quarta-feira, 30 de setembro de 2009

(Re)encontros

"- Olá! Como estás? - saudou a colega com um sorriso genuíno, levantando-se da cadeira e dirigindo-se-lhe com passo firme.
Ela abriu também um grande sorriso - Estou bem...
- Estás muito bem! - continuou a outra, com ar entusiasmado - Estás muito mais magra! Caramba!Perdeste um bom bocado!...
Ela abriu um sorriso de satisfação, meio-envergonhado.
- Agora só te faltam perder...o quê?...uns dez quilos?
Só então repararam na autora da afirmação. Sentada perto da janela, em contra-luz, era apenas um enorme vulto quadrado. Mas ela lembrava-se dela!...Semicerrou os olhos a pensar como responderia a uma intervenção tão desagradável.
A primeira tentou restaurar o bom ambiente - Ah! Credo! Ela é de constituição forte... - e olhava para a outra, de sobrolho franzido.
- Ela é uma mulher forte e queira Deus que ela nunca fraqueje! - Assim, inesperado, ele era ainda mais alto e atlético. Nenhuma delas dera pela sua presença, num local da sala mais reservado para trabalhar, separado do restante espaço por um biombo.
A voz dele soou-lhe vinda do céu em seu socorro. Ela sentia-se uma personagem de um filme...mesmo antes de ele lhe segurar levemente o queixo na mão, enquanto, olhando-a nos olhos, dizia, para a outra, reforçando a sua intervenção - É de mulheres fortes como ela que o país precisa, e nós aqui na escola também.
Elas estavam boquiabertas. Recordavam agora porque ao diminuitivo Ze tinham acrescentado 'us', passado a designa-lo como o pai dos deuses gregos... Ze(us)...sentindo-se no Olimpo, quando ele estava por perto.
Ela olhou triunfante para a paquidérmica figura em contra-luz e saiu atrás dele, saboreando o silêncio que se encerrava nas suas costas.
- Zeus!...Céus!...queria eu dizer...bolas! Zé!
Ele virou-se, ciente da impressão que causava - Sim?
- Obrigada!
- De nada! Foi sincero! E merecido!
A partir daí as pernas dela recusaram-se a mexer, sentindo que ficava colada ao chão, com um estúpido sorriso no rosto - nada de diferente das adolescentes a quem dava aulas - enquanto ele descia (majestoso) a escadaria da escola."

Nota adicional:
a) A personagem Zeus é completamente ficcionada, para grande pena de muitos membros da comunidade escolar, incluindo eu.
b) Todas as outras personagens são retratos, de perto, de elementos reais, também para grande pena de muitos membros da mesma comunidade escolar.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Se não gostou do resultado das eleições

lute, lute muito contra essa raiva que sente.
Não será por acaso que as eleições se realizaram na véspera do Dia Mundial de Luta Contra a Raiva.
Parece que é a raiva dos cães, mas se Manuel Alegre, relata no seu livro «Cão como nós», comportamentos "quase humanos" de um canídeo de estimação, porque não podemos nós também - que nos estimamos muito - assumir atitudes "menos humanas" e sentir uma raiva canina, genuinamente canina, que nos faria morder, com gosto, algumas canelas engravatadas?

domingo, 27 de setembro de 2009

A luz do entardecer

incidindo sobre os rendilhados de pedra do Mosteiro da Batalha.

Hoje passei em Amor

mas, como sempre, não pude ficar.
É que o meu destino era Leiria, que fica a 9 Km desta povoação.

sábado, 26 de setembro de 2009

Em tempo de reflexão

"Foi bonita a festa, pá,
fiquei contente
ainda guardo, renitente,
um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá,
mas, certamente,
esquecerem uma semente
nalgum canto de jardim"
( Chico Buarque, Tanto Mar, 1974)

Será que esqueceram? Se calhar não se lembram...
Amanhã, logo se vê!...

Schiu!

