quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Mau Tempo no Natal

Que saudades do Anthímio de Azevedo e do Costa Malheiros, com quem me habituei a partilhar mentalmente os projectos para o dia seguinte, designadamente passeios ou a combinação de roupas, mediante as suas diárias previsões.
Agora, para além de haver alertas muito coloridos (antigamente a televisão era a preto e branco...seria despropositado) prevê-se, na melhor das hipóteses, um desagravamento do tempo.
Quer dizer, é assim uma expressão, que não limpa o ambiente...quando um deles dizia que ia haver uma melhoria, sentíamos logo que tudo ia ficar bem...como quando tomávamos um Melhoral.
Era ou não era um Tempo Melhor?

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Outra das Músicas da Minha Vida

"Have yourself a merry little Christmas,
Let your heart be light
From now on,
our troubles will be out of sight

Have yourself a merry little Christmas,
Make the Yule-tide gay,
From now on,
our troubles will be miles away.

Here we are as in olden days,
Happy golden days of yore.
Faithful friends who are dear to us
Gather near to us once more.

Through the years
We all will be together,
If the Fates allow
Hang a shining star upon the highest bough.
And have yourself A merry little Christmas now."


Have yourself a Merry little Chritmas, Ralph Blane/Hugh Martin (1943)

Na minha versão preferida:
http://www.youtube.com/watch?v=LpPdl0StUVs

"Isso de ser exactamente o que se é ainda vai nos levar além."

(frase que eu conhecia, mas de que desconhecia a origem; «descobria-a» no poema de Paulo Leminski, que gentilmente me foi ofertado num comentário ao post do dia 13 de Dezembro de 2009.)Obrigada!

Reavivar o Sonho

Hoje, na navio fantasma que é uma escola sem alunos, no frenesim burocrático de tudo quantificar, de tudo reduzir a justificações ao pilímetro (expressão criada hoje mesmo que significa as picuinhices explicitadas ao milímetro), na elaboração de impressos e estatísticas à mão, ignorando a era digital e as possibilidades da «tecnologização» recomendada pela política nacional... olhei para as fotografias dos alunos, a quem gosto muito de dar aulas, e tive necessidade de recordar Sebastião da Gama; o Mestre Sebastião da Gama, a quem por vezes roubo frases do Diário para colocar nas feridas da alma docente que trago em mim.

"O Sonho

Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

-Partimos. Vamos. Somos."


Sebastião da Gama, Pelo Sonho é que Vamos

domingo, 20 de dezembro de 2009

A Fatal Trilogia dos F's

E temos a polícia e os nossos impostos empatados a tomar conta de grupos de delinquentes organizados em claques (eu nem sei se isto se escreve assim...).
E temos tudo isto como primeira notícia do país, a empatar a vida de quem se quer informar sobre o que se passou hoje em Portugal e no mundo.
E há um jogador com nome de monstro verde: Hulk...Hugh!
E as pessoas, que se queixam do frio, que têm medo da gripe e que se lamentam das dificuldades económicas da crise estão lá...muitas pessoas...
Eu até percebo Fátima e até gosto de Fado, mas um dia, alguém terá de me explicar o Futebol!

Robbie Williams pelo Natal

http://www.youtube.com/watch?v=LtWSR89UhRg

Esta é dedicada a quem eu acompanhei uma vez a um concerto deste senhor...

I'm Dreaming of a White Christmas

"I'm dreaming of a white Christmas
Just like the ones I used to know
Where the treetops glisten and children listen
To hear sleigh bells in the snow.

I'm dreaming of a white Christmas
With every Christmas card I write
May your days be merry and bright
And may all your Christmases be white.

I'm dreaming of a white Christmas
With every Christmas card I write
May your days be merry and bright
And may all your Christmases be white."


Irving Berlin, 1942

Disseram que ia nevar...

E cá estou eu, embrulhada em roupões e cobertores, a ouvir o vento a uivar lá fora, a tentar equilibrar o livro enorme que estou a ler, com os sacões dos espirros que deram para me atacar este fim de semana.
Constipação...não é gripe (Ah, mas chateia!)
Mantém-me alerta a esperança, que me faz espreitar amiúde pela janela, de ver a neve.
Disseram que ia nevar e eu - qual criança que espera o Pai Natal - não quero perder o espectáculo.
Na realidade «I'm dreaming of a white christmas» just like the ones I never Knew.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Boas Festas

Embora eu ache que dificilmente as festas sejam más, cumpre-me desejar a todos os que por aqui passam umas BOAS FESTAS!

