terça-feira, 22 de julho de 2014

As caixas negras são cor de laranja?

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Último dia de trabalho de um ano longo, sofrido, arrastado, sombrio.
Na Escola quase vazia instalei-me numa mesa ampla, separei as folhas por grupos e preparei-me para ir recebendo os Encarregados de Educação que por lá foram passando durante a manhã a levantar as notas, a comentar os exames, a despedir-se da Diretora de Turma de 3 anos.
Estávamos todos muito contentes: os meninos cresceram tanto!
Estávamos todos um pouco receosos: como irão enfrentar a próxima etapa?
Estávamos todos um pouco tristes: Já estávamos habituados uns aos outros...será que os próximos Encarregados de Educação e o próximo Diretor de Turma serão melhores ou piores?
Alguma coisa acabava ali. Alguma coisa que nos tinha unido durante três anos.
Sim: todos os meninos que acompanhei nestes anos estão passados e encaminhados na vida.
Vozes embargadas e espreita uma emoção líquida algures.
Já não devia ser assim, penso. Já faço isto há tantos anos.
Depois ficaram os papeis. As cópias dos que vieram, os originais e cópias dos que não puderam por cá passar hoje.
O dossier e o cacifo têm de ser limpos, preparados para receber o próximo ano, a próxima leva, as próximas fornadas.
Ecoava ainda no ar a frase que eu mais gosto de dizer à maior parte dos Encarregados de Educação: "Foi um privilégio ser professora do seu filho".
Na maior parte dos casos consigo aplicá-la com toda a propriedade.
Para os outros algo de mais suave: "Continuo por aqui se for preciso alguma coisa. Um beijinho ao menino ou menina."
 máquina trituradora de papel ajudou-me a terminar a limpeza: tanto papel acumulamos. Os rascunhos são agora todos destruídos. Os originais arquivados.
Sinto-me uma criminosa a destruir provas.
Penso com saudade nas nossas aulas.
De certa maneira até sou uma criminosa. Num tempo tão desumanizado, tão economicista, eu insisto em ter prazer em ensinar, em perder tempo a falar com eles ou a ficar em silêncio a vê-los crescer. Sou culpada, sim. Tenho medo de um dia me deixar absolver pelo sistema. Absolver, sim. Enquanto ele me considerar culpada é porque não me engoliu.
Deixo correr uma lágrima.
Estou sozinha...
Tão sozinha quando as salas de aula ficam vazias. Os corredores da escola se agigantam e não há ninguém para mandar calar, nenhum barulho para lamentar a ausência de silêncio.
Todos os anos recordo a frase: Uma escola sem alunos é um navio fantasma.
Chovem as orientações para o próximo ano, já me enviaram o calendário escolar para 2014/15.
Quero lá saber!
Chegando a casa abro a página de Facebook e adiciono-os todos como amigos. Agora já não tenho que lhes repreender nada. Agora quero viver dos rendimentos, desta nossa amizade construída de muitos ralhetes e muitos conselhos de três anos.
Agora vou somar amigos e gozar férias!

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Quando encontro alguém sábio e humilde (talvez esta expressão seja até um pleonasmo) disposto a ensinar-me alguma coisa é um fascínio. Um fascínio mesmo!
Gosto de pessoas mais velhas pela experiência e calma que transmitem, pelo muito que sabem ensinar, pela consciência que têm da sua importância na transmissão do saber.
Os que têm...
Aumenta então o fascínio quando encontro pessoas destas, que saem da mediocridade geral, que se deslocam de uma artificial centração nos afazeres do dia-a-dia e se sentam comigo, a conversar, a ensinar, a partilhar, a passar o conhecimento, a ajudar-me a crescer.
Hoje foi uma manhã assim: fascinante!