domingo, 30 de janeiro de 2011

Frases feitas

"Pedimos desculpa pela interrupção, o programa segue dentro de momentos."
"Estamos a trabalhar para o servir melhor. Agradecemos a sua compreensão."

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sem saber como...

Às Vezes Tenho Idéias Felizes


"Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...


Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...

Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?..."

Álvaro de Campos

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Shoah

Declarado pela ONU, hoje é Dia Internacional da Memória do Holocausto!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Visite regularmente o oftalmologista

"A verdadeira viagem de descoberta não consiste em buscar novas paisagens, mas em ter um novo olhar."
Marcel Proust

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Gineceu

Atenas no séc. V a.C.

"- Gineceu...
- O que é isso?
- Uma parte da casa dedicada especificamente às mulheres.
- Também é uma coisa das plantas...
- Relacionada com características femininas.
- E também é o médico das mulheres. O ginecologista. Tem alguma coisa a ver?"


Fico sempre muito cansada com as minhas aulas. Na turma de 28 alunos as perguntas sobrepõem-se. Mas é tão bom quando podemos constatar que eles estão a pensar,que eles já procuram relacionar as coisas todas. Tão bom acreditar que estamos a ajudá-los a pensar...ao contrário das nulheres de Atenas, proibidas de pensar, encerradas nos seus gineceus.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Perplexidade

Correu muito bem a experiência democrática escolar.
Quando vi, no final, os adversários de há pouco a cumprimentarem-se cordialmente, pensei: «Espero não me arrepender mais tarde...posso ter ajudado alguém a iniciar uma carreira política...»

domingo, 23 de janeiro de 2011

Vamos indo...

Este fim de semana tinha de ser decisivo. Por isso eram quase 5 h da manhã quando gravei as últimas palavras do texto que planeava rever hoje.
Deitei-me algo intranquila por causa do drama de 8 patas que vivemos presentemente por aqui: a gata, velhota, não aceitou o gatinho novo e temos vivido em estado de sítio. Agora estão em locais separados e ela, como é a que se mexe menos, está embrulhada num cobertor na lavandaria. Tive medo que ela tivesse frio, mas creio que ela prefere isso a ter de conviver com o gato, que lhe causa um pânico a ponto de ela não se controlar. Já está decidido que o gato volta para casa da tia, onde conviverá com mais 3 gatos e 2 cães, em que ele se diverte como se estivesse num verdadeiro luna park.
Custa-me deixá-lo ir, mas não há outra saída. E sei que vai ser muito bem tratado.
Quando regressei a casa, após o cumprimento do dever cívico, estava a começar o filme Marley e eu. Vi-o todo, pois precisava mesmo de repousar o texto depois da revisão e agora estou para aqui de lágrimas nos olhos, a observar o enroscado gatinho de que tenho de abdicar.
Quando liguei o computador não era para escrever nada disto. Era até para me congratular por ter arrumado hoje um imenso conjunto de malas, pastas, casacos e chapéus, que se acumulavam por suportes e cadeiras cá em casa.
Mas o que tem piada nesta situação é que tudo isto se deve às eleições. A limpeza foi o resultado de uma busca - infrutífera - pelo meu BI para poder votar. Afinal lá consegui votar com o cartão de eleitor e a carta de condução e tenho a casa muito mais arrumada.
O gatito não gostou da limpeza, pois adorava dormir sobre a pilha das minhas malas...
E o que eu encontrei em toda esta busca! Rebuçados lambuzados, lenços de papel ranhosos, vários bilhetes de metro, dúzias de canetas, vários pensos higiénicos (penso que, juntando todos, dá mais que a quantidade de uma embalagem normal), um baton que comprei há imenso tempo, muitos rascunhos de coisas, vários conjuntos de cartões de visita...
Fiquei a pensar no resultado desta exploração arqueológica: os pedaços de vida que deixamos por aí! Tudo bem analisado pode dar pistas sobre os nossos hábitos: a primeira conclusão seria, com certeza, que é um hábito esporádico arrumar as malas e os abafos cá por casa.
A televisão anuncia os esperados resultados das eleições. Agora deu-lhes para celebrar isto como a eleição do Presidente do Centenário da República...O estúdio está ornado com fotografis de bigodes farfalhudos da 1ª República. E depois estão todos de parabéns! Esta conversa morna - para adormecer perús - que orna todos os actos eleitorais é de uma capacidade aborrecente sem igual!
Penso no que vou dizer amanhã quando as crianças me perguntarem se fiquei contente com os resultados das eleições. Olho para o canto superior direito da minha sala de estar - não sei se já repararam mas a maior parte das soluções difíceis encontram-se nos cantos superiores direitos das divisões que habitamos - e ensaio a frase "Fico sempre contente quando a democracia se desenrola de acordo com os seus pressupostos."
Tretas! Claro que não estou nada contente. Mas o que mais me assusta é também não estar descontente. Quero lá saber! Nenhum merece a minha confiança. Lá coloquei uma cruz, dei o meu voto a alguém em quem não consigo confiar. Esta situação do menos mau irrita-me, desgosta-me, faz-me ansiar por uma manobra arrojada de alguém...que arrancasse gritos de alegria e de indignação, que nos fizesse estremecer...discutir acaloradamente...dividirmo-nos por opiniões...e não continuarmos aos encontrões...à crise, que já tratamos por tu, com uma confiança que roça uma relação de amor-ódio...ou simplesmente de aborrecimento. Que maçada! Lá vem a crise...outra vez?...É outra ou uma continuação da mesma?
Quanto estarão a ganhar aqueles opiniosos todos que estão a inventar comboios de frases nas várias estações de televisão?
A única coisa boa nisto tudo é que, não havendo segunda volta, devemos poupar algum dinheiro...ou talvez não?...
Na segunda volta vai ele, e nós cá continuamos neste baile mandado, neste corridinho algarvio que já perdeu o viço e o fogo de quando dançar a pares era excitante. Estamos há tanto tempo no rancho, que já bailamos sem ver qual o par que abraçamos.