Sobretudo agradecer a todos (os que participam e os que se mantêm «calados») o terem tornado este espaço um lugar muito feliz.

Este projecto superou muito as minhas expectativas e hoje já me posso considerar, com muito orgulho, «blogodependente». Mas a culpa é vossa! Sobretudo daqueles que, participando, foram exigindo de mim mais atenção e mais aprumo na escrita e opiniões, procura de novos conhecimentos...
Tenho aprendido muito com as participações de todos. Descobri autores, palavras, sentimentos...vou vivendo muitas Partículas de Felicidade. Descobri sobretudo que, para quem gosta de pessoas, todos os espaços - dos reais aos virtuais - são espaços de conversa e de desenvolvimento de amizades.

A todos os amigos que por aqui passaram desejo Festas Felizes e Um Ano de 2010 cheio de Coisas Boas (conceito suficientemente amplo para corresponder aos desejos, necessariamnte diferentes, de cada um)

Temos uma década nova, inteirinha, por estrear. Força aí!

Uma das Músicas da Minha Vida

http://www.youtube.com/watch?v=Uj4j-iV-iak

Tom Waits; António Pinho Vargas ao vivo

E alguma vez fomos?

"É que...já não vamos para novos..."

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Auto-Defesa

Ainda vais engolir tudo o que disseste!

Ainda vais ter saudades minhas!

Ainda te vais arrepender!

Tu vais ver!

Deixa estar!...

Escreve o que te digo!
(esta última será a auto-defesa preferida das professoras, que, depois do «ditado», adorariam agarrar numa caneta vermelha e, descobrindo um ou dois erros, encontrar uma base mais sólida para o fim da relação: Pois se o gajo nem escrever sabia…)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Pela Vida!


«Toda a mulher gosta de rosas; e rosas; e rosas...»
Ana Carolina

«Bem aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino dos céus»

Muita gente cita frequentemente estas palavras da Bíblia - creio que do Evangelho segundo S. Mateus - de tal maneira que foi um «conhecimento» que fomos adquirindo, por repetição.
Venho agora insurgir-me contra a manifesta acumulação de cargos que verifico diarimente.
Se lhes está prometido o reino dos céus, será que não há incompatibilidade com o domínio crescente de cargos, que vão ocupando no reino terrestre?
Não há quem ponha cobro a isto?
Não lhes chega o dos céus?
Que inferno!
Ai, perdão...será que os extremos se tocam mesmo?...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Surpreendam-me; surpreendam-se...e a magia volta

Uma das coisas aborrecidas em ser professora é que quando definimos um trabalho comum a todos os alunos temos depois de ver ou ouvir muuuuuiiiitos trabalhos iguais ou parecidos.
Assim, o trabalho que consistia numa nota biográfica de uma personagem do século XIX, proporcionou-me muitos Thomas Edison(s) e muitos Graham Bell(s), cujas justificações da escolha invariavelmente diziam "porque o que ele fez teve muita importância para o nosso tempo: hoje, na nossa vida, é muito importante a electricidade e o telefone."
E torna-se monótono. Faz parte do pacote...de ser professora...aturar trabalhos muito parecidos...monotonamente parecidos; e perguntas "de aprofundamento" do género: "Ele casou? Teve filhos?"
Pronto...uma pessoa está preparada, já não estranha...
Mas talvez tudo isto torne muito mais refrescante o aparecimento de um trabalho, uma personagem e uma justificação diferente.
Foi hoje, J.D. apresentou-se para expôr o seu trabalho. Era o último da turma, porque, como sempre, adia tudo o que pode, tentando levar sempre a vida a brincar, mas com um espírito fino e agudo, um apurado sentido de humor e de observação.
- Então e a tua personagem é...
- Mendel.
A minha atenção completa e a estranheza da turma por uma personagem que não tinha ainda sido abordada.
- Quem é? Fez o quê?
- É o que eu vou dizer - J.D. deliciado por perceber que tinha público.
Explicou tudo direitinho. O Mosteiro, o jardim, as experiências, ao longo de anos, com as ervilhas, a observação cuidadosa, os resultados ignorados por um mundo impreparado que chama hoje «pai da genética» a um indivíduo que relegou para o desempenho de tarefas burocráticas, amargurando-lhe o fim da vida.
Gostei de recordar que isto dos incompetentes tomarem as rédeas e tratarem como burros todos os que apresentem algo de diferente é quase uma tradição.
Debatemos, explicámos, eu recordei a viagem em que, pela primeira vez, num museu de ciência - do lado de lá do mar - tinha visto uma exposição sobre Mendel; referimos Darwin, as recentes comemorações...
Eu estava encantada.
De repente lembrei-me que faltava fazer a pergunta sacramental: "E porque escolheste esta personagem? Porque te interessaste por ele?"
O rapaz abriu um sorriso franco: "Oh Professora...porque ele se interessou pelas ervilhas...e eu acho que elas são todas iguais."

