sábado, 29 de fevereiro de 2020

Ano Bissexto

Já a manhã ia a mais de meio quando me dei conta que não estava no primeiro dia de Março, mas sim no último de Fevereiro, mês que desta feita tem mais um dia que o costume.
Claro que já passei muitos anos bissextos, mas só hoje me deu para pensar que este ano e este dia podem ter algo de especial.
Este ano é especial para mim. De calma e muitas aprendizagens.
Uma dessas aprendizagens é que, de facto, por muito que gostemos de controlar e de planear, há muitas coisas que escapam ao nosso controle e é bom que aprendamos a lidar com isso.
Vem esta reflexão a propósito de todos os preparativos que fiz para ir este ano à China, crente que tinha tudo o que precisava: vontade, dinheiro e tempo. Tornei este ano num ano excepcional por ter criado todas as condições para empreender a minha viagem à China, proporcionar uma forte experiência e vir de lá diferente. Afinal algo que me escapa completamente (e que nada tem a ver comigo) prova-me que este ano é um ano especial por muitas coisas, inclusivamente por não ir à China e por aprender a aceitar que por muito que façamos planos e tomemos providências temos que estar preparados para lidar (e aceitar) o imprevisto, o imponderável.
Talvez conseguir compreender e aceitar isso torne este ano mais especial do que se os meus planos se tivessem concretizado.
Parece que estou feliz com o vírus? Não, não estou. E claro que há uma certa tristeza e desilusão por não poder realizar o que planeei, mas há uma grande satisfação pela lição aprendida e por estar a conseguir viver este ano com calma e tranquilidade. E grata por isso.
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domingo, 23 de fevereiro de 2020

E incrível como me torno muito activa, fazendo muitas coisas, só porque quero ter um pretexto para não fazer uma coisa.
Os subterfúgios que internamente a minha mente cria para evitar algo. E esse algo é mesmo o que me faz bem. Então porque o evito?

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Aurora

Continuando no tema da luz, da falta dela, da percepção do seu ritmo e intensidade, escolho agora a palavra aurora.
Segundo o Priberam é a "parte do dia que precede o nascer do sol", o que me deixa uma dúvida: antes do nascer do sol é dia? Ou noite? E a aurora, onde fica?
Aurora é também sinónimo de princípio, início e não só de dia. Opõe-se ao crespúsculo em diversos sentidos e traz consigo uma luminosidade que é força de arranque.
É também um nome próprio feminino. De gente com força e luz, certamente.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Tiago Nacarato | Ana Bacalhau - Só Me Apetece Dançar

Falha ou talvez não

Ontem falhei na minha determinação de escrever algo por aqui. Mas foi por uma boa causa, acreditem!

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Medo

"- Agora que já não tenho medo, compreendo que o medo foi uma constante da minha vida.
-E agora já não tens medo?
-Não.
-Perdeste o medo?
-Sim.
-Tens a certeza?
-Não.  Mas tenho quase...a certeza.
-E agora não tens medo de nada?
-Hum...tenho só de uma coisa.
-O quê?
-De voltar a ter medo.!"

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Escrevinhador

Porque é tão difícil um escritor classificar-se como tal?
Há tempos fui ouvir Jeffrey Archer na Feira do Livro que preferiu classificar-se como "um contador de histórias", reservando o título de escritor para vultos como Doistoievsky ou Joyce. Agora é um texto de Rodrigo Guedes de Carvalho (um excelente prefácio de um dos pequenos volumes das Mil e Uma Noites) que se dirige "aos colegas escrevinhadores".
Porque é tão difícil um escritor assumir-se como tal?
Porque temos deles uma imagem tão elevada que não ousaremos igualar-nos. Creio que na mente de muitos escritores há uma barreira psicológica (modéstia falsa ou verdadeira) que os impede de assumir tal título, desejando (secretamente, mesmo lá no fundo de si) que, após a sua morte, a história os imortalize como tal. Ser Escritor será assim um caminho, uma progressão, um percurso para chegar ao epíteto: Escritor! A meta almejada.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Etiologia

 Parte da Medicina que estuda as causas das doenças.