Amanhã tenho de ser Presidente de uma Mesa de Assembleis de Jovens Deputados. E a frescura deles ainda me encanta. Alguns andam aborrecidos or diferenças de opinião sobre as listas da escola. E o que eu lhes digo - que eles pensam que é brincadeira - é "congratulem-se por terem opiniões!"
É mais verdade do que eles conseguirão compreender antes dos 40 anos.
Ando encantada com o empenho deles, com o idealismo adolescente que irrita muitos, mas a mim me devolve a esperança.

sábado, 22 de janeiro de 2011

João Villaret

Passaram ontem 50 anos sobre a morte deste actor, deste 'diseur' extraordinário.
Mais um que não morreu...Ouçam-no:


FADO FALADO

"Fado Triste
Fado negro das vielas
Onde a noite quando passa
Leva mais tempo a passar
Ouve-se a voz
Voz inspirada de uma raça
Que mundo em fora nos levou
Pelo azul do mar
Se o fado se canta e chora
Também se pode falar

Mãos doloridas na guitarra
que desgarra dor bizarra
Mãos insofridas, mãos plangentes
Mãos frementes e impacientes
Mãos desoladas e sombrias
Desgraçadas, doentias
Quando à traição, ciume e morte
E um coração a bater forte

Uma história bem singela
Bairro antigo, uma viela
Um marinheiro gingão
E a Emília cigarreira
Que ainda tinha mais virtude
Que a própria Rosa Maria
Em dia de procissão
Da Senhora da Saúde

Os beijos que ele lhe dava
Trazia-os ele de longe
Trazia-os ele do mar
Eram bravios e salgados
E ao regressar à tardinha
O mulherio tagarela
De todo o bairro de Alfama
Cochichava em segredinho
Que os sapatos dele e dela
Dormiam muito juntinhos
Debaixo da mesma cama

Pela janela da Emília
Entrava a lua
E a guitarra
À esquina de uma rua gemia,
Dolente a soluçar.
E lá em casa:

Mãos amorosas na guitarra
Que desgarra dor bizarra
Mãos frementes de desejo
Impacientes como um beijo
Mãos de fado, de pecado
A guitarra a afagar
Como um corpo de mulher
Para o despir e para o beijar