domingo, 13 de dezembro de 2009

Domingo

Um dia longe de Liliput, a brincar com os meninos do meu tamanho...

Conversas de Café II

Continuando na minha cabeça o raciocínio das nossas trocas de palavras, por aqui, sobre a natureza humana e sobre a questão, que me preocupa, da crescente indiferença à morte massiva, à morte longínqua, à morte sem rosto, à morte que se torna só estatística, recordei-me de um texto que tinha lido na escola, quando aluna, num daqueles livros de leitura que nos despertavam para autores, textos e palavras.
Tal como em relação ao outro texto - cuja alegria do reencontro me levou a criar o Salvo Seja - só me lembrava do teor, mas não do autor.
"Dedos para que vos quero?": busca na net - já está!
Afinal o caso já vem de longe!...
O texto que prova isso é de Eça de Queiróz. Aqui fica um pedacinho (há um pouco mais, aqui ao lado, no Salvo Seja, com o título que a minha lembrança diz que encimava o texto do livro de leitura)

"Dois mil javaneses sepultados no terramoto, a Hungria inundada, soldados matando crianças, um comboio esmigalhado numa ponte, fomes, pestes e guerras, tudo desaparecera – era sombra ligeira e remota. Mas o pé desmanchado da Luísa Carneiro esmagava os nossos corações… Pudera! Todos nós conhecíamos a Luisinha – e ela morava adiante, no começo da Bela-Vista, naquela casa onde a grande mimosa se debruçava do muro dando à rua sombra e perfume." Eça de Queiróz, Cartas Familiares e Bilhetes de Paris, 1907
(recolhido em somadeletras.blogspot.com, num post de 12 de Julho de 2008)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Vocação do Poeta

"Não nasci no começo deste século:
Nasci no plano do eterno,
Nasci de mil vidas superpostas,
Nasci de mil ternuras desdobradas.
Vim para conhecer o mal e o bem
E para separar o mal do bem.
Vim para amar e ser desamado.
Vim para ignorar os grandes e consolar os pequenos.
Não vim para construir minha própria riqueza
Nem para destruir a riqueza dos outros.
Vim para reprimir o choro formidável
Que as gerações anteriores me transmitiram.
Vim para experimentar dúvidas e contradições.

Vim para sofrer as influências do tempo
E para afirmar o princípio eterno de onde vim.
Vim para distribuir inspiração às musas.
Vim para anunciar que a voz dos homens
Abafará a voz da sirene e da máquina,
E que a palavra essencial de Jesus Cristo
Dominará as palavras do patrão e do operário.
Vim para conhecer Deus meu criador, pouco a pouco,
Pois se O visse de repente, sem preparo, morreria."


Murilo Mendes (1901-1975)
Poeta brasileiro; morreu em Lisboa.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

"Uma parte de nós é mimosa"

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Conversas de Café



Por terras de Cister, mas sem voto de silêncio.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

humanidade

Mário Zambujal a propósito do seu novo livro, cuja acção se passa no futuro:

"Daqui a 35 anos, muitas coisas serão diferentes. Mas o que muda são os objectos. Os seres humanos continuam a ser os mesmos, com paixões, tropelias, triângulos amorosos...
(...)
Os adereços e os cenários hão-de mudar, mas as paixões serão semelhantes às do século XII, quando já havia encontros de amor - apenas não se marcavam por telemóvel."


