Uma conhecida minha (amiga de Facebook) colocou online a informação que acabara de receber a notícia da morte da mãe.
Achei tão despudorado que não consegui sequer escrever nada.
Afixar num mural a morte da mãe...há coisas que me fazem muita confusão.
Será que as palavras ficam presas no tempo? Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil? Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?... Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto. Por puro prazer!
sábado, 28 de janeiro de 2017
Ecos encantados
Quando acordei hoje de manhã já era de tarde. O tempo pardo, enevoado, paralisado na neblina, convidava ao arrasto da vida numa cadência calma, preguiçosa, mandriona...
Enqaunto espreitava o tempo, o jardim, as árvores quase nuas e os passeantes apaixonados que ignoram as invernias, ouvi o som do encantador de tesouras. Há quanto tempo não ouvia esse som! Ritmado, lento, chuvoso, segundo a tradição popular.
Perdi-me nas esquinas da memória do tempo em que que aos fins-de-semana de Inverno se ouvia o som do encantador de tesouras. E a minha mãe dizia: «Vai chover: anda aí o amola tesouras e navalhas.» Lembro-me sobretudo de ele consertar chapéus de chuva, mas a minha mãe referia-se-lhe sempre como o «Amola tesouras e navalhas», com um sotaque espanholado, pois o senhor viera da Galiza há muito tempo...
Enquanto recordava tudo isto compreendi que tinha sido apenas uma vez que ouvira o som...que daquela janela raramente se ouvem os sons da rua...que em tanto tempo nesta terra nunca tinha ouvido tal som...que essa era uma recordação da terra onde eu vivi a infância e adolescência...Que eu não podia realmente ter ouvido tal som!
Compreendi então que fora apenas um eco da minha memória.
Enqaunto espreitava o tempo, o jardim, as árvores quase nuas e os passeantes apaixonados que ignoram as invernias, ouvi o som do encantador de tesouras. Há quanto tempo não ouvia esse som! Ritmado, lento, chuvoso, segundo a tradição popular.
Perdi-me nas esquinas da memória do tempo em que que aos fins-de-semana de Inverno se ouvia o som do encantador de tesouras. E a minha mãe dizia: «Vai chover: anda aí o amola tesouras e navalhas.» Lembro-me sobretudo de ele consertar chapéus de chuva, mas a minha mãe referia-se-lhe sempre como o «Amola tesouras e navalhas», com um sotaque espanholado, pois o senhor viera da Galiza há muito tempo...
Enquanto recordava tudo isto compreendi que tinha sido apenas uma vez que ouvira o som...que daquela janela raramente se ouvem os sons da rua...que em tanto tempo nesta terra nunca tinha ouvido tal som...que essa era uma recordação da terra onde eu vivi a infância e adolescência...Que eu não podia realmente ter ouvido tal som!
Compreendi então que fora apenas um eco da minha memória.
sábado, 7 de janeiro de 2017
Durante a noite
fui num tapete voador até Viena e dancei graciosamente uma valsa com um vestido branco que me realçava os ombros e o pescoço.
Acordei antes de reconhecer o par.
Acordei antes de reconhecer o par.
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