sexta-feira, 31 de julho de 2009

O Hábito faz o Monge; Andar Nu poderá até ser considerado um Mau Hábito

"A roupa faz o homem. Pessoas nuas têm pouca ou nenhuma influência sobre a sociedade."

Mark Twain

Por aqui é Primavera

Por estas alturas a terra que me acolheu ganha uma dinâmica muito própria e uma atmosfera cosmopolita.
Para além das excursões organizadas, que durante todo o ano vão passando e quase não param, agora há muita gente dispersa a circular. As matrículas dos carros denunciam diferentes origens, as sonoridades evocam países distantes, de origem ou de longas permanências. São comuns as frases começadas em português com um pequeno sotaque adquirido em anos de emigração ou as conversas bilingues; que os nossos emigrantes costumam trazer os autóctones que os acolheram para conhecer as maravilhas do país a que sempre sonham retornar na reforma.
Do nosso ponto de observação, na esplanada habitual, a geografia das gentes que povoa o espaço ao redor do monumento é completamente diferente no Verão. Durante todo o ano existem grupos que caminham ordeiramente atrás do guia junto à parede do monumento, que normalmente só tiram fotos depois da visita e que retornam em fila indiana para o seu autocarro. Agora, existem pequenos grupos espalhados pelo terreiro, em pose para as fotos, em admiração de diferentes perspectivas, a olhar à volta a seu bel-prazer, sem a direcção turística de uma qualquer agência comercial.
Entram nos cafés, esforçam-se por dizer o nome dos bolos, vão ao correio comprar selos, enviam postais ilustrados, entram no lugar da fruta e apreciam os produtos da região.
Sentem, respiram, circulam pela terra, que é só nossa durante o Inverno, mas que se renova no Verão.
Para o património que eu idolatro todo o ano, o Verão é a Primavera, o tempo em que tudo se renova por aqui, o tempo em que o Mosteiro volta a ser o espaço de encontro de culturas que sempre foi. E de reflexão. E de convite a uma religiosidade que pode até nem ser necessariamene católica, mas que nos faz «ajoelhar mentalmente» perante tal realização da Fé - Património da Humanidade, de direito e de facto.
Como pequeninos insectos os turistas espalham-se pelo terreiro. Alguns falam francês, como os primeiros monges que apostaram no desenvolvimento deste território.
Semicerro os olhos e juro que vejo o Mosteiro sorrir, os sinos como olhos a contemplar o espanto que hoje, ainda e sempre vai causando.
É a minha terra no Verão, a renovar-se para a austeridade monástica do Inverno.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Ser turista em Lisboa

Olhar o Tejo, lambendo um gelado.
Subir as escadinhas para o Museu de Arte Antiga. Portugal no Mundo? Claro! Que bela exposição. Algumas das joias eu já conhecia «ao vivo», outras dos livros de História. E que emoção ver (ali, ao pé de mim!) o planisfério desenhado segundo os dados de Ptolomeu, que tantas vezes me serve de pretexto para falar da «Aventura da Expansão Portuguesa» (e espanhola também, vá...)
A emoção do contacto com as peças autênticas! Fez-me lembrar a «XVII Exposição de Arte Ciência e Cultura» - outra aventura em Lisboa: visitei pela primeira vez a Casa dos Bicos, aprendi o que era um holograma, vi pinturas, ourivesaria, marfins...mas o que mais me encantou foram as cartas náuticas, os mapas "ilustrados" que estão quase todos em museus estrangeiros. Grande exposição essa. Grande mergulho na História. Grande injecção de orgulho pátrio...ou não...muitas dúvidas e muito maravilhamento. Já foi há tanto tempo!...Ainda nem tinha entrado para a Faculdade!
Até disso hoje falámos, neste dia «tagarelento» sem assunto nem tempo definido para a conversa. Quando entrámos para a Universidade!...Para mim foi um momento muito, muito especial!
Subir o elevador de Santa Justa, pela tarde...Tantos anos em Lisboa e só hoje o consegui fazer! "E os arcobotantes do Carmo aqui tão perto"..."Olha a rua do Carmo!"
"Há quanto tempo já ardeu o Chiado?..."
"O Castelo...as cores...os telhados...A LUZ DE LISBOA!"
O deslumbramento era total.
A única diferença entre nós e os verdadeiros turistas era a máquina fotográfica. Que todos nos esquecemos de levar. Afinal íamos só a Lisboa...

