terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Da compreensão da teoria da possibilidade

"- Mas...estás apaixonada? - indagou tentando justificar o brilho que ela irradiava.
- Não - disse ela, devagar, o que conferia credibilidade à afirmação - Mas podia estar.
- Claro que podias estar. Qualquer pessoa pode estar...ficar...
- Não. - continuava a mover as palavras devagar no tabuleiro daquela conversa - Eu não. Mas agora compreendi que afinal também posso estar, ficar...apaixonar-me. Que também eu sou, ainda sou...
- Oh querida! Claro que és apaixonável. Todos nós sabemos isso. Era isso que ias dizer, não era?
- Não é bem isso...não creio que haja uma palavra para exprimir o que quero dizer. Também eu me posso apaixonar. Não é preciso ser agora. Nem é preciso ser...Mas é possível. Agora é possível!
O ar dela dispensava considerações de outrem. Parecia estar numa conversa distante consigo própria. E uma conversa satisfatória.
A amiga recolheu qualquer opinião pensando que o Natal deixa os temperamentos alterados, tudo fica mais sensível e...bem, já tinha visto situações muito piores. Esta era...intrigante, talvez...mas não preocupante. E, definitivamente, não solicitava qualquer intervenção da sua parte.
Por isso ficaram caladas, olhando as estrelas num céu invulgarmente brilhante para a época natalícia."

Boas Festas!
Porque festas são sempre boas.

Relatos de uma Transformação Autosurpreendente

Nem Polícia nem Espanhol

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Pra minha estante de memoráveis...a quem devo o que sou

O dia em que se termina a leitura de um livro é um dia ganho.
Hoje terminei de ler um livro: Maria Adelaide Coelho da Cunha, Doida Não e Não!: Um Escândalo em Portugal no início do séc. XX, escrito por Manuela Gonzaga e publicado pela Bertrand em 2009.

Muito bom. Um livro que prendeu muito a minha atenção por diversas razões:
- está muito bem escrito
- relata uma história real
- é um estudo histórico metodologicamente bem feito e disponibiliza as fontes
- tece considerações muito interessantes acerca do contexto histórico
- faz-nos pensar no que é "ter tudo" no conceito do senso comum, nos conceitos de justiça, de moral e, sobretudo faz-nos pensar no que é o condicionamento social sobretudo para uma mulher. E também a diferença entre o que está escrito na lei e o que muitas vezes se pratica.

Demorei muito a ler este livro. Não o lia assim, de ânimo leve, aos bocadinhos entre coisas, como faço com tantos outros livros. Li-o quase de uma forma religiosa, não é bem religiosa...respeitosa. Respeitosa pela memória de quem viveu aquela história, de quem guardou as provas, de quem investigou e escreveu, de quem publicou.
Este era um livro cheio de gente, cheio de conceitos e de preconceitos.
Preparava a leitura de cada capítulo com cuidado, verificando se tinha tempo de encetar e cumprir aquela etapa.
Foi um livro que li com três marcadores.
Um livro que se lê com três marcadores é uma obra de respeito.
Um dos marcadores assinalava, obviamente, a página em que a leitura terminara (ou, mais exactamente, em que a próxima leitura começaria), outro marcador assinalava as notas de final de capítulo, de forma a que a sua consulta fosse fácil e célere e não interrompesse a leitura, antes a completasse. E o último marcador assinalava as referências (bibliografia e fontes) a que recorria por vezes para ampliar o conhecimento do texto e das notas.
Terminei-o hoje num café onde gosto de ler.
Prolonguei depois a leitura no registo de algumas citações e neste registo reflexivo.
O livro é emprestado e sei que terei dificuldade em separar-me dele.
Em separar-me das suas personagens, da imensa admiração com que fiquei pelos seus protagonistas principais e do encontro ou reencontro com tantas personagens do Portugal da 1ª República, que tanto me fascina. Mas que também vai, cada vez mais, me desiludindo.
As figuras que estudamos como grandes, envolvidas em enredos mesquinhos que não tinham outro objetivo senão manter o status quo dos seus pares...
Maria Adelaide Coelho da Cunha ficou agora, nas minhas estantes de memoráveis, junto de Manuel Buiça. Alguém que não abdica da sua integridade e vai em frente realizando o que considera certo, ainda que isso afronte toda a sociedade. Ambos são casos de amor e de ruptura. Ela rompe um casamento "de capa de revista" para assumir um amor que ninguém no seu meio compreenderá: um homem mais novo e pobre. Ele rompe com a vida (literalmente) por amor à Pátria e aos ideais da República. Certo é que ele mata uma pessoa, seria o que hoje chamaríamos um assassino e um terrorista, mas não consigo deixar de me fascinar com a sua figura, com a sua actuação, com o seu testamento para os filhos invocando os valores morais pelos quais agiu.
Quantos de nós teríamos a coragem de enfrentar assim a sociedade, de lutar até ao fim pelos nossos princípios? Quantos de nós seríamos capazes de verdadeiramente vestir a palavra herói?
Sei que chamar herói a um assassino não será politicamente correcto e que, se eu olhar do outro lado, a família real destruída ( a vida da D. Amélia impressiona-me muito pelo sofrimento) e um país que nem sequer soube honrar a dádiva de vida dos regicidas, o sacrifício de Manuel Buíça terá sido em vão...mas as vidas destas duas personagens estão de alguma maneira ligadas à minha: mulher livre, republicana, independente. Sem eles, eu não seria possível. Obrigada!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

