, cuja bigodaça faz lembrar uma floresta, com duendes e tudo);
-” bem-estar”;
-” contentamento”;
-” bom resultado”;
-” bom êxito” (eu nem sabia que havia êxito que não fosse bom);
-“dita” (cujo contrário é a desdita);
- e depois a óbvia “qualidade ou estado de quem é feliz”.
Visto assim não parece nada de inacessível: qualquer um já sentiu contentamento ou bem-estar. Assim sendo, o conceito, tornado modesto, parece ao alcance da maioria.


Achei importante escrever isto agora, porque considero que esta época das “Festas” é tramada, pois decreta-se oficialmente como tempo de Felicidade (daquela, que procuramos e nunca poderemos atingir) e nós, os moderadamente felizes, começamos a pôr em dúvida o nosso conceito de “bem-estar”, considerando-o muito menos que a Felicidade.

Aqui ficam, pois, alguns conselhos para ultrapassar melhor este tempo das “Festas”:

- Compre um Dicionário barato, com definições à medida do preço.

-Veja menos filmes e olhe mais à sua volta

-Leia livros baseados em “Casos Reais” – há pouca probabilidade de retratarem a utopia.

-Não estreie sapatos no Dia de Natal nem na Festa de Ano Novo.

- Veja o Telejornal da TVI e observe o que aconteceu à Manuela Moura Guedes em busca da Perfeição (que deve ser amiga íntima da Felicidade). Logo em seguida olhe-se ao espelho.

(A lista pode ser acrescentada, a gosto, conforme os contextos de cada um)

Festas Felizes!

sábado, 20 de dezembro de 2008

Mensagens de Natal

Quando eu era criança havia a "Guerra Colonial".
Por estas alturas a RTP passava as mensagens de Natal dos tropas - longos desfiles de rostos semelhantes, com mensagens idênticas.
Como mais nova e mais desocupada desta azáfama do Natal, nos últimos anos da "Guerra Colonial" destacavam-me a tarefa de estar em frente à televisão, com uma lista dos "correspondentes de guerra" da minha irmã mais velha a ver se aparecia algum.
Devem ter sido só dois anos...mas é uma imagem que, para mim, ficou colada ao Natal: aqueles jovens, com ar desamparado, a tentar não "se desmanchar" em frente à câmara, a enviar a estereotipada mensagem de Natal: "Para os meus familiares: Boas Festas, Um Bom Natal e um Ano Novo cheio de «propriedades»". O erro de linguagem deixava de ter graça quando a mensagem terminava em lágrimas.
Eu ficava muito aflita e às vezes chorava com eles, sem saber bem porquê, no meio daquela época festiva, em que se enfeitava a casa e se retribuíam "Boas Festas".
Hoje é Natal outra vez, esta guerra colonial não existe, mas existem muitas outras, com outros títulos, com muitos subterfúgios, mas, certamente com muitas lágrimas e com toda a injustiça que traz uma guerra para os que a sofrem.
Hoje é Natal outra vez e é outra vez tempo de eu me lembrar daqueles jovens, expedidos para "o Ultramar", que sentiam a falta de tudo aquilo que tinham sonhado...
A mensagem terminava também com uma frase estereotipada, às vezes dita num soluço: "Adeus, até ao meu regresso"

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Natalidades

"- Já estamos outra vez no Natal!"
"-É verdade! Este ano passou tão depressa!"
"- Ainda ontem estávamos a ter esta conversa sobre o ano passado...!
" - Hum...Este ano nem me apercebi que o Natal estava a chegar! Parece que chegou mais depressa..."
" - E vamos ficando mais velhos..."
"- Essa é que é essa!..."
E assim se faz uma conversa!...
Bem dizem os outros "Falam, falam, falam, falam..."