"No castelo, ponho um cotovelo
Em Alfama, descanso o olhar
E assim desfaz-se o novelo
De azul e mar
À ribeira, encosto a cabeça
A almofada, na cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
Na cambraia de um beijo"


Lisboa Menina e Moça, composição de Ary dos Santos e Paulo de Carvalho para a voz de Carlos do Carmo

ou de todos os que lhes apeteça cantar...sempre com a emoção que Lisboa merece.

domingo, 26 de julho de 2009

Os Domingos deles

Seguindo um hábito que se vai arreigando - quem me havia de dizer tudo o que este blogue me havia de trazer!... - lá fui à procura de umas «palavras de outros» para ilustrar o domingo, ou as dúvidas sobre a Fé, que, como já expliquei, por vezes o s Domingos também me trazem.



"Bati com o pé no deserto

e não nasceu uma fonte...



Toquei numa rocha

e não se cobriu de açucenas...



Beijei uma árvore

e o enforvado não ressuscitou...



Amaldiçoei a paisagem

e não secaram as raízes...



Digam-me lá: para que diabo serve ser poeta?

(Os santos são mais felizes.)"



José Gomes Ferreira, Café XXII



"O milagre não é dar vida ao corpo extinto

ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...

Nem mudar água pura em vinho tinto...

Milagre é acreditarem nisso tudo!"

Mário Quintana

Atmosfera de Domingo

Começar o dia na esplanada, com os amigos, a beneficiar do sol, da companhia e de um "dolce far niente" que nos faz sorrir assim.
Tocam os sinos, em chamamento. Alvoroço na turma.
- Tenho de ir...Não gosto de ficar na missa cá atrás.
- Porquê? O Deus Nosso Senhor não está em todo o lado?
- Sim, mas o Padre não e eu não o ouço. Gosto de ficar à frente. Vamos indo.
- Eu já lá vou ter. Não faço questão de ficar à frente. Vou terminar o café.
Ficou a companhia diminuída. Houve uma triagem pelo grau de cristianidade. Ou, mais exactamente, pelo grau de militância, que a Fé não se mede pelas práticas. Pelo menos eu acho assim...Encalhei nos argumentos de Lutero e acho-lhes tino: Fazer boas obras nem sempre é sinónimo de Fé. Pode até ser de ostentação...A Fé só Deus sabe se a temos...Diria hoje Lutero, com vocabulário moderno - Quantas das práticas exibidas são apenas «show-off»!...
A conversa vai esmorecendo. Mais uns que se dispersam...Por fim ficamos só dois: - Bem...
- Melhor irmos indo também...
Arrastando os passso e a conversa até à porta onde nos separamos...que o domingo é isso mesmo. Dedicarmo-nos ao que é importante; àquilo em que vamos tendo Fé, tendo provas de Existência: Deus, os Amigos, a Solidariedade, um Sorriso, uma Companhia.
No fundo, trata-se tudo do mesmo: dos suportes de vida que vamos encontrando, daquilo que nos faz caminhar com segurança, de quem sentimos que nos ampara, neste mundo e no outro.
Dúvidas e hesitações todos vamos tendo: de uma resposta torta que nos faz duvidar da Amizade, de um comentário maldoso, que nos faz duvidar da Sinceridade da companhia, de uma morte (tão nova!) que nos faz duvidar de uma Justiça Divina...
Quem não tem dúvidas? Quem não tem necessidade de repensar a sua Fé em tudo o que lhe suporta a Vida, de vez em quando?...
Talvez a atmosfera do Domingo seja especialmente propícia a este tipo de reflexões.

sábado, 25 de julho de 2009

Popular e Alentejano

Quente, mas leve, como tudo em mim, neste sábado, que serve de separador entre etapas, de uma empreitada, cujo tempo se vai escoando no cumprimento do caderno de encargos.

