segunda-feira, 23 de junho de 2014

Um discurso da identidade

"Para mim a grande revolução é ir às raízes, reconhecê-las e dizer o que essas raízes significam na atualidade. (...) [A partir das raízes] dialogar com os desafios que se vão apresentando. (...) Ou seja, não há contradição entre ser revolucionário e ir às raízes. Creio mesmo que a maneira de fazer verdadeiras mudanças é seguir a nossa identidade. Por exemplo, o diálogo inter-religioso: não se pode dialogar se não fizer parte da nossa identidade (...) e descobrir a identidade é ir às fontes. Nunca se pode dar um passo na vida se ele não vier de trás. Ou seja é preciso saber de onde venho, que apelido tenho, apelido cultural, ou religioso.
(...)
No centro de todo o sistema económico tem de estar o homem. O homem e a mulher. E tudo deveria estar ao serviço do homem, mas agora no centro está o dinheiro. O deus dinheiro.(...) E por esse afã de querer mais, de ter mais, toda a economia se move descartando - é curioso...Há uma cultura de descarte.Descartam-se as crianças, ou porque se descarta a natalidade (...) descartam-se os velhos. Já não servem, não produzem. É uma classe passiva. E ao descartar as crianças e os velhos, descarta-se o futuro de um povo, porque eles são o futuro de um povo.As crianças são os que vão dar continuidade e os velhos porque são quem nos dá a sabedoria, são os que têm a memória desse povo e têm de a transmitir às crianças. (...)
E a par disto este pensamento único, que nos tiar a a riqueza da diversidade de pensamento e por isso de um diálogo entre as pessoas.
E uma globalização mal compreendida. Uma globalização bem compreendida é uma riqueza. E uma globalização mal compreendida para mim é uma esfera, em que todos os pontos são iguais, todos equidistantes do centro, portanto, é anulada toda a individualidade. Uma globalização que enriqueça é como um poliedro: todos unidos,, mas cada qual conservando as suas particularidades, a sua riqueza, a sua identidade.
E isto não acontece.
Por isso o pensamento único é um sistema económico mau, e digo que é de idolatria porque sacrifica o homem em favor do ídolo dinheiro, não é?"

Entrevista de Henrique Cymmerman ao Papa Francisco, 17 de Junho de 2014, Sic Notícias

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