domingo, 14 de dezembro de 2008

Hospital

Tem-se falado demais em hospitais à minha volta.
Uns casos correram mais ou menos bem, outros nem por isso.
As conversas evocam normalmente casos que terminaram "em bem", enquanto os olhos revelam que se está a calar os outros, os que terminaram de vez, em desfechos que deixam feridas tão profundas, que às vezes nem se conseguem referir.
Uma pessoa de quem eu gosto desde antes do seu nascimento está agora hospitalizada. E eu, que já fui salva num hospital, estou cheia de medo.
Por isso resolvi voltar à palavra. A uma explicação do conceito que me devolvesse a tranquilidade. O meu dicionário diz que "Hospital é um estabelecimento onde se internam e tratam doentes". É bom, portanto. As pessoas entram doentes e tornam a casa tratadas.
Na enciclopédia até contam a história dos hospitais, da ordem de cavalaria dos Hospitalários (tudo boa gente, devotada ao bem) e tem, bem perto, palavras tão simpáticas como "hospitalidade", "hospitaleiro" e "hospedagem".
Nada a temer, portanto. Os hospitais são assim como as oficinas dos carros: quando estão avariados, internam-se lá e, quando vamos busca-los, estão arranjados. Aí, o único problema costuma ser a despesa.
"Se eu estou mais calma?"
"Nem por isso..."

Paciência Natalícia

"A loja estava cheia, que as compras de Natal decretam uma interrupção momentânea na crise. A moça, bonita e jovem, com bons modos, voz suave (quase sussurrante), abeirou-se do balcão e abordou o lojista: - Por favor, aquela camisola canelada que está na montra...que cores é que tem?
Ele, com a experiência vincada nas rugas do rosto, encontrou a resposta num breve olhar para uma quadrícula das prateleiras: - Tenho branco, azul-escuro e verde-azeitona.
Ela:- Ah, essa última não é uma cor: como é que eu sei se a azeitona é das verdes ou das pretas?...
Ele, formado na escola de «o cliente tem sempre razão», respondeu solícito e respeitoso: - É verde-azeitona-verde, porque o verde-azeitona-preta foi dos primeiros a esgotar.
- Hum, deixe-me ver a azul-escura.
Ele hesitou um pouco, mas depois não resistiu (sempre com o mesmo ar composto): - Porque não experimenta antes a branca?É mais simples, parece-me que condiz consigo.
- Acha? - sorriso aberto de quem se sente lisonjeada - A branca, então!"

Natalidade

Quando chegaram os jovens papás com os gémeos todos se precipitaram para eles. Tão pequeninos: teriam meia-dúzia de meses...
Eu peguei na menina, pequenina, delicada...um apelo irresistível à ternura, ao instinto (que não considero só maternal) de derramar carinho e mimo numa vida pequenina, a começar...a evocar memórias e sentimentos.
Ela aceitou bem que eu lhe pegasse e afastámo-nos um pouco do resto dos convivas a gozar aquele primeiro contacto: os olhos dela a explorar um rosto desconhecido, a minha cara a gozar o contacto com aquelas mãos pequeninas que não paravam de mexer e que eu queria acreditar que me estavam a "fazer festinhas".
Quando nos habituámos uma à outra eu voltei a ter consciência das conversas na sala. Falava-se então de natalidade. Que em Espanha havia mais apoio à natalidade... que em Portugal era muito difícil sustentar uma família grande... etc, etc.
Olhei de novo para a bébé e apercebi-me então que tinha chegado à tal idade em que, a breve trecho, deixaria de ter a possibilidade de equacionar se me inscreveria ou não como responsável na história da natalidade.
Não deixa de ser curioso, que tenha sido numa festa de Natal, escutando uma conversa sobre natalidade, que eu tenha percebido que estava na-tal-idade.
Sorri e comuniquei baixinho à bébé a minha descoberta. Expliquei-lhe docemente que as palavras são um mundo espectacular para explorar, que ela se iria deliciar um dia a fazer jogos de palavras, ou a aperceber-se do curso delas, que por vezes parecem comboios a deslizar pelos nossos pensamentos, a conduzi-los, a desviá-los, a brincar com eles, a brincar connosco.
A bébé sorriu - naquela forma irresistível que os bébés têm de nos chamar a atenção quando estamos a ser idiotas - e eu acho que ela me entendeu.
Coisas de mulheres!...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Dia da Mãe

