domingo, 9 de maio de 2010

Cardume



(Um dos objectos de decoração do Restaurante «Abrigo da Montanha», na Serra da Boa Viagem)

5 comentários:

Ninguém.pt disse...


um cardume de silêncios


um cardume de silêncios
move-se dia e noite
dentro das mãos

beleza que não cabe em galhos ou em ramos
de palavras aquáticas
que irrompem também das árvores
em terno e incisivo barco

as mulheres carregam grávidas
frutos doces
em seus frágeis ramos

o poema encerra ali o estágio mais alto da verdade:
um livro-casa
um livro-água
com peixes brancos


o mundo inteiro fervilha
em folhas ofegantes
nas fontes

ressignificando o jardim das mãos


Maria Azenha

Acho que não há linguagem mais universal, mais humana, do que a das mãos – o gesto, o tacto, o calor...

Escrivaninha disse...

«Com mãos se faz a paz e se desfaz», tão frágil e deicada como o vidro...

"Olhai para estas mãos que aqui vedes
Já foram pequeninas e mimosas
Leves e macias como lírios
Rosadas e frescas como as rosas
Mãos que foram dóceis em criança
Hoje são áridas brutais
Não tendo a graça das ilustres
Valem certamente muito mais

Mãos vidreiras
Que o gás do forno queimou
Mãos vidreiras
Que o trabalho calejou
Mãos vidreiras
Que só fazem obras d’arte
Mãos que sabem ser vidreiras
Honradas em toda a parte

Olhai para estas mãos trabalhadoras
Pelo rigor da vida transformadas
Mãos que nunca foram ociosas
Mas pelo trabalho calejadas
Mãos que se irmanam com o fogo
Trabalhando o vidro em fusão
Mãos que são a alma de um povo
Na sua dura vida e em duro pão"

Poema: Mãos Vidreiras
Autor: Francisco Correia Moita

...da Marinha Grande, claro!

Ninguém.pt disse...

Gostei muito! Não conhecia. Obrigado.

A memória das mãos

Com luz e sombra se desenha
a memória das mãos,
Primordial labirinto dos anjos.
Receptáculo onde o tempo divino é perene
e se manobram os pormenores biográficos
dos que recusam a morte.
Dédalo estava enganado.
Quaisquer asas começam rente ao sol.
O pressentimento do voo tem raízes no fogo.
Um pássaro reflecte nos olhos o cume dos sonhos
e respira luz, à tangente da noite.


Graça Pires

Ninguém.pt disse...

Claro, há a voz límpida de Adriano Correia de Oliveira cantando aquele sósia do candidato...

As mãos


Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.


Manuel Alegre

http://www.youtube.com/watch?v=bipupqjpDXs

Escrivaninha disse...

"aquele sósia do candidato" :-)
O candidato podia ler o sósia, de vez em quando.