segunda-feira, 12 de abril de 2010

Retalhos da Vida de um Prédio

"Desde que ele tinha passado a habitar o prédio, as manhãs tornaram-se menos penosas.
Quase todos os dias apanhavam o elevador ao mesmo tempo. Ele, barbeadinho de fresco, exalava uma frescura masculina...apetecível. Ela abria as narinas para absorver aquele cheiro, para o respirar mais de perto...sentia-se alvoroçada. Baixava os olhos, após os breves bons-dias de circunstância.
Em cada dia tinha a sensação de que ia explodir. A respiração acelerava, as têmporas latejavam. Tinha a ideia de que o seu desejo se tornava notório para ele, tal a respiração pesada dela, os movimentos mais acelerados do seu peito, a subir e a descer, num arquejo, irreprimível, quase de dor...
Via-o sempre sozinho, roupa formal de trabalho burocrático, talvez de responsabilidade...gravatas variadas, todas de muito bom gosto.
Ao fim do dia não se encontravam.
Só de manhã, naquele começo de dia lavado e perfumado, cheiroso e apetitoso...
Naquela sexta-feira à tarde teve uma vontade muito forte de cuidar dela mesma. Havia pouco movimento, decidiu-se a pedir o gozo de umas horas a que tinha direito. Sem problema. Saiu então, pouco depois do almoço, sentindo-se fresca, impaciente, com vontade de mudar.
Coincidência, ou não, havia umas promoções de lingerie numa loja que ela muito cobiçava.
Decidiu-se por um «body» preto, de renda, muito sexy e uma camisa de noite azul-escura acetinada. Sentia-se linda e sexy, enquanto segurava o saco com uma imagem sugestiva de publicidade da loja.
Cerca das 5 h retornou a casa. No átrio do prédio, premindo o botão do elevador: ele!
Sentiu-se ruborizar, virou o saco para esconder a imagem provocadora, mas ambas as faces eram iguais, que fazer?...Agora nada. Ele já a viu e fez um aceno de cabeça. O elevador chegou. Ele retém a porta...quem sabe?...Ela estuga o passo e entra no elevador, sentindo que «é o dia». Muito vermelha e atrapalhada, sem saber como , o saco resvala-lhe da mão e deixa cair o «body», numa embalagem "ilustrada".
Num momemnto verdadeiramente cinematográfico, ele baixa-se e apanha a embalagem. Depois - ela juraria que foi em câmara lenta - ele sobe até ao nível dos olhos dela...ela sente que é uma situação embaraçosa, mas...talvez...
Com voz extraordinariamente sensual e exibindo um sorriso, ele diz: "Bem bonito! Muito sexy!" e, após uma pausa, "A minha mulher tem um igual."

4 comentários:

josé luís disse...

{RABD}

Escrivaninha disse...

Isto é uma versão portuguesa de lol? Rir a bandeiras despregadas?

josé luís disse...

claro :)

[demorei imenso tempo a perceber o que era lol, até que alguém me disse serem as iniciais de "laughing out loud" ou algo parecido... e é óbvio que por defesa da língua e por ser muitíssimo mais rica, adoptei a nossa versão de Rir A Bandeiras Despregadas - e digo-o a toda a gente que conheço: quando te quiseres rir na net, rabda que é cool e não loles que estás out.... ;)... experimente! vai ver que os teenagers percebem logo]

paulo da ponte disse...

Temos escritor(a).