sexta-feira, 4 de junho de 2010

Pied-de-nez

"Lá anda a minha Dor às cambalhotas
No salão de vermelho atapetado -
Meu cetim de ternura engordurado,
Rendas da minha ânsia todas rotas...

O Erro sempre a rir-me em destrambelho -
Falso mistério, que não se abrange...
De antigo armário que agoirento reage,
Minh'alma actual o esverdinhado espelho...

Chora em mim um palhaço às piruetas;
O meu castelo em Espanha, ei-lo vendido -
E, entretanto, foram de violetas,

Deram-me beijos sem os ter pedido...
Mas como sempre, ao fim - bandeiras pretas,
Tômbolas falsas, carroussel partido..."


Mário de Sá-Carneiro (1890-1916) - colhido em poemblog

3 comentários:

Ninguém.pt disse...

Gosto deste "Pied-de-nez" que já não lia há montes de anos! Obrigado por mo recordar.

(A referência ao armário indicará algo de família?)

Também gosto deste outro e principalmente da forma como os Trovante no-lo dizem:

Fim

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.


Mário de Sá Carneiro


Os Trovante, no seu reencontro, aqui: http://www.dailymotion.com/video/xbkmvy_trovante-fim-live-lisbonne_music

Ninguém.pt disse...


Fim de semana


Estirado na areia, a olhar o azul,
ainda me treme o parvalhão do corpo,
do que houve que fazer para ganhar o nosso,
do que houve que esburgar para limpar o osso,
do que houve que descer para alcançar o céu,
já não digo esse de Vossa Reverência,
mas este onde estou, de azul e areia,
para onde, aos milhares, nos abalançamos,
como quem, às pressas, o corpo semeia.


Alexandre O´Neill

(Hoje não há novas do País do Verão?)

Escrivaninha disse...

Não! Isso foi apenas «une petite aventure». Hoje estou mesmo num país meio pardo, onde as nuvens cinzentas são interrompidas por bouquets de papoilas à beira da estrada, gritando vermelho para as pessoas ouvirem. Mas isso foi quando saí, há pouco...

Agora estou mesmo em frente ao computador a decidir aceitar os textos que escrevo e deixar de os importunar com emendas e acrescentos, que me perturbam mais a mim, do que a eles.

E assim deve ser todo o fim de semana.

Espero que o seu tenha mais sol.