Quando eu era criança este era o Dia da Mãe. Dia de N. Sra. da Conceição - tornada Padroeira e Rainha de Portugal em 25 de Março de 1646, por D. João IV, o "Restaurador" (que não Olex, entenda-se) - festejava-se também como homenagem às mães.
Depois mudou. Não sei porquê. Passou para um domingo de Maio e por isso não tem data certa.
Sempre achei que as pessoas iam esquecer-se, mas não contei com o "merchandising" que lhe está associado e que faz das montras, nessa altura, verdadeiras obrigatoriedades de nos lembrarmos das mães. Qualquer filho da mãe não pode, nesses dias, ignorar a sua condição.
A minha mãe não ia em modernices. Sempre me ensinou a respeitar as tradições. Para ela - para nós - não houve mudança. Assim, eu tinha sempre de pensar, de me lembrar autonomamente, de que neste dia lhe devia fazer ou comprar uma lembrança. Mantínhamos pois o espírito cristão (longe dos vendilhões sem templo) e assinalávamos uma data que assim parecia mais genuína, mais verdadeira, por ser nossa, diferente da de todos os outros.
Por isto tudo, para mim, o dia 8 de Dezembro será sempre o Dia da Mãe. A palavra das três letrinhas.
Aqui fica hoje uma homenagem a todas as mães, sobretudo às que vestem a palavra em maiúsculas.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Salmão

Salmão é uma cor ou um peixe?
É uma cor de peixe ou um peixe de cor?
Será que há racismo entre os peixes?
Será que os cardumes são uma espécie de gangs aquáticos?
Será que o mundo marinho também está de olhos postos na presidência de Barack Obama?

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Prova de Amor

Mesmo depois de receber o CD autografado pelo próprio Tony Carreira - aquilo que ela mais queria - ainda faltava algo, ainda restava uma dúvida...Por isso ela lançou a pergunta decisiva:
"- Se só sobrasse um Mon Chéri, o que é que fazias: Comias ou deixávase-o pra mim?"

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Está Frio!

Todos os anos é a mesma coisa: Que este ano está mais frio...que antigamente não era assim; que o frio chegou mais cedo este ano...
Às vezes não tenho a mínima paciência para estas conversas. São conversas de quem não tem o que conversar.
Todos os anos o Inverno traz o frio. O Inverno é frio por definição!
E hoje existem "mecanismos de resistência" muito mais apurados. Sim, que eu lembro-me de há muitos anos atrás, na casa onde nasci, preparar o pijama, abri-lo sobre a cama e quase "mergulhar" para dentro dele, enquanto mexia freneticamente os braços e as pernas, deslizando para debaixo dos muitos cobertores (alguns de "papa", lembram-se do que era?) e ficar muito quieta, toda tapada a ver se o calor chegava.
O calorífero era "de varetas", só dava calor estando lá perto, não devia ficar ligado de noite e o frio esgueirava-se pelas frinchas das janelas, muito altas, e com portadas de madeira.
Saudosismos, só se for mais lá para o Verão, que eu gosto dos novos sistemas de aquecimento e não sei se este ano está mais ou menos frio que no ano anterior. Acho que nem me apetece discutir a questão, nem acho que seja uma questão, só um tópico de relacionamento social...que sempre me irrita, por sinal.
Está frio, estamos no Inverno, é normal. Pronto!

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Tributo a Carlos do Carmo

"Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza"

Ary dos Santos

domingo, 23 de novembro de 2008

Rústicos pelo epicurismo


Que bela colecção de sinónimos sobre o último momento da nossa vida!
Estes gajos são doidos, mas ainda bem que enveredaram por este caminho, porque depois há os outros, bem mais sisudos e que querem mandar em nós.
Regozijem-se

Amor em ricochete

"Gosto de ti, desde aqui até à lua
Gosto de ti, desde a lua até aqui."

André Sardet, Mundo de Cartão, 2008

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Violência Doméstica

Lembram-se de uma canção, suave, fácil de entoar, que até podia ser usada para embalar?...assim:

"O mar enrola na areia
ninguém sabe o que ele diz
bate na areia e desmaia
porque se sente feliz"

Bonitinha, não era? O mar...a areia...ambiente de praia...inocente...
Até chegarmos à humanização dos elementos da Natureza...assim:

"Também o mar é casado, ó-ai
também o mar tem mulher
é casado com a areia, ó-ai
bate nela quando quer"

OH-Ai!!!!

