terça-feira, 18 de maio de 2010

Liberdade

Em 1876, Victor Hugo escreveu: "A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos."

Mas o que mais me orgulha é que esta frase foi dedicada a Portugal e ao pioneirismo da sua legislação.

Mas hoje não tenho tempo de explicar tudo. Fica para cenas dos próximos episódios...

8 comentários:

Ninguém.pt disse...

Sou intrinsecamente português, mas não nacionalista.

Orgulho-me da cultura que este povo conseguiu criar, orgulho-me do que fizeram alguns criadores de cultura (nota-se, não?).

Do expansionismo/colonialismo português, muito pouco me orgulho – porque o saldo humano não foi favorável.

Mas dois momentos me tocam profundamente, até porque os portugueses foram percursores, indicaram os caminhos do humanismo a quase todas as outras nações:
• a abolição da escravatura
• a abolição da pena de morte.

Victor Hugo alegrava-se com este último passo dado pelos legisladores portugueses, e "gritava" bem alto: «Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida!»

Infelizmente, passados 134 anos desse gesto pioneiro apenas 89 países (oitenta e nove, só!) aboliram a pena de morte para todos os crimes.

Ou seja, a maioria dos países ainda não deram o passo necessário – e cerca de 70 ainda assassinam em nome da justiça.

Lamentemos!

(Mereço reguadas, uma vez mais!)

Ninguém.pt disse...

A poetisa diz-nos o que fazer para promovermos o mundo que desejamos:
«Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo»



A forma justa


Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos - se ninguém atraiçoasse - proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
- Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo


Sophia de Mello Breyner Andresen

Escrivaninha disse...

Comentário ao primeiro comentário:

Hum!...Também tenho uns alunos assim...não mais que um por turma e nem em todas as turmas...

Quando eu, procurando criar um pouco de «suspence» sobre a matéria, anuncio algo para o próximo episódio, esparramam logo tudo o que sabem sobre o assunto.

Afinal quem é a professora de História aqui? Afinal quem é que conta a História? Hem?...

Agora já não vou dizer que as palavras do Victor Hugo eram sobre o nosso pioneirismo na abolição da pena de morte; nem vou completá-las com outras palavras dele, porque o Mestre já o fez.

Estou oficialmente amuada!

Escrivaninha disse...

Comentário ao segundo comentário:

Nada melhor para um amuo que um poema grande, grande, sobre a intenção - que é também a base da capacidade - de construir um mundo justo, que só os poetas têm; ou que, pelo menos, só eles sabem exprimir.

(Não estava mesmo zangada, Mestre)

Ninguém.pt disse...

Cuidado com as mentes complicadas, Miss Escrivaninha!

Ah, e com as doenças cardíacas também...

Ninguém.pt disse...

Com isto, esqueci o essencial: pedir desculpa ao bloguístico móvel pela intromissão na sua disciplina. Longe de mim querer imitar o tal aluno – mas começo já a sentir alguma empatia com ele...

O que se passa, já toda a gente o viu, é que não consigo dar a minha opinião de uma forma analiticamente sintética, caindo sempre no pecado.

E como burro velho não aprende síntese...

Mil perdões!

Escrivaninha disse...

Não precisa pedir perdão, Mestre (muito menos «mil perdões»).

Tinha mesmo pensado escrever sobre a abolição da pena de morte, quando tivesse tempo, mas já aboli o assunto. :-)

Tenha eu tempo e inspiração que assuntos não faltam. E é sempre um desafio ir procurar um assunto diferente. Uma boa forma de progredir.

Ninguém.pt disse...

A minha dificuldade em mudar ainda não chegou aqui, mas tenho esperança que um dia...

Não me sinto mudar

Não me sinto mudar. Ontem eu era o mesmo.
O tempo passa lento sobre os meus entusiasmos
cada dia mais raros são os meus cepticismos,
nunca fui vítima sequer de um pequeno orgasmo

mental que derrubasse a canção dos meus dias
que rompesse as minhas dúvidas que apagasse o meu nome.
Não mudei. É um pouco mais de melancolia,
um pouco de tédio que me deram os homens.

Não mudei. Não mudo. O meu pai está muito velho.

As roseiras florescem, as mulheres partem
cada dia há mais meninas para cada conselho
para cada cansaço para cada bondade.

Por isso continuo o mesmo. Nas sepulturas antigas
os vermes raivosos desfazem a dor,
todos os homens pedem de mais para amanhã
eu não peço nada nem um pouco de mundo.

Mas num dia amargo, num dia distante
sentirei a raiva de não estender as mãos
de não erguer as asas da renovação.

Será talvez um pouco mais de melancolia
mas na certeza da crise tardia
farei uma primavera para o meu coração.


Pablo Neruda

(Ah, vou tentar não me antecipar...)