Hoje foi o dia em que eles foram todos institucionalmente obrigados a calarem-se.
Tão bom!
Aproveitaram?
É que o chinfrim recomeça amanhã! E com consequências!
Eu aproveitei. Neste dia lindo em que o Verão se fez convidado do Outono, para nos fazer perceber que o que nos resta é apreciar este país lindo! E não é pouco!
A viagem, hoje, foi um tempo gozoso.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Causa e Consequência

Procura-se
Sempre vivo e nunca morto.
Procura-se
Quem nos falta na escrita, buscada sofregamente em cada fim de dia.
Procura-se
A companhia que, nunca deixando de ser ausente, ganhou o espaço da sua presença.

A desorientação é já grande na comunidade, que se interroga, em aflição: Como fazer?
Discute-se a hipótese de criar um cartaz para espalhar pelas cidades - com rosto de poesia, cabelos de sílabas e semblante de entrega – para que nos possam dar notícias.
Os mais pessimistas alvitram a hipótese de uma baixa por gripe A. Insurjo-me, grito furiosa: Ah! Mendes Criminosas! Abutres da desgraça! A minha hipótese prende-se com obrigações cívicas – a participação activa na campanha eleitoral, do lado dos que acreditam na liberdade e na mudança, no sonho e na poesia de vidas dedicadas a causas. Essa sim, era uma boa causa!
Mas que tudo isto causa inquietação causa; seja qual for a causa…

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Francisca

Uns amigos recentes, que estavam grávidos, anunciam hoje na sua frase do Messenger: "Nasceu a Francisca!"
Fiquei feliz por eles, evidentemente.
Não pude deixar de pensar nas voltas da vida, na regeneração e renovação do mundo, que às perdas de uns contrapõe os ganhos de outros - sempre em movimento...- no vai-vem de vidas que se cruza na nossa vida.

Lua

Há pouco, no céu, só faltava o menino da Dreamworks com a cana de pesca...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Comodidade na Informação

Cheguei a casa estafadinha do combate para explicar áquele 7º ano que eu sou a professora, que não podem falar todos ao mesmo tempo e que, se não pedirem para se levantar, mesmo que tenham razão e urgência em afiar o lápis ou deitar o lenço no lixo, teremos de colocar semáforos na recinto da aula.
Atirei-me para o sofá e comecei a zapar com pouco interesse. Não me apetecia ver séries, nem filmes, muito menos noticiários...até que topei com uma das excelentes entrevistas que o José Rodrigues dos Santos anda a fazer a escritores.
Gostei da conversa, mas não sabia quem era o autor. Fiquei por ali, até que referem o Coleccionador de Ossos. Eu gostei muito do filme e da ideia, mas não sabia quem era o criador da personagem.
Tinha ligado «automaticamene» a Internet e socorri-me do ciberespaço para perguntar quem era o autor que eu estava a ouvir falar. E lá estava - assim, instantaneamente - Jeffery Deaves.
Que cómodo poder encontrar assim a informação que complementa a aquisição de outra informação!

Atchim!

Espirrou o rapaz, fazendo eco na sala.
- Muito bem! - disse eu, elogiando a forma como reparei que protegera o nariz com o braço, tal como ensinam os cartazes que nos ajudam a proteger da gripe A.
Satisfeito com o elogio, o rapaz abriu um sorriso, enquanto limpava com os dedos o ranho que lhe escorria do nariz.