E esta?
"Onde há galos não cantam galinhas!" e "Entre marido e mulher, não metas a colher"
Tudo ensinado de pequenino, com música de embalar e tudo...
Se quisermos ainda acrescentar umas afirmaçõezinhas de senso comum, do género "Se o marido lhe bateu, foi porque ela fez alguma!...",compreendemos porque é que a violência doméstica tem ainda os números assustadores que tem.
E bem podemos congratular-nos de que se mudem os tempos e as vontades. E de que hoje se insista na necessidade de não compactuar com estas situações e no dever de as denunciar e de ajudar as vítimas a libertarem-se.
Esta foi uma das mensagens da Conferência que o ex-Ministro da Justiça, Laborinho Lúcio, proferiu em Coimbra, no dia 4 de Novembro, com o título "Violência Doméstica: Crime Público e Dever de Justiça", e que me fez pensar em tudo isto.
Tantas vezes que cantei os versos da canção sobre o mar e nunca me apercebi da carga que transportavam!...
As palavras nunca são inocentes!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Baloiço

"Tão balalão
Cabeça de cão
Orelha de gato
não tem coração..."

Limite

"Nós aguentamos tudo o que Deus manda, e esperemos que Ele não mande tudo o que tem lá para mandar." (dizia muitas vezes a minha avó, sobre a resistência à dor)

Sabes lá!

"Eu não aguentava!"

domingo, 16 de novembro de 2008

Povo

Quando eu era pequenina "Povo" era a palavra maior que eu conhecia; cabíamos lá todos! Agora, tem tantos degraus, que saiu da minha definição.

sábado, 15 de novembro de 2008

Palavras Esquecidas

"O povo unido jamais será vencido"

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Desamor

Será o contrário do amor...
Será? Acho que o contrário do amor é o ódio e não me parece que o desamor seja nada de tão forte como o ódio.
O dicionário define como "inimizade, desprezo, aborrecimento, falta de amor", mas, para mim, desamor é assim...não estar lá...ser indiferente, não se importar.
Existe muito desamor por aí!
Sabem aquelas pessoas para quem dizermos que fomos assaltados ou que fomos aumentados é a mesma coisa? Estão a vê-las? São imensas, não são? Conseguem dizer "Coitada" e "Parabéns" exactamente com o mesmo tom de voz, com a mesma inexpressão.
Assusta! Não por nós, que continuaremos a viver a nossa tristeza ou alegria com a mesma intensidade, mas por elas, por essas pessoas, que não têm capacidade de se descentrar de si mesmas para sentir os outros, para se alegrar ou entristecer por eles...Se saíssem de si mesmas um bocadinho para se dedicarem aos outros, talvez quando "voltassem" se reencontrassem diferentes, se redescobrissem (até por aquilo que aprenderam com os outros, que descobriram nos outros).
Não sei se são egoístas ou hipócritas, mas suspeito que não podem ser felizes, porque não conseguem dar e receber emoções...partilhar.
Hoje vieram contar-me uma novidade, algo muito importante para a vida da pessoa que estava à minha frente, a falar comigo. E no fim rematou: "Vim dizer-lhe, porque sabia que ia ficar contente, que ia gostar de saber!"
E eu pensei: "Quanto desamor já terá esta pessoa enfrentado para escolher as pessoas a quem dá uma boa novidade!..."
E voltei para o meu "pequeno mundo" mais satisfeita, porque tinha conseguido viver uma experiência de...de...do contrário do desamor, que também não é o amor...talvez a empatia...não sei, as definições não importam, o que importa são as trocas de emoções, é a ausência de indiferença, que consegue por momentos iluminar os nossos pequenos mundos e torna-los mais claros...como a lua cheia, magnífica, que brilha hoje no céu.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Amor

"É que o amor
Seja lá o que isso for
é sempre uma mistura
de feitiço e de ternura
com um pouco de suor"

