Ontem, vim aqui, já «tarde da noite», antes mesmo de ir dormir, e vi o poema e ouvi o poema. Não conhecia. Gostei muito.
E recordei a imagem do poeta, entregue aos seus versos na televisão. Creio que continuei a vê-lo depois da sua morte: guardo-lhe sobretudo o jeito arrabatado e a entrega às palavras, ditas com amor e raiva, muitas das quais não me era compreensível o sentido.
Depois fomo-nos deitar.
É sempre um momento de alegria se eu deixo as gatas aninharem-se na minha cama. Ontem lá deixei a porta aberta e senti-as subir - uma de cada vez - para os seus lugares favoriros: uma nos pés, a outra no meu lado esquerdo. Ficamos as três quietinhas por uns momentos - elas a fazer rom-rom, eu a embalar-me naquele carinho felino, tão quentinho.
Elas ronronam de forma diferente, de acordo com as suas personalidades: a Menina, mais tímida e recatada, ronrona sempre na mesma melodia; a Shaneka, exuberante e repentina, protagoniza verdadeiras óperas e sinfonias, com um ronronar desmedido e sem ritmo certo. Depois aquieta, mas primeiro, tem de dar conta da sua presença e da sua satisfação numa forma quase agressiva; parece que tem medo que eu não dê pela sua presença...
Uma festa com o pé numa, um afago com a mão na cabeça de outra, são as boas-noites transmitidas no nosso triângulo amoroso.
Depois o quarto vai mergulhando mais fundo, na escuridão, os sentidos vão adormecendo um a um, com breves momentos de semi-inconscoência...E foi num desses momentos que eu reparei (reparei mesmo?!) que a minha gata mais discreta recitava em rom-rom o poema de Ary dos Santos: SARL; SARL; SARL; SARL; repetia cadenciadamente, embalando o berço da infância em que sempre me deito quando adormeço feliz.
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