Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
sábado, 1 de maio de 2010
Maio, Maduro Maio
"Contra tudo o que era velho levantado como um punho em Maio surgiu vermelho o cravo do mês de Junho."
A todos Que saíram às ruas De corpo-máquina cansado, A todos Que imploram feriado Às costas que a terra extenua – Primeiro de Maio! Meu mundo, em primaveras, Derrete a neve com sol gaio. Sou operário – Este é o meu maio! Sou camponês - Este é o meu mês. Sou ferro – Eis o maio que eu quero! Sou terra – O maio é minha era!
Vladimir Maiakovski
74, "aquele Maio", o Maio... Quem o viveu jamais provou iguaria igual, todos crianças, todos inocentes, todos dando as mãos e acreditando em nós mesmos e nos outros todos! E sabendo que éramos capazes, que só nós todos poderíamos escalar o Everest de coisas lindas que desejávamos! Que gelo se terá apoderado deste imenso vulcão, que nunca mais o vi em erupção? Que faca reduziu ao menor múltiplo um colectivo tão grandioso, a solistas pimba o coro que entoava o estribilho chileno: "Agora, o povo unido jamais será vencido!"?
Ah, Mestre, que lindas palavras! É, de facto, um fenómeno inexplicável o que nos aconteceu a todos. Porque mesmo os que ainda se agarram a algo...parece gasto, parece falso...como os «vivas» os «a luta continua» que foram ditos ontem, numa «manifestacinha» no Largo Rodrigues Lobo em Leiria. Parecia uma caricatura, uma piada de mau gosto... O que foi que nos aconteceu a todos, neste País?...
Acho que andámos estes anos todos a regressar ao passado. Não aprendemos que o poder, a capacidade de transformar o mundo – começando por transformar a nossa pessoa, os que nos rodeiam –, esse poder está nas nossas mãos e não nas de qualquer governante ou chefe de partido ou de igreja.
Habituámo-nos a esperar que a solução nos seja oferecida, e quando isso não acontece basta-nos saber quem é o culpado – ou os culpados.
E os verdadeiros culpados somos nós, que não fizemos ou fizemos o que não devíamos; que não votámos ou votámos em quem não devíamos; que acreditámos no discurso milagroso porque é muito mais cómodo esperar que o milagre se cumpra. E nunca cumpre!
Nas nossas vidas cometemos mil vezes os pecados que apontamos aos outros, mas somos demasiado tolerantes para connosco e apontamos a dedo os outros.
Nos primeiros dias depois da revolução nós acreditávamos que éramos (nós próprios!) capazes de mudar o mundo. Depois deixámos que os chefes tomassem conta do nosso mundo por nós.
Obrigada pela reflexão, Mestre. Mas eu creio que 1383, 1640 e 1974 é que foram excepções à regra. E suficientemente afastadas no tempo para que os protagonistas não vivenciassem dois momentos similares. É pena, mas não acredito que possamos viver outra situação semelhante. No entanto, quem sabe?... A esperança, dizem, é a última a morrer: melhor será que a vamos alimentando, para que esteja bem nutrida em caso de poder ser útil!
Quanto à revolução, façamos a que está ao nosso alcance – a nossa. Quem sabe se com o exemplo esta gota de água se vai tornando riacho, arroio, ribeiro, rio, mar...
Quanto à esperança até pode ser que seja a última a morrer, mas o certo é que nenhuma seguradora lhe fará um seguro de vida...
5 comentários:
O poema que hoje lhe deixo, Menina Escrivaninha, não é sobre o "Maduro Maio", mas sobre o Maio de que precisamos. Um bom Primeiro de Maio!
Meu Maio
A todos
Que saíram às ruas
De corpo-máquina cansado,
A todos
Que imploram feriado
Às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras,
Derrete a neve com sol gaio.
Sou operário –
Este é o meu maio!
Sou camponês -
Este é o meu mês.
Sou ferro –
Eis o maio que eu quero!
Sou terra –
O maio é minha era!
Vladimir Maiakovski
74, "aquele Maio", o Maio...
Quem o viveu jamais provou iguaria igual, todos crianças, todos inocentes, todos dando as mãos e acreditando em nós mesmos e nos outros todos!
E sabendo que éramos capazes, que só nós todos poderíamos escalar o Everest de coisas lindas que desejávamos!
Que gelo se terá apoderado deste imenso vulcão, que nunca mais o vi em erupção?
Que faca reduziu ao menor múltiplo um colectivo tão grandioso, a solistas pimba o coro que entoava o estribilho chileno: "Agora, o povo unido jamais será vencido!"?
Ah, Mestre, que lindas palavras!
É, de facto, um fenómeno inexplicável o que nos aconteceu a todos. Porque mesmo os que ainda se agarram a algo...parece gasto, parece falso...como os «vivas» os «a luta continua» que foram ditos ontem, numa «manifestacinha» no Largo Rodrigues Lobo em Leiria. Parecia uma caricatura, uma piada de mau gosto...
O que foi que nos aconteceu a todos, neste País?...
Acho que andámos estes anos todos a regressar ao passado.
Não aprendemos que o poder, a capacidade de transformar o mundo – começando por transformar a nossa pessoa, os que nos rodeiam –, esse poder está nas nossas mãos e não nas de qualquer governante ou chefe de partido ou de igreja.
Habituámo-nos a esperar que a solução nos seja oferecida, e quando isso não acontece basta-nos saber quem é o culpado – ou os culpados.
E os verdadeiros culpados somos nós, que não fizemos ou fizemos o que não devíamos; que não votámos ou votámos em quem não devíamos; que acreditámos no discurso milagroso porque é muito mais cómodo esperar que o milagre se cumpra. E nunca cumpre!
Nas nossas vidas cometemos mil vezes os pecados que apontamos aos outros, mas somos demasiado tolerantes para connosco e apontamos a dedo os outros.
Nos primeiros dias depois da revolução nós acreditávamos que éramos (nós próprios!) capazes de mudar o mundo.
Depois deixámos que os chefes tomassem conta do nosso mundo por nós.
Para mim, esta é a grande diferença!
Obrigada pela reflexão, Mestre.
Mas eu creio que 1383, 1640 e 1974 é que foram excepções à regra. E suficientemente afastadas no tempo para que os protagonistas não vivenciassem dois momentos similares. É pena, mas não acredito que possamos viver outra situação semelhante.
No entanto, quem sabe?... A esperança, dizem, é a última a morrer: melhor será que a vamos alimentando, para que esteja bem nutrida em caso de poder ser útil!
Quanto à revolução, façamos a que está ao nosso alcance – a nossa. Quem sabe se com o exemplo esta gota de água se vai tornando riacho, arroio, ribeiro, rio, mar...
Quanto à esperança até pode ser que seja a última a morrer, mas o certo é que nenhuma seguradora lhe fará um seguro de vida...
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