domingo, 6 de junho de 2010

Temporais de Palavras

"O tempo pergunta ao tempo
quanto tempo o tempo tem
e
o tempo responde ao tempo
que o tempo tem o tempo
o tempo que o tempo tem"

Eu gostava muito de escrever sobre o tempo.
Acho um tema fascinante. O tempo cronológico, o tempo mitológico, o tempo cíclico, o tempo metafórico...«por todos os séculos e séculos...» Mas não tenho tempo.

Lembro-me que, há quatro anos, andava tudo "açudado" a falar do número da besta: 06/06/06! Invocando interpretações bíblicas e razões escatológicas prescrutava-se o tempo, a ver se vinha lá o fim dos tempos.

A seu tempo, o tempo prova-nos que estas questões temporais são temporárias, cíclicas, passageiras e omnipresentes, por paradoxal que isso pareça.

Acho, de facto, o tema do tempo fascinante. Acho mesmo que é um tema inesgotável; ao contrário do próprio tempo, que se esgota, para cada um de nós, parecendo-nos a vida uma grande ampulheta e os grãos de areia os nossos dias...

Há sempre a esperança de virar a ampulheta e começar tudo de novo, outra e outra vez...menos escatológica, mas não menos religiosa esta perspectiva. Será o tempo inesgotável, irrepetível?

Adoraria discutir estas questões, mas não tenho tempo!

8 comentários:

Ninguém.pt disse...


O tempo vive


O tempo vive, quando os homens, nele,
se esquecem de si mesmos,
ficando, embora, a contemplar o estreme
reduto de estar sendo.
O tempo vive a refrescar a sede
dos animais e do vento,
quando a estrutura estremece
a dura escuridão que, desde dentro,
irrompe. E fica com o uivo agreste
espantando o seu estrondo de silêncio.


Fernando Echevarría

Escrivaninha disse...

Magnífico! Obrigada. Beijito (eu sou alentejana, da Amadora, mas sou!)

Ninguém.pt disse...


Eu queria ter o tempo e o sossego suficientes


Eu queria ter o tempo e o sossego suficientes
Para não pensar em coisa nenhuma,
Para nem me sentir viver,
Para só saber de mim nos olhos dos outros, reflectido.


Alberto Caeiro

(Quanto ao sufixo -ito, ele é também usado na minha terra, lá na bela Figueira – penso que por influência castelhana. Lá só há Zezito, Joãozito, Manelito, carrito... Beijito também para si!)

josé luís disse...

:

http://www.youtube.com/watch?v=UZC8J5oX1pg

Escrivaninha disse...

Belas ilustrações poéticas, de palavras e música, para o intemporal tema do tempo.
Obrigada!

Ninguém.pt disse...


Duração


O tempo era bom? Não era
O tempo é, para sempre.
A hera da antiga era
roreja incansavelmente.

Aconteceu há mil anos?
Continua acontecendo.
Nos mais desbotados panos,
estou me lendo e relendo.

Tudo morto, na distância
que vai de alguém a si mesmo?
Vive tudo, mas sem ânsia
de estar amando e estar preso.

Pois tudo enfim se liberta
de ferros forjados no ar.
A alma sorri, já bem perto,
da raiz mesma do ser.


Carlos Drummond de Andrade

Ninguém.pt disse...


Qualquer tempo


Qualquer tempo é tempo.
A hora mesma da morte
é hora de nascer.

Nenhum tempo é tempo
bastante para a ciência
de ver, rever.

Tempo, contratempo
anulam-se, mas o sonho
resta, de viver.


Carlos Drummond de Andrade

É um bom sonho, o de viver.

Sonhe com isso, Miss. E uma muito boa noite!

Escrivaninha disse...

Obrigada, Mestre. Bons sonhos para si também.