quinta-feira, 31 de maio de 2012

Ler devia ser proibido

"A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary.
O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram.
Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens.
Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlim-pim-pim, a máquina do tempo.
Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova. Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos. A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano."

Guiomar de Grammont, formada em História pela Universidade Federal de Ouro Preto.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

domingo, 27 de maio de 2012

Se calhar estou aqui há tempo demais...

Saí do café que frequento há já 20 anos, quando reparei naquele cão...parecia abandonado. De facto, nunca o tinha visto por ali e eu conheço quase todos os animais desta cidadezinha. Coitadinho do cão!

sábado, 26 de maio de 2012

Ponto Zero

"Eu tento ler-te em cada frase
Tens um mistério
Que eu não desvendo
Embora às vezes esteja quase


O teu silêncio mais parece
Um ponto final
Volto atrás, tento entender
Mas não sou capaz


Eu quero entrar no teu enredo
Mas tenho medo
De não conseguir passar
Do prefácio


Talvez me possas
Dar uma luz
Tudo o que eu peço é um sinal
Eu não quero o acesso
A todos os teus segredos
Mas só a alguns


Dá-me um indício
Mesmo contrário
"Contraditório"
Dá-me a palavra
Que eu vou procurá-la
Ao dicionário

Eu quero entrar no teu enredo
Mas tenho medo
De não conseguir passar
Do prefácio
Dá-me uma chance
É tudo o que eu quero
É muito mau
Ler um romance
Sem sair do ponto zero

Talvez me possas
Dar uma luz
Tudo o que eu peço é um sinal
Eu não quero o acesso
A todos os teus segredos
Mas só a alguns"

Letra de Carlos Tê para os Clã

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Sopro do Coração

Sim, o amor é vão
É certo e sabido
Mas então (Porque não)
Porque sopra ao ouvido
O sopro do coração
Se o amor é vão
Mera dor mero gozo
Sorvedouro caprichoso
No sopro do coração
No sopro do coração

Mas nisto o vento sopra doido
E o que foi do
Corpo no turbilhão

Sopra doido
E o que foi do
Corpo alado
Nas asas do turbilhão
Nisto já nem de ar precisas
Só meras brisas
Raras

Corto em dois limão
Chego o ouvido
Ao frescor
Ao barulho
À acidez do mergulho
No sangue do coração
Pulsar em vão
É bem dele É bem isso
E apesar disso eriça a pele
O sopro do coração
O sopro do coração

Mas nisto o vento sopra doido
E o que foi do
Corpo no turbilhão

Sopra doido
E o que foi do
Corpo alado

Nas asas do turbilhão
Nisto já nem de ar precisas
Só meras brisas
Raras

Letra de Sérgio Godinho para os Clã

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Frase

"Quem inventou o trabalho não tinha nenhum bom livro à mão."
Colhida por aí, na net.
"(…) Tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espectáculo que posso. (...)"

Bernardo Soares - colhido no blog novas cartas de marear

domingo, 20 de maio de 2012

Não me peçam razões

"Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força da maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei;
Não fiz a lei e o mundo não aceito.


Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir;
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir."

José Saramago

sábado, 19 de maio de 2012

O carteiro

"«Vesti-me da cor dos teus olhos para te desposar. Agora que eles se fecharam não tenho outra cor para me vestir senão o negro do sono eterno que enfrentas. Adeus, meu amor!»
Só compreendeu que estava a chorar quando a lágrima se esborrachou no papel, mesmo junto ao número da última página do livro.
Não percebia porque estava a chorar. Aliás, não compreendia sequer porque tinha lido aquele livro do princípioo até ao fim. Lamechas...
Releu a última frase e cairam mais lágrimas dos seus olhos, que pareciam, naquele momento, ter perdido qualquer ligação ao cérebro...
Tentou fazer um exame de consciência. Justificar-se a si própria por aquelas atitudes inadmissíveis...
Lágrimas e pensamentos depois, concluiu que estava apaixonada. Ela! Apaixonada. Sufocava a custo a indignação e a desilusão consigo própria. Uma rapariguinha tão ajuizada...como fora cair numa coisa daquelas, vulgar e incómoda?
Limpou bruscamente as lágrimas do rosto. Tinha tido sempre por lema enfrentar as vicissitudes da vida e, se lhe caíra em sorte, agora, apaixonar-se, fazer o quê? Alguma coisa para sair daquela situação ridícula e embaraçosa.
Amanhã, quando ele entrasse no café para fazer a entrega ao balcão, teria de tomar uma atitude. Provocar algo que o obrigasse a tirar o capacete e a completar com um rosto inteiro aquela ideia dos seus olhos azuis (provocadoramente azuis) que a alegravam todos os dias, pela manhã e que deviam ser os responsáveis por aquele acesso de sentimentalismo num dia feriado, sem correio."

