domingo, 14 de dezembro de 2014

O historiador espanhol Fernando Bouza entrevistado por Lucinda Canelas

"Podemos dizer, então, que a historiografia portuguesa faz um retrato justo de Filipe II?
Faz um retrato cada vez mais justo. Todas as comunidades têm direito a conhecer a sua história, mas têm direito também à sua própria memória, não se pode impor nada. A transformação em Portugal foi radical – vim a Portugal para trabalhar pela primeira vez nos anos 1980 e, nessa altura, esta entrevista não teria sido possível. Porque nesses anos 80, o período dos Filipes era uma coisa que não pertencia à história de Portugal. Havia um corte, um interregno, um buraco de 60 anos. Sessenta anos de hiato histórico são impossíveis. Esta situação hoje foi corrigida graças aos historiadores portugueses. Em qualquer dos casos falta ainda ver chegar esta mudança de atitude ao grande público, aos livros da escola.
O que é que levou a essa mudança de atitude?
A constatação de que o Portugal dos Filipes é português. E esta é uma mudança extremamente generosa, que agora tem de chegar a toda a agente, mesmo que eu reconheça, uma vez mais o digo, que as comunidades têm direito às suas próprias memórias, mesmo que elas não tenham grande rigor histórico."

Público, 14/12/2014

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