E no entanto algo está a mudar. Devagar. Sem alarde...e esperemos que vindo para ficar.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Finitude e Gratidão em dia de estudos taoistas

Tudo o que começa acaba!
Dos quatro quartos em que pode dividir-se o círculo perfeito que resultou da minha decisão, um já se foi. Aí começa a perceber-se que o tempo se escoa, que tudo é finito e que aquilo que me está a saber tão bem acabará, inevitavelmente, por acabar.
Mais uma vez penso em que passamos o tempo a preocupar-nos com o futuro, que poderá nem chegar...
Quem sabe se eu não acabo antes de cumprir o círculo?
Oh! Não! Que horror!
Povoam-me agora o espírito imagens catastróficas e cataclismicas.
Mais do mesmo: adianta preocupar? Não.
Fazemos o que é possível. Ao que parece o primeiro quarto foi necessário para descansar e, sobretudo, para acreditar.
O segundo quarto parece estar a começar com mais energia e algum vislumbre de método.
Se tudo tende para a perfeição, como quero acreditar, este círculo trará tudo o que preciso. De qualquer maneira, trará o que for possível.
Para empurrar o tempo já chegam todos os outros círculos que ficaram antes deste e provavelmente os que se lhe seguirão. Mas também terão sido necessários para chegar aqui. Somos os nosso percursos e mesmo quando abandonamos um caminho não podemos renegá-lo: não poderíamos tê-lo abandonado se nunca o tivéssemos trilhado. Ele fará sempre parte de nós, do que fomos, do que somos, do que conseguimos ser.
Hoje Deus deu-me um dia magnífico, com o sol a brilhar nas águas do mar e o lugar perfeito para fazer o que mais gosto: estudar, aprender, progredir.
Tendo a pensar: se hoje fosse o último dia da minha existência ele teve momentos magníficos pelos quais me sinto muito grata.

sábado, 30 de novembro de 2019

Preparação para a China

O livro Crónicas do Shaolin, de Patrícia Morais, insinuou-se-me na Livraria da Porto editora em Setembro último.
Sendo um ano especial de pesquisa e construção de vários projectos, mas sobretudo de mim própria, tinha-me deslocado àquela livraria para adquirir livros de Mindfulness e Educação para fundamentar melhor alguns projectos apenas delineados.
Por coincidência (ou talvez não) bato com os olhos neste livro, de escrita autobiográfica agradável e fácil, de uma experiência vivida por alguém que também decidiu fazer uma paragem com vista a uma viragem.
Mais jovem, escritora, praticante desde jovem de artes marciais...talvez pudesse estabelecer mais diferenças entre mim e a autora do que semelhanças...mas aquele motor motivacional era o mesmo. "Vou levar", decidi, "Vou ler! E vai-me servir de preparação."
Vai-me fazendo companhia em pequenas horas mortas.
Vai-me despertando receios, sobretudo alertas para a extraordinária diferença e dificuldade que vou encontrar, mas ainda não me diminuiu a motivação e as expectativas.