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Prisão de Alta Segurança

“Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o vôo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o vôo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde onde as certezas moram.

É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que eles voariam se as portas estivessem abertas. A verdade é oposto. Não há carcereiros. Os homens preferem as gaiolas aos vôos. São eles mesmos que constroem as gaiolas em que se aprisionam…”

Rubem Alves, colhido em http://rubemalvesdois.wordpress.com/

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Acidente

"Saiu de casa a pensar no rumo que a vida tinha levado: a filha a estudar fora, o irmão doente, os dias algo entediantes, o aproximar da reforma...Olhou as nuvens cinzentas e sentiu-se irritado.
Engraçado como a nossa percepção das coisas vai mudando com o tempo. Tanto ansiara pela reforma e agora que ela estava à porta...
Não conseguiu evitar um sorriso amargo.
Afinal queria a reforma era quando era novo, quando ainda não tinha perdido a energia, quando tinha ganas de correr mundo, ler todos os livros e fazer as fotos mais fabulosas de todas. Essas fotos iriam ilustrar os seus livros de relatos de viagem, que se tornariam best-sellers...
Agora...agora o ritmo do trabalho repetido vezes sem conta tinha-o esmagado, afastado a energia, tinha-o tornado refém de uma rotina que receava perder.
Já não tinha vontade nem energia para correr o mundo, mas as riscas do pijama ameaçavam aprisioná-lo num resto de vida longo e penoso. Os amigos estavam velhos, já não tinha energia para fazer novas amizades, a mulher andava ensimesmada com a ausência da miúda e agreste com a perspectiva de terem de gastar dinheiro no lar do cunhado.
De alguma maneira não lhe apetecia passar o resto da vida com ela, mas...era uma espécia de pacote que tinha comprado em tempos, uma fatalidade sem data de validade...não, não queria mudar de mulher; talvez quisesse mudar a mulher; ou gostasse que a mulher não tivesse mudado...
Foi surpreendido pelo ruído do carro que se aproximava do passeio realizando uma inversão de marcha que lhe pareceu com velocidade excessiva. Olhou o carro que se dirigia a si.
A rapariga que dirigia o carro lançou para fora do vidro aberto: "Calma avôzinho. Não o vou atropelar." E sorriu abertamente.
Nesse momento ele teve a certeza que tinha sido atropelado!
Sabia de curas para acidentes de viação, mas desconhecia se estes acidentes da vida teria reparação.
Como se recuperaria de ter sido atropelado pela palavra avôzinho? Quando teria alta da condição de ansião? 
Estava ferido. Sentia-se ferido de morte pela juventude daquela rapariga que empunhava imprudentemente a lança do Tempo."

terça-feira, 15 de maio de 2012

Para que servem os poetas?

"«para que servem
Os poetas em tempo de indigência?»(1)
Pergunta ela. Respondo eu.

Na escassez do pão
Servem os poetas e o pensamento
Para alimentar a esperança
De um novo início
Afundada esperança essa
Num mar de tanta e tão profunda ignorância
Tanto futebol
Como se tivéssemos voltado
«...a deambular por florestas
Sem consoantes aos nossos nomes»(2)
Florestas agora de betão
Onde se senatm
Ou gritam em pé em lugares pagos
Milhares
Mesmo na escassez do pão
No retrocesso a berros sem consoantes
Como se a escassez dos poetas
E do pensamento
Essa sim
A esta terceira miséria
Que a poeta tão bem
Canta e conta
Como um banquete
Em tempo de indigência."


