segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Candura

Primeiro tempo da manhã.
- Quero pedir-vos desculpa por não trazer os testes, mas, como estive doente...
- Esteve doente, Professora?
- Sim e...
- Já está bem?
- Já, sim, obrigada.
- Isso é que importa!
E o sorriso genuíno daquele rapazinho simples iluminou todo o meu dia.

Recordei-me de um texto de José Tolentino Mendonça: "Não há dia nenhum em que não nos visite um anjo: acompanhando a trajetória do nosso arco irresolúvel, sacudindo-nos da caliça do desâimo e do sono, guiando-nos, para lá do cerco, ao instante límpido."

O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas, p. 162

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Filosofia

"Em filosofia não há águas pouco profundas; todo o aprendiz de filósofo tem de lutar para não se afundar." 
Kenny, Anthony, História concisa da Filosofia Ocidental (Introdução, p. 14)

sábado, 28 de janeiro de 2017

«Muralidade»

Uma conhecida minha (amiga de Facebook) colocou online a informação que acabara de receber a notícia da morte da mãe.
Achei tão despudorado que não consegui sequer escrever nada.
Afixar num mural a morte da mãe...há coisas que me fazem muita confusão.

Ecos encantados

Quando acordei hoje de manhã já era de tarde. O tempo pardo, enevoado, paralisado na neblina, convidava ao arrasto da vida numa cadência calma, preguiçosa, mandriona...
Enqaunto espreitava o tempo, o jardim, as árvores quase nuas e os passeantes apaixonados que ignoram as invernias, ouvi o som do encantador de tesouras. Há quanto tempo não ouvia esse som! Ritmado, lento, chuvoso, segundo a tradição popular.
Perdi-me nas esquinas da memória do tempo em que que aos fins-de-semana de Inverno se ouvia o som do encantador de tesouras. E a minha mãe dizia: «Vai chover: anda aí o amola tesouras e navalhas.» Lembro-me sobretudo de ele consertar chapéus de chuva, mas a minha mãe referia-se-lhe sempre como o «Amola tesouras e navalhas», com um sotaque espanholado, pois o senhor viera da Galiza há muito tempo...
Enquanto recordava tudo isto compreendi que tinha sido apenas uma vez que ouvira o som...que daquela janela raramente se ouvem os sons da rua...que em tanto tempo nesta terra nunca tinha ouvido tal som...que essa era uma recordação da terra onde eu vivi a infância e adolescência...Que eu não podia realmente ter ouvido tal som!
Compreendi então que fora apenas um eco da minha memória.

sábado, 7 de janeiro de 2017

Durante a noite

fui num tapete voador até Viena e dancei graciosamente uma valsa com um vestido branco que me realçava os ombros e o pescoço.
Acordei antes de reconhecer o par.