quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dança

O que é que faz da valsa uma melodia tão mágica?
Não sei...o que é certo é que há melodias que nos enlaçam pela cintura e nos fazem rodopiar, onde quer que estejamos.
Foi assim hoje: eu e o corsário de regresso e entra-me o Chico Buarque pela alma dentro e leva-me numa das mais simples - e, por isso, talvez - mais belas melodias de amor.

"Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz"

Vinicius de Morais/ Chico Buarque, Valsinha

8 comentários:

josé luís disse...

pois... continuam os furtos!

já tinha pensado nesta canção para o blogzito do amor que vicia... mas fi ultrapassado por uma mobília...
ou seja, agora tenho mesmo - como agora escrevem na net - que @r
(creio que se lê "arrobar" :))

Ninguém.pt disse...

Muito bonito, como seria de esperar de uma parelha tal. Obrigado pela alembradura...

Não danço, mas valsa é uma palavra-despertador...

Leva-me a Brel, esse vulcão romântico, e à sua valsa:

http://www.youtube.com/watch?v=UK5X_Mb9daM&feature=related

La valse à mille temps

Au premier temps de la valse
Toute seule tu souris déjà
Au premier temps de la valse
Je suis seul mais je t‘aperçois
Et Paris qui bat la mesure
Paris qui mesure notre émoi
Et Paris qui bat la mesure
Me murmure murmure tout bas

Une valse à trois temps
Qui s‘offre encore le temps
Qui s‘offre encore le temps
De s‘offrir des détours
Du côté de l‘amour
Comme c‘est charmant
Une valse à quatre temps
C‘est beaucoup moins dansant
C‘est beaucoup moins dansant
Mais tout aussi charmant
Qu‘une valse à trois temps
Une valse à vingt ans
C‘est beaucoup plus troublant
C‘est beaucoup plus troublant
Mais beaucoup plus charmant
Qu‘une valse à trois temps
Une valse à vingt ans
Une valse à cent temps
Une valse à cent ans
Une valse ça s‘entend
A chaque carrefour
Dans Paris que l‘amour
Rafraîchit au printemps
Une valse à mille temps
Une valse à mille temps
Une valse a mis le temps
De patienter vingt ans
Pour que tu aies vingt ans
Et pour que j‘aie vingt ans
Une valse à mille temps
Une valse à mille temps
Une valse à mille temps
Offre seule aux amants
Trois cent trente-trois fois le temps
De bâtir un roman

Au deuxième temps de la valse
On est deux tu es dans mes bras
Au deuxième temps de la valse
Nous comptons tous les deux une deux trois
Et Paris qui bat la mesure
Paris qui mesure notre émoi
Et Paris qui bat la mesure
Nous fredonne fredonne déjà

Une valse à trois temps
Qui s‘offre encore le temps
Qui s‘offre encore le temps
De s‘offrir des détour
Du côté de l‘amour
Comme c‘est charmant
Une valse à quatre temps
C‘est beaucoup moins dansant
C‘est beaucoup moins dansant
Mais tout aussi charmant
Qu‘une valse à trois temps
Une valse à vingt ans
C‘est beaucoup plus troublant
C‘est beaucoup plus troublant
Mais beaucoup plus charmant
Qu‘une valse à trois temps
Une valse à vingt ans
Une valse à cent temps
Une valse à cent temps
Une valse ça s‘entend
A chaque carrefour
Dans Paris que l‘amour
Rafraîchit au printemps
Une valse à mille temps
Une valse à mille temps
Une valse a mis le temps
De patienter vingt ans
Pour que tu aies vingt ans
Et pour que j‘aie vingt ans
Une valse à mille temps
Une valse à mille temps
Une valse à mille temps
Offre seule aux amants
Trois cent trente-trois fois le temps
De bâtir un roman