"Tinta Verde dos teus olhos
escreve torto no meu peito
Amores tenho eu aos molhos
se pró teu me faltar jeito
Amores tenho eu aos molhos
se pró teu me faltar jeito
Tinta verde dos teus olhos
escreve torto no meu peito"


Vitorino (lembram-se?)

"Passei à tua porta, vi raminhos d'hortelã;
Queres casar comigo, hã?"


Contada numa mesa de café, entre amigos, por este país afora...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Por fim

lá coube tudo.
Mais uma etapa...
Agora é arrumar os papeis e delinear a estratégia para cumprir a etapa seguinte.
Mas, pelo meio, respirar um bocadinho...

Informou-me uma sobrinha minha que desapareceram da praia as Bolas da Nívea!
E parece que ninguém faz nada!
Faziam parte de todo um património estival da nossa infância e juventude (pronto, e da idade adulta também) de encontros marcados «junto à Bola da Nívea», numa praia perto de si.
Que julgam estas modernas criaturas? Que o facto de terem telemóveis para marcar encontros lhes dá o direito de suprimirem os ícones de tempos anteriores?
Pois espero que, a quem pensa assim, aconteça o telemovelzinho levar um banho de mar, ficar a fritar em sal e afónico. Depois quero ver como se desenrascam...

Talvez tenha tempo este fim de semana para ver se as Bolas da Nívea subsistem nas praias do Oeste. Ou pelo menos as Bolas de Berlim...
"- Pastelinhos de bacalhau não há...
- Então, dois copinhos de Aldeia Nova!"

Aposto que a malta do telemóvel não pescou nada desta piada! Esta é nossa! Como as Bolas da Nívea! Ah!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Oração

Esperguicei-me devagarinho...estendi o braços fora do lençol e ouvi aquele som tão característico...para cima e para baixo, para um lado e para o outro.
Comecei a sorrir.- Não sabia que ainda havia amoladores!...Será que ainda têm trabalho?...Não sei como se chama aquilo que tocam, mas quando era pequenina diziam que anunciava a chuva.
Mas hoje...hoje, celebrava o dia a tirar o impermeável depois das chuvadas da noite.
Os pássaros cantavam muito, muito, e eu comecei a imaginá-los a espanejarem-se sobre as folhas das árvores, cheias de gotinhas...
O dia correu bem, tão bem, que agora, na hora de deitar, me lembrei do meu esperguiçar da manhã...que eu queria que fosse todos os dias assim.

Ontem, quando atirei com os ossos para cima da cama, vencida pelo cansaço, lembro-me de ter pensado "Que se lixe!"
Hoje, de manhã, perante aquele hino da Natureza, o som meio recordado do amolador (não sei como se chama o instrumento que ele toca) e o sentir-me bem...pensei que ontem deveria ter tido como último pensamento da noite algo mais cristão, mais bonito, mais...sei lá...
Vou corrigir agora: Até amanhã se Deus quiser!

Ai! 'Tou Farta Disto Tudo!

"Os ais de todos os dias
os ais de todas as noites
ais do fado e do folclore
o ai do ó ai ó linda
(...)
Os ais do rico e do pobre
ai o espinho da rosa
os ais do António Nobre
ais do peito e da poesia
e os ais doutras coisas mais
ai a dor que tenho aqui
ai o gajo também é
ai a vida que tu levas
ai tu não faças asneiras
ai mulher és o demónio
ai que terrível tragédia
ai a culpa é do António
(...)
Ai que vontade de rir

E os ais de D. Dinis
ai Deus e u é

Triste de quem der um ai
sem achar eco em ninguém

Os ais da vida e da morte
ai os ais deste país."

Mendes de Carvalho, Cantiga dos Ais

Trabalhando como a Formiga, mas ansiando por ser Cigarra!

"Era uma vez
Uma fábula famosa,
Alimentícia
E moralizadora,
Que, em verso e prosa,
Toda a gente
Inteligente,
Prudente
E sabedora
Repetia
Aos filhos,
Aos netos
E aos bisnetos.
À base de uns insectos,
De que não vale a pena fixar o nome,
A fábula garantia
Que quem cantava
Morria de fome.
E, realmente...
Simplesmente,
Enquanto a fábula contava,
Um demónio secreto segredava
Ao ouvido secreto
De cada criatura
Que quem não cantava
Morria de fartura."

