quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Para te visitar
esquecerei a terra
e apagarei as estrelas.

E irei pelos teus olhos,
até o mundo voltar a ter princípio.

Mia Couto

Do poema "Anseios",
no livro "Tradutor de Chuvas. Lisboa. Caminho."

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Dez dias depois

continuo sem tempo...a guardar as palavras nas dobras do adiamento, onde se vão amalgamando, amachucando, barafundando, perdendo sentido.
(suspiro)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

domingo, 5 de janeiro de 2014

Pergunta-me

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer


Mia Couto

sábado, 4 de janeiro de 2014

Congeminações sobre congelações

Com estas coisas da tecnologia os tempos, os ritmos, as tradições estão cada vez mais fluídas.
Acabei agora mesmo de ver o concerto de Ano Novo, de dia 1 de Janeiro, em Viena de Áustria.
Ainda não tinha tido tempo de ver o concerto que adoro. Uma tradição do dia 1 (ou talvez já não) e um sonho que acalento de um dia lá estar, ao vivo e a cores. Por vezes é uma emoção tão forte que me sinto lá...
Mas o que foi mesmo estranho foi o senhor da locução que, preso no tempo, me desejou boa tarde e um bom ano, neste 1º dia de 2014.
Estranho. Nem chego a saber se é bom poder fintar o tempo assim. A sensação que tenho é que somos cada vez mais escravos do tempo, essa entidade que parece esfumar-se por aí. Se dantes se parava porque não se podia perder o programa, agora deixa de se ter pretexto para parar porque se pode ver o programa em qualquer altura. Como é que eu me sinto sempre defraudada? Não era para sermos mais felizes e termos mais tempo para nós?
Podendo congelar o tempo assim...parece que fico perdida...

E, a propósito, de técnicas, tecnologias e de congelar o tempo: a Julie Andrews, que estava a ver o concerto, está quase igual a como era no filme A Música no Coração. Estranho...muito estranho.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

As últimas

- Foi, foi. Os pais casaram no final do ano, porque o ano a seguir era bissexto e dava azar!
- Os anos bissextos dão azar?
- Essa nunca tinha ouvido...
-Este ano foi bissexto?
- Foi não, ainda é. Está quase a acabar, mas ainda não acabou.
- Sim, pois. Mas é bissexto?
- Não é não. Se fosse acabava a 32 de Dezembro!