Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
domingo, 9 de maio de 2010
Cardume
(Um dos objectos de decoração do Restaurante «Abrigo da Montanha», na Serra da Boa Viagem)
«Com mãos se faz a paz e se desfaz», tão frágil e deicada como o vidro...
"Olhai para estas mãos que aqui vedes Já foram pequeninas e mimosas Leves e macias como lírios Rosadas e frescas como as rosas Mãos que foram dóceis em criança Hoje são áridas brutais Não tendo a graça das ilustres Valem certamente muito mais
Mãos vidreiras Que o gás do forno queimou Mãos vidreiras Que o trabalho calejou Mãos vidreiras Que só fazem obras d’arte Mãos que sabem ser vidreiras Honradas em toda a parte
Olhai para estas mãos trabalhadoras Pelo rigor da vida transformadas Mãos que nunca foram ociosas Mas pelo trabalho calejadas Mãos que se irmanam com o fogo Trabalhando o vidro em fusão Mãos que são a alma de um povo Na sua dura vida e em duro pão"
Poema: Mãos Vidreiras Autor: Francisco Correia Moita
Com luz e sombra se desenha a memória das mãos, Primordial labirinto dos anjos. Receptáculo onde o tempo divino é perene e se manobram os pormenores biográficos dos que recusam a morte. Dédalo estava enganado. Quaisquer asas começam rente ao sol. O pressentimento do voo tem raízes no fogo. Um pássaro reflecte nos olhos o cume dos sonhos e respira luz, à tangente da noite.
Claro, há a voz límpida de Adriano Correia de Oliveira cantando aquele sósia do candidato... As mãos
Com mãos se faz a paz se faz a guerra. Com mãos tudo se faz e se desfaz. Com mãos se faz o poema – e são de terra. Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra. Não são de pedras estas casas mas de mãos. E estão no fruto e na palavra as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas as mãos que vês nas coisas transformadas. Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade. Ninguém pode vencer estas espadas: nas tuas mãos começa a liberdade.
5 comentários:
um cardume de silêncios
um cardume de silêncios
move-se dia e noite
dentro das mãos
beleza que não cabe em galhos ou em ramos
de palavras aquáticas
que irrompem também das árvores
em terno e incisivo barco
as mulheres carregam grávidas
frutos doces
em seus frágeis ramos
o poema encerra ali o estágio mais alto da verdade:
um livro-casa
um livro-água
com peixes brancos
o mundo inteiro fervilha
em folhas ofegantes
nas fontes
ressignificando o jardim das mãos
Maria Azenha
Acho que não há linguagem mais universal, mais humana, do que a das mãos – o gesto, o tacto, o calor...
«Com mãos se faz a paz e se desfaz», tão frágil e deicada como o vidro...
"Olhai para estas mãos que aqui vedes
Já foram pequeninas e mimosas
Leves e macias como lírios
Rosadas e frescas como as rosas
Mãos que foram dóceis em criança
Hoje são áridas brutais
Não tendo a graça das ilustres
Valem certamente muito mais
Mãos vidreiras
Que o gás do forno queimou
Mãos vidreiras
Que o trabalho calejou
Mãos vidreiras
Que só fazem obras d’arte
Mãos que sabem ser vidreiras
Honradas em toda a parte
Olhai para estas mãos trabalhadoras
Pelo rigor da vida transformadas
Mãos que nunca foram ociosas
Mas pelo trabalho calejadas
Mãos que se irmanam com o fogo
Trabalhando o vidro em fusão
Mãos que são a alma de um povo
Na sua dura vida e em duro pão"
Poema: Mãos Vidreiras
Autor: Francisco Correia Moita
...da Marinha Grande, claro!
Gostei muito! Não conhecia. Obrigado.
A memória das mãos
Com luz e sombra se desenha
a memória das mãos,
Primordial labirinto dos anjos.
Receptáculo onde o tempo divino é perene
e se manobram os pormenores biográficos
dos que recusam a morte.
Dédalo estava enganado.
Quaisquer asas começam rente ao sol.
O pressentimento do voo tem raízes no fogo.
Um pássaro reflecte nos olhos o cume dos sonhos
e respira luz, à tangente da noite.
Graça Pires
Claro, há a voz límpida de Adriano Correia de Oliveira cantando aquele sósia do candidato...
As mãos
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre
http://www.youtube.com/watch?v=bipupqjpDXs
"aquele sósia do candidato" :-)
O candidato podia ler o sósia, de vez em quando.
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