As palavras que se guardam nem sempre são bonitas.
E vou já fazendo este aviso de início, pois conheço alguém (que faz anos hoje) que não vai gostar nada de ler isto, e, se comentar, vai ser com os cantos da boca franzidos em desagrado e dirá "Não achei nada bem; não é próprio!"
Colocada então a bolinha vermelha para os impressionáveis, as palavras de que me lembrei hoje, guardo-as há muito tempo: desde que estudava no Liceu da Amadora. Estavam inscritas na porta de uma das casas de banho do polivalente e, compreendo hoje, que se inserem em toda uma literatura espontânea, de carácter popular, que escolhe como suporte, as divisórias que abrigam os momentos de intimidade, aflição e alívio de cada um.
A quadra é então a seguinte:
"Quem diz que cagar não custa
É porque pouco tem cagado
Quando o cagalhão é grosso
Vê-se um gajo atrapalhado"
Parece-me genuína, espontânea e verdadeira. Recordo-a em momentos a propósito, claro. (Ai, Amiga! Não leias mais!)
Depois, a propósito de tudo isto (e porque as memórias são mais como as ginjas do que como as cerejas, mas esta fica para desenvolver outro dia) recordei-me de um livro que dei a uma amiga no seu aniversário. Chamava-se O Guardador de Retretes e era, nem mais nem menos, que uma recolha de espólio literário deste género. Li-o todo antes de lho oferecer e como a quadra citada não constava, foi a minha escolhida para dedicatória, escrita por minha mão.
Éramos então jovens licenciadas; ela de Sociologia, onde aquele tipo de pesquisa, fazia todo o sentido, achava eu.
Demasiado dependentes das opiniões das mães, na altura, ela teve de comprar uma moldura barata, para dizer à D. Olga que tinha sido a minha prenda, pois achava que a mãe não me iria olhar com bons olhos depois de tal presente.
A minha mãe foi dizendo, convenientemente "Que disparate! Só tu...", mas leu muitas das páginas sobre o meu ombro, incitada pelas minhas gargalhadas.
Já agora aqui fica a referência encontrada agora na net: o autor é Pedro Barbosa e a publicação de 1976 (embora eu só o tenha comprado mais de uma década depois).
A vida atirou-nos para longe e hoje não sei nada dessa amiga. Mas que nos divertimos muito e com literatura «de nível» é um facto incontestável.
4 comentários:
Será que não era mesmo próprio? Será que a ausência de comentários significa uma forma de censura, ou melhor, de desagrado, dos leitores habituais? Deverei eu silenciar tais palavras no arquivo de mensagens apagadas? Oh...dúvidas dilacerantes!...
nem censura, nem desagrado...
apenas o sentimento de pequenez ao só poder citar a célebre (e mui repetida) quadra cujo início é "neste canto solitário..." e talvez uma outra, pueril & bucólico-pastoril, que havia no wc do i.s.t. e rezava (sem oração): "já dizia a minha tia/ e confirmava a minha avó/ que cagar bem alivia/ é um alívio fazer cócó"
... enfim... ;)
18 de Junho de 2010 13:30
Ó dúvida perene, ó vã pesquisa, não é recolhendo indícios negativos que se tiram conclusões optimistas!
Então não sabe a Miss Escrivaninha que todos os programas que têm bolinha vermelha são os mais vistos?
Apenas a ausência, que não a timidez, evitou os meus comentários – mas nem no tarde se livrou deles!
Não tenho melhor "alembradura" que recorrer ao mestre destas coisas. Aqui vai:
Soneto da dama cagando
Cagando estava a dama mais formosa,
E nunca se viu cu de tanta alvura;
Porém o ver cagar a formosura
Mete nojo à vontade mais gulosa!
Ela a massa expulsou fedentinosa
Com algum custo, porque estava dura;
Uma carta d'amores de alimpadura
Serviu àquela parte malcheirosa:
Ora mandem à moça mais bonita
Um escrito d'amor que lisonjeiro
Afectos move, corações incita:
Para o ir ver servir de reposteiro
À porta, onde o fedor, e a trampa habita,
Do sombrio palácio do alcatreiro!
Manuel Maria Barbosa du Bocage
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