Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
sábado, 8 de maio de 2010
Preparativos para a chegada do Papa
A laicidade do nosso Estado é uma coisa fantástica! (na verdadeira acepção da palavra)
O catolicismo «é uma das causas, senão a principal, da decadência dos povos peninsulares. Das influências deletérias nenhuma foi tão universal, nenhuma lançou tão fundas raízes. Feriu o homem no que há de mais íntimo, nos pontos mais essenciais da vida moral, no crer, no sentir - no ser: envenenou a vida nas suas fontes mais secretas.»
Antero de Quental «Causas da decadência dos povos peninsulares»
Gritemos hosanas ao representante máximo da instituição responsável por sermos um povo amargo, desconfiado, mesquinho, intolerante e estúpido ao ponto de fazer com que essa intolerância nos tornasse o mais atrasado da Europa.
Que mais nos resta fazer do que estar gratos? Por tudo e agora ainda por este rapazito e seu séquito encobrirem desde sempre as patifarias físicas que cometem contra as crianças.
Se não fosse ateu, rezaria assim: "Dai-me, Senhor, paciência, porque se me deres poder eu desfaço-os a todos!"
(Mal comportado de novo, peço perdão à Escrivaninha, que não ao popas.)
Adoro esta conferência de Antero de Quental. Aliás, adoro As Conferências do Casino e aquela irreverente Geração de 70, mas Antero de Quental tem um brilho especial, até pela forma inconformada como viveu a falta de entusiasmo nacional pela sua utopia; até na forma - tão trágica - como se recusou a ser um «vencido da vida».
Embora concorde com tudo o que diz sobre a Igreja e as instituições religiosas em geral, não o acompanho na falta de fé. Eu sou uma mulher de fé.
Posso reconhecer que há algo de ingénuo em atribuir a uma entidade exterior - transcendente - o que nos vai sucedendo, mas não me consigo «ver» sem fé. A fé tem sido o cimento que me permite ir avançando por caminhos muito partidos. A fé é uma segurança. E dou graças a Deus por ter fé. :-)
Embora tenha achado Descartes um chato quendo tive que o estudar, concordo com ele na aplicação da dúvida metódica a tudo, menos a Deus, princípio primeiro.
Sei que há argumentos racionais para destruir todos os pilares da minha fé, mas, talvez seja assim mesmo. A fé não precisa de argumentos. Sente-se, vive-se, é.
Mas há uma frase que uso recorrentemente e que escandalizava profundamente a antiga professora de Moral da minha escola: Deus Nosso Senhor não tem nada a ver com a Igreja.
Independentemente da fé, como cidadã, estou chocada com a mistura - anti-constitucional - entre o Estado e a Igreja Católica e com a agressão ao espírito republicano e laico que deveria existir em Portugal. Celebramos este ano o centenário da Implantação da República e fazemos-lhe isto!
Eu afirmo que sou ateu para simplificar... Passo a explicar-me: de facto eu sou o mais politeísta possível, pois acredito em quase sete mil milhões de deuses.
Cada ser humano é um deus, para mim!
Cada um de nós possui um enorme (inesgotável mesmo) potencial de criar, de amar, de ser justo e solidário – de mudar o mundo para melhor, se para esse lado remarmos. Imagino que um dia possamos unir-nos e fazer um grande e invencível deus.
Há muitos anos troquei a incerteza da fé pela certeza de que podemos mudar para melhor o mundo que nos rodeia. E passei a questionar primeiro a minha culpa no que de mau me acontece ou acontece aos que me rodeiam – e descobri que antes, quando deus era o "culpado" era muito menos exigente comigo próprio.
Mas respeito todos os que têm fé – e respeito-os na proporção em que eles são coerentes.
(Não consigo é respeitar os limites da decência... Tenho que treinar a síntese!)
Imagine que não há paraíso É fácil se você tentar Nenhum inferno abaixo de nós E acima de você apenas o céu Imagine todas as pessoas Vivendo para o hoje
Imagine não existir países Não é difícil fazê-lo Nada pelo que lutar ou morrer E nenhuma religião também Imagine todas as pessoas Vivendo a vida em paz
Talvez você diga que eu sou um sonhador Mas não sou o único Desejo que um dia você se junte a nós E o mundo, então, será como um só
Imagine não existir posses Surpreenderia-me se você conseguisse Sem ganância e fome Uma irmandade humana Imagine todas as pessoas Compartilhando o mundo
Você pode dizer Que eu sou um sonhador Mas não sou o único Desejo que um dia Você se junte a nós E o mundo, então, será como um só
6 comentários:
O catolicismo «é uma das causas, senão a principal, da decadência dos povos peninsulares. Das influências deletérias nenhuma foi tão universal, nenhuma lançou tão fundas raízes. Feriu o homem no que há de mais íntimo, nos pontos mais essenciais da vida moral, no crer, no sentir - no ser: envenenou a vida nas suas fontes mais secretas.»