(1) Hélia Correia
(2)WH Auden

Maria de Sousa, a partir de um poema de Hélia Correia
publicado em JL, nº1085

domingo, 13 de maio de 2012

Hoje o texto não é meu

É do Alexandre Borges, um dos autores do blogue Sinusite Crónica.
Domingo de berber café em casa, recordou-me este excelente texto, que aqui partilho com os passantes de um domingo caseiro, tenham ou não máquima de café:

"Casei com a Nexpresso já lá vão uns anos. Não façam perguntas íntimas. Posso apenas dizer que, de início, a ignorei. Era demasiado óbvia. Desejada por todos, popular, fashion – coisa, enfim, doutro campeonato. Depois, sucumbi. Ela foi lá para casa e os primeiros tempos foram de arrebatamento: não era só o sabor, a elegância, a perfeição; era sobretudo o dar muito menos trabalho do que todas as outras (põe pastilha, tira pastilha, passa o depósito por água e já está). Ao fim dum ano ou dois, veio a rotina. Sabia tudo ao mesmo. Comecei a cansar-me do aroma. No fundo, elas (as cápsulas) eram todas iguais. Por fim, como um homenzinho, pus a mão na consciência. Vi que também eu não tinha sempre agido bem (umas bicas por fora, aqui e ali… Enfim, um cafeinómano não é de pau). Comprei o pacote de descalcificação, li as instruções, conduzi o processo. Hoje, temos uma relação adulta. Passado o deslumbre, ficou a confiança. Estamos lá um para o outro.
Dirá o leitor: “mas é só café”. Não, meu amigo. Não é só café. Quem quer que tenha vivido o privilégio de receber em casa a comunicação epistolar da Nexpresso sabe do que falo. É literatura. E assume duas formas: os catálogos (epopeias de aventura) e as cartas (poesia lírica). No primeiro caso, estes júlios vernes da cafetaria deixam-nos de respiração suspensa com empolgantes relatos que nos apresentam ao trágico passado daquelas pobres cápsulas. Cada um daqueles inocentes cafezinhos foi plantado por eunucos nos melhores solos da Colômbia; seleccionado por druidas celtas e monges tibetanos; colhido por virgens no solstício de Verão, salvo de ursos em fúria e tribos índias em polvorosa, transportado através do mundo por anões ao pé coxinho e empacotado enquanto o coro do São Carlos entoava árias de Puccini. Tudo, asseguram-nos, para que desfrutemos da plenitude do seu sabor.
No segundo caso, a coberto da assinatura dum pretenso “Club Manager”, poetas de génio escrevem-nos comoventes epístolas que preparam o terreno para a experiência mística que nos aguarda.
Reza assim a última carta a propósito do Grand Cru Dulsão do Brasil: “O seu corpo mais equilibrado e a suavidade infinita da sua essência (“suavidade infinita da sua essência”, por trinta e poucos cêntimos a cápsula, hã?) revelar-se-ão (repare no tom profético do tempo verbal, remetendo-nos para uma dimensão astral) nas suas experiências de degustação” (fino equilíbrio entre ciência e erotismo). Já o Grand Cru Livanto, garantem, é “mais subtil do que aparenta”, o sonso – são os piores. Ambos, a par do Volluto, “suaves e encorpados com personalidades surpreendentes”. Universitárias meigas e massagistas peludas dos classificados, ponham-me os olhos nisto.
Por fim, remata o estilista escondido atrás do óbvio pseudínimo “Teresa T. Magalhães”, o êxtase lírico: “Sublime as suas experiências de degustação com os nossos capuccinos” (ler aqui “sublime” como eufemismo de “enfarte”, consequência lógica de beber uns capuccinos depois de três cafés de pancada). “A cremosidade do leite equilibra os aromas e suaviza a sua plenitude, transportando-o(a)” (sublinhe-se a lânguida ambiguidade sexual) “para” – atenção, caro leitor – “um turbilhão de indulgência”.
F*da-se. Um turbilhão de indulgência.
Um Delta faz isto, por acaso? Um Torrié?
Não brinquem comigo.
Quando quero um café, vou à rua. Nexpresso é Buda. E Samantha Fox. E Pessoa. Tudo junto. E não necessariamente por esta ordem."

sábado, 12 de maio de 2012

"Enquanto os leões não escreverem os seus próprios livros de História, só saberemos das caçadas as  histórias dos caçadores."
Ouvi qualquer coisa assim parecida na publicidade ao novo livro de Mia Couto e procurei na net.