Quem não amou, Filarmónica Gil, 2005

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Hermenêutica

Palavra certamente motivadora para colocar como nome a uma menina recém-nascida (estou a brincar: prefiro definitivamente Hermengarda ou Cunegundes) esta é também uma palavra cativa num código línguístico restrito. Faz parte de um vocabulário – mais do que isso, de um aparelho conceptual – específico de um certo ramo das ciências. Das ciências do espírito, diriam alguns.
A Hermenêutica é a técnica de interpretar os textos, à procura da verdade. (Logo à partida se percebe que não é tarefa fácil, pois isto de escrever coisas para “tentar enrolar” os outros não é um procedimento muito recente. É aliás uma prática milenar que se vem perpetuando no tempo, diriam alguns, até, com vários melhoramentos e requintes.)
A Hermenêutica surgiu primeiramente ligada à análise e interpretação dos textos bíblicos, estendeu-se, sem grande sobressalto a todos os textos de cariz filosófico (com especial destaque para os textos jurídicos) e é actualmente uma metodologia necessária a todos os que se dedicam à História. Pela sua especificidade a interpretação dos textos bíblicos designa-se actualmentre sobretudo por Exegese, sendo o termo Hermenêutica aplicado à análise de documentos em geral, designando especialmente a interpretação que procura extrair deles “a verdade”.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A Coima

Há palavras que vivem cativas em certos locais. Em códigos específicos, por exemplo.
Hoje tropecei na palavra “Coima” escrita num cartaz que proibia “jogos de bola”. Fiquei a pensar que este palavra, apesar de fazer parte da língua portuguesa, de se encontrar no Dicionário e de (penso eu) a maior parte dos portugueses saber o seu significado, quase não se utiliza. Pelo menos em situações comuns...
Bem, se pensarmos um pouco, a coima também não se refere a situações comuns, mas sim a situações que rompem com o comum, que o violam não respeitando uma regra qualquer...Ninguém leva uma coima por bom comportamento!
Mas porque é que na linguagem comum não entrou a palavra coima e se generalizou a palavra multa? Que supremacia é esta da multa sobre a coima? Que subserviência estranha assumiu a coima, fechada em códigos de advogados e advertências de agentes de autoridade?
Nem sequer sabemos se a coima tem diminuitivos ou aumentativos. É toda aquela rigidez de palavra que não se aproxima, que não se vulgariza, que não confratreniza...e, por isso, não podemos tratar com um certo a-vontade. Como à sua parente multa. Esta, além de fazer parte do nosso quotidiano – bem, mais de uns que de outros – está presente na nossa linguagem comum. “De quanto é a multa?”; “Já apanhei aqui uma multa”; “Fiquei aliviado porque foi uma multita”; “Ainda estou a recuperar de uma valente multa” ou, numa linguagem mais vernácula “Enquanto me lembrar da puta da multa não estaciono mais ali”, são tudo expressões que já ouvimos ou já usámos...Mas, recordem-se lá de quando disseram coima...pois, não se recordam. Ela não convive connosco.
Rebusco na memória e encontro uma aviso de um polícia que se perfilou ao meu lado quando eu estacionava o carro para me avisar que conduzir sem cinto era um procedimento sujeito a coima, de uma que tive de pagar por deixar passar o tempo do talão do parquímetro sem “renovar a minha assinatura” e ...mais nada.
Mas, pensando bem, fico até agradada com este afastamento da palavra da linguagem comum, pois teria sido muito estranha a conversa de solidariedade e consternação da minha família, naquele verão, em torno do papel da multa de estacionamento. Creio que não seria nada agradável ver todos os meus sobrinhos a dissertar sobre “a coima da tia”.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Seminário

Abri o jornal e li "Mulheres empresárias reuniram-se num Seminário com o tema..." e pensei "Não terá sido perturbador para os padres?"

Cor-de-Rosa

Se existem rosas de tantas cores porque é que existe uma cor que é de rosa?

domingo, 2 de novembro de 2008

Palavras Vãs 2

Se fosse comigo, era muito diferente; podes crer!

Palavras Vãs 1

Se eu pudesse, trocava de lugar contigo!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Parece Bruxedo!

