sábado, 1 de maio de 2010

Maio, Maduro Maio

"Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho."


Ary dos Santos

5 comentários:

Ninguém.pt disse...

O poema que hoje lhe deixo, Menina Escrivaninha, não é sobre o "Maduro Maio", mas sobre o Maio de que precisamos. Um bom Primeiro de Maio!


Meu Maio


A todos
Que saíram às ruas
De corpo-máquina cansado,
A todos
Que imploram feriado
Às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras,
Derrete a neve com sol gaio.
Sou operário –
Este é o meu maio!
Sou camponês -
Este é o meu mês.
Sou ferro –
Eis o maio que eu quero!
Sou terra –
O maio é minha era!


Vladimir Maiakovski

74, "aquele Maio", o Maio...
Quem o viveu jamais provou iguaria igual, todos crianças, todos inocentes, todos dando as mãos e acreditando em nós mesmos e nos outros todos!
E sabendo que éramos capazes, que só nós todos poderíamos escalar o Everest de coisas lindas que desejávamos!
Que gelo se terá apoderado deste imenso vulcão, que nunca mais o vi em erupção?
Que faca reduziu ao menor múltiplo um colectivo tão grandioso, a solistas pimba o coro que entoava o estribilho chileno: "Agora, o povo unido jamais será vencido!"?

Escrivaninha disse...

Ah, Mestre, que lindas palavras!
É, de facto, um fenómeno inexplicável o que nos aconteceu a todos. Porque mesmo os que ainda se agarram a algo...parece gasto, parece falso...como os «vivas» os «a luta continua» que foram ditos ontem, numa «manifestacinha» no Largo Rodrigues Lobo em Leiria. Parecia uma caricatura, uma piada de mau gosto...
O que foi que nos aconteceu a todos, neste País?...

Ninguém.pt disse...

Acho que andámos estes anos todos a regressar ao passado.
Não aprendemos que o poder, a capacidade de transformar o mundo – começando por transformar a nossa pessoa, os que nos rodeiam –, esse poder está nas nossas mãos e não nas de qualquer governante ou chefe de partido ou de igreja.

Habituámo-nos a esperar que a solução nos seja oferecida, e quando isso não acontece basta-nos saber quem é o culpado – ou os culpados.

E os verdadeiros culpados somos nós, que não fizemos ou fizemos o que não devíamos; que não votámos ou votámos em quem não devíamos; que acreditámos no discurso milagroso porque é muito mais cómodo esperar que o milagre se cumpra. E nunca cumpre!

Nas nossas vidas cometemos mil vezes os pecados que apontamos aos outros, mas somos demasiado tolerantes para connosco e apontamos a dedo os outros.

Nos primeiros dias depois da revolução nós acreditávamos que éramos (nós próprios!) capazes de mudar o mundo.
Depois deixámos que os chefes tomassem conta do nosso mundo por nós.

Para mim, esta é a grande diferença!

Escrivaninha disse...

Obrigada pela reflexão, Mestre.
Mas eu creio que 1383, 1640 e 1974 é que foram excepções à regra. E suficientemente afastadas no tempo para que os protagonistas não vivenciassem dois momentos similares. É pena, mas não acredito que possamos viver outra situação semelhante.
No entanto, quem sabe?... A esperança, dizem, é a última a morrer: melhor será que a vamos alimentando, para que esteja bem nutrida em caso de poder ser útil!

Ninguém.pt disse...

Quanto à revolução, façamos a que está ao nosso alcance – a nossa. Quem sabe se com o exemplo esta gota de água se vai tornando riacho, arroio, ribeiro, rio, mar...

Quanto à esperança até pode ser que seja a última a morrer, mas o certo é que nenhuma seguradora lhe fará um seguro de vida...