segunda-feira, 18 de outubro de 2010

"Porque, nesta fase, ainda estamos a viver com um presente que não nos serve para o futuro."

Mário Crespo, Epílogo de A Última Crónica

4 comentários:

Ninguém.pt disse...

Declaração de interesse: detesto o Mário Crespo.

Talvez por isso, acho que a frase tem tanto de espampanante como de irrealista:

• o futuro nunca é independente do presente, pois nele se transforma a cada instante;

• não conseguimos transformar o futuro, apenas podemos transformar o presente — que logo se torna passado;

• mas, acima de tudo, nunca o presente se transforma em futuro — antes o que acontece é o contrário.

A "eufrásia" teria substância se fosse algo assim:

"Porque, nesta fase, ainda estamos a ver um futuro que não nos serve para presente."

Passado, presente, futuro

Eu fui. Mas o que fui já me não lembra:
Mil camadas de pó disfarçam, véus,
Estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
Rã fugida do charco, que saltou,
E no salto que deu, quanto podia,
O ar dum outro mundo a rebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio, mesmo rouco,
Uma vida que corra assim-assim.


José Saramago

(Esta é forte, confesse lá, Miss! Ir buscar apoio no "seu" Saramago...)

Escrivaninha disse...

Estava já eu de gavetas abertas, em ar de completa surpresa, quando vi que se acusara antecipadamente de citar Saramago! :-)

Pois voltamos aos desacordos irreconciliáveis: cá pela terra diz-se "o teu amigo Mário Crespo", pois tive o gosto de ver respondido (e de uma forma muito cavalheiresca...ou glamourosa?...) um mail que lhe escrevi para a SICNotícias.

Entretanto, sou completamente fã! (embora a história da crónica me tenha deixado algumas dúvidas...)

Deram-me o livro. Ontem, enquanto evitava comer "as entradas" no restaurante, comecei a ler e até gostei.

Mas...há uns tempos que não tínhamos uma discordância declarada! Vamos a isso!

Ninguém.pt disse...

Discordância declarada? Mas então sugere a Miss que temos discordâncias não declaradas? Eu declaro tudo, tudinho — pago mais mas ao menos durmo descansado...

Com tudo o que disse, acabou por não declarar o seu ponto de vista sobre a "eufrásia" do seu amigo Mário Crespo (eu costumo chamar-lhe Encrespado, o que quer dizer o mesmo mas é mais imediatamente entendível).

Acha que a dita cuja está bem enunciada, que não está errada no tempo?

Sugiro-lhe ainda uma outra:
"Porque, nesta fase, ainda estamos a viver um presente que não augura um bom futuro."

Quanto ao Crespo, o que tenho contra ele é "apenas" ele subverter o papel de jornalista, que é o de informar sem descurar o contraditório, pelo de justiceiro — que, infelizmente, é o de apenas dar as notícias que confirmam a verdade que queremos ver veiculada.

Muito boa noite, Miss Escrivaninha. Sonhe com cavalos de crinas esvoaçantes, mas sem cavalgaduras.
Beijito.

Escrivaninha disse...

Ah, pois, é tão fácil transformar para melhor o que outros escreveram...

Estou a ver o jornal do Mário Crespo e disposta a defendê-lo com unhas e dentes.

Claro que as palavras que aqui guardo têm um contexto e nem sempre é justo o seu «desenraizamento». No contexto a frase pareceu-me bem, muito bem, mesmo.

As suas também me parecem bem, claro, mas não desisto do Marito, isso não! :-)