Será que as palavras ficam presas no tempo?
Terão as palavras alguma coisa a ver com a moda, efémera e volátil?
Evocações do passado também poderão ser palavras que, outrora, marcaram tanto o nosso quotidiano como o som do chiar do baloiço, o pregão da “língua da sogra” na praia ou o cheiro do cozido à portuguesa ao domingo?...
Procurar e (re)contextualizar palavras, embalarmo-nos nelas, divagar sobre elas, são alguns dos objectivos deste projecto.
Por puro prazer!
1ª chávena: mas o cinzeiro é meu! 2ª chávena: parva, já te disse que era meu. 1ª chávena: mas eu é que sou de tarouca... 2ª chávena: e a mim que me importa? disse primeiro que era meu! 1ª chávena: escusas de estar a puxá-lo para ti que eu tenho mais força... 2ª chávena: ai julgas que sim? já vais ver... (ruídos aproximam-se) 1ª chávena: quem vem ali? 2ª chávena: olha, uma escrivaninha... 1ª chávena: e vem de máquina fotográfica. 2ª chávena: disfarça, disfarça...
Para um amigo tenho sempre um relógio esquecido em qualquer fundo de algibeira. Mas esse relógio não marca o tempo inútil. São restos de tabaco e de ternura rápida. É um arco-íris de sombra, quente e trémulo. É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.
Que poema de paz agora me apetece! Sereno, Transparente, A sugerir somente Um rio já cansado de correr, Um doce entardecer, Um fim de sementeira. Versos como cordeiros a pastar, Sem o meu nome, em baixo, a recordar Os outros que cantei a vida inteira.
3 comentários:
1ª chávena: mas o cinzeiro é meu!
2ª chávena: parva, já te disse que era meu.
1ª chávena: mas eu é que sou de tarouca...
2ª chávena: e a mim que me importa? disse primeiro que era meu!
1ª chávena: escusas de estar a puxá-lo para ti que eu tenho mais força...
2ª chávena: ai julgas que sim? já vais ver...
(ruídos aproximam-se)
1ª chávena: quem vem ali?
2ª chávena: olha, uma escrivaninha...
1ª chávena: e vem de máquina fotográfica.
2ª chávena: disfarça, disfarça...
[continua?]
Para além de tempo para beber um café...
Para um amigo tenho sempre
Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.
António Ramos Rosa
Quietude
Que poema de paz agora me apetece!
Sereno,
Transparente,
A sugerir somente
Um rio já cansado de correr,
Um doce entardecer,
Um fim de sementeira.
Versos como cordeiros a pastar,
Sem o meu nome, em baixo, a recordar
Os outros que cantei a vida inteira.
Miguel Torga
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