Ser Professora

para mim, é assim o mais perto que conheço da Terra do Nunca. Fazer como o Peter Pan e recusar crescer, recusar acizentar e definhar na seriedade atrofiante de «ser adulto».
Deixa-los ensinarem-me as expressões da juventude deles, os «gadgets» de que se servem, as novas formas de comunicação.
Compreender, na prática, que, mesmo mudando-se os tempos e as vontades, o que nos faz rir e chorar não difere muito ao longo dos tempos.
Deixarem-me voar com eles na viagem da sua adolescência, qual Peter Pan ou Sininho.
O pior são os Capitães Ganchos que ameaçam o nosso périplo!...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Deixar-me surpreender

Vencida mais uma etapa, dei-me um sábado de descanso.
Sem grandes ideias sobre como preencher o meu descanso - não valia a pena fazer as malas, nem escolher um romance para ler, era tão só um sábado, singelo e isolado, como uma ilha num mar de trabalho - resolvi ir até Lisboa e deixar-me surpreender pela cidade.
E ela não me desiludiu: a capital estava fremente de actividades!
Dos ruidosos preparativos para o concerto dos UHF na Rua do Carmo, à exposição de fotografias de Simon Frederik, que se insinua quando subimos as escadas rolantes do Centro Comercial do Chiado, com destaque para o cordão de leitura com que me deleitei, quente pelo sol que iluminava o largo do Camões.
Entregarmo-nos a Lisboa pode ser surpreendente!

Declaração de Amor

A conversa já ia adiantada quando entrei no café.
A mulher era rechonchuda, tinha um ar franco e saudável, um ar maternal: aquela maneira entre o ternurento e o prático, de quem limpa narizes ranhosos, enquanto termina a sopa e dita a solução de um exercício de matemática a um estudante menos aplicado. Tinha sobretudo um ar franco, honesto, limpo. Falava alto, com voz límpida.
- É muito bom homem, o meu António. É que é mesmo. Eu, às vezes penso...se voltasse atrás, casava com ele outra vez. Eu gosto mesmo daquele palerma, o que é que eu hei-de fazer?...
Não era uma actriz de Hollywood, por isso não falava em «paixão inigualável»; não era uma princesa do Walt Disney, por isso não falava em «felicidade para sempre»...
Era uma mulher real, com voz franca e sem «melanzices», que declarava que voltaria a casar com «aquele palerma».
E o tom com que ela o disse - tão puro, tão simples - tornou aquela frase na declaração de amor mais sentida que eu já ouvi. Na fala de uma mulher feliz, que reduz tudo à simplicidade de se sentir acompanhada pelo «palerma da vida dela».

Receita para os que (ainda) não encontraram a metade da laranja

Não desanime:
Procure a metade de um limão, adicione açúcar, aguardente e gelo.
E desfrute!

É como o anúncio da Freeze: Não resolve o problema, mas passa-se um bom bocado e não se tem sede.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Não sejas Melga!

Bebe B - Acelga!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Ambrósio: Gramava duma cena...

Ai! Brósio... Caramba!...

O Seu a Seu Dono

A Escola é dos miúdos e sem eles não tem sentido!
Ontem, lá estavam todos: Muitos «olás», muitas novidades - Como eles cresceram!...
E, ontem, tudo voltou a fazer sentido.
A alegria deles é fonte de vida.
Mesmo numa escola cinzenta, engripada por antecipação, em quarentena do pensamento que não nos permite perspectivar o ridículo das histerias sociais e nos faz embarcar no politicamente correcto, que arrasta tudo na lama que sufoca o entusiasmo.
Tenho pena de já ter perdido a frescura que eles têm, mas orgulho-me de ainda me lembrar que a tive.
Não há nada pior que adultos sem memória!
Afinal, ontem, ainda consegui trautear a minha canção: talvez a «estrela na mão direita» tenha um ar antiquado, mas os ««olhos grandes estão lá e a vontade de aprender também; que tem de ser disfarçada, é bem de ver, não vão os profs pensar que eles gostam daquilo, que não estão todos de acordo que a escola é uma seca...
Afinal, eles ontem devolveram-me o entusiasmo, que já me pôs hoje a seleccionar os livros, as frases e as músicas, com que estou a encenar a minha abertura de ano lectivo.
O futuro não está perdido, se alguns deles conseguirem manter a memória quando crescerem e os «olhos grandes» com que olhar à volta.