"etiologia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/etiologia [consultado em 12-02-2020].

Segundo o mesmo dicionário pode também ser o estudo da origem das coisas.

O que achei mesmo curioso foi que a raiz da palavra se refere a uma palavra grega 'aitia' que significava, além de causa, responsabilidade ou culpa.

Os estudos etiológicos não deixam assim de ser estudos históricos, por buscarem as origens, por pesquisarem no tempo o início de algo.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Penumbra

Apostada em voltar a escrever por aqui com regularidade criei a nova etiqueta "Palavra do Dia" para que, quando não houver um assunto, um texto, haja um pretexto de colocar aqui uma palavra que me intrigue, me agrade, me atinja de alguma maneira. Aproveito também para esclarecer significados de palavras, servindo-me sobretudo do Priberam como ferramenta online.
Cada vez mais vou acreditando que nada é por acaso e procurando os desacasos em cada coisa.
A palavra que queria colocar aqui hoje era penumbra, depois de ontem ter pensado em lusco-fusco. Cria eu que eram sinónimos. E queria escrever aqui que me agrada muito esse período do dia, em que ainda não é bem noite nem dia. Gosto do período da manhã e da tarde...sobretudo agora, que a Primavera vai dando sinais, que já é possível "deitar o nariz de fora" nessas horas e ouvir a passarada num hino a qualquer coisa de magnífico que eles sabem ver todos os dias.
Gosto mais do entardecer, daí a a primeira opção por lusco-fusco. Mas tento habituar-me agora ao amanhecer. Tento levantar-me cedo e gosto de levantar os estores e fazer as coisas com a pouca luz que deixa entrever as sombras dos objectos conhecidos...O dia vai assim chegando naturalmente, a luz vai surgindo por si própria, sem o forçar do interruptor.
À tarde gosto muito de viver o crepúsculo (que aparece como sinónimo de lusco-fusco, mas não de penumbra), de ficar no exterior ou interior da casa sem fazer nada que exija muita luz e observar os objectos a tornarem-se de novo em sombras, em volumes, em sugestões de espaços ocupados. E os pássaros lá fora chilreiam com força e ânimo, exortando a um recolher, não obrigatório mas conveniente, natural.
Estas convivências com os ritmos da luz do dia ajudam-me a estar mais perto da Natureza, assim mesmo com a letra grande que o Acordo lhe nega.
Depois, a palavra lusco-fusco não me pareceu séria, parece uma brincadeira, uma caricatura de qualquer coisa, não espelha a seriedade e a profundidade do crepúsculo, da aurora...Encontrei penumbra. Sim, penumbra parece-me bem, embora tenha uma sonoridade triste, grave, inusitadamente agourenta.
E hoje lá me sentei aqui para escrever sobre a Penumbra (o som lembra tanto Penúria que chega a arrepiar). Agora já não estou tão certa de que seja esta a palavra certa...
Mas ao ir ver o seu significado ao Priberam sorri da coincidência que também me aproxima da Penumbra e que me faz talvez valorizar ainda mais a Penumbra nesta ano especial e ainda mais hoje mesmo que faz 9 anos que obtive o título doutoral na Universidade, título esse que sonhava em multiplicar em acções no meu local de trabalho e que num misto de estupefacção e mágoa vejo ser negado sistematicamente sem qualquer justificação cabal.
Penumbra quer então dizer, entre outros significados: "Ponto de transição da luz para a sombra"; "Luz pouco intensa, própria de fases do dia como o amanhecer ou o entardecer ou de ambientes pouco iluminados"; "Ausência de reconhecimento, de celebridade (ex: viveu os últimos anos afastada do público, na penumbra)";  Igual a Anonimato, Obscuridade.  
Talvez nada seja por acaso, talvez tudo tenha um sentido para ser encontrado, associado, emparelhado. Neste dia 11 de tão boa memória!

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Eu juro...ou não

E nós a acharmos que temos a certeza daquilo que nos recordamos e eu agora a ler que muitos de nós temos memórias falsas.