Miguel Torga, Fábula da fábula

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Bateram à porta, com força.

Abri. Eras tu, vestido de polícia.
- Vim-te prender - disseste
- Mas tu não és polícia...
- Como nunca mais te quero perder vim algemar os nossos corações um ao outro!
Comecei a recuar até sair do Sonho e ficar de pé na Realidade.
- Que estupidez! - pensei - Será que andam a adicionar substâncias alucinogéneas nos iogurtes da Mimosa?

A cair da tripeça

É mais ou menos como eu me sinto, depois de ler e reler, escrever e reeescrever o mesmo texto, que me sobra em páginas pelo definido para o trabalho...a entregar...hoje...não, ontem...já não foi...tenho de reduzir... talvez amanhã...o tempo escasseia...
Porque hei-de ser tão palavrosa?
Para guardadora de palavras podia guardar algumas e não atirar com todas elas para o texto, mais esta, e aquela...ficam tão bem juntas...
Vaidosa de escrever, arrebico-me em estilos inúteis para o carácter do trabalho.
E ainda sobra...
Acho que vou dormir...
Não sei se consigo dormir. Vou sonhar com o trabalho que sobra em palavras para o estipulado.
Se ao menos não fosse tão vaidosa e tão ciosa com a minha escrita. Contava palavras, cortava no estilo, deitava fora três ou quatro citações...
Não sou capaz.
Cortar palavras é demais para mim.
Detesto espartilhos, não me deixam respirar!
- Mas sabes que tem de haver limites!
- Claro que tem de haver limites. Escrevi 27 páginas porque o limite era de 20. A professora sabia o que fazia! Se o limite fosse 50, estava eu a tentar reduzir as 72.
Valha-me Deus! Que mania de escrever!
E nem me sobrou tempo para aprender a andar nos sapatos de salto-agulha que tem a minha gerente de conta no banco. Isso é que era! Mulher imponente, faz virar cabeças!
Na próxima incarnação vou ser bonita desde pequenina e aprender a andar em sapatos de salto-agulha e talvez não tenha problemas para arrumar palavras... Resolve-se tudo com um sorriso de sapatos de salto-agulha. Aquela mulher nem precisa de falar! Sorri de cima dos sapatos e sabe-se que vai conseguir o que quer.
Valha-me Deus! O que é que eu faço ao texto?...E ainda por cima com sapatos rasos!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Saber nesperar, se calhar não é uma virtude...

"Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia


Chegou a Velha
e disse
«olha uma nêspera»
e zás! comeu-a.

É o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece"

Mário-Henrique Leiria

Retirado de Flagrante Delícia, onde existem, a propósito, receitas culinárias com nêsperas

Impossível não recordar Mário Viegas e estas palavras ditas!

Ociosidade Estival

"Que vergonha, rapazes! Nós pràqui,
caídos na cerveja ou no uísque,
a enrolar a conversa no «diz que»
e a desnalgar a fêmea («Vist'? Viii!»).

Que miséria, meus filhos! Tão sem jeito
é esta videirunha à portuguesa,
que às vezes me soergo no meu leito
e vejo entrar a quarta invasão francesa.

Desejo recalcado, com certeza...
Mas logo desço à rua, encontro o Roque
(«O Roque abre-lhe a porta, nunca toque!»)
e desabafo: - Ó Roque, com franqueza:

Você nunca quis ver outros países?
- Bem queria, Sr. O'Neill! E...as varizes?"


Alexandre O'Neill, Que vergonha, rapazes!

domingo, 19 de julho de 2009

Domingo de Praia

"Raça de marinheiros que outra coisa vos chamar
senhoras que com tanta dignidade
à hora que o calor mais apertar
coroadas de graça e majestade
entrais pela água dentro e fazeis chichi no mar?"


