Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra
Recomeça Se puderes Sem angústia E sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade. E, nunca saciado, Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar. Sempre a sonhar e vendo O logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças…
Este poema, hoje, tocou-me particularmente - se entendermos que «és homem» aqui poderia ser substituído por «és mulher» e manter-se o conselho/apelo a constantes recomeços e a não querer o fruto pela metade.
Mande sempre!Torgas, Drummonds e todos os outros que achar bons. :-)
4 comentários:
Artigo Único: Fica decretado que todos os poetas, mesmo os maiores, têm os seus direitos.
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
Carlos Drummond de Andrade
A associação de ideias é a única que não precisa de escritura pública nem de lógica...
Que me levaria de "caminho" até "recomeço"?
Conclusão: se pensava estar livre de Torga, desiluda-se...
Recomeça…
Recomeça
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
Miguel Torga
Ah, Mestre, mas eu gosto do Torga!
Cada vez gosto mais daquilo que aprendo aqui.
Este poema, hoje, tocou-me particularmente - se entendermos que «és homem» aqui poderia ser substituído por «és mulher» e manter-se o conselho/apelo a constantes recomeços e a não querer o fruto pela metade.
Mande sempre!Torgas, Drummonds e todos os outros que achar bons. :-)
Estrada de fogo
Pedra a pedra a estrada antiga
sobe a colina, passa diante
de musgosos muros e desce
para nenhum sopé;
encurva, na abstracta encruzilhada;
apaga-se, na realidade. Morre
como o rastilho do fogo,
que de campo em campo aberto
seguia, e ao bater na mágica cancela
dobrava a chama, para uma respiração,
e deixava o caminho do portal
incólume e iniciado.
Fiama Hasse Pais Brandão
(Fico contente por gostar do Torga, assim não lhe custa tanto nem eu fico com problemas de consciência...)
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