O fascínio do álbum Luz, que me aqueceu o Inverno, prolonga-se em ritmos mais inquietos para o Verão, nas palavras e sons de Longe.
Para mim é um enigma: não simpatizo com Pedro Abrunhosa, não gosto de o ver ao vivo, não sinto qualquer empatia com a figura dele, mas...embalo-me nas palavras dele, como se fossem carícias de alguém muito, muito perto. Não sei como é possível...creio que é o único artista em relação a quem isto me acontece. Mas, que fazer? Cá estou a saborear a minha nova aquisição musical!
E...olhem lá, se estas palavras não parecem ter sido escritas por alguém maravilhoso:
"Vesti a luz do teu nome
E chamei-te pela noite
Entraste no meu sono
Como o luar entra na fonte
(...)
E quando vens pela bruma
Acendem-se estrelas no quarto
E dizes:
«Trago a luz das sereias
Trago o canto da tempestade
E como o vento na areia
Deitas-te em mim feita metade»
(...)" Pode o Céu ser tão Longe
"Conta-me uma história
De tesouros e luar
És Capitão da areia
E Pirata de Alto Mar
Conta-me uma história
Onde eu entre devagar
És Capitão da Areia
Diz-me onde me vais levar" Capitão da Areia
E quando comecei a comprar música dele, tive esperança de encontrar um outro autor das letras, alguém que eu pudesse imaginar...perfeito. Não! É ele mesmo. Debati-me, cogitei...e depois cedi, porque o amor tem destas coisas, que, frequentemente, não têm explicação...e eu amo as letras do homem. E as músicas...Gosto, pronto! E agora tenho música dele, para ouvir de Janeiro a Janeiro.
2 comentários:
Ora viva, voltou abrunhoseira?
Mas tem razão (3 vezes?!!), ele é um pedante mas temos que reconhecer que sabe escrever, sabe compor e é bom em "marketing"...
E não é poeta quem quer, apenas quem tem jeito para arrumar palavras com ideias dentro:
Vento
As palavras
cintilam
na floresta do sono
e o seu rumor
de corças perseguidas
ágil e esquivo
como o vento
fala de amor
e solidão:
quem vos ferir
não fere em vão,
palavras.
Carlos de Oliveira
Janeiro de Sessenta e Dois
Janeiro português que entrou mansinho
desistiu quase pela chuva
mas entrou
limpando docemente os pés.
Mas quase um janeiro de almanaque:
com burros em Lisboa cochichando
com damas coroadas de cinzento
e os pobres aos pulinhos nos cafés.
Sacodem-no apressadas as varinas
ideias adoecem-no sem asas
e os burgueses roçam com a língua
plo ventre melancólico das casas.
Seus dias vão depressa para os ardinas
poleiro persistente onde um cavalo
relincha no colo das semanas
miando desastrado como os sinos
metido com vamps americanas.
Janeiro português por onde poisas
doméstica abelha sem corola
arrastas sem saber o gosto às coisas
e a tia chega ao fim da camisola...
Armando Silva Carvalho
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