«Não posso com uma gata pelo rabo»

Não que tenha tentado, claro. Coitadinhas das minhas bichanas, que me fazem tanta companhia!
Mas hoje foi um dia tão cheio de coisas...e estou tão cansada...que me lembrei desta expressão, que se usava lá por casa e que nunca mais ouvi.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

"- Ó Mamã: Lavo as mãos ou calço as luvas?
- Ó Filha! Tu não tens ouvido tudo o que se tem dito? Lavas as mãos antes e depois de calçar as luvas! Tens de ouvir o que te dizem!..."

domingo, 13 de setembro de 2009

Se bem que a estrela do dia vai ser A GRIPE, claro.
Parece que agora vamos todos ter que lavar as mãos...
Parece é que dantes não lavavam as mãos...
Mas isto é a gente a falar...

Amanhã lá vamos todos regressar à Escola

Já não posso ouvir a conversa - repetida todos os anos - da forma como se devem enquadrar as crianças na escola, por causa dos traumas.
Mais quais traumas? Com traumas ficam eles de tão protegidos e tão enfaixados em actividades e vigilâncias que não têm autonomia nem para comprar um chupa-chupa. Ou, quando têm, fazem asneira...porque coitadinhos eram imaturos.
Oh, pá! Eu sei que eu não podia falar assim, sendo professora e tal, mas - caramba - não era bom andar na escola?
Era, digo eu, que quem devia estar traumatizada era eu, que entrei para lá aos 6 anos e ainda não saí!
Mas, sabem que mais? Todos os anos, nestas vésperas de regresso à escola, sinto um formigueiro, uma excitação por aquilo que vou encontrar...um entusiasmo, é isso mesmo, um entusiasmo, que não me parece nada traumático.
E, invariavelmente, no 1º dia de escola, dou comigo a trautear a canção que, para mim, simboliza a escola

E com um búzio nos olhos claros
Vinham do cais, da outra margem
Vinham do campo e da cidade
Qual a canção? Qual a viagem?

Vinham p’rá escola. Que desejavam?
De face suja, iluminada?
Traziam sonhos e pesadelos.
Eram a noite e a madrugada.

Vinham sozinhos com o seu destino.
Ali chegavam. Ali estavam.
Eram já velhos? Eram meninos?
Vinham p’rá escola. O que esperavam?

Vinham de longe. Vinham sozinhos.
Lá da planície. Lá da cidade.
Das casas pobres. Dos bairros tristes.
Vinham p’rá escola: a novidade.

E com uma estrela na mão direita
E os olhos grandes e voz macia
Ali chegaram para aprender
O sonho a vida a poesia.


Outra Margem, Poema de Maria Rosa Colaço, musicado por Trovante no álbum Baile no Bosque, 1981

Mas vai sendo cada vez mais difícil cantar esta canção...
Amanhã ainda vou tentar!

sábado, 12 de setembro de 2009

"Impossível é se despedir da saudade"

Georges Najjar Jr.

Pantominices

Alheei-me um bocadinho do trabalho - isto acontece-me muito quando estou demasiado cansada - e dei comigo a ter um pequeno diálogo imaginário com a minha avó:
" - Ó vó! Já reparou que marcaram as eleições legislativas para o seu dia de anos? Vai ser uma festa na televisão!
- Vai ser um circo, isso é que é. Bando de pantomineiros...- disse encolhendo os ombros, com aquele ar de quem já tinha visto muitos deles."
Dei comigo a sorrir.
Era isso mesmo que ela diria. «Pantomineiros», era o mínimo que ela lhes chamaria.
Será que a palavra existe mesmo?...Sempre imaginei um homem com calças grandes, aos quadrados...algo entre um arlequim e um bobo da corte...
Fui ver ao dicionário. Primeiro encontrei «Pantomimeiro», cujo significado é "aquele que pantomima; intrujão". E pensei logo. "Ah! Era pantomimeiro, a avó não dizia bem."
Desci mais um bocadinho no dicionário e - lá estava - «Pantomineiro». E o significado (para além do anterior) é : "embusteiro"; "intrujão"; "trapaceiro". Muito mais rico!
Querida avó! Ela ia lá enganar-se e usar a palavra mais probrezinha para algo com tantos epítetos como aqueles que ela atribuía aos políticos...
Orgulho-me muito de sair à família!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Como se os teus olhos fossem as portas do pranto