Entrevista em Visão, nº 874, pp.130-138

(sempre digo aos meus alunos: com técnicas e tecnologias diferentes, com cenários muito diversos, o que faz nos faz bater o coração mais depressa - o que nos inquieta e nos aquieta também - tem sempre a mesma natureza, porque está de acordo com a nossa natureza humana. E essa não muda muito; com tudo o que esta constatação tem de maravilhoso e de terrível.)

É Noite

"(...)
E toda a minha pobre humanidade
Se deseja aquecer à intimidade
Duma lareira de carinho brando..."


Miguel Torga, Visita

(versão integral no comentário gentilmente colocado ao post anterior)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Era incapaz de escrever num país com neve!

O Sol da manhã e a vontade do feriado recolocaram-me na rota da escrita.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Alma até Almada!

"Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria. Deve haver certamente outras maneira de se salvar uma pessoa, senão estarei perdido."

Frase que já tinha ouvido como atribuída a Almada Negreiros e que, procurando, colhi na Biografia de Almada Negreiros publicada em Vidas Lusófonas.pt, da autoria de Cristina Vaz

Presépio de Lisboa

Ouvi há pouco na rádio que um grupo de leigos (que eu nunca percebo muito bem o que quer dizer quando se fala de iniciativas da Igreja Católica) resolveu realizar um conjunto de iniciativas relacionadas com o Presépio, para restaurar o verdadeiro espírito de Natal que tem estado muito ausente por aí. Falava-se sobretudo na figura do Menino Jesus e na simbologia das celebrações.

E eu acho muito bem!

Eu não sou fundamentalista, mas, convenhamos, pouco do que se vê por aí tem a ver com o «espírito do Natal».
É uma desbunda completa com a figura do Pai Natal, que aparece de férias, a lançar anões...de fato de banho...a rena alentejana...
Enfim!
E a lingerie com motivos natalícios?

Pronto, eu não sou fundamentalista, mas um bocadinho de contenção numa celebração que deveria estar associada a um presépio, a valores morais religiosos...se calhar, estamos a precisar que alguém diga por onde é que isto começou, porque onde é que isto vai acabar...é impossível de prever.

(já pareço aquele presidente de câmara algarvio, que não deixava que houvesse um serviço de massagens na praia, porque "todos sabemos como uma massagem começa, mas não podemos saber como é que ela vai acabar")

Citando a imortal figura do Diácono Remédios, em relação a muito do que se vê pelas montras e outras publicidades associadas ao Natal: «Não havia necessidade...»

sábado, 5 de dezembro de 2009

Amores Perfeitos

O Amor-Perfeito é uma planta herbácea, vivaz perene cultivada como anual.
O nome científico é «viola tricolor».
Tem flores grandes, de várias cores e arredondadas.
(azul, vermelho, violeta, branco, amarelo, etc)
Quanto à luz: sol, meia sombra ou sombra.
Podem ser comestíveis, mas são facilmente destruídos por lesmas, caracois e fungos.
Têm grandes propriedades medicinais, designadamente, "abscessos, acnes, conjuntivites, dermatites, eczemas, erupções na pele, faringites, irritações nos olhos, inflamações da garganta, reumatismo, rugas na região dos olhos, sarampo, seborréia do couro cabeludo, secreções pulmonares, tosse".
informações colhidas em Jardicentro online

Como se prova, os amores perfeitos fazem bem a muita coisa, mas são perenes e dão uma trabalheira - têm de ser cultivados todos os anos, não são lá muito precisos quanto à luz (parece-me mesmo que serão um pouco inconstantes e difíceis de contentar...convenhamos...o que é meia-sombra?), são frágeis e estão associados a violas, talvez as usadas na «canção do bandido» ou em serenatas ao luar.

Raros e caprichosos, os amores perfeitos...mas inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo, todos acabamos por tropeçar num...que nos estraga a vida toda, porque nunca mais encontramos outro assim.

