segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Doi-me o Mundo

A Revista do MINOM (Movimento Internacional para a Nova Museologia) deste mês traz imagens e palavras de amigos museólogos que faleceram recentemente.
Olho para as fotos deles. Recordo momentos com eles, com dois deles, mais concretamente: um orientou-me um estágio no estrangeiro e ensinou-me muitas coisas úteis para a vida, outro foi  meu professor e acreditou em mim a ponto de me encorajar a apresentar um trabalho em público.
Devo-lhes muito. Felizmente tive oportunidade de agradecer a ambos o tanto que me marcaram.
Em frases simples, com ensinamentos profundos, como um dia que eu me queixava de uma autoridade abusiva de alguém que tutelava o meu trabalho e o Professor me disse, assim, tão singelamente: "As pessoas esquecem-se frequentemente que autoridade vem de autor: para se ter autoridade tem de se ser autor."
Sorrio sempre que cruzo autoridades sem autoria de nada. Acho que recebi em herança este sorriso, este segredo que guardo comigo de saber que aquela autoridade é ilegítima, porque não baseada numa autoria.
Sou herdeira de homens que pensaram e se exprimiram assim:
"A utopia é o lugar em que a humanidade atingiu a felicidade plena pela satisfação em condições de dignidade das instâncias sociais, económicas, políticas e culturais. Aí é que é o fim do nosso caminho! Nesse dia já não precisaremos de Museus. Nem dos outros instrumentos sociais que concorrem para a realização plena do Homem pluridimensional. Até lá vamos caminhando!" (Alfredo Tinoco, in XVII Jornadas sobre a Função Social do Museu, 2006 (Excerto)
Este é apenas um excerto de um conjunto de palavras que eram sempre lições, inspirações, lideranças de caminhadas. Utopias? Quem consegue negar a sua necessidade no avanço da Humanidade?
Talvez sejam elas que fazem falta por aí, por aqui, sobretudo.
Sinto-me herdeira de homens assim e olhando em volta doi-me o mundo, ou melhor, doo-me do mundo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Lamúria

Agora que recomeçou a chuva penso por vezes naquela anedota do alentejano que é o único passageiro de um autocarro e chove no lugar em que está sentado.
Quando o motorista lhe diz: Oh homem! Porque é que não troca de lugar, ele responde que "Nã tem com quem".

Amanhã volto à Escola e penso que gostava de poder trocar opiniões com outras pessoas, mas...

domingo, 21 de outubro de 2012

Amanhã volto a estar rodeada de pessoas

"Uma dessas figuras a que, em Angola, é costume chamar «fronteiras perdidas», porque à luz do sol parecem brancos, e na penumbra se revelam, afinal, amulatados   - de onde se conclui que, por vezes, as pessoas se conhecem melhor longe da luz."

José Eduardo Agualusa, Teoria Geral do Esquecimento, p. 179

Tragédia

Morreu Manuel António Pina, na sexta-feira.
Chorei.
Li e chorei.
O poeta a quem o semanário Sol chama "O Gato da Poesia" não vai mais criar palavras para as nossas vidas.
A morte de um Poeta, num tempo de crise como o nosso, é um drama de grandes dimensões, Numa época em que não se está a aprender a pensar, os que o sabiam fazer de forma natural, ajudavam-nos a sobreviver com a sua forma de ver o mundo: em poesia, em prosa, em imagens, mas sempre numa outra forma diferente da que nos entra diariamente pela casa dentro e nos aprisiona no sofá perante o medo do fim iminente e a nossa culpa na contribuição para esse fim e a nossa impotência perante a sua chegada.
Pensar tornou-se um luxo, uma ociosidade nos tempos que correm, capitalistas. Sobrecarregam-nos os horários e as funções para que não tenhamos tempo de ver e refletir na forma como nos esvaziam os ordenados, as atividades, as vidas...
Os Poetas - só os Poetas - nos podem ajudar, nos podem iluminar caminhos, dar esperança.
Morreu um Poeta. A Esperança fica mais difícil.