Aqui ficam alguns excertos, de uma leitura que apenas vai a meio:

"Uma das perguntas mais frequentes na Academia é «Porque é que vieste aprender Kung-Fu?»
É sempre seguida de uma resposta genérica: «Porque gosto de artes marciais»; «Porque decidi experimentar a verdadeira experiência chinesa»; «Porque tive curiosidade»; «Porque vi o último filme de Yip Man».
É uma resposta que esconde por trás o verdadeiro motivo: um passado de drogas, de violência, de abuso sexual, de homicídio entre outros. É uma resposta que esconde a necessidade de absolvição e a necessidade de se sentir mais forte. (...) apesar de não estarmos a treinar para lutar contra vampiros e lobisomens, rapidamente descubro que neste sítio todos lutamos contra os nossos próprios demónios." (pp. 50-51)

"Entrar na rotina não é fácil. Acordar às 5 h 40  da manhã (...)
Depois do Taiji e Qigong (chikung), as primeiras aulas de artes marciais internas que têm início antes das refeições, tomo o pequeno almoço. (...)
O treino da manhã começa com uma pequena corrida na rua, para aquecer. Isto é, se fosse possível aquecer quando o frio nos entra pelas narinas, queima as fossas nasais e o oxigénio desce com dificuldade até aos pulmões. (...)
Isto para já não falar das escadas, as escadas sobre as quais a minha tia me avisou, quando disse: «Eu já vi o Kill Bill! Sabes que vais ter de subir degraus com baldes de água às costas.» A parte dos baldes não se concretiza, mas o resto faz-me pensar: Porque é que me meti nisto?" (pp.25-26)

"Depois começa o verdadeiro trino: cerca de duas horas a subir degraus sem parar.
Na China tudo parece ser feito de degraus e de cimento. (...)
Quanto mais subimos mais o vento decide juntar-se a nós, mas não é uma aragem bem vinda que nos ajuda a relaxar. Não! São 35 km/h de ar, que tornam os nossos passos pesados e fazem com que o suor que se começara a acumular nas costas se torne gélido contra a pele, e só vai piorando conforme subimos." (p. 68)

"A jornada é cansativa, mas a vista começa a tornar-se cada vez mais magnífica, até mesmo através da neblina no horizonte. O verde dos arbustos espreita por entre o castanho e cinza das rochas, e o nevoeiro que os envolve confere-lhes uma aura de mistério. O local ideal para quem deseja sentar-se, inspirar-se e criar a metáfora perfeita para o seu estado de espírito. Um espírito pertencente a quem, como eu e os colegas que me acompanham, abandonou o seu país à procura de se transformar numa pessoa melhor, à procura de uma mente mais calma." (p.68)

"(...) Taiji é um tipo de artes marciais internas, uma espécie de meditação móvel que fornece calma e foco. É também bastante útil para fortalecer as articulações, para progredir no balanço e na agilidade, assim como para melhorar as posturas em «stance training». Para quem viu o Panda Kung-Fu 2, é com Taiji que Po tenta alcançar a «paz interna»." (p. 71)

"(...) mas sei que o que tenho de trabalhar não é só o meu corpo, mas também o cansaço mental que a minha mente insiste em sentir enquanto corro. O verdadeiro instrumento de motivação é a minha cabeça, e é esta que precisa de ser reeducada." (p. 72)

"Quase conseguimos sentir os nervos dos examinantes ao aproximarem-se dos mestres e apresentarem a sua saudação. Os seus movimentos são tensos e hesitantes. Alguns relaxam quando chega o momento de iniciar as suas formas, mas noutros é possível ouvir até a respiração. Contudo, no final, pouco importa se relaxam ou não, pouco importa quem apresentou uma forma digna de louvor e quem fez asneira, a verdade é que eles tiveram coragem de se colocarem diante de sete pessoas mais experientes e ser avaliados. Uma rápida observação dos sorrisos cúmplices que alguns dos Shifus oferecem aos alunos que bloqueiam faz-me perceber que os mestres entendem os nervos dos estudantes. E os restantes? Bem, quem se senta confortavelmente no chão não tem o direito de apontar o dedo a quem é corajoso o suficiente para mostrar os seus erros diante daquela multidão. (...)" (p. 74)

