Neste fim de semana fez-se, mais uma vez, a reconstituição do mercado semanal do século XIX, no largo do Mosteiro de Alcobaça.
A cidade está por isso animada com ranchos folclóricos, vendedores de fruta, artesãos, etc, aos quais se juntam os feirantes da Feira Mensal de Antiguidades.
As esplanadas estão cheias e as vistas são surpreendentes, como ver uma robusta camponesa com a mais moderna maquilhagem ou um grupo de rapazes de chapéu de aba larga e beber umas cervejolas ou a fazer uma chamada de telemóvel. Claro que isto é nas zonas marginais da reconstituição histórica, quando os participantes resolvem descansar um pouco. Mas são estas imagens que sempre me divertem muito nas reconstituições históricas.
Por coincidência - ou talvez não - eu descubro num livro que descreve Alcobaça nos inícios do século XX, um poema da brasileira Cecília Meireles, rendida aos encantos de um domingo na vila de Alcobaça:
"Domingo de Feira
Neste caminho de Alcobaça
Nos arredores do Mosteiro
Eu sei que o mercado da praça
Dura quase o domingo inteiro
Na bojuda louça vidrada
Cada vulto é um desenho novo
E há, alforges nos degraus da escada
Onde palra, mercando o povo
Cada gesto é uma Aljubarrota
Um Brasil - no braço que alterca
«Figos, figos da capa rota!
Dez reis ao quarteirão! Quem merca?»
Meias roxas, verdes, vermelhas
Vão e vêm para cada lado
Parece um desenho animado"
Não sei a data. Deve ser já bem dentro do século XX...
Está citado na página 78 do livro de Mª Zulmira Marques, Um Século de História de Alcobaça (1810-1910): Chalets e Palacetes do Romantismo Tardio.
6 comentários:
Lá dizia a canção:
Não se esquece facilmente,
Dos seus mercados a graça.
http://www.youtube.com/watch?v=TenwesdEvNU
(Mal sabe o Mestre que eu já cantei esta canção em cima de um palco...assim como a canção das Mãos Vidreiras...Mas isso já lá vai! Mas foi muito divertido!)
Adorava ter visto uma Escrivaninha a cantar!
Mas, quem sabe?, numa outra ocasião possa pelo menos gravar o som e postar aqui... Ou será que tem a gravação desse espectáculo?
'Bora ouvir isso!
(A despropósito: Cecília Meireles nasceu em 1901, Wikipédia dixit.)
Não tenho, não. E não foi um, mas vários espectáculos! :-)
Foi um projecto muito giro, mas o tempo não chega para tudo.
Pois eu sei que o poema da Cecília Meireles não pode estar dentro das datas a que se refere aquele livro e lá só diz que «mais tarde, a poetisa...» e não tem data. Mas foi um apontamento a propósito do dia.
Cantando e falta de tempo lembraram-se este poema:
Ela canta, pobre ceifeira
Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente'stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção!
A ciência pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
Fernando Pessoa
Muito boa noite, miss. Sonhe que é pequenininha e vence o Skin d'Oro...
Oh, obrigada...Bons sonhos para si também (talvez como, noutro vida, contemporâneo de Guttenberg?...)
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