domingo, 20 de junho de 2010

Triste Passeio

Vou pela estrada, sozinha.
Não me acompanha ninguém.
Num atalho, em voz mansinha:
"Como está ele? Está bem?"

É a toutinegra curiosa:
Há em mim um doce enleio...
Nisto pergunta uma rosa:
"Então ele? Inda não veio?"

Sinto-me triste, doente...
E nem me deixam esquecê-lo!...
Nisto o sol impertinente:
"Sou um fio do seu cabelo..."

Ainda bem. É noitinha.
Enfim já posso pensar!
Ai, já me deixem sozinha!
De repente, oiço o luar:

"Que imensa mágoa me invade,
Que dor o meu peito sente!
Tenho uma enorme saudade
De ver o teu doce ausente!"

Volto a casa. Que tristeza!
Inda é maior minha dor...
Vem depressa. A natureza
Só fala de ti, amor!


Florbela Espanca (1894-1930)
colhido em poemblog

1 comentário:

Ninguém.pt disse...


Lua alta


Lua alta
E por trás
De tantas nuvens
Brilham estrelas...

Aqui,
Por trás desta neblina,
Brilho também...
Sozinha
E acompanhada
De mim
E de mais ninguém...

Não direi mais nada
É o silêncio que mais convém...

Agradecida,
A Lua
Sussurra:
Amém...


Ana C. Pozza