Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Comentário
"Era altura de despedir os políticos profissionais e colocarmos profissionais na política"
Padre Fernando Ventura, Convidado da SicNotícias no jornal das 9
O nosso problema é que não temos políticos profissionais, temos profissionais na política. São todos engenhêros, advogados, administradores de empresa, etc.
Político com ideologia, boa ou má, mas com ideologia, com princípios e com vontade de encontrar soluções para prosseguir esses princípios, não temos já disso.
Houve alguns, logo após o 25 de Abril, mas foram morrendo ou foram-se afastando da política, empurrados por oportunistas que do futuro apenas vêem a ponta do seu próprio nariz.
Basta compararmos a Assembleia da República de, por exemplo, 1976 com a de hoje. Basta ouvir os "discursos" de hoje e ler os de então.
Não, o padre está redondamente enganado! Não há a governar-nos ou a fazer oposição, políticos — nem profissionais nem amadores.
Aprendizes com faro para o tacho, isso sim!
(Mas não caio na tentação de dizer que são todos iguais ou, menos ainda, de dizer que no tempo da outra madame eram melhores do que estes...)
Mas olhe que o Padre - que afinal era Frei - falou muito bem: sobre os ideais da República (fiquei até espantada, pois o anti-clericalismo era notório), sobre o problema de estarmos a criar uma geração sem memória, sobre a necessidade de emergência de uma consciência colectiva, sobre o coração dos portugueses e também sobre o papel da Igreja, na ajuda preciosa a muitos dos que estão a passar necessidades.
Criou uma imagem muito interessante, dizendo que, se Rafael Bordalo Pinheiro fosse vivo, provavelmente, retrataria o povo português vivendo numa barraca, com um submarino à porta.
Miss, o tal frei pode ter razão em tudo, não sei, não ouvi.
Mas, para mim, políticos profissionais são os estadistas, aqueles que põe a tática ao serviço de uma estratégia global, com princípios — bons ou maus, concordemos ou não com eles, isso é uma outra discussão.
Os que nos governam e os que lhe fazem oposição, os que governam os partidos, não têm estaleca de estadistas, a não ser por causa do estado a que isto chegou...
Eles são imediatistas, pensam apenas no agora, não sabem delinear uma estratégia nem estão com tempo para a seguir — têm muitos bolsos para encher...
Para nomear alguns, e de nenhum deles eu bebia as ideias, lembro-me de Sá Carneiro, de Álvaro Cunhal, de Carlos Brito, de Lucas Pires, de Sottomayor Cardia, de Zenha...
Ouvi-los a eles e ouvir estes patetas de agora é comparável a ouvir Maria Callas ou o Zé Cabra...
Eu acho que não devia haver políticos profissionais. Ainda penso mesmo que o governo da pólis, devia ser um serviço público, exercido pelos melhores profissionais em diversos ramos. Se vivem da política vão arranjar forma de prolongar o jogo, de preferência de forma rentável. «Serviço de Estado», «Interesse Nacional»...tudo fica esquecido se entram interesses próprios em jogo. Os políticos deviam ser recrutados entre os melhores e perder dinheiro enquanto estivessem ao serviço do Estado e serem responsabilizados pelo estado em que deixassem o Estado.
Entendo-a, Miss, mas há o reverso da medalha. Se vão lá estar pouco tempo, não importa o que acontecerá a seguir, interessa é fazer o que fazem agora: "semear" para colherem quando saem do poleiro para administradores de empresas.
Mas já de seguida vou deixar-lhe a voz e a letra de alguém que o diz melhor do que eu...
não me perguntem coisas daquelas que eu não creia não me perguntem coisas daquelas que não sei remeto para os senhores as decisões do mundo tais como governar, fazer decretos lei
no meio da tempestade no meio das sapiências se poeta nasci, poeta morrerei nem homem de gravata nem homem de ciências apenas de mim próprio, e pouco, serei rei
das decisões do mundo lerei o que entender que dentro de mim mesmo às vezes nasce um rio e é esse desafio que nunca hei-de esquecer e é essa a diferença que faz o meu feitio
mas digam por favor de onde nasce o sol que eu basta-me o calor - para lá me voltarei e saibam já agora que se eu lavrar a terra me bastará que chova que o resto eu o farei e digam por favor se o céu inda nos cobre e bastará o azul que em ave me tornei
mantenham com cuidado as árvores e estradas pr'a gente poder ver, p'ra gente circular que eu basta-me saúde e o sonho tão distante e a boca perturbante que tu me sabes dar
e a festa de viver e o gozo e a paisagem desta curva do Tejo, soprando a brisa leve e na tranquilidade assim desta viagem parar-se o tempo aqui, eterno, fresco e breve
que eu voo por toda a parte mas noutro horizonte e vivo as coisas simples e rio-me da ambição e ao fim de tanto ver, escolherei um monte de onde assistirei, sorrindo, ao vosso enfarte
da ânsia de possuir, da ânsia de mostrar, da ânsia da importância, da ânsia de mandar
e digam por favor de onde nasce o sol que eu basta-me o calor - para lá me voltarei e saibam já agora que se eu lavrar a terra me bastará que chova que o resto eu o farei e digam por favor se o céu inda nos cobre e bastará o azul que em ave me tornei
Pedro Barrôso
http://www.youtube.com/watch?v=kpTHCheKP24
Um dos últimos trovadores, um dos grandes poetas-cantores...
8 comentários:
Acho eu, Miss, que o padre está enganado.
O nosso problema é que não temos políticos profissionais, temos profissionais na política. São todos engenhêros, advogados, administradores de empresa, etc.
