segunda-feira, 5 de abril de 2010

Pedido de atenção: mimo e esclarecimentos, precisam-se

Hoje sinto-me a «florinha de estufa» que a minha avó me chamava.
Não sei bem como, mas devo ter apanhado uma gripe.
Tenho febre, arrepios de frio, dores no corpo, a garganta inflamada e uma vontade muito grande de me aninhar. Deve, portanto, ser uma gripe.
Há vantagens na questão. Vejo sobretudo duas:
a) constatei que a paranóia geral sobre a gripe A já passou, pois fui atendida numa farmácia com muita calma e profissionalismo, sem qualquer resquício de histeria, por uma menina muito linda - que creio até que já foi mnha aluna - que lá receitou os tradicionais comprimidos para a febre e pastilhas para a garganta, respeitando as minhas preferências e esclarecendo as minhas dúvidas.
b) recordei-me de algumas afirmações do Professor Carvalho Rodrigues, que dizia há tempos perante uma audiência da qual que fazia parte, que uma gripe é a melhor doença que podemos ter: sabemos que passa, avisamos toda a gente por telefone da nossa maleita e recebemos atenções e mimos redobrados. Como ainda não tinha experimentado esta teoria através dos amigos do ciberespaço, cá estou a comunicar que tenho gripe. Espero agora os mimos e as atenções redobradas.
Para haver tema de conversa pergunto por aqui se alguém me sabe esclarecer a razão do êxito (secular) da história de Alice no País das Maravilhas. É que eu, que já não lhe achei graça no tempo em que era criança, lá fui ver o filme nesta Páscoa e continuo sem perceber. É que tirando a mensagem de que as pessoas loucas são as mais sãs - por fugirem à normalidade/normalização que é sempre assustadora - e uma afirmação da beleza do mundo da fantasia (que aquele até nem é dos meus preferidos, dentre a panóplia de universos fatasiosos alternativos), eu, continuei a não compreender o sucesso. Azar o meu, que gastei o dinheiro do bilhete em vão. A boa novidade é que vem aí um Toy Story 3: isso sim!

4 comentários:

Ninguém.pt disse...

Esclarecimentos não posso dar, mas virtualmente pode receber o meu mimo: sinta-se mimada!

E para que não se julgue única na desgraça, aqui lhe deixo um testemunho de um outro queixoso, companheiro de infortúnio...

Tenho uma grande constipação

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.


Álvaro de Campos

As rápidas melhoras, porque escrivaninhas pingonas podem criar bolor...

Escrivaninha disse...

Ah, Mestre, sempre a acrescentar mais-valias à minha vida!
Para além do mimo (muito apreciado) e da alegria de saber que não anda por aí envolvido com a Alice, aproximou-me - assim - de um génio. Diria outrora - até há bem pouco - que ia tomar uma aspirina...pois agora, todo o meu mundo mudou: o que tomo é uma atitude pessoana. E assim, mais longe da febre e mais perto do génio, durmo embalada 'no chic' de um universo de escritor, digno de uma escrivaninha.Obrigada

Ninguém.pt disse...

Acho que certas atitudes são melhores, mesmo para as gripes, do que as aspirinas...

Lição de casa

Você tampa a panela,
dobra o avental,
deixa a lágrima secar no arame do varal.
Fecha a agenda,
adia o problema,
atrasa a encomenda,
guarda insucessos no fundo da gaveta.
A idéia é tirar a tarja preta
e pôr o dedo onde se tem medo.
Você vai perceber
que a gente é que faz o monstro crescer.
Em seguida superar o obstáculo,
pois pode-se estar perdendo
um espetáculo acontecendo do outro lado.
Atravessar o escuro
até conseguir tatear o muro,
que é o limite da claridade.
Se tiver capacidade para conquistá-la,
tente retê-la o mais que puder.
Há que ter habilidade, sem esquecer
que a luz é mulher.
Do inferno assim desmascarado,
é hora de voltar.
Não importa se é caminho complicado,
se a curva é reta,
ou se a reta entorta.
Você buscou seu brilho, voltou completa;
jogou a tranca fora, abriu a porta.


Flora Figueiredo

Ninguém.pt disse...

Calculo que ainda engripada, ainda deitada, custando a adormecer...

Aqui fica uma ajuda:

Canção de embalar

Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p'ra ti

Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar

Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor

Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu'inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer.


Zeca Afonso

http://www.youtube.com/watch?v=h8TpRnMU09M