sábado, 30 de outubro de 2010

Santos

O rigor do tempo e os festejos dos santos trazem sempre uma nostalgia da vida em família.
Dormi até muito tarde e acordei com a violência da chuva que fustigava as ruas e fazia vergar as árvores. Guardei mais um pouquinho o corpo no calor da cama. Resolvi então levantar-me e enterrar os pés nas fofas pantufas, aquisição desta temporada Outono-Inverno.
Inspecciono as zonas mais vulneráveis do apartamento, para detectar eventuais entradas de água: janelas, marquise...o furinho do costume (mais acompanhado agora que sabemos que também chove na Assembleia da República), mas nada de dramático.
As notícias acentuam os perigos da continuação do mau tempo.
Tenho saudades do cozido à portuguesa e das castanhas cozidas, que marcariam o dia de hoje na casa da minha infância e adolescência.
As saudades ditam uma vontade  - quase maternal - de «saber dos meus». Feita a ronda por telemóvel às quatro manas (duas amigas, que me acompanham as alegrias e chatices do dia a dia e as duas manas que me ajudaram a crescer, mas que ficaram noutros locais). Tudo tranquilo. Já todas chegaram aos destinos escolhidos para o fim de semana grande, sem incidentes a reportar.
Penso na tranquilidade que nos dá o telemóvel. Gasta-se mais dinheiro, claro, mas podemos saber - assim, em directo - com está o tempo, quanto demorou a viagem e ainda receber os beijinhos e as lembranças daqueles que foram encontrar e que também, de certa maneira «são nossos».
Os Santos têm destas coisas: as saudades de um lar que já não existe, o conforto do contacto dos novos lares que se construiram a partir desse, a certeza de uma vida que se construiu «depois de crescer».
Confortada, olho as minhas gatas enroscadas para passar o frio, e resolvo arranjar uma roupa confortável para vestir depois do banho, que acentue o ar «négligé» de um fim de semana que se anuncia grande, frio, cinzento, caseiro. Talvez saia para comprar os tradicionais frutos secos na Feira de São Simão, este ano mais pequena e mais pobre, como o país.

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