"Não deve ser surpresa descobrir que algumas das pessoas que decidem envergar (sic) pelas artes marciais não são as mais emocionalmente controladas. Eu enquadro-me bem nesse grupo. Os lutadores são pessoas com um passado ou presente doloroso e escolhem tentar eliminar a sua dor em lutas. É o que os motiva e os faz continuar. Mas nem todos podemos andar à pancada no meio de um bar ou concerto, por isso, os que tentam mudar a sua maneira de ser e de lidar com os problemas escolhem as artes marciais como forma de balanço. Muitos vêm para Kunyo Shan à procura de algo que os ajude no autocontrolo e lhes providencie uma certa paz mental. Algo que lhes mostre como ver o mundo com outros olhos, e como alterar a forma pela qual nos habituamos a reagir, devido ao condicionamento que tivemos enquanto crianças. Transportamos as nossas memórias de infância até à nossa vida adulta, e se não fizermos nada para as deter estas podem acabar por explodir. Lutar faz com que enfrentemos os nossos próprios demónios, não o adversário. Não é incomum ver pessoas a chorar depois de uma luta intensa." (p. 84)

"Há pessoas que vêm aqui parar em busca do que precisam, sem saberem bem o que será isso.  E há pessoas, como o Théo, Lajos e outros, que vêm para aqui porque sabem que é aqui que está o que precisam. A sua paixão é contagiante (...). (p. 89)

"É verdade que o feedback negativo pode ser forte e fazer-nos desejar melhorar e provar aos outros que estão errados. Ainda caía vítima de tal na minha relação. Mas é o reforço positivo que nos permite manter o bom trabalho, enquanto o desânimo pode ser mais potente e fazer-nos acreditar que somos realmente apenas as nossas falhas. Ouvi dizer uma vez que são necessários sete elogios positivos para compensar uma crítica negativa. E concordo." (p. 184)

"Sim, eu tinha ido para Kunyo Shan para aprender a ser forte, porque a minha vida até ao momento me tornara insegura e temerosa, mas a força não vinha só dos meus músculos. Talvez uma das maiores lições que aprenderia na China seria a de que iria sempre encontrar pessoas cuja energia seria oposta à minha. Eu valorizo a honestidade, a moral e a honra, e encontrarei toda a vida pessoas cujas ideologias desafiam as minhas. Os relacionamentos românticos, familiares e de amizade, seriam sempre desafiadores. Se quisesse ser forte, o primeiro passo precisava de ser aceitar as pessoas como eram e concentrar-me nas áreas da minha vida que desejava melhorar, ao invés de tentar mudar os que me rodeiam.
Admito que é difícil e talvez seja sempre um progresso contínuo.
Naquela altura, em vez de apenas enfiar a cabeça num livro para esquecer os meus problemas, começo a falar com os outros e a observa-los mais atentamente." (p.185)

Até ter chegado ao fim, hoje, dia da publicação dos excertos recolhidos.


quarta-feira, 27 de novembro de 2019

A posição do observador faz toda a diferença

Um dia destes fui passar um fim de semana a Amesterdão.
De facto, com as viagens cada vez mais acessíveis, viajar deixou de ser complicado. Planeada a viagem com bastante antecedência os gastos podem ser parecidos com os de um qualquer fim de semana em Portugal.
Assim, desafiada por uma amiga que vinha do Brasil à Bélgica em trabalho e queria rever Amesterdão no fim de semana antes de regressar ao Brasil e entusiasmada com a perspectiva de rever a minha irmã que mora em Bruxelas, lá combinamos tudo e um quarto de três camas esperáva-nos numa noite de Amesterdão. Muito fria, daquelas de usar gorro, cachecol e luvas (a condizer, claro).
Associamos Amesterdão à tolerância religiosa e tenho ideia que maioritariamente serão protestantes, mas que existem por lá todas as religiões.
As nossas visitas versaram várias religiões. Começámos por um monumento associado ao catolicismo e também fomos a uma sinagoga.
O primeiro monumento foi uma visita muito curiosa. Eu não fazia ideia da existência daquelas igrejas e foi a minha irmã que trouxe a ideia da visita. "Our Lord in the Attic" é uma espectacular igreja num sótão de um prédio de habitação, (sem quaisquer indícios exteriores) e corresponde a um período de dominação protestante na Holanda (séc. XVII) em que os cultos de outras religiões eram oficialmente proibidos, mas podiam existir, "desde que não se soubesse, ou mais exactamente, desde que não se visse". A mesma hipocrisia que marca o capitalismo durante todo o seu percurso: se pagares os impostos e fizeres o que é proibido longe da vista fazemos de conta que não vemos".
Mas enfim, nem era sobre estas considerações que vim escrever, mas sobre as explicações (excelentes!) existentes nesse monumento.
Pela primeira vez na minha vida deparei-me com explicações dos rituais e símbolos católicos como nunca tinha visto. Explicavam-me todos os preceitos de uma missa como se eu nunca tivesse assistido a uma.
É lógico, é óbvio, mas foi tão estranho.
Comentei isso com a minha amiga, museóloga de profissão, também de uma família e um país católico. "Tão estranho! O catolicismo como excepção."
E isto fez-me reflectir muito sobre o ensino da História, cada vez mais difícil, porque os alunos não lêem, mas também porque não trazem consigo um conjunto de valores , de conceitos e de imagens que temos agora de lhes explicar.
É lógico. Agora é lógico. E talvez tenha sido mais uma das coisas a que eu estou com dificuldade em me adaptar: ter de lhes explicar o que dantes vinha adquirido. Mas eles não têm culpa. Não vão à Igreja, não sabem o que é. E eu tento compreender...mas acho que até estar em Amesterdão não tinha verdadeiramente compreendido.
E esse é mais um dos aspectos vantajosos das viagens. Sair. Olhar de fora. Mudar a perspectiva.
Claro que não me resolve o problema de ter de acrescer mais uma explicação ao já escasso tempo para o programa, mas...fez-me compreender a necessidade deles. Se não sabem tem de ser explicado. Deve ser. É um direito que lhes assiste. E é necessário para compreender a dinâmica da disciplina.
Isto fez-me muito bem.
Mas não deixa de ser estranho ouvir explicar detalhadamente o que é a comunhão, na missa, ou - e esta é a cereja no topo do bolo - ouvir designar a hóstia como "holly waffle".
Escusado será dizer que não consegui comer nenhuma waffle em todo o fim de semana!



