"Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá desse quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você, sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?"
Chico Buarque e Sivuca, João e Maria
Será que as palavras ficam presas no tempo? Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil? Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?... Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto. Por puro prazer!
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Espécimes seleccionados ou uma grande brincadeira da Natureza?
Pois anda tudo a falar do Darwin e com muita razão.
Eu, que já era fã do tema, gostei muito de ler o romance "O Pecado de Darwin" e agora tenho acompanhado as comemorações com muito interesse.
Mas...estava aqui a pensar se não seria altura de rever as teorias do grande cientista.
É que - Evolução das Espécies, Selecção Natural e etc - nós ficamos convencidos que ficaram os melhores, não é?
Mas eu estive a ver um pouco de televisão: uns debates de política, os conflitos na educação, o caso Freeport, a alegria esfusiante do Carnaval onde os homens deliram vestir-se de mulher e as mulheres despir-se para eles, um programa de videos com situações ridículas e outro com umas pessoas a esganiçarem-se para terem uma carreira artística e outros a aplaudirem tudo e todos com o mesmo entusiasmo.
Ora está bom de ver que a teoria do Darwin está ultrapassada: estes não são os melhores, ou são? Isto é o resultado de uma apurada e concertada selecção das espécies?
Eu, que já era fã do tema, gostei muito de ler o romance "O Pecado de Darwin" e agora tenho acompanhado as comemorações com muito interesse.
Mas...estava aqui a pensar se não seria altura de rever as teorias do grande cientista.
É que - Evolução das Espécies, Selecção Natural e etc - nós ficamos convencidos que ficaram os melhores, não é?
Mas eu estive a ver um pouco de televisão: uns debates de política, os conflitos na educação, o caso Freeport, a alegria esfusiante do Carnaval onde os homens deliram vestir-se de mulher e as mulheres despir-se para eles, um programa de videos com situações ridículas e outro com umas pessoas a esganiçarem-se para terem uma carreira artística e outros a aplaudirem tudo e todos com o mesmo entusiasmo.
Ora está bom de ver que a teoria do Darwin está ultrapassada: estes não são os melhores, ou são? Isto é o resultado de uma apurada e concertada selecção das espécies?
domingo, 22 de fevereiro de 2009
«Pergulária»
O meu "primeiro andar a contar vindo do céu" tem um terraço que ganhou um novo encanto desde que eu comprei uma pérgula.
Eu acharia que era um toldo, mas o folheto do Aki anunciava pomposamente uma pérgula e portanto foi o que eu comprei: uma pérgula!
Como me desequilibrou um bocadinho o orçamento e como me sinto muito mais chique desde que desfruto deste espaço, poderei, assim, considerar-me uma pessoa «pergulária»?
Eu acharia que era um toldo, mas o folheto do Aki anunciava pomposamente uma pérgula e portanto foi o que eu comprei: uma pérgula!
Como me desequilibrou um bocadinho o orçamento e como me sinto muito mais chique desde que desfruto deste espaço, poderei, assim, considerar-me uma pessoa «pergulária»?
Regresso
Minha Casinha
Que saudades eu já tinha
da minha alegre casinha
tão modesta como eu.
Como é bom, meu Deus, morar
assim num primeiro andar
a contar vindo do céu.
Silva Tavares e António Melo (1943)
Que saudades eu já tinha
da minha alegre casinha
tão modesta como eu.
Como é bom, meu Deus, morar
assim num primeiro andar
a contar vindo do céu.
Silva Tavares e António Melo (1943)
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
As Palavras e o Metro
Estou na Capital por dever de ofício.
E acho tudo muito estranho!
Talvez porque seja mesmo estranho ou talvez porque estranho estranhar, uma vez que aqui fui criada e foi já mulher que me acomodei num cantinho de Portugal, a que gosto de chamar meu.
Aí, no remanso de dias mais vagarosos, acho graça à única "hora de ponta" do dia. E mesmo essa, costumo contempla-la da grande janela do meu café preferido, para depois, já de noite, descer a rua vagarosamente até ao meu ninho.
Mas não foi para descrever o sossego de que sinto a falta que aqui me sentei. Pelo contrário: foi para registar o aumento da circulação de palavras no metropolitano de Lisboa!