Ruy Belo, Na Praia

Insistindo no tema asinino

que me parece adequado à "silly season", sobretudo quando esta se conjuga com uma ténue campanha eleitoral, que certamente irá prejudicar as férias de muitos praças da nossa política, - ai, perdão, - de muitos políticos da nossa praça.

Estando pois a pensar no tema - desta vez não na morte da bezerra, mas na vivacidade do jumento - recuperei da minha memória a história do Burro Adalberto, cantada pelo Carlos Mendes.
Tentativa de investigação rápida na net, algumas menções, mas nada da letra.
Eis senão quando (expressão que sempre me sabe a desfechos gloriosos de histórias contadas pela minha mãe) me lembro que eu tenho um CD com o Burro Adalberto.

E que maravilha, voltar a ouvir, repetidamente, o Só Nós Três, gravado ao vivo, com excelentes interpretações de Carlos Mendes, Paulo de Carvalho e Fernando Tordo. Dos Sheiks, às músicas do Max, do Fado Falado a Alcácer Quibir...tantas, tantas recordações.

E o Burro Adalberto, que aqui fica, copiado de ouvido e sem saber o autor.
Alguém sabe? É o próprio Carlos Mendes? Agradece-se um esclarecimento.

O Burro Adalberto

"Era um burro nada burro
E senhor do seu nariz
Cantava no Coliseu
Cantava no Coliseu
E também no São Luiz

Sempre que ia cantar
Tinha grandes ovações
Porque ele em vez de zurrar
Porque ele em vez de zurrar
Cantava lindas canções

Refrão:
Eu não zurro, eu não zurro
I-ó, I-ó
Porque isso é próprio do burro
Eu não zurro, eu não zurro
Lá, lá, lá,lá lá
Porque isso é próprio do burro


Começava a cantoria
Deste bicho inteligente
E um dia na galeria
E um dia na galeria
Esteve o Senhor Presidente

E disse: “Senhor Ministro,
Este burro é o maior.
Não dá coices a ninguém
Não dá coices a ninguém
Só canta canções de amor”

Refrão

Quando acabou o concerto
O burro estava cansado
Mas já sabia decerto
Mas já sabia decerto
Que ia ser condecorado

E o Ministro da Parvónia
Atribuiu-lhe a medalha
No final da cerimónia
No final da cerimónia
Lá, lá,lá, lá, lá
Deu-lhe dois fardos de palha!
Dois fardos de palha!"


E a voz do Senhor Presidente?...Nem é preciso comentar...Ou talvez seja caso para dizer "Para bom entendedor, meio-burro basta!"

sábado, 18 de julho de 2009

Pensamentos nada burros

"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer,
é porque um dos dois é burro"

Mário Quintana

"Nada há de mais insuportável
do que um burro que pensa"

Georges Najjar Jr.

"Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência!"

António Aleixo

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Há frases que deviam ser gritadas, para ver se alguém ouve

"A televisão consegue mesmo transformar em vedetas nacionais pessoas que nem no seu bairro era conhecidas. Entretanto, de cada vez que um velho morre numa aldeia de província é como se ardesse um biblioteca, pois leva com ele centenas de histórias ou mesmo de versos que ninguém passou ao papel, muito menos ele, por ser analfabeto."

José Jorge Letria, A Globalização Explicada aos Jovens...e aos Outros, p. 51

Fados com presença divina

"Foi Deus
Que deu voz ao vento
Luz ao firmamento
E deu o azul às ondas do mar.
Foi Deus
Que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que vou desfiando e choro a cantar.
Fez poeta o rouxinol
Pôs no campo o alecrim
Deu as flores à Primavera
Ai! E deu-me esta voz a mim."


Alberto Janes, Foi Deus, para a voz de Amália
inserido no CD Amália Hoje, nas vozs de Paulo Praça e Sónia Tavares

"Silêncio de paz divina
Sente-se o tempo parado
Até a gente imagina
Que Deus está ao nosso lado

E grito dentro de mim
Com a força do vento irado
Para que o Fado seja assim
Deus também gosta de Fado."