Mas um dia,
Mas um dia santo Deus, ele não veio
Ela espera olhando a lua, meu Deus
Que sofrer aquele
O luar bate nas casas
O luar bate na rua
Mas não marca a sombra dele
Procurou como doida
E ao voltar da esquina
Viu ele acompanhado
Com outra ao lado, de braço dado
Gingão, feliz, levião
Um ar fadista e bizarro
Um cravo atrás da orelha
E preso à boca vermelha
O que resta de um cigarro
Lume e cinza na viela,
Ela vê, que homem aquele
O lume no peito dela
A cinza no olhar dele

E o ciume chegou como lume
Queimou, o seu peito a sangrar
Foi como vento que veio
Labareda atear, a fogueira aumentar
Foi a visão infernal
A imagem do mal que no bairro surgiu
Foi o amor que jurou
Que jurou e mentiu
Correm vertigens num grito
Direito ou maldito que há-de perder
Puxa a navalha, canalha
Não há quem te valha
Tu tens de morrer
Há alarido na viela
Que mulher aquela
Que paixão a sua
E cai um corpo sangrando
Nas pedras da rua

Mãos carinhosas, generosas
Que não conhecem o rancor
Mãos que o fado compreendem
e entendem sua dor
Mãos que não mentem
Quando sentem
Outras mãos para acarinhar
Mãos que brigam, que castigam
Mas que sabem perdoar

E pouco a pouco o amor regressou
Como lume queimou
Essas bocas febris
Foi um amor que voltou
E a desgraça trocou
Para ser mais feliz
Foi uma luz renascida
Um sonho, uma vida
De novo a surgir
Foi um amor que voltou
Que voltou a sorrir

Há gargalhadas no ar
E o sol a vibrar
Tem gritos de cor
Há alegria na viela
E em cada janela

Renasce uma flor
Veio o perdão e depois
Felizes os dois
Lá vão lado a lado
E digam lá se pode ou não
Falar-se o fado."

Aníbal Nazaré e Nelson de Barros

Período de Reflexão

[...]

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Recordando o malogrado Beto

"Memórias Esquecidas

São meras palavras
Ditas pelo vento
Quando não estás

Cai em mim a noite
Sinto o momento
Olho p´ra trás

Palavras perdidas, ficam por dizer
Ohhh, perco a razão
Memórias esquecidas, sinto-me perder
Tudo é ilusão

Se eu sentir que não sou capaz
De enfrentar marcas do passado
Ohhh, é porque tu nem sempre me dás
A certeza de querer estar a meu lado
Ohhh, a meu lado

Quando desabafo
Os meus sentimentos
Não posso mais

Aguentar calado
E esconder momentos
Eu quero mais

Palavras perdidas, ficam por dizer
Ohhh, perco a razão
Memórias esquecidas, sinto-me perder
Tudo é ilusão...

Se eu sentir que não sou capaz
De enfrentar marcas do passado
Ohhh, é porque tu nem sempre me dás
A certeza de querer estar a meu lado


Se eu sentir que não sou capaz
De enfrentar marcas do passado
Ohhh, é porque tu nem sempre me dás
A certeza de querer estar a meu lado
Ohhh, a meu lado...
A meu lado..."

Beto Moy

Cheguei a casa, liguei a TV à espera de ver uma divertida novela da Globo que marca bem o meu início de fim de semana, mas a SIC estava a transmitir um programa especial "Companhia dos Amigos" onde estavam a recordar o Beto. Rapaz da minha geração, possuidor de uma bela voz que cantava canções de que eu nem sempre gostava. Estavam a passar esta canção, da qual gostava muito, só não sabia o título...do qual não gosto...mas isso agora não interessa. Recordei o Beto.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Há esperança!