Que há muitos "outdors" já sabíamos, que há uma televisão com notícias específicas no Metro já foi estranheza ultrapassada, mas, aquilo que senti hoje ainda não me tinha apercebido.
Munida de uma revista para passar o tempo da viagem - como fazia antigamente, evitando olhar os rostos entorpecidos e desgastados que me acompanhavam nas viagens - fui alertada/incomodada pelo chinfrim que reinava na carruagem. Não me apercebi logo do fenómeno. Fiquei a olhar as pessoas, que conversavam, riam ou mexiam freneticamente os dedos. Fixei-os melhor. Cada um falava...sozinho...ou melhor, com o seu aparelho. Apurei o ouvido:
"- Então? Pois só agora te pude ligar..."
"- Podias ir buscar os miúdos? É que eu assim ainda passava no supermercado..."
"- Não. E o gajo queria dar-me uma má nota. Tive de repetir..."
"- Estou muito cansado. Foi um dia horrível. Talvez amanhã..."
Outros teclavam freneticamente e sorriam para os aparelhos.
Atónita, compreendi porque perdera o sossego para ler.
Atentei então em alguns que liam, imunes àquele bruáa ensurdecedor. Depois reparei que lhes pendiam das orelhas uns fios pretos ou brancos que lhes asseguravam a imunidade e a calma.
Fiquei a reflectir sobre tudo isto: ganhou-se em expressões faciais e animação (as pessoas eram tão feias e desgastadas ao fim do dia no metro...); ganhou-se certamente em circulação de palavras, mas para mim perdeu-se um tempo de sossego, de reflexão, de leitura. E não deixa de ser estranho ver toda a gente à nossa volta a conversar, sem interagirem uns com os outros.
Talvez compre uns "phones"...talvez comece a ouvir as conversas dos outros...talvez seja melhor não, pois vem-me muito à memória "uma frase batida": Quem muito fala pouco acerta! E eles agora falam muito!...
E acho tudo muito estranho!
Talvez porque seja mesmo estranho ou talvez porque estranho estranhar, uma vez que aqui fui criada e foi já mulher que me acomodei num cantinho de Portugal, a que gosto de chamar meu.
Aí, no remanso de dias mais vagarosos, acho graça à única "hora de ponta" do dia. E mesmo essa, costumo contempla-la da grande janela do meu café preferido, para depois, já de noite, descer a rua vagarosamente até ao meu ninho.
Mas não foi para descrever o sossego de que sinto a falta que aqui me sentei. Pelo contrário: foi para registar o aumento da circulação de palavras no metropolitano de Lisboa!
Que há muitos "outdors" já sabíamos, que há uma televisão com notícias específicas no Metro já foi estranheza ultrapassada, mas, aquilo que senti hoje ainda não me tinha apercebido.
Munida de uma revista para passar o tempo da viagem - como fazia antigamente, evitando olhar os rostos entorpecidos e desgastados que me acompanhavam nas viagens - fui alertada/incomodada pelo chinfrim que reinava na carruagem. Não me apercebi logo do fenómeno. Fiquei a olhar as pessoas, que conversavam, riam ou mexiam freneticamente os dedos. Fixei-os melhor. Cada um falava...sozinho...ou melhor, com o seu aparelho. Apurei o ouvido:
"- Então? Pois só agora te pude ligar..."
"- Podias ir buscar os miúdos? É que eu assim ainda passava no supermercado..."
"- Não. E o gajo queria dar-me uma má nota. Tive de repetir..."
"- Estou muito cansado. Foi um dia horrível. Talvez amanhã..."
Outros teclavam freneticamente e sorriam para os aparelhos.
Atónita, compreendi porque perdera o sossego para ler.
Atentei então em alguns que liam, imunes àquele bruáa ensurdecedor. Depois reparei que lhes pendiam das orelhas uns fios pretos ou brancos que lhes asseguravam a imunidade e a calma.
