Primeiro tempo da manhã.
- Quero pedir-vos desculpa por não trazer os testes, mas, como estive doente...
- Esteve doente, Professora?
- Sim e...
- Já está bem?
- Já, sim, obrigada.
- Isso é que importa!
E o sorriso genuíno daquele rapazinho simples iluminou todo o meu dia.
Recordei-me de um texto de José Tolentino Mendonça: "Não há dia nenhum em que não nos visite um anjo: acompanhando a trajetória do nosso arco irresolúvel, sacudindo-nos da caliça do desâimo e do sono, guiando-nos, para lá do cerco, ao instante límpido."
O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas, p. 162
Será que as palavras ficam presas no tempo? Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil? Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?... Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto. Por puro prazer!
segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
segunda-feira, 12 de junho de 2017
Filosofia
"Em filosofia não há águas pouco profundas; todo o aprendiz de filósofo tem de lutar para não se afundar."
Kenny, Anthony, História concisa da Filosofia Ocidental (Introdução, p. 14)
Kenny, Anthony, História concisa da Filosofia Ocidental (Introdução, p. 14)
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sábado, 28 de janeiro de 2017
«Muralidade»
Uma conhecida minha (amiga de Facebook) colocou online a informação que acabara de receber a notícia da morte da mãe.
Achei tão despudorado que não consegui sequer escrever nada.
Afixar num mural a morte da mãe...há coisas que me fazem muita confusão.
Achei tão despudorado que não consegui sequer escrever nada.
Afixar num mural a morte da mãe...há coisas que me fazem muita confusão.
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Ecos encantados
Quando acordei hoje de manhã já era de tarde. O tempo pardo, enevoado, paralisado na neblina, convidava ao arrasto da vida numa cadência calma, preguiçosa, mandriona...
Enqaunto espreitava o tempo, o jardim, as árvores quase nuas e os passeantes apaixonados que ignoram as invernias, ouvi o som do encantador de tesouras. Há quanto tempo não ouvia esse som! Ritmado, lento, chuvoso, segundo a tradição popular.
Perdi-me nas esquinas da memória do tempo em que que aos fins-de-semana de Inverno se ouvia o som do encantador de tesouras. E a minha mãe dizia: «Vai chover: anda aí o amola tesouras e navalhas.» Lembro-me sobretudo de ele consertar chapéus de chuva, mas a minha mãe referia-se-lhe sempre como o «Amola tesouras e navalhas», com um sotaque espanholado, pois o senhor viera da Galiza há muito tempo...
Enquanto recordava tudo isto compreendi que tinha sido apenas uma vez que ouvira o som...que daquela janela raramente se ouvem os sons da rua...que em tanto tempo nesta terra nunca tinha ouvido tal som...que essa era uma recordação da terra onde eu vivi a infância e adolescência...Que eu não podia realmente ter ouvido tal som!
Compreendi então que fora apenas um eco da minha memória.
Enqaunto espreitava o tempo, o jardim, as árvores quase nuas e os passeantes apaixonados que ignoram as invernias, ouvi o som do encantador de tesouras. Há quanto tempo não ouvia esse som! Ritmado, lento, chuvoso, segundo a tradição popular.
Perdi-me nas esquinas da memória do tempo em que que aos fins-de-semana de Inverno se ouvia o som do encantador de tesouras. E a minha mãe dizia: «Vai chover: anda aí o amola tesouras e navalhas.» Lembro-me sobretudo de ele consertar chapéus de chuva, mas a minha mãe referia-se-lhe sempre como o «Amola tesouras e navalhas», com um sotaque espanholado, pois o senhor viera da Galiza há muito tempo...
Enquanto recordava tudo isto compreendi que tinha sido apenas uma vez que ouvira o som...que daquela janela raramente se ouvem os sons da rua...que em tanto tempo nesta terra nunca tinha ouvido tal som...que essa era uma recordação da terra onde eu vivi a infância e adolescência...Que eu não podia realmente ter ouvido tal som!
Compreendi então que fora apenas um eco da minha memória.
sábado, 7 de janeiro de 2017
Durante a noite
fui num tapete voador até Viena e dancei graciosamente uma valsa com um vestido branco que me realçava os ombros e o pescoço.
Acordei antes de reconhecer o par.
Acordei antes de reconhecer o par.
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