Ontem foi um dia grande, muito grande; tão grande que encheu também o dia de hoje, onde cria que era já 6ª feira, do tanto que vivi esta semana.
Hoje agradeci aos meus alunos. Há muito tempo que não sentia satisfação em estar na escola para além do tempo efectivamente lectivo, passado nas aulas, a ensinar e aprender.
Ontem estive todo o dia a zelar pela democraticidade do processo de eleição para o Parlamento dos Jovens, um programa que existe anualmente e que nunca me chamou a atenção.
Este ano os alunos de 9º ano manifestaram interesse em organizar listas para concorrer. Como professora curricular encarreguei-me do processo, cumprindo os trâmites legais, mas sem grande fé na iniciativa. Ontem, no decurso da votação que decorrereu durante o dia, esperei uma afluência pequena, centrada nos 8º e 9º anos e temi alguns conflitos e escaramuças.
Foi surpreendente! Filas e filas de pequenos eleitores, convictos do seu papel, curiosos para experimentar um processo eleitoral como o dos maiores de 18, ordeiramente de cartão identificativo na mão, respeitando a hora de chegada à fila.
A minha pequena presidente da mesa, uma aluna de 7º ano, das mais responsáveis que já vi, zelava activamente pela seriedade e democraticidade do processo.
Saí da escola tarde e fui ainda para uma conferência de Francisco José Viegas, integrada nos Combates pela Leitura e pela Literacia, que estou a frequentar e que já aqui referi. Falar e ouvir falar de livros, do prazer de ler, do que é ser leitor, das interrogações que se colocam ao universo do livro com o qual crescemos...
Cheguei a casa muito, muito cansada. Não conseguiria preparar uma aula, nem jantar convictamente. Dormi mal. Estava excitada.
Estava a celebrar o facto de ter descoberto que, a despeito dos burocratas, das leis, das cadeias hierárquicas de papel e cruzes que nos obrigam a arrastar diariamente, ensinar ainda é aprender com os miúdos, experimentar o prazer de ensinar, experimentar o prazer de aprender, educar, estar com os educandos, ajudar a aprender, descobrir...
Ainda há muito para descobrir! Afinal talvez consiga lá ficar...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

José e Pilar

Que grande frete deve ter sido aturar aquela gente, de caderno e câmara em punho, durante vários anos da vida de um casal!...
Gostei.
Gostei sobretudo que lhe tivessem dado o Nobel, que o tivessem "nobilitado".
Uma biblioteca invejável. Uma cultura tão esmagadora como a visão da biblioteca.
Podia até não acreditar na vida eterna, mas de certeza que não morreu. Quem escreve assim e vê o seu valor reconhecido, não morre.
Uma história de Amor, de Respeito, de Amizade, de Admiração...Uma história de Vida (Eterna).
Vale a pena ver!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Contente, eu? Onde foste buscar essa ideia?

A segunda-feira fica assim, empoleirada no início da semana, a espreitar entre o descanso do fim de semana e a canseira imensa, que ameaça arrastar-se por todas as outras feiras...
Há ainda uma certa dose de entusiasmo: reencontrar os miúdos, a maior parte das pessoas ainda responde aos «bons-dias»...Amanhã começa a animosidade. Apercebemo-nos que aquele fim de semana acabou definitivamente e que a semana ainda tarda a acabar. A Terça-feira é um dia sem esperança: ainda só se vê as costas do fim de semana e ainda não se dobrou a esquina da esperança, a partir da qual se prevê a existência de um próximo fim de semana - o próximo.
E nós amamos o próximo, como a nós mesmos; aliás, amamos o próximo, porque nos amamos a nós mesmos, a quem queremos dedicar um fim-de-semana inteirinho.
...
Mas nem para todos é assim. Há aqueles a quem o fim-de-semana parece longo, interminável, uma prisão de gritos, fraldas e brinquedos espalhados pela casa. De obrigações educativas, maritais, formativas, lidadeiras de casas de vários quartos, várias casas de banho, arcas frogoríficas com listas de necessidades afixadas na porta, de caixas plásticas prontas a ser cheias para alimentar o agregado familiar dia após dia até um outro fim de semana igualzinho.
Aí a segunda-feira, embora se lamente o «ter de voltar ao trabalho», a prisão torna-se toda ela pátio ensolarado...mas nunca nada disto se confessa a ninguém, que a sociedade não perdoaria o festim de gostar de trabalhar; pior, preferir trabalhar a desempenhar as funções para que a fisiologia e a religião nos delineram: continuar a alimentar esta marcha da Humanidade.