Fiquei a reflectir sobre tudo isto: ganhou-se em expressões faciais e animação (as pessoas eram tão feias e desgastadas ao fim do dia no metro...); ganhou-se certamente em circulação de palavras, mas para mim perdeu-se um tempo de sossego, de reflexão, de leitura. E não deixa de ser estranho ver toda a gente à nossa volta a conversar, sem interagirem uns com os outros.
Talvez compre uns "phones"...talvez comece a ouvir as conversas dos outros...talvez seja melhor não, pois vem-me muito à memória "uma frase batida": Quem muito fala pouco acerta! E eles agora falam muito!...
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Saber esperar é uma virtude
“Quando o relógio marcou 00 h e 01 min ela levantou-se de um pulo e marcou o nº de telefone dele.
- ‘Tou?...
- Olá! Sou eu! Queria só dizer-te que percebo perfeitamente que não alinhes nestas modernices de Dia de S. Valentim. Já não somos novos, isto são coisas parvas importadas da América…nada têm a ver connosco. Percebo perfeitamente. Completamente. Liguei mesmo para te dizer que me parece até que esta concordância nos aproxima. Sinto que temos muito em comum. Eu também sou uma pessoa tradicional; gosto de respeitar o que é nosso. Por isso aprecio - até mais - que esperes pelo Santo António para expressares o teu amor por mim. Percebes? Entendo perfeitamente que tenhas deixado passar o S. Valentim em branco e que esperes pelo Santo António para te declarares. Eu vou estar à espera. Prometo. Agora ainda espero com mais agrado. Percebo perfeitamente! Se eu fosse a ti era o que faria. Mesmo. Por isso, cá estarei, no-dia-de-Santo-António, 13 de Junho, à espera. Mesmo. Acho mesmo que é melhor. Então…adeus. Era só para dizer isto.
E desligou, antes que ele pudesse dizer algo, ou que as suas faces explodissem de tão vermelhas e tão quentes.”
- ‘Tou?...
- Olá! Sou eu! Queria só dizer-te que percebo perfeitamente que não alinhes nestas modernices de Dia de S. Valentim. Já não somos novos, isto são coisas parvas importadas da América…nada têm a ver connosco. Percebo perfeitamente. Completamente. Liguei mesmo para te dizer que me parece até que esta concordância nos aproxima. Sinto que temos muito em comum. Eu também sou uma pessoa tradicional; gosto de respeitar o que é nosso. Por isso aprecio - até mais - que esperes pelo Santo António para expressares o teu amor por mim. Percebes? Entendo perfeitamente que tenhas deixado passar o S. Valentim em branco e que esperes pelo Santo António para te declarares. Eu vou estar à espera. Prometo. Agora ainda espero com mais agrado. Percebo perfeitamente! Se eu fosse a ti era o que faria. Mesmo. Por isso, cá estarei, no-dia-de-Santo-António, 13 de Junho, à espera. Mesmo. Acho mesmo que é melhor. Então…adeus. Era só para dizer isto.
E desligou, antes que ele pudesse dizer algo, ou que as suas faces explodissem de tão vermelhas e tão quentes.”
sábado, 14 de fevereiro de 2009
Dia de S. Valentim
“Ela chegou afogueada, com os olhos brilhantes.
- Disseste para eu vir bonita. Que tinhas uma coisa para me dar…
Ele conduziu-a suavemente pela sala até à varanda.
- Queria mostrar-te a lua: Olha!
- Tão linda! Parece uma moeda enorme suspensa no céu…
Ali ficaram, de dedos entrelaçados, a olhar a lua, a saborear aquele sentimento que os unia.
Ali ficaram, alheios às trocas de peluches, bombons, flores e jóias, coisas tão vulgares que podem ser compradas em lojas.”
- Disseste para eu vir bonita. Que tinhas uma coisa para me dar…
Ele conduziu-a suavemente pela sala até à varanda.
- Queria mostrar-te a lua: Olha!
- Tão linda! Parece uma moeda enorme suspensa no céu…
Ali ficaram, de dedos entrelaçados, a olhar a lua, a saborear aquele sentimento que os unia.
Ali ficaram, alheios às trocas de peluches, bombons, flores e jóias, coisas tão vulgares que podem ser compradas em lojas.”