Político com ideologia, boa ou má, mas com ideologia, com princípios e com vontade de encontrar soluções para prosseguir esses princípios, não temos já disso.
Houve alguns, logo após o 25 de Abril, mas foram morrendo ou foram-se afastando da política, empurrados por oportunistas que do futuro apenas vêem a ponta do seu próprio nariz.
Basta compararmos a Assembleia da República de, por exemplo, 1976 com a de hoje. Basta ouvir os "discursos" de hoje e ler os de então.
Não, o padre está redondamente enganado! Não há a governar-nos ou a fazer oposição, políticos — nem profissionais nem amadores.
Aprendizes com faro para o tacho, isso sim!
(Mas não caio na tentação de dizer que são todos iguais ou, menos ainda, de dizer que no tempo da outra madame eram melhores do que estes...)
Mas olhe que o Padre - que afinal era Frei - falou muito bem: sobre os ideais da República (fiquei até espantada, pois o anti-clericalismo era notório), sobre o problema de estarmos a criar uma geração sem memória, sobre a necessidade de emergência de uma consciência colectiva, sobre o coração dos portugueses e também sobre o papel da Igreja, na ajuda preciosa a muitos dos que estão a passar necessidades.
Criou uma imagem muito interessante, dizendo que, se Rafael Bordalo Pinheiro fosse vivo, provavelmente, retrataria o povo português vivendo numa barraca, com um submarino à porta.
Gostei de ouvir o senhor, confesso!
Miss, o tal frei pode ter razão em tudo, não sei, não ouvi.
Mas, para mim, políticos profissionais são os estadistas, aqueles que põe a tática ao serviço de uma estratégia global, com princípios — bons ou maus, concordemos ou não com eles, isso é uma outra discussão.
Os que nos governam e os que lhe fazem oposição, os que governam os partidos, não têm estaleca de estadistas, a não ser por causa do estado a que isto chegou...
Eles são imediatistas, pensam apenas no agora, não sabem delinear uma estratégia nem estão com tempo para a seguir — têm muitos bolsos para encher...
Para nomear alguns, e de nenhum deles eu bebia as ideias, lembro-me de Sá Carneiro, de Álvaro Cunhal, de Carlos Brito, de Lucas Pires, de Sottomayor Cardia, de Zenha...
Ouvi-los a eles e ouvir estes patetas de agora é comparável a ouvir Maria Callas ou o Zé Cabra...
Apre! Essa foi forte!
Não sei se concordo consigo...
Eu acho que não devia haver políticos profissionais. Ainda penso mesmo que o governo da pólis, devia ser um serviço público, exercido pelos melhores profissionais em diversos ramos. Se vivem da política vão arranjar forma de prolongar o jogo, de preferência de forma rentável. «Serviço de Estado», «Interesse Nacional»...tudo fica esquecido se entram interesses próprios em jogo. Os políticos deviam ser recrutados entre os melhores e perder dinheiro enquanto estivessem ao serviço do Estado e serem responsabilizados pelo estado em que deixassem o Estado.
Utopias...
Entendo-a, Miss, mas há o reverso da medalha. Se vão lá estar pouco tempo, não importa o que acontecerá a seguir, interessa é fazer o que fazem agora: "semear" para colherem quando saem do poleiro para administradores de empresas.
Mas já de seguida vou deixar-lhe a voz e a letra de alguém que o diz melhor do que eu...
Poema do lavrador de palavras
aos políticos
não me perguntem coisas daquelas que eu não creia
não me perguntem coisas daquelas que não sei
remeto para os senhores as decisões do mundo
tais como governar, fazer decretos lei
no meio da tempestade no meio das sapiências
se poeta nasci, poeta morrerei
nem homem de gravata nem homem de ciências
apenas de mim próprio, e pouco, serei rei
das decisões do mundo lerei o que entender
que dentro de mim mesmo às vezes nasce um rio
e é esse desafio que nunca hei-de esquecer
e é essa a diferença que faz o meu feitio
mas digam por favor de onde nasce o sol
que eu basta-me o calor - para lá me voltarei
e saibam já agora que se eu lavrar a terra
me bastará que chova que o resto eu o farei
e digam por favor se o céu inda nos cobre
e bastará o azul
que em ave me tornei
mantenham com cuidado as árvores e estradas
pr'a gente poder ver, p'ra gente circular
que eu basta-me saúde e o sonho tão distante
e a boca perturbante que tu me sabes dar
e a festa de viver e o gozo e a paisagem
desta curva do Tejo, soprando a brisa leve
e na tranquilidade assim desta viagem
parar-se o tempo aqui, eterno, fresco e breve
que eu voo por toda a parte mas noutro horizonte
e vivo as coisas simples e rio-me da ambição
e ao fim de tanto ver, escolherei um monte
de onde assistirei, sorrindo, ao vosso enfarte
da ânsia de possuir, da ânsia de mostrar,
da ânsia da importância, da ânsia de mandar
e digam por favor de onde nasce o sol
que eu basta-me o calor - para lá me voltarei
e saibam já agora que se eu lavrar a terra
me bastará que chova que o resto eu o farei
e digam por favor se o céu inda nos cobre
e bastará o azul
que em ave me tornei
Pedro Barrôso
http://www.youtube.com/watch?v=kpTHCheKP24
Um dos últimos trovadores, um dos grandes poetas-cantores...
"Viva quem canta
que quem canta é quem diz
quem diz o que vai no peito,
no peito vai-me um país"
Boa noite, Mestre, sonhe com um país em que se dão vivas a quem canta com um país no peito.
Boa noite, Miss!
Sonhe com um país em que valha mesmo a pena viver.
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