Rão Kyao, Deus também gosta de Fado, voz de Teresa Salgueiro, CD Fado Virado à Nascente; Trabalho dedicado à memória de Amália Rodrigues

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Flores, Amores e Juras



"Uma Flor
Uma pequena Flor
Que eu colhi
Só a pensar em Ti;
Eu bem sei
que fui longe de mais.
Também sei
Que o não farei, jamais..."

Entre Aspas

terça-feira, 14 de julho de 2009

Ruas da Poesia

"Nome de rua quieta,
Onde à noite ninguém passa,
Onde o ciúme é uma seta,
Onde o amor é uma taça.
Nome de rua secreta,
Onde à noite ninguém passa,
Onde a sombra do poeta,
De repente, nos abraça"


Nome de Rua, Alain Oulman/David Mourão Ferreira, cantado originalmente por Amália.

Uma das músicas que ganhou nova vida - esta na voz de Paulo Praça - no CD Amália Hoje, que me tem "sonorizado" os últimos dias.
Um encanto!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

As Leis da Publicidade

mudaram ou o novo anúncio do Continente, que compara preços com o Lidl, está contra as leis? Parece-me pelo menos anti-ético...Ou, serão todos da mesma família?

domingo, 12 de julho de 2009

Direito ao Coração (Perfeito)!



"Que perfeito coração
Morreria no meu peito
Meu amor na tua mão
Nessa mão onde perfeito
Bateu meu coração"


Alexandre O'Neil

Quando nos parece (re)conhecermos quem escreveu a letra de uma canção...

"Aqui estou eu,
Sou uma folha de papel vazia.
Pequenas coisas,
Pequenos pontos,
Vão-me mostrando o caminho.

Às vezes aqui faz frio.
Às vezes eu fico imóvel,
Pairando no Vazio.
As vezes aqui faz frio.

Sei que me esperas,
Não sei se vou lá chegar;
Tenho coisas p'ra fazer,
Tenho vidas para acompanhar.

Às vezes lá faz mais frio.
Às vezes eu fico imóvel,
Pairando no vazio.
No perfeito vazio,
Às vezes lá faz mais frio.

(lá fora faz tanto frio)

Bem-vindos a minha casa,
Ao meu lar mais profundo,
De onde saio por vezes
Para conquistar o mundo.

Às vezes tu tens mais frio.
Às vezes eu fico imóvel,
Pairando no vazio,
No perfeito vazio.
Às vezes lá faz mais frio,
No teu peito vazio..."


Perfeito Vazio, Xutos e Pontapés

Recordando uma Amiga que partiu

"A coisa mais dura que há é não se ser capaz de fazer milagres por um amigo."

Maya V. Patel

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Ontem ofereceram-me um poema...que me fica tão bem!

"(...)
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas
E tornar-se um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si,
Mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da própria alma.
(...)
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia construirei um castelo..."

Fernando Pessoa

Servir bem e bem servir...tornou-se um lema obsoleto?

