Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
domingo, 13 de junho de 2010
Recortiçando
Quem sabe o que é um escanção? (em versão alentejana)
'Tavam dois alentejanos "escansando" sentados no poial, ao fim da tarde, quando um diz para o outro: — Compadri, 'tá vendo acolá aquela nota de 50 êros? Se a brisa continuar de feição, ainda me virá parar à mão...
'tavam três sentados debaixo de um chaparro e diz um para o que lhe estava em frente: - Compadri! Aveja-me aí se ê tênho a braguilha aberta. meia hora depois este responde: - Nã, compadre, nã tem. meia hora depois pronuncia-se o terceiro: - Dêxe lá compadri: Mije amanhãe!
9 comentários:
Assim com ç? Se não é o conselheiro de vinhos, não faço a mínima ideia.
Ou será escansão? É que este é um termo da música e da métrica dos versos.
Mas estou roendo as unhas... Diga lá, Miss Escrivaninha!
será talvez o marido da escançoa?...
ou uma ex-melodia?
;)
Como a piada não era escrita, seria talvez com s, para depois dar o resultado (com sotaque alentejano): «É um gajo que escansa muito»
Está certo, nada a opor.
'Tavam dois alentejanos "escansando" sentados no poial, ao fim da tarde, quando um diz para o outro:
— Compadri, 'tá vendo acolá aquela nota de 50 êros? Se a brisa continuar de feição, ainda me virá parar à mão...
A bonomia alentejana!
'tavam três sentados debaixo de um chaparro e diz um para o que lhe estava em frente:
- Compadri! Aveja-me aí se ê tênho a braguilha aberta.
meia hora depois este responde:
- Nã, compadre, nã tem.
meia hora depois pronuncia-se o terceiro:
- Dêxe lá compadri: Mije amanhãe!
Vai linda a brincadêra!
Pra nã parari, aqui estou botando poesia roubada aí pela net...
Ê vi-te no tê jardim,
Andavas colhendo hortelã!
Ê cá gosto de ti,
E tu?? Hãããããã???
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Atirê um limão rolando...
À tua porta parô...
Depois fiquê pensando...
Será q'o cabrão se cansô??
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Perdi a minha caneta
Lá prós lados da várzea
Se lá fores e a vires...
Trázea!!!
**********
Subi a um êcaliptre
Com o tê retrato na mão
Desencaliptrê-me lá de cima
Malhê com os cornos no chão!!!
Na mesma linha, mas mais perto de Lisboa, na terra dos fôfos:
«Fui a Belas, ver as belas
mas eu as belas não vi,
porque as belas que vi em Belas
não eram tão belas com'a ti»
Certo, certo, é que os tugas são uns poetas de estalo!...
E os alentejanos, mesmo "escansando" muito, nunca deixaram por fazer nada de essencial – excepto ganhar stress com'òs da cidade.
Mais um poema que revela o sentido prático daquele torrão de que tanto gosto:
Assubi acima duma árvori
para te veri
como nã te vi,
desci…
Nem mais: Toda uma «démarche» vertida em poesia!
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