segunda-feira, 25 de novembro de 2019

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Rifão reencontrado

Aguinha fervida aumenta a vida

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Gente real

Foi um fim de semana fantástico!
A viagem, as aprendizagens, as partilhas, a comida, os jogos, a cumplicidade.
Os risos e as piadas, os olhos de aprender...não tínhamos idade. Éramos todos meninos e meninas numa visita de estudo.
Dos milhares de registos fotográficos, alguns já começaram a chegar.
Olhar as fotografias por vezes não é fácil: estamos velhos, gordos, olheirentos, narigudos, barrigudos. Nenhum de nós é bonito!
Prefiro recordar o som das gargalhadas.
Volto a olhar para as fotos e agora aceito-as melhor.
Somos todos gente real, sem maquilhagem e sem photoshop. Gente real. Que se ri, que chora, que se aflige, que se ilude e se desilude; que já fez longos caminhos e que no dia a dia tem saudades de muita coisa: dos familiares que partiram, do tempo que não volta, de uma profissão que nos uniu a todos mas que é hoje marcada pelo desencanto e pelo sofrimento.
Aquele fim de semana foi um tempo mágico. Suspenderam-se as mágoas, as saudades e as desilusões; celebraram-se as presenças, as permanências, as solidariedades e as capacidades de nos emocionarmos.
Gente real! Nós mesmos!

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A Meias

"Meias, só para as pernas", dizem-me que era uma frase recorrente do meu pai.

sábado, 19 de outubro de 2019

Responsabilidade Social

"O adolescente pode ser teimoso, irreflectido e inconsciente. Pode ter emoções exageradas e reacções súbitas e dramáticas mas o que ele procura nos pais, nos professores e na sociedade é o modelo e não o discurso.
Essa é a nossa responsabilidade. Eles serão os adultos que viram em nós."