Au troisième temps de la valse
Nous valsons enfin tous les trois
Au troisième temps de la valse
Il y a toi y a l‘amour et y a moi
Et Paris qui bat la mesure
Paris qui mesure notre émoi
Et Paris qui bat la mesure
Laisse enfin éclater sa joie

Une valse à trois temps
Qui s‘offre encore le temps
Qui s‘offre encore le temps
De s‘offrir des détour
Du côté de l‘amour
Comme c‘est charmant
Une valse à quatre temps
C‘est beaucoup moins dansant
C‘est beaucoup moins dansant
Mais tout aussi charmant
Qu‘une valse à trois temps
Une valse à vingt ans
C‘est beaucoup plus troublant
C‘est beaucoup plus troublant
Mais beaucoup plus charmant
Qu‘une valse à trois temps
Une valse à vingt ans
Une valse à cent ans
Une valse ça s‘entend
A chaque carrefour
Dans Paris que l‘amour
Rafraîchit au printemps
Une valse à mille temps
Une valse à mille temps
Une valse a mis le temps
De patienter vingt ans
Pour que tu aies vingt ans
Et pour que j‘aie vingt ans
Une valse à mille temps
Une valse à mille temps
Une valse à mille temps
Offre seule aux amants
Trois cent trente-trois fois le temps
De bâtir un roman


Jacques Brel

Ninguém.pt disse...


Enredos de fim de tarde


À revelia de pretéritas lembranças,
um bafo de terra molhada
devolve-me enredos de fins de tarde
que me sugerem os panos coloridos
com que, em criança, fazia as saias das bonecas.
O verso e o reverso de um concêntrico imaginário.
A atmosfera impregnada do meu fascínio de viver.
E pego na fala de Zaratustra para perguntar:
«Que temos de comum com o botão de rosa
que verga sob o peso de uma gota de orvalho?»
De que matéria somos feitos
que nos torna comovidos e inocentes
perante a promessa da ternura?
Sei o difícil jogo de viver.
Os meus desejos são como as areias
que o vento levanta sem levar para longe.
Nenhuma linguagem explica o devir das paixões.


Graça Pires

(Sonhe com desejos realizados. Não esqueça, os ventos podem até levantá-los, mas eles ficarão por perto...)

Escrivaninha disse...

jl: arroube, pois, que também é uma forma de divulgar aqui o meu cantinho. Mas a culpa foi do meu corcel que hoje me fez valsar, am partículas de felicidade. :-)

Escrivaninha disse...

Mestre: Brel é outra coisa. Não me enlaça para dançar, sempre me deixa a sensação de partilhar com ele o voo e as acrobacias de um trapézio. Esta música arrabata-me num voo cadenciado, preso pelas mãos de um forte companheiro, sobre a arena de um circo. Brel... nunca poderia ser uma valsa calma: ele transmitia o «fascínio de viver».

Escrivaninha disse...

Fui agora ver o vídeo e dei comigo a pensar que não sabia que ele tinha sido tão novo (às vezes temos pensamentos tão estúpidos!). De facto eu nunca conheci o Brel assim, mas adoro a música e a força dele. Aproveitei para ver outros vídeos e, claro, o «ne me quitte pas», que em determinadas alturas da vida nos serve de banda sonora.

Ninguém.pt disse...

É, temos tendência para fazer pedidos inúteis e até pouco racionais...

Quando alguém decide "nous quitter", raramente volta atrás por muito que peçamos o contrário.

E, além do mais, a racionalidade indica que aquela não era a pessoa indicada para nós … não nos queria, portanto era um investimento sem retorno.

Ninguém.pt disse...


Não me deixes!


Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava:
"Ai, não me deixes, não!

"Comigo fica ou leva-me contigo
"Dos mares à amplidão;
"Límpido ou turvo, te amarei constante;
"Mas não me deixes, não!"

E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, não me deixes, não!"

E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
"Ai, não me deixes, não!"

Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.

A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"


Gonçalves Dias