"E logo hoje a minha vassoura não anda!
Já a abanei, já a virei ao contrário...nada. Parece uma vassoura normal.
Eu precisava de sair hoje! E a minha vassoura não anda!
Tenho de suportar toda a gaiatada a brincar às bruxas...Gostava de saber quem foi o idiota que divulgou as nossas tradições! (Alguma bruxinha que teve um flirt com um "civil", só pode!).
Antigamente era tudo muito mais sossegado: esta era uma noite normal para todos (menos para nós, claro, as verdadeiras).
Na minha infância (há milénios) quando ainda não estava autorizada a frequentar as nossas festas, dormia ansiosa pela manhã do dia seguinte - o Dia de Todos os Santos, em que, em bandos, corríamos as casas todas a pedir "Pão por Deus".
Era tão bom! Poucos negavam às crianças uma dádiva da época: nozes, castanhas, ou bolos, os preferidos das crianças. Algumas pessoas faziam fornadas de bolos especialmente para os meninos, que pediam candidamente "Pão por Deus", que guardavam em saquinhos de pano (a recordar piqueniques familiares) e depois dividiam mais logo, já longe dos olhares dos benfeitores.
Era uma tradição muito bonita, que aliava um espírito religioso a uma troca de mimos entre gerações.
Agora andam todos encantados com a "americanice" do Dia das Bruxas e tornam isto mais insuportável que o Carnaval (porque aí sempre há uma diversidade temática).
Também não sei o que andam a fazer os professores de História, os antropólogos e os "culturólogos" deste país, que deixaram morrer a tradição do Dia de Pão por Deus, sepultada pela importação deste...Até me custa dizer! E a minha vassoura que não arranca, para eu me poder livrar deste Carnaval ridículo, organizado por arruaceiros que não conhecem verdadeiramente o tema!
Vou estar toda a noite sem dormir, revoltada por perder a festa dos meus!
Que porcaria de vassoura! E logo hoje: Parece bruxedo!"

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A minha camisola grená

Quando tivemos de empacotar os restos da vida da nossa mãe (ou os restos das muitas vidas que ela coleccionou e inventou) encontrámos muitos pedaços de nós de que já nos tínhamos esquecido: desenhos, roupas, brinquedos, fotografias...Era lógico, todos o esperávamos.
Mas eu encontrei também palavras que só tiveram sentido ali, expressões que nunca mais usei, um vocabulário que – sem nenhum de nós notar – deixáramos ali, há muitos anos.
“- A minha camisola grená!...” Foi uma exclamação, uma constatação, um reencontro com uma peça de roupa de que gostava muito e que a minha mãe também gostava. De repente ouvia-a a dizer “Porque não vestes a camisola grená?”, “Onde está a tua camisola grená?” e coisas assim.
E de repente percebi que já ninguém usa a expressão "grená". Aliás, de repente, ao dizê-lo também a mim a palavra soava estranha. Tinha ar de palavra antiga, cheirava a bafio e a memória, como o sabor do capilé, com uma casca de limão, que tomávamos nas tardes de calor.
Estupidamente, a minha imagem, vestida com a camisola grená, a beber um capilé, com a minha mãe, era uma imagem a preto e branco!
Hoje estou vestida de bordeaux (que dantes era grená), procurei e encontrei nas prateleiras do supermercado uma garrafa de capilé, mas já não me apeteceu compra-la.
Afinal, as cores, os sabores, as palavras, têm os seus contextos e só neles fazem sentido...
A minha camisola grená era uma peça de roupa extraordinariamente durável, ainda estava boa. Não conseguiria usa-la de novo, mas também não consegui deita-la no lixo. Ficou junto ao contentor, limpinha, a espreitar de um saco que convidava a ser levado. Talvez viva agora com outro nome, com outra cor, com outro contexto...Talvez tenha ganho uma vida nova, a vida que a minha mãe e as nossas memórias nunca mais poderão ter.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A Fonte das Palavras

“A fonte das palavras
É uma fonte de água viva
Que jorra desde Adão e Eva
Para dar o nome às coisas
Que eram orfãs à deriva”

A Fonte das Palavras
“Cabeças no Ar” (2002)