"(...) estudos mostram que, às vezes, todos nós temos memórias completamente erradas até dos eventos que parecem mais nítidos na nossa memória.
(...)
Outro exemplo extraordinário de memórias imaginárias ocorreu numa experiência numa universidade não identificada no Canadá, onde sessenta estudantes voluntários foram confrontados com a acusação de que, na adolescência, tinham cometido um crime relacionado com roubo ou agressão, pelo qual tinham sido presos. Nada disto acontecera realmente, mas, após três sessões com um entrevistador amável mas manipulador, 70% dos voluntários confessaram ter cometido esses incidentes imaginários, acrescentando muitas vezes vividos pormenores incriminatórios - totalmente imaginários, mas nos quais acreditavam sinceramente.
(...)
A conclusão é que a memória não é um registo fixo e permanente, como um documento num armário de arquivo. É algo muito mais vago e mutável. Como Elisabeth Loftus disse a um entrevistador em 2013: é mais como uma página da Wikipédia. Podemos ir lá alterá-la e as outras pessoas também."

Bryson, Bill, O Corpo: Um Guia Para Ocupantes, Lisboa, Bertrand Editora, 2019, pp. 79-80

E agora? Que fazemos com as nossas memórias? Confiamos ou não nelas?
Hoje sabe-se tudo isto, mas...quantos crimes não terão sido cometidos por sentenças judiciais apoiadas em testemunhos...que são memórias?
E as pessoas que mentem? Acreditarão naquilo que dizem ter acontecido? Não serão mentirosas afinal?

E o mundo que vivia cheio de certezas e troçava dos filósofos!

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Resolução

É a palavra do dia. Espero...
A lutar com dificuldades em algumas áreas tomei hoje uma resolução, palavra que preciso que emparelhe com persistência, tenacidade, motivação e constância.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

A Puta da Culpa

A Culpa. A puta da culpa!
Quem nos enfiou isto na cabeça: que temos de sentir culpa por estarmos bem porque há muitos outros que estão mal?
No meu caso desconfio que foi a minha mãe. Também alguém lhe deve ter enfiado isso na cabeça.
Com um bocado de sorte (estou a ser irónica) é uma daquelas memórias genéticas e deve vir lá desde os anos da crucificação: uns culpados porque negaram a autenticidade, outros porque lavaram as mãos, outros autorizaram, outros executaram, outros assistiram e alguns aplaudiram. Feitas bem as contas, daquela tropa da altura ninguém estava inocente (de qualquer coisinha haviam de ser culpados), há a necessidade de expiar a culpa; passados uns anos isto instalou-se nos genes e nos dias de hoje é ela que nos espia em todas as situações do dia a dia.
Vem isto tudo a propósito da culpa que sinto, hoje, um dia lindo de sol, cada vez que saio com a minha leveza de quem não está a trabalhar e passo pelos pedreiros que estão a fazer obras no prédio. Conheço-os bem. Cumprimento-os, não os ignoro de maneira alguma. Mas começou a subir por mim acima uma culpa tremenda.
Então agora vou sair outra vez? E passar alegremente pelas pessoas que estão a trabalhar? O que é que eles vão pensar? Será que eu tenho o direito de passear de forma tão leve quando eles estão a suar, com dores nos rins e nos joelhos?
E pronto, é isto. Compreendi que neste ano maravilhosos e leve passo o tempo a entrar e sair de casa e que hoje vou ficar por aqui mais tempo para não afrontar, incomodar, provocar, assediar...quem trabalha.
É estúpido, eu sei.
Mas é uma coisa muito minha. Quando vejo uma pessoa a andar com dificuldade abrando o passo (habitualmente ligeiro) para não afrontar a pobre pessoa que já não pode andar como quer e como já andou em tempos.
E aposto que é esta culpa de hoje que me está a dar umas dores muito chatas num dos "nós dos dedos", para me lembrar que nunca estamos verdadeiramente bem, que temos de ser humildes, compreensivos...
Que esta conversa não faz sentido...é verdade. Mas ela anda na minha cabeça.