Antero de Quental
«Causas da decadência dos povos peninsulares»
Gritemos hosanas ao representante máximo da instituição responsável por sermos um povo amargo, desconfiado, mesquinho, intolerante e estúpido ao ponto de fazer com que essa intolerância nos tornasse o mais atrasado da Europa.
Que mais nos resta fazer do que estar gratos? Por tudo e agora ainda por este rapazito e seu séquito encobrirem desde sempre as patifarias físicas que cometem contra as crianças.
Se não fosse ateu, rezaria assim: "Dai-me, Senhor, paciência, porque se me deres poder eu desfaço-os a todos!"
(Mal comportado de novo, peço perdão à Escrivaninha, que não ao popas.)
Adoro esta conferência de Antero de Quental. Aliás, adoro As Conferências do Casino e aquela irreverente Geração de 70, mas Antero de Quental tem um brilho especial, até pela forma inconformada como viveu a falta de entusiasmo nacional pela sua utopia; até na forma - tão trágica - como se recusou a ser um «vencido da vida».
Embora concorde com tudo o que diz sobre a Igreja e as instituições religiosas em geral, não o acompanho na falta de fé. Eu sou uma mulher de fé.
Posso reconhecer que há algo de ingénuo em atribuir a uma entidade exterior - transcendente - o que nos vai sucedendo, mas não me consigo «ver» sem fé. A fé tem sido o cimento que me permite ir avançando por caminhos muito partidos. A fé é uma segurança. E dou graças a Deus por ter fé. :-)
Embora tenha achado Descartes um chato quendo tive que o estudar, concordo com ele na aplicação da dúvida metódica a tudo, menos a Deus, princípio primeiro.
Sei que há argumentos racionais para destruir todos os pilares da minha fé, mas, talvez seja assim mesmo. A fé não precisa de argumentos. Sente-se, vive-se, é.
Mas há uma frase que uso recorrentemente e que escandalizava profundamente a antiga professora de Moral da minha escola: Deus Nosso Senhor não tem nada a ver com a Igreja.
Independentemente da fé, como cidadã, estou chocada com a mistura - anti-constitucional - entre o Estado e a Igreja Católica e com a agressão ao espírito republicano e laico que deveria existir em Portugal. Celebramos este ano o centenário da Implantação da República e fazemos-lhe isto!
(ops! também escrevi demais...)
Eu afirmo que sou ateu para simplificar... Passo a explicar-me: de facto eu sou o mais politeísta possível, pois acredito em quase sete mil milhões de deuses.
Cada ser humano é um deus, para mim!
Cada um de nós possui um enorme (inesgotável mesmo) potencial de criar, de amar, de ser justo e solidário – de mudar o mundo para melhor, se para esse lado remarmos. Imagino que um dia possamos unir-nos e fazer um grande e invencível deus.
Há muitos anos troquei a incerteza da fé pela certeza de que podemos mudar para melhor o mundo que nos rodeia. E passei a questionar primeiro a minha culpa no que de mau me acontece ou acontece aos que me rodeiam – e descobri que antes, quando deus era o "culpado" era muito menos exigente comigo próprio.
Mas respeito todos os que têm fé – e respeito-os na proporção em que eles são coerentes.
(Não consigo é respeitar os limites da decência... Tenho que treinar a síntese!)
Desculpe, fui procurar reforços...
Imagine
Imagine que não há paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
E acima de você apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje
Imagine não existir países
Não é difícil fazê-lo
Nada pelo que lutar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz
Talvez você diga que
eu sou um sonhador
Mas não sou o único
Desejo que um dia
você se junte a nós
E o mundo, então, será como um só
Imagine não existir posses
Surpreenderia-me se você conseguisse
Sem ganância e fome
Uma irmandade humana
Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo
Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas não sou o único
Desejo que um dia
Você se junte a nós
E o mundo, então, será como um só
John Lennon
http://www.youtube.com/watch?v=okd3hLlvvLw
Lá andamos nós nas Utopias.
Mas ainda bem que elas existem!
Isto tudo fez-me recordar o meu tio esperantista. Um dia escrevo sobre ele.
Boa noite, Mestre, sonhando com todos num mundo só.
Boa noite, Menina Escrivaninha.
Sonhe com um mundo em que ninguém está só.
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