Hoje é segunda-feira e eu li um artigo sobre um estudo de psicologia que conclui que, aquilo de que mais temos medo no dia a dia, é a inveja alheia. Continuemos pois a nossa marcha de formiguinhas, trabalhadoras, encarreiradas e nunca folgazãs!

domingo, 16 de janeiro de 2011

Hoje está vento.

Tenho vontade de mudar.
Mudar de casa, mudar de roupa, mudar de emprego, mudar de visual, talvez, até, de terra.
Será este o «vento de mudança» de que por vezes se fala?...

«Um dia vais achar que sair à noite é pôr o lixo no contentor»

Ultimamente tenho esta sensação de forma recorrente: sinto-me presa!
Presa a um horário rígido, presa a rotinas estupidificantes, presa a rituais sem sentido, presa a um estado de politicamente correcto que me sufoca, me insulta, me despreza, me inquiteta...
Ultimamente sou assombrada pelos excelentes slogans da Sumol - que, lamentavelmente, eu não gosto de beber - que «bebo» sofregamente e vou tomando como lema de vida. Será que é possível? Manter-me original?...Tudo na sociedade adulta e politicamente correcta me incita a ser igual a todos. Num ambiente laboral que sufoca a originalidade e boicota a iniciativa, sinto, cada vez mais, que quero sair. Quero sair!
Na realidade eu não queria sair, mas queria que outros saíssem...
Mais que nunca lembro o velho ditado: «Quem não está bem, muda-se». Tenho de ser eu a mudar...ou a mudar-me?...Interiormente ou dali para fora?...Eles querem que eu faça o portfolio e eu só me apetece sair porta fora!
E a alegria diária de umas horas por dia em verdadeira troca de saberes, de aprendizagem mútua, de alguém que confia em mim para ensinar...versus várias horas por dia em que desconfiam de mim e me obrigam a explicar o que faço, como faço, porque faço...como se não fosse óbvio e natural. Porque o faço? Porque sou assim e porque sou eu...por enquanto, ainda original...até quando?
Tenho medo!

sábado, 15 de janeiro de 2011

O determinismo da Metereologia na História ou a Colonização vista do lado de Lá

"Erro de português


Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena! Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português"

Oswald de Andrade, colhido em http://belasmensagens.zip.net/index.html

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Adeus

"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.


Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar
Dentro de ti

não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus."

Eugénio de Andrade
colhido em http://poediapoedia.blogspot.com/

Para ouvir, aqui:

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Só lhe fica bem!

"Gosto das mulheres que envelhecem


Gosto das
mulheres que envelhecem,
com a pressa das suas rugas, os cabelos
caídos pelos ombros negros do vestido,
o olhar que se perde na tristeza
dos reposteiros. Essas mulheres sentam-se
nos cantos das salas, olham para fora,
para o átrio que não vejo, de onde estou,
embora adivinhe aí a presença de
outras mulheres, sentadas em bancos
de madeira, folheando revistas
baratas. As mulheres que envelhecem
sentem que as olho, que admiro os seus gestos
lentos, que amo o trabalho subterrâneo
do tempo nos seus seios. Por isso esperam
que o dia corra nesta sala sem luz,
evitam sair para a rua, e dizem baixo,
por vezes, essa elegia que só os seus lábios
podem cantar."


Nuno Júdice

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011



I Just Want To Make Love To You

I don't want you to be no slave;
I don't want you to work all day;

But I want you to be true,
And I just wanna make love to you.
...Love to you...
...Love to you...Ooooohhooh...
...Love to you...


All I want to do is wash your clothes;
I don't want to keep you indoors.
There is nothing for you to do
But keep me makin' love to you.
...Love to you...
...Love to you...Ooooohhooh...
...Love to you...

And I can tell by the way you walk that walk;
I can hear by the way you talk that talk;
I can know by the way you treat your girl
That I can give you all the lovin' in the whole wide world!
All I want you to do is make your bread!
Just to make sure you're well-fed!
I don't want you sad and blue!
And I just wanna make love to you.
...Love to you...
...Love to you...Ooooohhooh...
...Love to you...Ooooh.