A Poesia vai acabar

A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
— Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? —

Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde"

Estão a ver onde quero chegar?

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Ou para apedrejarmos a crise...


"POEMA PARA HABITAR

A casa desabitada que nós somos
pede que a venham habitar,
...que lhe abram as portas e as janelas
e deixem passear o vento pelos corredores.
Que lhe limpem os vidros da alma
e ponham a flutuar as cortinas do sangue
– até que uma aurora simples nos visite
com o seu corpo de sol desgrenhado e quente.
Até que uma flor de incêndio rompa
o solo das lágrimas carbonizadas e férteis.
Até que as palavras de pedra que arrancamos da língua
sejam aproveitadas para apedrejarmos a morte."  

Albano Martins
Há uma grande diferença entre um chefe e um líder: o primeiro manda, o segundo motiva, congregando vontades e energias em torno das suas ideias.

Para mim a qualidade de um dirigente mede-se pela capacidade de assumir erros, pela humildade demonstrada e pela capacidade de aprender com outros, que se tornam, assim, parte de uma equipa.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

GPS

"E os instrumentos de navegação astronómica permitiam calcular a localização a partir dos astros. No fundo...foram os antepassados do GPS.
Eu prefiro o outro sistema - disse o aluno, provavelmento o melhor da turma.
Qual outro? - interroguei
O AJP.
AJP?
Abrir a Janela e perguntar."

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Mais um microconto

"Desde que ela para ali fora trabalhar que era evidente a cumplicidade entre ambos. Cedo começaram a trocar olhares e palavras doces. Naquela tarde de Abril, numa reunião a dois, trocaram os primeiros beijos. Apesar de tudo ter acontecido durante o expediente, para ambos, foram horas extraordinárias."
colhido em https://www.facebook.com/#!/microcontos?fref=ts

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Prece

Museu Nacional do Azulejo

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Pouco a pouco tudo volta ao lugar.
Mas a Fé está muito abalada.
Procuro uma explicação, exijo uma explicação...
E não me digam que a minha fé se abala com pouca coisa, que ver um grupo de jovens, trajados a rigor académico (que normalmente associamos a tunas, festas e alegria e loucura por demais) a carregar o caixão de um colega, que morreu, assim, sem um motivo que se veja, não é pouca coisa.
É muita coisa.
É uma coisa sem explicação.
São linhas tortas demais...para que haja direito.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Morte

A morte está no fim da vida.
Nunca nos conformamos com a perda dos que nos são próximos porque queridos, mas, a partir de certa altura, inevitavelmente, quando as pessoas entram na velhice (seja isso o que for) pensamos "qualquer dia ficamos sem ele..." E um dia ficamos e doi muito, mas, de certa forma, era algo que esperávamos, temíamos, antecipávamos.
Em situações potencialmente perigosas - uma doença, uma viagem de avião... - rezamos, pedimos, tememos.
Mas, que dizer, de uma morte que chega, estúpida, abrupta, sem apelo, numa vida de promessas, sorriso jovem, hábitos saudáveis, pele lisa, a vida pela frente? Como encarar esta traição? Esta não-situação, porque não se concebe, nega-se, não pode mesmo acontecer...é quase impossível de acreditar, creio que será impossível de aceitar...
Durante todo o dia me tenho defrontado com a estupidez da ausência de "alguém" ou "algo" a quem culpar! Não há uma hipótese de lógica em tudo isto.
Uma vida ceifada aos 24 anos acabados de fazer, num jovem de simpatia e comportamento irrepeensível, daqueles de quem dissémos: Este vai longe!
Que explicação pode haver para isto?
Será que lá por cima alguém joga uma roleta russa com as nossas vidas?

Este será, penso, a quarta perda entre os jovens a quem anuncio e entrego o futuro todos os dias.
Como estará esta família nesta noite?