"(...)
À espreita está um grande amor
Mas guarda segredo
Vazio, tens o teu coração
Na ponta do Medo
Vê como os búzios caíram
Virados p'ra Norte
Pois Eu vou mexer no Destino
Vou mudar-te a Sorte

(...)"

Os Búzios; Letra de Jorge Fernando para a voz de Ana Moura, no Álbum Para além da Saudade

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

"Obviamente, demito-o"

Gen. Humberto Delgado

O Meu Tempo!

O tempo dos «take away» e das empresas de limpeza, dos electrodomésticos e das empresas de mudanças, da margarina líquida e das refeições pré-cozinhadas, das lavandarias...
Este é o tempo que cuida do meu tempo, para que eu o possa empregar em coisas que me dão gozo; trabalho, também, mas gozo.
Este é, definitivamente, o meu tempo!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Furo jornalístico?

A SIC descobriu uma forma de aumentar as audiências: criou um conjunto de reportagens sob o tema «Os Políticos como Nunca os Viu». Isto sim, é inovador e tem algumas potencialidades, pois, como todos os conhecemos, já ninguém os aguenta. Talvez haja esperança na forma como ainda nunca os vimos...

O Demo na Crácia da Gente

"asfixia democrática"; "democracia musculada"; "excesso de democracia", são coisas que eu vou ouvindo por aqui e por ali, cada vez mais, mas que não entendo. Em que parte da definição de Democracia é que cabem estas coisas? Ou a definição de Democracia mudou? Perdi alguma coisa?

Votar é um Direito e um Dever Cívico

Achei que alguém devia dizer isto...
Especialmente depois de ter visto a versão masculina do anúncio do voto - sim, para além de mau, em geral, também é sexista, em particular. Então é assim: para as mulheres apela-se ao penteado e para os homens ao uso do fato e gravata.
Não é uma questão de igualdade, pois para essa o slogan que recordo em epígrafe servia perfeitamente. Deve ser por causa da paridade...que é aquela que evoca quem os pariu a todos.
Que vergonha!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Pensar para o Futuro

"Pensar é promover um passeio da alma"

"Ler é retomar a reflexão de outrem como matéria-prima para o trabalho de nossa própria reflexão"


Marilena Chauí

"A melhor forma de prever o futuro é criá-lo"

Peter Druker

domingo, 6 de setembro de 2009

Eu devia saber

Como professora de História eu não me devia espantar.
Eu sei que a História está cheia de sacanas.
Mas - oh, pá! - quando eles me aparecem à frente, ao vivo e a cores, e a safarem-se melhor que os que merecem, porque sempre foi assim...não dá!
Eu devia saber!
Mas afinal eu acredito sempre que isto devia melhorar!
Snif!

É votar! É votar! É bué importante votar, meus!