And I can tell by the way you walk that walk;
And I can hear by the way you talk that talk;
And I can know by the way you treat your girl
That I could give you all the lovin' in the whole wide world!
Oh, all I wanna do - All I wanna do is cook your bread!
Just to make sure that you're well-fed!
I don't want you sad and blue,
And I just wanna make love to you.
...Love to you...
...Love to you...Ooooohhooh...
...Yeah, love to you...Ooooh.
...Love to you...

I don't want you to be no slave;
I don't want you to work all day;
But I want you to be true,
And I just wanna make love to you.
...Love to you...
...Love to you...Ooooohhooh...
...Love to you...


All I want to do is wash your clothes;
I don't want to keep you indoors.
There is nothing for you to do
But keep me makin' love to you.
...Love to you...
...Love to you...Ooooohhooh...
...Love to you...

And I can tell by the way you walk that walk;
I can hear by the way you talk that talk;
I can know by the way you treat your girl
That I can give you all the lovin' in the whole wide world!
All I want you to do is make your bread!
Just to make sure you're well-fed!
I don't want you sad and blue!
And I just wanna make love to you.
...Love to you...
...Love to you...Ooooohhooh...
...Love to you...Ooooh.

And I can tell by the way you walk that walk;
And I can hear by the way you talk that talk;
And I can know by the way you treat your girl
That I could give you all the lovin' in the whole wide world!

Oh, all I wanna do - All I wanna do is cook your bread!
Just to make sure that you're well-fed!
I don't want you sad and blue,
And I just wanna make love to you.
...Love to you...
...Love to you...Ooooohhooh...
...Yeah, love to you...Ooooh.
...Love to you...

Etta James

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

"Albarda-se o burro à vontade do dono"

domingo, 9 de janeiro de 2011

Em fim de Domingo

Domingo é dia de quebra de rotina, de alguns excessos e de alguma auto-condescendência. Só isso justifica a tardia hora de levantar, o remanso da conversa rente ao almoço, a sobremesa docinha e o noticiário da noite.
Quanto a este - que vou jurando não voltar a ver na íntegra - é interessante analisar sobretudo a topografia: Na abertura, o crime (o incontornável assassinato de Carlos Castro), a seguir os que estão mortinhos por mandar (as campanhas presidenciais e as intervenções dos velhos protagonistas da cena política), em terceiro lugar, o mal-morto (a notícia do incompetente enfarte que Alberto João Jardim sofreu) e só depois - é verdade! só depois, a mais de meio do serviço noticioso - o futebol. Termina todo o programa com os comentários dos que, moribundos na política partidária, colocam os seus conhecimentos e argumentos ao serviço de «esclarecer» os portugueses, espalhando farpas e chupa-chupas aqui e ali.
Pouco se aprende por aqui, mas é um dos excessos do fim-de-semana...E anda a  publicidade a dizer que só o sabor do Compal é constante!...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Decisões...

"Ou Isto ou Aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo."     
Cecília Meireles

A Fisga

"Trago a fisga no bolso de trás
E na pasta o caderno dos deveres
Mestre-escola, eu sei lá se sou capaz
De escolher o melhor dos dois saberes

O meu pai diz que o Sol é que nos faz
Minha mãe manda-me ler a lição
Mestre-escola, eu sei lá se sou capaz
Faz-me falta ouvir outra opinião

Eu até nem sequer sou mau rapaz
Com maneiras até sou bem mandado
Mestre-escola diga lá se for capaz
P'ra que lado é que me viro. P'ra que lado?

Trago ... " 
     João Monge (Rio Grande)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Neo-rotativismo?*

"Portugal enfrenta muitos problemas. Mas na raiz de todos eles está a incompetência de uma classe política que se perpetua e alterna no poder."

João Paulo Guerra no DE (4/1/2011)
colhido em http://sorumbatico-longos.blogspot.com/

*podíamos ter percebido à primeira...

