sexta-feira, 21 de maio de 2010

Tem Dó!

Morar junto a uma escola de música tem (como todas as coisas) aspectos positivos e negativos.
Hoje estou positivamente massacrada com a aprendizagem de escalas num trompete ou saxofone. E também com alguém que tenta coordenar movimentos numa bateria... Tenho de lhes apreciar a persistência e o esforço, mas se os apanhasse à frente agora teria dificuldade em esboçar um sorriso encorajador. Creio mesmo que algumas pessoas perdem tempo a insistir...mas, quem sou eu? Apenas uma vizinha exausta...
Enfim, vale-me a recordação de um magnífico recital de piano, na fresca da tardinha de quarta-feira passada.

2 comentários:

Ninguém.pt disse...

Além da harmonia, que outros suportes ainda faltarão a esses músicos?

o suporte da música

o suporte da música pode ser a relação
entre um homem e uma mulher, a pauta
dos seus gestos tocando-se, ou dos seus
olhares encontrando-se, ou das suas

vogais adivinhando-se abertas e recíprocas,
ou dos seus obscuros sinais de entendimento,
crescendo como trepadeiras entre eles.
o suporte da música pode ser uma apetência

dos seus ouvidos e do olfacto, de tudo o que se
ramifica entre os timbres, os perfumes,
mas é também um ritmo interior, uma parcela
do cosmos, e eles sabem-no, perpassando

por uns frágeis momentos, concentrado
num ponto minúsculo, intensamente luminoso,
que a música, desvendando-se, desdobra,
entre conhecimento e cúmplice harmonia.


Vasco Graça Moura

(Nas farmácias vendem tampões para os ouvidos...)

Ninguém.pt disse...

Não peça a Escrivaninha silêncio, para não lhe acontecer como ao poeta: «quando reina a paz, quando a bonança impera, que desespero horrível me exaspera!»


A música


A música p'ra mim tem seduções de oceano!
Quantas vezes procuro navegar,
Sobre um dorso brumoso, a vela a todo o pano,
Minha pálida estrela a demandar!

O peito saliente, os pulmões distendidos
Como o rijo velame d'um navio,
Intento desvendar os reinos escondidos
Sob o manto da noite escuro e frio;

Sinto vibrar em mim todas as comoções
D'um navio que sulca o vasto mar;
Chuvas temporais, ciclones, convulsões

Conseguem a minh'alma acalentar.
— Mas quando reina a paz, quando a bonança impera,
Que desespero horrível me exaspera!


Charles Baudelaire