Vamos navegando, que os nenúfares também são jeitosinhos!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

"Navegar é preciso; Viver não é preciso", porque para viver não existem sistemas GPS

Como se consegue conciliar o «olho por olho, dente por dente» com a oferta da outra face, no mesmo livro de orientação teórica e metodológica para a vida?
A Bíblia devia ter um aviso, no início, da género:
«A coordenação desta publicação não se responsabiliza pelas opiniões expressas, que são da única e exclusiva responsabilidade dos autores de cada artigo.»
É muito difícil reger a vida por um livro que não prima pela coerência.
Se optarmos pela orientação da moral laica - que parte dos valores cristãos para se firmar no asséptico «politicamente correcto» - tropeçamos frequentemente na hipocrisia social e em todo o tipo de incorrecções mascaradas de civismo «para inglês ver» (ou melhor, e para não afirmar qualquer país, «para uma comunidade internacional e absolutamente plural ver»).
Se quer no plano da imanência quer no da transcendência não existem caminhos claros...estaremos condenados a viver sempre errados? Porque afinal a Verdade é sempre só a nossa verdade...e a Razão é sempre só a nossa razão...Como nos relacionamos com os outros, então?
Felizmente existem o céu, o mar e a música, de que podemos beneficiar sozinhos, sem dar explicações, sem dividir espaços, sem nos preocuparmos com mais nada, a não ser o momento de estar aqui e agora, com a caneta que obedece à nossa mão, com o som que nos faz ir descontraindo e com o ar, que nos entra pelas narinas, sem um plano prévio, sem regras estabelecidas, sem termos de pensar no certo e no errado...
Só estamos, somos, assim.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

"Chorei, chorei

Até ficar com dó de mim
E me tranquei no camarim
Tomei o calmante, o excitante
E um bocado de gim

Amaldiçoei
O dia em que te conheci
Com muitos brilhos me vesti
Depois me pintei, me pintei
Me pintei, me pintei

Cantei, cantei
Como é cruel cantar assim
E num instante de ilusão
Te vi pelo salão
A caçoar de mim

Não me troquei
Voltei correndo ao nosso lar
Voltei pra me certificar
Que tu nunca mais vais voltar
Vais voltar, vais voltar

Cantei, cantei
Nem sei como eu cantava assim
Só sei que todo o cabaré
Me aplaudiu de pé
Quando cheguei ao fim

Mas não bisei
Voltei correndo ao nosso lar
Voltei pra me certificar
Que nunca mais vais voltar
Vais voltar, vais voltar

Cantei, cantei
Jamais cantei tão lindo assim
E os homens lá pedindo bis
Bêbados e febris
A se rasgar por mim

Chorei, chorei
Até ficar com dó de mim..."


Chico Buarque, Bastidores

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Afirmação absolutamente consumista

"All I want for Christmas is you"

Feriado da Restauração

Em dia de comemoração da Restauração da Independência, face ao domínio espanhol - que não foi nunca uma perda de independência, pois manteve-se a separação dos reinos, conforme jurado por Filipe I - parece-me bem recordar uma frase de meu pai, que sempre só ouvi através da narração e minha mãe:

"Se um dia eu morrer, podes casar outra vez. Acho que não me importo...mas, por favor, por favor, não cases nem com um polícia nem com um espanhol."

(Informo que a minha mãe respeitou este pedido do meu pai).
E eu fui criada, ouvindo esta frase, que me acirrou um certo sentimento anti-espanhois, que vejo agora muito contestado pelos meus pares.
Posso rever a questão...um dia. Reconheço até que não é politicamente correcta, que vive de estereótipos e de mitos ultrapassados, mas...o blogue é meu, por aqui posso ir mantendo este sentimento, embora também as dúvidas que me vai suscitando...

Mas hoje pus-me a pensar nesta frase e na forma como ela revela um pensamento de alguém que viveu no Estado Novo: sentimento patriótico, alicerçado numa independência feita contra Espanha e a raiva contra a polícia, omnipresente e castradora.

Muitos contestam a lógica actual desta comemoração, mas poucos admitem a ideia de anular a existência de um feriado.
«Palavras para quê? São artistas portugueses»: Viva o Feriado, seja qual for o motivo!