Machado, Maria do Céu, Adolescentes, pp.103-104

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Como um cartoon

O enorme, robusto e vetusto prédio da frente está a ser pintado. Fica a uma distância grande (não deixa de ser o prédio da frente) porque temos um jardim e dois braços de rio de permeio. Assim sendo, permite-me uma visão bem distanciada da obra. Suficientemente perto para ver e ouvir os operários autores da obra, suficientemente longe para ter a visão de conjunto.
Está a se pintado de um amarelo forte muito agradável. Reflicto que por estes dias muitos prédios desta cidadezinha estão a ser aveludados de amarelo forte ou grená, o que enche as páginas urbanas de um colorido outonal muito agradável. E creio que no Verão, banhadas pelo sol, também serão muito confortáveis de frequentar.
Bem, este distanciamento vizinho permite-me então ver a obra avançando. Montagem de andaimes do lado direito, protecção das janelas, limpeza, pintura. Desmontagem dos andaimes e repetição do mesmo processo, lâmina a lâmina para o lado esquerdo do edifício.
Estão na segunda metade agora. Diminuiu o número de operários. Hoje de manhã só lá andava um.
De dentro do prédio uma senhora abriu a janela e, percorrendo a varanda, começou a inspeccionar o espaço que já está livre de andaimes. Tinha uma pistola de limpeza na mão e envergava um avental.
Um pouco mais acima o único operário do dia retirava as fitas de protecção das janelas e, terminada cada janela, escorregava por entre os andaimes para outra janela, por vezes de outro piso, como se fosse invertebrado, ou um boneco daqueles jogos labirínticos.
Toda a cena vista de longe parecia um cartoon. Imaginei-os com pequenos balões a sair das bocas.
A senhora recuou, o operário desceu...Durante uns minutos esperei que eles chocassem, conversassem, que os balões se enchessem de símbolos que significam imprecações.
Na...a senhora deu a volta sempre a fitar atentamente o corrimão da varanda; o homem desceu duas janelas e, provavelmente nem deu por ela.
Amanhã ou depois retirarão os andaimes e o prédio volta a ser um prédio e eu perco o privilégio de criar diálogos com as personagens pequeninas que povoaram, por semanas, a vista da minha janela indiscreta. 

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Procura-se um tapete voador

Voltei ao mundo do maravilhoso e do fantástico.
Livre que estou este ano da obrigação de racionalizar tudo, comecei a ter saudades do meu tapete voador.
Não me tinha dado conta (a infância já vai ficando tão atrás) que adorava as histórias que envolviam um tapete voador.
Recordei-me disso aqui há uns anos, no momento de relaxamento de uma aula de yoga, em que o professor nos convida a imaginar-nos num lugar de sonho, de conforto, numa situação muito aprazível...e eu dou comigo num tapete voador. Não me apercebi logo do que se passava. Primeiro vi ao longe umas torres invulgares - do Kremlin ou dos Palácios do Mundo de Aladino - e, à medida que se aproximavam, apercebi-me que as via de cima, que as sobrevoava. E depois lá me vi sobre o tapete, com uns olhos grandes de conhecer - escuros, como nos bonecos da Heidi - e uma melena preta a ondular com o vento.
Fiquei surpreendida. Saí daquela aula muito menina.
Mas arrumei de novo o tapete na área das memórias/fantasias e a calquei tudo com a brutal dose de realidade racional-o-capitalista de que me tenho servido em doses industriais.
Até chegar ao momento presente.
Se é para aproveitar para viver sem espartilhos, é o momento de voltar a usar o tapete.
Comprei uma edição dos Contos das Mil e Uma Noites, que, na realidade, nunca tinha lido (pelo tamanho da edição nem a 500,5 devem chegar os contos) e deixei-me embalar nas histórias fantásticas que não carecem de lógica, que me transportam ao mundo da minha infância, dos olhos grandes de aprender, da boca aberta de sorver emoções, sem explicação, sem necessidade, sem quê nem porquê. Só assim. Porque sim. Tão assim.
Ainda não cheguei a nenhum tapete (mas já encontrei dois génios, não em lâmpadas, mas em panelas) e muita, muita magia. Em contos que se desdobram como matraioskas (a expressão não é minha, é do prefácio da obra, mas é tão ela) passeio por maldições e encantamentos, feitiços e transmutações e tudo, tudo é possível. Tão facilmente possível.
É um deleite! Expressão que irrompeu da minha leitura, assim, sem mais aquelas. Uma palavra arrumada há quase tanto tempo como o tapete.
Talvez porque desejo e procuro o tapete, o dia hoje foi dado a céus. Deslumbrantes, espantosos, maravilhosos e fantásticos. Para viver à força toda, sem necessidade, quê nem porquê.
Tão bom!


segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Preparando improvisos

Hoje concluí que tenho uma boa capacidade de improvisação, sobretudo quando sei exactamente o que vou fazer e dizer.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Do romance da própria vida

"(...) poderíamos deduzir que os humanos são, acima de tudo, romancistas, autores de um único romance cuja escrita demora toda a sua existência e na qual reservam para si o papel de protagonistas. É uma escrita, isso sim, sem texto físico, mas qualquer narrador profissional sabe que se escreve, sobretudo, dentro da cabeça. (...)" (p.8)

Montero, Rosa, A Louca da Casa, Porto, Livros do Brasil/Porto Editora, 2017