Sentei-me aqui para exorcizar o escândalo sentido perante o anúncio - spot publicitário, penso - que incita à prática cívica e democrática de exercer o direito e dever de voto nas próximas eleições.
O acto de votar - escolher - é equiparado a um corte de cabelo!
Pensei mais ou menos no que ia escrever e tudo aquilo começou a fazer sentido. Um triste sentido, diga-se; mas sentido.
Recordei-me então que um dos programas diários, de horário nobre, com uma vasta audiência (não sei se não será líder de audiências) é um concurso da SIC. Até aqui nada de grave. Lembro-me como aprendi e aprendo coisas importantes em concursos, daqueles que conseguem aliar entretenimento com cultura geral ou provas de talento. Todos nos recordaremos da Cornélia, do Um, Dois, Três, do Pátio da Fama, etc. Mas então é preciso especificar que, no presente «líder de audiências», os concorrentes se vestem de supositório (pronto, eu sei que não é, mas é o que dá ideia) e toda a sua habilidade, destreza e talento, consiste em tentar encaixar-se nas formas abertas numa parede de esferovite. Caso contrário caem à água. É isto que ocupa grande parte do país, nas noites de todos os dias.
Dizem-me tios, pais e avós, que as suas crianças adoram Marco Horácio e que até brincam ao «Soltem a Parede!». Fico feliz que isso aconteça, mas entristece-me que a idade mental para que se prepara um programa diário, seja os 3 anos da neta do Sr. Joaquim, que diz com muita graça: Avô, olha: Soltem a paede!
Depois desta reflexão o anúncio passou a fazer sentido.
Para esta idade mental de grande parte dos portugueses - reparem que eu recuso estoicamente dizer a maioria - qualquer apelo a deveres democráticos ou imperativos de cidadania seria desadequado, mas o pânico por ter um corte de cabelo indesejado durante 4 anos, poderá ser suficientemente motivador para conduzir os portugueses às urnas. Por assim perceberem a necessidade do voto como algo também seu; tão importante como um corte de cabelo, com o qual nos apresentamos perante os outros, e nós próprios, ao espelho, diariamente. Portanto, algo importante. Algo cuja escolha não podemos entregar a outros.
Eu sei, eu sei: temos de descer às bases para que elas nos percebam, para que o discurso seja apreendido por todos. Seria pedir muito, procurar, (talvez...), educar as bases para que as estátuas não estivessem tão longe dos pedestais? Ou será que convém mantê-las onde estão, e felizes, porque uma leitura esclarecida das características da estatuária poderia pôr em perigo a admiração das obras de arte apostas em praças públicas?
Pode ser...Posso estar a exagerar...dizem-me, alguns, que tenho tendência para isso...e eu até acredito.
Ou não...

" (...)
vi engrossar de boys a lista,
vi saltitar mais do que esquilo,
de galho em galho ser artista,
e armar o estado em crocodilo.
voracidade? era do estilo.
economia? ai que arrefece!
vi Portugal vendido ao quilo
e o povo tem o que merece.

(...)

senhor, na entrada deste asilo,
mordeu-se a isca da benesse
e o povo tem o que merece."

Vasco Graça Moura, Balada do Bom Cavaquista

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Algumas pessoas pensam que para ser pastor basta encostar-se ao cajado
"Ousar sem saber é perigoso, mas saber sem ousar é vão"

Frederico Mayor

Desabafo

Quando um burro é investido num lugar de direcção, o seu zurrar torna-se insuportável!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Linguagens

"- A colega, desculpe, mas como sou nova na escola, tenho de perguntar...
- Faça favor de perguntar colega! É assim mesmo; eu também cheguei um dia a uma escola. A esta escola. Já lá vai tanto tempo...temos de ser uns p'rós outros.
- Obrigada. Então, o que eu queria perguntar, é se cá na escola, os quadros já são todos smartboards?
- Temos de todos. Pode servir-se dos smartboards ou dos stupidboards, os que gostar mais.
- Ah, muito obrigada.
- Ora essa!"