Sócrates foi um filósofo; Sócrates não é um filósofo

"Mas não esqueçamos que toda aquela burocracia que caiu sobre os professores, sufocando-os, impedindo-os de ensinar, foi pensada para ser aplicada - o que revela mesmo um certo delírio na concepção das tecnologias de biopoder. O processo de domesticação dos professores está em curso - e longe de ter terminado. (...)
Porquê tudo isto? Porque o interesse do Governo é, antes de mais, cumprir a racionalidade orçamental, levando dezenas de milhares de professores a abandonar a escola. Através, afinal, de um sistema educativo em que avaliar significa desnortear, desanimar, dominar, humilhar, desprezar os professores, os alunos e a educação. É o máximo de mais-valia de biopoder que o Governo quer extrair - com o risco, inevitável, de o sistema se voltar contra si mesmo."

José Gil, Em Busca da Identidade - o desnorte, pp. 54-55

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Poema de amor

"Esta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno
e quase ia morrendo com o receio de que não
te coubesse no dedo."
 
Jorge Sousa Braga

colhido em: http://serportuguesserportugues.blogspot.com/

Miscelânea

O regresso à escola. Todos os sentimentos que isso traz: a alegria de encontrar os garotos, o desagrado de encontrar a câmara frigorífica que é aquela sala de professores, cada um em sua quadrícula, qual corpo morto à espera do médico legista, alimentados artificialmente pela luz dos écrans dos computadores pessoais, até à hora de iniciar a marcha de zoombies, olhar o relógio de ponto, pôr a cabeça de lado, escutar o «toque de entrada», dirigir-se à quadrícula correspondente aos números da quadrícula do horário, retirar o livro de ponto, esperar a sua vez de integrar a fila que parece deslizar automaticamente pelas escadas abaixo, depositando os seus autómatos no habitáculo estipulado pelo computador que desenhou as quadrículas dos horários por que nos regemos.

Dentro do meu habitáculo recebo a luz e energia do sorriso dos moços. Os desejos de bom ano, a conversa sobre as aulas, as férias, o que vamos estudar...Sinto-me um girassol a erguer a corola para os sorrisos deles.

A aula já vai numa marcha vertiginosa pelo Tempo quando o Daniel chegou atrasado e envergonhado. «Depressa que tens de apanhar o assunto: estamos a falar dos judeus. Que sabem vocês disso?» Os dedos no ar, os conhecimentos dos trabalhos de Moral, o desfilar das grandes religiões monoteístas todas misturadas...e não são elas todas mesmo misturadas?...Israel...«onde eles batem com a cabeça nas paredes...»; «e com chapeuzinho...»; «e um tapete...»; «Não! Esses são os outros...ortodoxos?...»; «os ortodoxos são cristãos também, não são professora?...»; «mas também há judeus ortodoxos! Há, sim! Que eu estudei isso para o trabalho de Moral! São aqueles que deixam crescer uns caracois de cabelo no nariz...». Como ele apontava para as orelhas rimo-nos todos muito. E os nomes das grandes religiões no quadro. E o Alá e o Deus e o Javé, o Cristo, o Moisés, o Abraão...o Hitler e a Ann Frank...E Jerusalém...quase além...ali, à distância dos noticiários todos...que falam de Israel, de um apedrejamento, de uma contestação, das guerras intermináveis no Médio Oriente...

"Fanatismo" e "Ecumenismo" são as duas palavras novas para o glossário. E o Rafael - com aquele ar despassarado - exibe orgulhoso um mini-dicionário de bolso que resolveu trazer sempre, pois quer saber logo o que aquilo quer dizer, «quando voltar para casa já não me lembro, eu sei!».

Estou tão feliz que nem consigo dizer!... Sinto-me muito mais forte: realmente eu alimento-me da energia deles.

Mudar a bateria do carro. Ter de chamar um dos rapazes da oficina, onde já sabem que a professora não percebe nada de carros, «mas não precisa de se ralar, para tratar do carro estamos cá nós. Bom Ano!»

E agora que o carro já anda talvez seja boa ideia não adiar mais a ida ao veterinário, que a Menina tem andado a vomitar e ainda há tão pouco tempo perdi uma companhia felpuda...

