sábado, 27 de setembro de 2014

Sábado

Regresso de «beber a bica».
A janela da cozinha está aberta de par em par para a varanda.
O cheiro a «roupa lavada» entra pela janela por onde sai o odor a peixe e legumes cozidos que há pouco constituiu o almoço.
Cheira a fim de semana caseiro, penso. Pego nos cadernos e no portátil e decido-me a iniciar a tarde de escrita.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Como numa banda desenhada

"Estava uma manhã a estrear. Era aquela hora em que os movimentos se sentem mais do que se vêem. As lojas estão quase a abrir, as pessoas estão quase a povoar a rua, os carros estão quase a chegar. Parece que todas as personagens daquele cenário estão quase a tomar os seus lugares.
Nessas hora da manhã apetece-me sempre ficar mais um bocadinho, à espreita, à espera para receber o movimento da cidade, antes de me recolher, também, eu no meu lugar.
Estava eu então assim, à espera do momento certo para me retirar do cenário, quando se deu a cena.
Claro que eu já tinha reparado naquela rapariga, esplêndida, bem vestida, bem calçada. Bem...bem calçada para estar numa reunião que parecia esperar, um pouco desconfortável, à porta fechada de um escritório de advogados. Nitidamente custava-lhe estar, naqueles sapatos altos, lindíssimos, elegantes, no irregular chão antigo, de pedras a imitar as medievais que por ali teria havido.
De uma esquina apareceu então a outra mulher. Teriam a mesma idade, mas era a única coisa que tinham em comum. A outra, que era baixa e gorducha, envergava umas calças muito largas, com ar confortável e uma chinelas com ar brasileiro. Tinha um semblante enérgico e feliz e deslocava-se de forma muito rápida e segura.
Eram as únicas ocupantes da rua e claro que se viram, se olharam, quando a colorida gorducha passou rapidamente à frente da moça esplêndida que esperava, com todo o glamour, pela reunião que acreditamos que ia ter.
E foi então que, como numa banda desenhada, os pensamentos delas e materializaram em balões de palavras sobre as suas cabeças, em simultâneo.
Moça Linda: Que ar feliz e confortável que esta fulana tem! Mas é tão deselegante, coitada.
Gorducha Lesta: Que fulana tão linda! E tão elegante, caramba. Mas o que ela tem de passar para estar assim linda, coitada.
Foi um momento só! Os balões desapareceram ainda antes da gorducha virar a outra esquina e da moça linda assumir uma atitude mais atenta, provavelmente por ter avistado um carro que se aproximava.
Fui o único espectador desta cena, que me parece muito interessante: na definição do tipo de mulher, do que cada uma deseja, daquilo em que cada uma investe.
Inveja e admiração mútuas no flash em que os pensamentos delas se materializaram nos balões da BD.
E só eu é que vi. Não posso discutir isto com ninguém..."

domingo, 7 de setembro de 2014

Domingo

Quase todos os cafés passaram a vender pão, talvez para colmatar a falta de padarias tradicionais. A padaria - que ainda exista - é hoje um café, os cafés também são quase todos padarias, mas a mentalidade "da dona de casa que vai ao padeiro" parece-me que continua igual.
Isto pensei agora, quando fui tomar o meu café e tive de o fazer dentro do estabelecimento, uma vez que todas as mesas e cadeiras da esplanada - que eu adoro - estavam encharcadas ou pelo menos salpicadas de água, resultado da abundante chuva estival desta noite.

Entrou uma senhora, cabelo grisalho, saia de ganga, e dirigiu-se à funcionária atrás do balcão.

"- Este pão é lá de cima?
- Sim.
- Não tem outro?
- Não.
- Bem...sabe quem é o meu vizinho Augusto?
- Sim...
- É deste pão que ele leva?
- Sim.
- Ah, então quero.
A empregada agarrou num saco.
- Só um.
- Com certeza.
- Escolha-mo jeitoso.
- A senhora até pode escolher.
A mulher olhou para a vitrine.
- Só tem estes?
- Sim.
- Então pode ser um qualquer"
A seguir contou a história de onde compra normalmente o pão, que se gostasse daquele pão voltaria...
Depois saiu e a empregada foi limpar as mesas da esplanada, ao mesmo tempo que eu já saía, porque não tinha mais tempo para dedicar ao café.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O Restelo é um sítio óptimo para se ser velho!

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Cumpriu

A minha varanda cá estava à minha espera.
O rio continua, acolhedoramente, o seu curso.
Hoje não tive tempo de observar o lusco-fusco...mas tenho a certeza que os patitos e as garças terão sentido a minha falta.
Agora, à noite, o cheiro a Verão enche a casa e a televisão está sem som para ouvir o cantar do rio.
Boa noite!