quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Mau Tempo no Natal

Que saudades do Anthímio de Azevedo e do Costa Malheiros, com quem me habituei a partilhar mentalmente os projectos para o dia seguinte, designadamente passeios ou a combinação de roupas, mediante as suas diárias previsões.
Agora, para além de haver alertas muito coloridos (antigamente a televisão era a preto e branco...seria despropositado) prevê-se, na melhor das hipóteses, um desagravamento do tempo.
Quer dizer, é assim uma expressão, que não limpa o ambiente...quando um deles dizia que ia haver uma melhoria, sentíamos logo que tudo ia ficar bem...como quando tomávamos um Melhoral.
Era ou não era um Tempo Melhor?

5 comentários:

josé luís disse...

não sei se era melhor, mas corria mais devagar... e nós próprios, mais lentos e sem sair do lugar, ainda não íamos para mais novos.

por vezes tiro a cor à televisão (a minha fixação pelo preto&branco) e parece-me que até o dr. house demora mais a chegar ao diagnóstico correcto...

Escrivaninha disse...

Adorei! Essa ligação entre as cores e uma aceleração (algo vertiginosa) dos nossos tempos.
O preto e branco é mais slow...
Do tempo em que se dançavam slows...
Mais Feliz Natal!

Ninguém.pt disse...

Com mau tempo, ainda mais se impõe recordar o Poeta, na voz inconfundível de Paulo de Carvalho:

http://www.youtube.com/watch?v=_O-qey4cGQE

Sempre que um homem quiser

Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e comboios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher


José Carlos Ary dos Santos

Ninguém.pt disse...

Um bom ano de 2010!

Receita de Ano Novo


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade

Escrivaninha disse...

Obrigada, Mestre: Vou tentar encontrar o Ano Novo cá dentro e fazer acontecer Natal várias vezes ao ano.
Um Bom 2010 para si também!