Novas Competências

A minha incapacidade para me concentrar a ouvir debates políticos é uma coisa que vai muito para além da minha vontade consciente.
Porque eu tento...mas não consigo.
Como, frequentemente, quando tento ver debates políticos à noite adormeço, tentei aproveitar agora, o noticiário da hora de almoço, para tentar dominar esta vontade de me alhear e para ouvir de facto o que eles dizem.
Acho que era um extracto de um debate que aconteceu ontem, entre aqueles comentadores que falam dos políticos, mas são eles próprios também políticos.
E, de repente, tive uma revelação! Eu não sabia quem é que o Pacheco Pereira me fazia lembrar...e foi hoje, enquanto o meu espírito se recusava a ouvir o que eles diziam que eu vi, vi mesmo: Pacheco Pereira é igual a um kuala. Tal e qual!
Não é uma crítica (os kualas são tão simpáticos, nunca diriam o que o Pacheco Pereira diz) é uma constatação.
E, sobretudo, é a constatação de que o meu espírito não me obedece, quando sabe que tem razão; e encontra alternativas.
Se tinha que olhar para eles concentrou-se (ou concentrei-me, porque afinal estou a falar de mim, não é?) em aspectos mais apelativos, igualmente inúteis, mas apelativos - encontrar semelhanças entre os políticos e o reino animal. Esperemos que não ofenda nenhum bicho!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A História

"Para que serve a História senão para ajudar os contemporâneos a manter a confiança no futuro e a armarem-se melhor para enfrentar as dificuldades com que quotidianamente se deparam?"

Georges Duby, Ano 1000, Ano 2000: No Rasto dos Nossos Medos

Atenção, Sr. Primeiro-Ministro!

Na Grande Entrevista de Judite de Sousa esteve ontem presente o Primeiro-Ministro.
Uma das vantagens da «sociedade de informação» é que ela fica disponível para mais tarde ser consultada e que, um tempinho depois (por exemplo, no dia seguinte) a podemos receber em versão compacta, descodificada, comentada, contestada, aplaudida, etc, etc, e evitámos a estopada de estar a aturar a versão integral a tentar descobrir-lhe um sentido. Até porque, frequentemente, esta tarefa é difícil, penosa e desmotivante, ao descobrirmos que o sentido é sempre o mesmo e raramente é nosso.
Foi assim que eu hoje acordei com os «ecos» da entrevista, contados em versão resumida pelo jornalista da RFM.Confirmei as palavras exactas no site da RTP.
Retive então que o Primeiro-Ministro reconheceu que a relação com os professores teve alguns problemas (já revela clarividência e modéstia da parte dele!) mas que se encontra "muito disponível para restaurar uma relação delicada e atenta a todos os problemas dos professores".
Ficamos então à espera da Restauração, sr. Primeiro-Ministro. Mas queria só avisar que a verdadeira Restauração - aquela que ainda comemoramos todos os anos - implicou uma mudança de dinastia.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Quando é que eu me vou habituar a viver no mundo dos adultos?

E lá se passou o primeiro dia...
Com muitos sorrisos, muita festa, muita algazarra.
E as primeiras reuniões de trabalho.
Mas foi um dia estranho.
Cheio de emoções contraditórias.
Se a sinceridade dos cumprimentos de alguns me deixou verdadeiramente emocionada, outros houve, em que eu quase juraria ouvir o sibilar da serpente.
E não consigo evitar um arrepio. E é muito violento para mim, manter-me firme, afivelar um sorriso de plástico, retribuir entre-dentes o cumprimento e resistir ao impulso gaiato de fugir, de me refugiar num canto da sala e ainda gritar, depois de me sentir protegida: «Não gosto de ti!»,
como uma criança.
Com quando ainda não tinha percebido que a hipocrisia às vezes é precisa, sobretudo como reacção aos hipócritas com quem convivemos.
Parece que alguns, consideram mesmo, que a hipocrisia faz parte das regras da civilização. E já não é de agora! Muito, muito antes do «politicamente correcto».
Vejamos:
"Existem infinitamente mais homens que aceitam a civilização como hipócritas do que homens verdadeiramente e realmente civilizados, e é lícito até perguntarmo-nos se um certo grau de hipocrisia não será necessário à manutenção e à conservação da civilização, dado o reduzido número de homens nos quais a tendência para a vida civilizada se tornou uma propriedade orgânica."
Sigmund Freud, in As Palavras de Freud

E mulheres, então...