Entrámos na sapataria que nos tinha sido indicada pelo dono numa feira promocional. O senhor tinha-me garantido uns sapatos confortáveis, depois de eu me ter queixado das minhas dificuldades em encontrar calçado adequado. Tinha até fornecido um catálogo, para escolhermos com calma, os modelos - um verdadeiro vendedor!
Vinte e tal Km depois encontrámos a sapataria. Quem lá estava dentro era uma jovem, com um top demasiado curto e uma banhita inestética de fora.
- Tem sapatos da Stonefly?
- Não...não...
- Estão atrás de si!
- Ah! Estes...pois, temos. - disse olhando para a prateleira que promovia a marca, com um grande anúncio, como se não soubesse que eles estavam ali.
A conversa já não começava bem... Esforço para vender: nenhum.
A minha sorte - ou a dela - era que eu estava mesmo decidida a comprar os sapatos.
Experimentar modelos...tem o número acima?...Obrigada. Pode fazer mais um furo na tira da sandália? Ah! Que bom...
Desiludidas, explicámos que o dono da loja nos tinha garantido mais variedade de modelos.
- Bem, ele não é o dono... - empertigou-se a pequena, revelando animosidade em relação ao homem que nos tinha interessado na loja, a ponto de fazermos uma deslocação propositada para a conhecermos.
Depois de muita insistência ela disse que ia telefonar a outra colega.
- Estou? Olá, sou eu! Sabes aqueles sapatos da cetonfli? (está explicado porque é que ela não conhecia a stonefly, o inglês dela era técnico.) - Imagina tu que o ...disse a umas senhoras que tínhamos os modelos todos do catálogo. Incrível, não é? - o seu semblante transparecia genuína indignação; até a banhita tremelicava com outro ritmo - Pois, não temos mesmo, não é? Tenho uma coisa para te contar...fica para depois...talvez...Fui multada porque tinha bebido um bocadinho. Oh, pá! Tanta gente aí a beber tanto e...pois...vê lá.
A conversa continuou por mais um tempo, enquanto procurávamos sozinhas mais motivos que justificassem a nossa deslocação de tão longe.
Por fim desligou. - Pois não temos. Eu logo vi.
- Bem, depois diga ao seu colega que viemos de propósito...
- Ah, pode crer! Pena serem de longe senão vinham cá quando ele cá estivesse!
O que me impressionou mesmo foi o olhar de triunfo da adolescentezeca, de poder repreender o colega, que tinha estado a trabalhar à noite numa feira e conseguira interessar novas clientes para a loja. Ele que se acautelasse! Aposto que ela própria lhe daria uma reprimenda! Falar dos sapatos da cetonfli, ainda por cima com sotaque de filme!...
Ela, certamente, vai pô-lo na ordem!

domingo, 5 de julho de 2009

Domingo



“…
O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,

mas o gato quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.
…”
Pablo Neruda, Ode ao Gato
Colhido em O Reino d’almofada: de tudo um pouco, com gato no meio

Desequilíbrios

"Roer as unhas não é considerado um desequilíbrio emocional grave.
A menos que sejam as dos pés...ou que não sejam as suas"

"Teimoso é aquele que prefere meter os pés pelas mãos a dar o braço a torcer"

"Santo é o ateu que reza pelas outras pessoas"

Georges Najjar Jr., Desaforismos

Quem me leva os meus fantasmas?

"Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam,
Em que homens negavam
O que outros erguiam.
E eu bebia da vida em goles pequenos,
Tropeçava no riso, abraçava venenos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro.
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta.

Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada"


Pedro Abrunhosa, Quem me leva os meus fantasmas?, Album: Luz

País, país...

"Eu não sei onde é a saída
se é no beco ou na avenida

Ai, País, País, é um problema, vive

Entre o dealer e o dilema
Entre a sesta e o sistema
Entre o dealer e o dilema
Entre a sesta e o sistema

Pedro Abrunhosa, Dealer e Dilema, Album: Luz

Quem nos informa?

"É preciso uma pessoa ter disponibilidade mental, que é o que não se consegue hoje em Lisboa, nem se tem no meio ambiente de toda a Comunicação Social. Nas redacções está-se submetido a ritmos muito intensos - há um novo esclavagismo - e eu fui para os jornais para trabalhar por prazer e não por obrigação. Em meados da década de 60, quando comecei, as redacções eram cheias de vitalidade. Hoje, ninguém emite opiniões, ninguém ri, ninguém discute, transformaram-se nos túmulos do medo, até porque os jornalistas estão todos com contratos a prazo. É a coisa menos criativa que existe."

Fernando Dacosta, Entrevista à revista da Sociedade Portuguesa de Autores

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O que poderá vir por aÍ?

Tarefa impossível - e já nem sei se desejável - ensinar aos alunos o valor de uma discussão aberta, franca e civilizada sobre qualquer assunto. Dizer-lhes que em democracia devemos respeitar-nos todos uns aos outros, que um debate tem regras...Nem a autoridade da sabedoria popular serve já de nada: "Quando um burro fala o outro abaixa as orelhas"...
Porque afinal, definitivamente com ordenados muito acima do que merecem, quando um fala, outros fazem "àpartes (provocatórios) para que o Ministro ouvisse" e a um dos mais altos representantes da Nação "salta-lhe a tampa", "foge-lhe o pé para o chinelo" e sai de cena por entre os lamentos de uns e os elogios ao seu trabalho de outros.
As primeiras páginas dos jornais de hoje fizeram-me desacreditar na educação: aqueles senhores andaram na escola, têm cursos superiores, aceitaram um mandato para a mais séria das tarefas - Governar a Pólis, ser Político. E devolvem-nos o mandato que lhes demos nestes espectáculos deprimentes.
Que bela campanha eleitoral emana do próprio Parlamento!
Mas, se desacreditarmos na Democracia, se deixarmos de nos escandalizar com estas situações, o que nos poderá acontecer?

