terça-feira, 5 de outubro de 2010

As Comemorações da República em Casa dos Rodrigues

Cozido à Portuguesa

7 comentários:

Ninguém.pt disse...

Pois, nem convidam!...

Ninguém.pt disse...

Expressão-despertador, cozido à portuguesa lembrou-me isto:

Auto-retrato

Poeta é certo mas de cetineta
fulgurante de mais para alguns olhos
bom artesão na arte da proveta
narciso de lombardas e repolhos.

Cozido à portuguesa mais as carnes
suculentas da auto-importância
com toicinho e talento ambas partes
do meu caldo entornado na infância.

Nos olhos uma folha de hortelã
que é verde como a esperança que amanhã
amanheça de vez a desventura.

Poeta de combate disparate
palavrão de machão no escaparate
porém morrendo aos poucos de ternura.


José Carlos Ary dos Santos

Ninguém.pt disse...

Com esta imagem a fazer-me inveja, não resisti e fui-me a ela, ampliei-a e assim o cozido já chegou para mim...

Estranhei a falta de farinheira e daquelas carnes gelatinosas como a orelha, o rabo e o chispe, e a falta de uma cabeça de nabo — esqueceram-se de pôr na fotografia, tive que abdicar disso.

Mas, no geral, dar-lhe-ia uma nota suficiente para passar até ao próximo cozido...

Escrivaninha disse...

Farinheira, garanto que tinha (eu repeti).Creio que só faltava o chouriço mouro, mas a ausência foi devidamente explicada pela cozinheira.

Ninguém.pt disse...

Eu não disse que o cozido não tinha. Esqueceram-se de pôr na foto e, assim, não pude saborear...

O chouriço mouro "apenas" serve para dar cor ao arroz e sabor às hortaliças, não faz tanta falta como a farinheira.

Para a próxima, por favor, tire a foto apenas quando estiver tudo na mesa, pode ser?

Escrivaninha disse...

Com tantas exigências, talvez seja mesmo melhor convidá-lo...para tirar a foto. :-)

Ninguém.pt disse...

Obrigado, para trabalhar até me convida mas, para comer, nicles...

Com amigos assim bem posso ir para a sopa do Sidónio e dar lá vivas à I República...

À memória do Presidente-Rei Sidónio Pais

LONGE DA FAMA e das espadas,
Alheio às turbas ele dorme.
Em torno há claustros ou arcadas?
Só a noite enorme.

Porque para ele, já virado
Para o lado onde está só Deus,
São mais que Sombra e que Passado
A terra e os céus.

Ali o gesto, a astúcia, a lida,
São já para ele, sem as ver,
Vácuo de ação, sombra perdida,
Sopro sem ser.

Só com sua alma e com a treva,
A alma gentil que nos amou
Inda esse amor e ardor conserva?
Tudo acabou?
No mistério onde a Morte some
Aquilo a que a alma chama a vida,
Que resta dele a nós - só o nome
E a fé perdida?

Se Deus o havia de levar,
Para que foi que no-lo trouxe -
Cavaleiro leal, do olhar
Altivo e doce?

Soldado-rei que oculta sorte
Como em braços da Pátria ergueu,
E passou como o vento norte
Sob o ermo céu.

[…]
Fernando Pessoa

(É enorme e um panegírico que até é de admirar em poeta tão cáustico como Pessoa.)