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Sem título mas com fundamento

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis para discutir assuntos inúteis que não levam a nada.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturas.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…
Quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absoluto, nunca será perda de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena.
Basta o essencial!

Rubem Alves

Diálogo

"-Bem, temos de voltar ao assunto da aula...nem sei como viemos aqui parar...as conversas são como as cerejas.
- Professora: porque é que se diz isso?
- O quê?
- Que as conversas são como as cerejas.
- Ah, porque nunca se come só uma.
- Às vezes come.
- Não, não come. Tu consegues comer só uma cereja?
Acenou afirmativamente e esclareceu: - Se for a última."

quarta-feira, 9 de maio de 2012

As Cadeiras

"À aula de
quarta-feira assistiram 13 alunos e
27 cadeiras. Em resumo: a sala cheia.
Quando a
lição terminou os 13 alunos partiram e
acto contínuo contei 20 casais de cadeiras.
Às aulas que tenho dado nunca faltam
as cadeiras
ficam a ouvir-me atentas
(as costas muito direitas).
É bom de ver que as cadeiras entendem
tudo à primeira
parecem ser mais maduras (mais
pés
assentes na terra)."

Botox®

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Estranho Estendal

As coisas tiradas do contexto podem ser alvo de interpretações estranhas, talvez demasiado livres.
Por isso o meu estendal devia ter hoje uma nota explicativa que contextualizasse a necessidade de lavar um fato de monge cisterciense por causa de uma visita de estudo com animação realizada com muita chuva, com o aproveitamento que fiz do tambor da máquina para lavar também alguma lingerie.
Mesmo depois de explicado...há algo de estranho na convivência lado a lado dos soutiens da Triumph com o alvo hábito que remete para ambientes masculinos austeros..

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Ricardo Araújo Pereira (2)

A propósito do post anterior recebi este vídeo por aí ser referida a "escrivaninha". Mas o pior é que eu atendo o telefone a dizer "'tou, 'tou". Que vergonha!

http://youtu.be/f3-jInlfBLc

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ricardo Araújo Pereira

Tem mais do que um programa diário e consegue comentar a atualiadde de uma forma muito inteligente e mordaz.
Duvido que muita gente que ouve os programas dele realmente os perceba...
Ele é genial!
Esta efusividade advém do facto de hoje de manhã a Mixórdia de Temáticas me ter feito rir até às lágrimas. Verdadeiramente.
A personagem criada testemunhava na primeira pessoa a ida ao Pingo Doce no dia 1º de Maio. Os pormenores...não, não são pormenores, os requintes da decoração barroca da descrição incluem pérolas como "O aparelhinho que apita quando a menina lá esfrega as compras até estava assado."
Pronto. Só ele, para me fazer outra vez orgulhar de produtos deste país: como ele.

terça-feira, 1 de maio de 2012

1º de Maio - Memórias Preventivas

As mudanças nem sempre são bruscas, por vezes vão surgindo progressivamente...tão lentamente que nós, frequentemente absorvidos nos problemas quotidianos, não damos importância.
A Companhia Fiação e Tecidos de Alcobaça, fundada em 1875, tinha uma forte tradição de festejar o Dia do Trabalhador, noticiada sempre pela imprensa com o devido destaque e carinho.
Em 1931, com o regime a avançar para a institucionalização do poder totalitário, a festa existiu, mas...com mudanças significativas. Noticiava a imprensa: "Para que nenhum operário deixasse de prestar homenagem à sua Direcção, informam-nos que foi dada ordem para que todos comparecessem nas suas secções nas quais permaneceram durante uma ou duas horas.”(Ecos do Alcoa, nº74, 9/5/1931)