Nunca tinha visto tirar sangue a um gato! E as veias são tão fininhas...só me lembrava a minha mãe, no fim, na secção de oncologia, onde fazer-lhe as análises era um suplício, pois as veias estavam tão fininhas...era tudo tão débil naquele corpo desprovido de energia; da energia com que ela gritava (dantes) furiosa ou de alegria, que a minha negação de «low-profile» tem antecedentes. Agora ali estava...com os dedos finos e magros, que ainda se fincavam no meu braço com a força de me dizer algo urgente, que eu tinha de ouvir e fazer «como deve de ser», que uma mãe não deixa de ter autoridade só porque já não consegue falar alto; a autoridade é toda uma construção que não depende unicamente do som.

A gata tem agora um cateter na pata esquerda, porque se as análises provarem que necessita de ficar a soro, já está preparada. Ela parece bem, mas sacode a pata com força e aproveitou para expulsar o jovem felino e se instalar autoritariamente no meu colo a pedir festas e mimos, que isto de ter uma pata entrapada tem de ter o seu valor.

Percebo que não fiz tudo o que tinha para fazer. «Paciência! Amanhã, num daqueles 'furos', em vez de ficar a lamentar os sorrisos enigmáticos dos meus colegas todos juntos, sozinhos, em frente aos seus écrans, termino as papeladas a que tinha decidido dar a volta hoje...

O Fernando Tordo está a cantar a «Laranja Amarga e doce; minha passagem para o mundo suave e doce da loucura». Ouvem-se os violinos em fundo. É um lindo espectáculo, parece dos tempos antigos, das noites de música, teatro, variedades...noites de família em frente a um écran bicolor, que nos arrancava excalamações colectivas, provocava discussões, explicações, confusões...que o écran era só um e o programa não tinha 'pause': sempre que alguém falava os outros perdiam um pedaço irrecuperável de um programa que se desvendava pela primeira e única vez. Bem, às vezes não, já todos sabíamos de cor as cenas do Leão da Estrela ou do Pátio das Cantigas, mas não permitíamos que ninguém falasse, pois cada um de nós tinha as suas preferências...

O Fernando Tordo está agora a cantar a télétélé, aquela sátira à novela única que víamos todos «em uníssono» e comentávamos no dia seguinte, afligindo-nos pelas personagens que preenchiam as nossas fantasias mediáticas...Agora salienta-se o fundo de metais da melodia, magnificamente acompanhada pela orquestra, ali mesmo, sem play-back.

Que bom terem-me oferecido estas pantufas no Natal: são tão fôfas e quentinhas, que até a mim me apetece ronronar, enquanto faço festas à gatinha lesionada, tendo um magnífico programa de música portuguesa - um espectáculo de televisão! - como cenário deste fim de dia de regresso, de retorno, de recuperação da energia que tinha esquecido numa sala de aula.

Talvez seja boa ideia pôr o creme de noite antes de me deitar, que as rugas devem ter vontade de se instalar, sobretudo porque eu me rio muito, a despeito dos conselhos que leio nas revistas de cabeleireiro que dizem que devemos evitar expressões exageradas e perniciosas no nosso semblante.

«Meu amor, meu amor, minha estrela da tarde; que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde».

Estou exausta! Deslumbrada pelo reencontro com tudo o que é uma sala de aula e toda uma variedade de coisas que tive de fazer hoje e que me fez pensar numa miscelânia, quando pensei em depositar aqui algumas palavras.

Uma miscelânea!...Daquelas onde li alguns artigos d'O Archeologo Portuguez, ou discursos das Festas da Árvore do início da Primeira República. Essa mesma, que estamos a comemorar, apelando ao voto nas próximas presidenciais.

A comemorar!...Isso também dava para escrever umas palavras...mas - o Tordo diz "Adeus tristeza...chegou a hora de acabar" e penso que ele tem razão.

Afinal ainda vai cantar 'A Tourada', mas isto continua tudo amanhã...

O espectáculo termina agora. Com o público todo a bater palmas e ele a enviar um beijo com as duas mãos. A imagem ficou em câmara lenta. Ele está feliz! Adoro finais felizes! Que bom ter público!

domingo, 2 de janeiro de 2011