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Circunlóquio

Pode existir uma "pessoa" sem ser "humana"?
Então, para quê, nos discursos politicamente correctos - até na própria legislação (essa, espera-se, que seja politicamente correcta) - utilizar a expressão "pessoa humana"? Não será tão censurável como "subir para cima" ou "descer para baixo"? Não é possível subir para baixo, nem ser uma pessoa não humana...
Eu iria terminar este texto falando nos pleonasmos, mas, quando consultei o dicionário para ter a certeza do que estaria a escrever, descobri este sinónimo, muito mais...mais...colorido.
Superfluidades desta democracia bem-falante!

Beleza Providencial

Quando o vi do outro lado da rua, confesso que fui atraída pelo seu «bom aspecto». Corpo bem proporcionado, cabelo grisalho e uma barba com um toque de intelectualidade...
Estava eu a cogitar no facto de aos homens ficar muito melhor um certo envelhecimento, quando, num momento em que a distância entre nós diminuiu, compreendi que conhecia «o exemplar». Acto contínuo, acenei.
Ele atravessa de imediato a rua - o que já achei excessivo (nunca tínhamos tido muita confiança) - para me dizer..."Não estou a conhecê-la...deve ser dos óculos escuros..."
Já "de pé atrás" (quem é que se expõe, sem necessidade a um encontro com alguém que não reconhece? Era tão fácil acenar, sorrir e seguir em frente!) recordei-o de que tínhamos sido professores na mesma escola há quase uma década (enquanto pensava "Estás muito mais crescido!").
- Pois foi!...Agora já não nos víamos há uns meses!...
- Anos - corrigi, já impaciente - Foi na primeira manifestação grande dos professores, em Lisboa. Lembras-te?
Ele sorriu com ar vago.
O resto foi um arrastar penoso de frases, que pareciam de filmes diferentes, sobre a escola. Quando o questionei sobre como tinha sido o processo de avaliação na sua escola, ele respondeu: - Nós ali seguimos o Governo.
- Todos seguimos o Governo! É a lei.
- Pois, mas nós seguimos mesmo! - disse sempre com aquele sorriso, que de lindo passara a irritante
- Queres dizer que seguem, com agrado?...
Felizmente uma vizinha interrompeu-nos para o cumprimentar...que há muito tempo não o via...
Última tentativa da minha parte: - A Direcção da Escola continua a mesma?
- Sim, mesmo com o novo processo.
- Na minha também.
- O teu Director é o ...Magalhães?...
- Não! Esse é o computador. Ainda não dirige a escola!
Ele continuou com o mesmo sorriso fixo, à espera que eu rectificasse o nome do Director!
Despedimo-nos. Dois beijinhos...Felicidades...Gostei de te ver.
E eu agradeci a Deus por lhe ter dado aquela beleza toda. Se lhe tivesse acrescentado inteligência, não seria, de facto, justo.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Educar (bem) é preciso!

"Se é verdade que o gênero humano, cuja dialógica cérebro/mente não está encerrada, possui em si mesmo recursos criativos inesgotáveis, pode-se então vislumbrar para o terceiro milênio a possibilidade de nova criação cujos germes e embriões foram trazidos pelo século XX: a cidadania terrestre. E a educação, que é ao mesmo tempo transmissão do antigo e abertura da mente para receber o novo, encontra-se no cerne dessa nova missão."

Edgar Morin, Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, São Paulo, 2006, 11ª edição, p.72

Ensinar a Condição Humana

"O ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser humano. É preciso restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência, ao mesmo tempo, de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos."

Edgar Morin, Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, São Paulo, 2006, 11ª edição, p. 15