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Amizade para o Inverno
"Um amigo é alguém que, quando estamos com gripe, aparece com um saco de laranjas, o livro policial que queríamos ler e um ramo de flores.
Põe as flores numa jarra, faz-nos uma bebida quente, lava a loiça e vai-se embora"
Pam Brown
Põe as flores numa jarra, faz-nos uma bebida quente, lava a loiça e vai-se embora"
Pam Brown
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Homenagem à Má Língua
"A língua de uma mulher é a sua espada: ela evita deixá-la enferrujar"
Provérbio Chinês
(Eu mereço esta...)
Provérbio Chinês
(Eu mereço esta...)
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Palavras de Outros,
Palavras Sábias
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Síndrome de Rei Mago
No meu messenger, hoje, havia umas pessoas com umas estrelinhas. Intrigada, resolvi ir ver o que era. Carreguei com a seta na estrelinha e "viajei" até ao perfil das pessoas e ao que parece adicionei-me não sei a quê.
Na realidade, não percebi muito bem o que aconteceu. Estou para ver o que isto dá!...
Creio que fui acometida por um certo sindrome de Rei Mago que resolveu seguir a estrela.
Claro que hoje se evita a caminhada dos camelos e o transtorno da ausência.
Se fosse hoje, os Reis Magos tinham visitado virtualmente a gruta, adicionavam-se ao perfil do Menino e trocavam postais pela net.
No futuro não vai dar trabalho nenhum fazer reconstituições dos encontros que hoje protagonizamos. Não haverá crianças ao frio, nem burros a zurrar desesperados. Tudo quentinho a olhar para os écrans e a ver como era a vida no início do século XXI.
E daqui a uns tempos ninguém vai perceber textos deste tipo (partindo do princípio que agora alguém os percebe). Serão textos cativos num tempo só acessível a historiadores e curiosos.
Na realidade, não percebi muito bem o que aconteceu. Estou para ver o que isto dá!...
Creio que fui acometida por um certo sindrome de Rei Mago que resolveu seguir a estrela.
Claro que hoje se evita a caminhada dos camelos e o transtorno da ausência.
Se fosse hoje, os Reis Magos tinham visitado virtualmente a gruta, adicionavam-se ao perfil do Menino e trocavam postais pela net.
No futuro não vai dar trabalho nenhum fazer reconstituições dos encontros que hoje protagonizamos. Não haverá crianças ao frio, nem burros a zurrar desesperados. Tudo quentinho a olhar para os écrans e a ver como era a vida no início do século XXI.
E daqui a uns tempos ninguém vai perceber textos deste tipo (partindo do princípio que agora alguém os percebe). Serão textos cativos num tempo só acessível a historiadores e curiosos.
domingo, 1 de fevereiro de 2009
A História
"O que tenho aprendido na História é que a capacidade do Homem para resolver os seus problemas é inimaginável e com soluções surpreendentes."
José Mattoso, Entrevista à revista Noesis, 1996
José Mattoso, Entrevista à revista Noesis, 1996
Domingo de manhã
Dormi toda a noite embalada pelo barulho da chuva torrencial.
Quando comecei a ter consciência de que estava a despertar e dos ruídos que anunciavam que o dia já estava crescidinho, ouvi, entre outros sons, o ritmo de um martelo sobre madeira e um gato a miar desesperado. E pensei: "Queres ver que, com tanta chuva, Deus mandou construir outra arca e o gato, que é um animal friorento, já está a tentar entrar, mesmo com a arca ainda a ser terminada?"
Afinal era um vizinho a consertar um alpendre e um gato preso na garagem do meu prédio, onde se tinha refugiado da chuva.
Quando comecei a ter consciência de que estava a despertar e dos ruídos que anunciavam que o dia já estava crescidinho, ouvi, entre outros sons, o ritmo de um martelo sobre madeira e um gato a miar desesperado. E pensei: "Queres ver que, com tanta chuva, Deus mandou construir outra arca e o gato, que é um animal friorento, já está a tentar entrar, mesmo com a arca ainda a ser terminada?"
Afinal era um vizinho a consertar um alpendre e um gato preso na garagem do meu prédio, onde se tinha refugiado da chuva.
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